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Lousã, Destino de Turismo Acessível

Capítulo 3 – O Turismo Acessível

3.7 A oferta turística: O caso específico do turismo acessível

3.8.3 Lousã, Destino de Turismo Acessível

O território nacional caracteriza-se por conter destinos, cuja diversidade de riqueza história, monumental e humana, são a base de uma indústria turística com cada vez mais importância aos olhos daqueles que os procuram e daqueles que os promovem. Contudo, e como referido

Universidade de Aveiro

Dissertação de Mestrado em Gestão e Planeamento em Turismo

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na literatura especializada, Portugal não é exceção, no que se refere à existência de um número ainda reduzido de pequenos, mas interligados, destinos turísticos de excelência na área do turismo acessível. Todavia, começam a surgir, no nosso país, destinos cujas entidades tendem a apostar na construção de um território acessível ao nível físico e humano.

Atente-se o exemplo de pequenas ações, como o projeto que resultou da iniciativa de quatro associações de desenvolvimento local do Alentejo (Portugal) e Estremadura (Espanha), denominadas Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste (ESDIME), Associação para o Desenvolvimento Integrado (TERRAS DENTRO), Desarrollo Rural de la Comarca de Olivenza (ADERCO) e Centro de Desarrollo Comarcal de Tentúdia (CEDECO- TENTUDÍA). Estas realizaram um projeto turístico, que visava a não descriminação das pessoas com mobilidade reduzida, e permitia dar à oferta turística um valor acrescentado no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável das regiões. A sua missão visava a criação de uma rota turística transnacional acessível (especialmente para pessoas com dificuldades motoras), que permitirá a qualquer turista a descoberta de quatro territórios: Alentejo Central, Baixo Alentejo, Comarcas de Olivenza e Tentudía, através de visitas a património histórico, religioso, natural, museus; a participação em atividades de natureza; a pernoita em alojamentos rurais; e o contacto com a gastronomia local (INR, 2009).

No entanto, é objetivo desta investigação dar a conhecer o primeiro destino em Portugal que foi considerado um exemplo de boas práticas na área do turismo acessível, e que mostrou ser pioneiro na concretização correta e eficaz de um projeto com vista à emancipação da acessibilidade a um determinado território. Lousã, Destino de Turismo Acessível, é o nome pelo qual o projeto é conhecido.

Como referido, até ao momento, a acessibilização de toda a oferta de um determinado destino turístico é um processo sistémico, no qual a participação e persistência dos interessados da indústria turística, bem como de outros a operar no território, é eminente e bastante importante para a concretização e sucesso de todo um caminho com vista à oferta de produtos acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida. Assim, e num esforço conjunto de todas as entidades envolvidas, foi desenvolvido uma abordagem sistémica baseada no princípio da partilha de responsabilidades entre os parceiros locais envolvidos (Câmara Municipal da Lousã (CML), s.d.).

Conscientes da fonte de riqueza proveniente da oportunidade de negócio ligada ao turismo acessível, os responsáveis da Câmara Municipal da Lousã decidiram apostar na criação de um projeto inovador, contudo com bases teórico-práticas já adquiridas devido a uma longa tradição no que diz respeito à reabilitação, apoio à deficiência e desenvolvimento de uma cultura de acessibilidade.

Toda a concretização e sucesso do projeto teve início com a constituição de um grupo de trabalho aquando da realização do I Congresso Nacional de Turismo Acessível, já abordado

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anteriormente (Figura 3.20). O trabalho conjunto das instituições envolvidas permitiu que o município decidisse apostar em tornar-se no primeiro destino de turismo acessível em Portugal, passando a acessibilidade a ser encarada como uma preocupação transversal a todo o município. Para tal, procedeu-se a uma candidatura ao Programa Operacional de Potencial Humano (POPH), a qual foi aprovada.

Figura 3.20 – Etapas evolutivas do projeto “Lousã destino de turismo acessível” Fonte: Elaboração própria

O primeiro passo rumo à adaptação do destino a pessoas com mobilidade reduzida teve início com a criação de um modelo de gestão, que serviu de base a todo o projeto “Lousã, destino de turismo acessível”. Posteriormente, e como é obrigatório aquando uma candidatura ao POPH, procedeu-se à elaboração de um Plano de Ação que integrou agentes locais com responsabilidade de execução ao nível público e privado do setor do turismo e reabilitação, uma comissão de acompanhamento que permitia percecionar os diferentes atos no que diz respeito à concretização do plano, e uma equipa técnica formada por entidades externas que avaliavam a qualidade do trabalho desenvolvido pelas entidades, colaboravam no planeamento, na obtenção de financiamento, e no lançamento e realização dos planos.

Inseridos no plano referido, os planos de acessibilidade dos polos de atração turística do concelho da Lousã permitiram demarcar ações estratégias e projetos estruturais que permitiam a eliminação de barreiras à participação e aquisição de produtos de cariz turístico ou não. Estes culminaram na delimitação de um Plano de Soluções Integradas de Acessibilidade para Todos (PSIAT), com base em estudos metodológicos realizados por equipas especializadas e

Etapas

Evolutivas

do projeto

"Lousã,

destino de

turismo

acessível"

I Congresso Nacional de Turismo Acessível 1º Destino de Turismo Acessível em Portugal Candidatura ao POPH

Delimitação do Plano de Acção

Agentes locais com responsabilidade de execução Comissão de acompanhamento

Equipa técnica com entidades externas Planos de acessibilidade

Acções estratégias Projetos estruturais Certificação do Destino

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com conhecimento da realidade local. São de destacar o estudo de caracterização e diagnóstico da população com deficiência e incapacidade residente no concelho da Lousã; o estudo para a hospitalidade, ocupação e animação de turistas com incapacidade na Lousã; o estudo do impacte do turismo acessível no mercado social de emprego da Lousã; e o estudo do sistema de transportes do concelho da Lousã face às necessidades especiais dos cidadãos com incapacidades. Além dos estudos, realizou-se ainda um diagnóstico da acessibilidade e mobilidade dos estabelecimentos comerciais turísticos, bem como a monotorização e avaliação do projeto.

O passo que se seguiu consistiu na realização de ações simulativas de cariz experimental, que incluíram entidades referentes ao alojamento, restauração, animação turística e pessoas com necessidades especiais de mobilidade. Procedeu-se à delimitação de ações de sensibilização, informação e formação que, como revisto na literatura, demonstram possuir um papel bastante importante no que diz respeito à acessibilidade a, e num, destino.

Todo o sucesso das ações efetivadas até ao momento permitiu avançar com a criação de uma metodologia de certificação que visava a criação e valorização da dimensão do serviço, conciliando estrategicamente uma componente física e uma de serviços, isto é, uma interligação entre o tangível e o intangível, aliando assim de forma inteligente um serviço orientado para a acessibilidade a todos (CML, s.d.). Todo o sistema de certificação é dirigido aos diferentes agentes a operar no concelho da Lousã.

O culminar de todo o projeto “Lousã, destino de turismo acessível” teve em conta, desde que iniciou, o fomento da cultura da acessibilidade, que teve o importante apoio da ARCIL. Para tal realizaram-se jornadas de sensibilização dedicadas à problemática da incapacidade e do turismo. Por outro lado, foram também organizadas e executadas ações de informação com vista a alertar os demais interessados para as oportunidades oferecidas pelo turismo acessível.