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Capítulo 3 – O Turismo Acessível

3.3 Conceito de turismo acessível

Os cidadãos com mobilidade reduzida, com plenos direitos de participação no panorama social de uma qualquer comunidade, procuram no turismo uma forma de se desenvolverem como pessoas (Buhalis et al., 2005; Darcy, Cameron, Dwyer, et al., 2008; Darcy & Dickson, 2009; Devile, 2009; Kastenholz, Eusébio, Moura, & Figueiredo, 2010; Moura & Kastenholz, 2010; Ozturk et al., 2008; Packer et al., 2007; Packer, Small & Darcy, 2008; Richards, Pritchard & Morgan, 2010), devido ao seu desejo e direito de viajar (Carneiro, Eusébio, Kastenholz & Alvelos, 2010; Guerra, 2003; Moura & Kastenholz, 2010; Packer et al., 2007, 2008), bem como à necessidade de socialização, descanso, desenvolvimento de competências pessoais, bem- estar social e vivência de novas experiências, que lhes transmita uma maior qualidade de vida (Carneiro, 2010; Devile, 2009; Guerra, 2003; Kastenholz et al., 2010).

A aplicação de toda uma legislação específica para a integração deste segmento no sistema turístico, e uma mudança de mentalidades e comportamentos por parte da oferta e da procura turística (Darcy & Dickson, 2009), fez com que emergisse uma nova área de estudo (Darcy, 2010a) a que os especialistas e estudiosos designam de Turismo Acessível, ou Turismo para Todos.

São escassos os autores cujas pesquisas têm um enfoque principal na conceptualização científica do conceito “Turismo Acessível” ou “Turismo para Todos” (Darcy, 2010a). Contudo, existem já diferentes vertentes – social, económica, ambiental, política e cultural – deste conceito. No Quadro 3.1 encontram-se algumas das definições presentes na literatura, bem como os autores que as delimitaram, a vertente que abordam e a perspetiva em que se inserem.

Quadro 3.1 - Conceptualização do termo Turismo Acessível

Definição Autores Vertente Perspetiva

“Reconhece que qualquer pessoa deve poder usar os equipamentos e serviços turísticos, e que é necessário proporcionar uma oferta de serviços e atividades orientada para os gostos e preferências de pessoas que tenham um conjunto de limitações a que podem corresponder necessidades e exigências diferentes de outros segmentos da procura.”

Devile (2009); Devile, Kastenholz & Santiago

(2010)

Económica Social

Procura

“Conjunto de serviços e infraestruturas capazes de permitir às pessoas com necessidades especiais apreciar as suas férias e tempos de lazer sem

Darcy (1998); English Tourism Council (2000)7 Social Cultural Oferta 7

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barreiras ou problemas particulares.”

“É considerado uma forma do turismo social, pois procura vencer obstáculos que impedem um indivíduo de exercer o seu direito de fazer turismo, de viajar, de conhecer outras regiões e países, sendo este um direito considerado universal.”

Parecer Comité Económico e Social Europeu sobre o “Turismo Social na Europa”8 Social Ambiental Procura

“Processo de capacitar as pessoas com deficiência e idosos a deslocar-se de forma independente, com equidade e dignidade através da oferta de bens, serviços e ambientes turísticos universais.”

Darcy (2006); Darcy Cameron, Pegg, et al.

(2008); Darcy & Dickson (2009) Social Ambiental Económica Procura

“Sendo o produto turístico um conjunto de atrativos, equipamentos e serviços turísticos, acrescido de facilidades, oferecido de forma organizada e por um determinado preço, o produto “Turismo Acessível” é, portanto, a possibilidade e condição da pessoa com deficiência alcançar e utilizar, com segurança e autonomia, edificações e equipamentos de interesse turístico.”

Associação para a Valorização de Pessoas com Deficiência (2009) Social Económica Ambiental Cultural Oferta

“Uma forma de turismo que planeia, desenha e desenvolve atividades turísticas de lazer e de tempo livre, de modo a que possam ser desfrutados por todas as pessoas independentemente das suas condições físicas, sociais ou culturais.”

Casas (2004) Cultural Social

Oferta

"Todas as pessoas – independentemente de terem ou não alguma deficiência – quando o desejarem, devem ser capazes de viajar para o país ou para fora deste, bem como para qualquer lugar de uma atração, ou evento”.

Conselho Nórdico sobre Deficiência

Política9

Social Procura

“Tem em conta a complexidade do sistema turístico, e as numerosas relações que se estabelecem dentro e fora dele. Isto implica que a acessibilidade deverá ser integrada em toda a cadeia de serviços, nomeadamente no planeamento, na prestação de informações, no transporte, no alojamento, nas atrações, etc.”

ENAT Ambiental Política

Oferta

“Turismo Acessível permite que pessoas com

requisitos de acesso, incluindo mobilidade, visão, audição e dimensões cognitivas de acesso, consigam participar de forma independente e com equidade em atividades turísticas concebidas universalmente através de bens, serviços e ambientes. Esta definição é abrangente a todas as

Darcy (2010a); Darcy et al. (2010); Darcy &

Dickson (2009) Social Económica Ambiental Procura 8

Citado por Kastenholz et al. (2009) 9

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pessoas, incluindo aqueles que viajam com crianças em carrinhos de bebé, pessoas com deficiência e idosos.”

Fonte: elaboração própria

As diferentes definições apresentadas expõem pontos em comum, nomeadamente o facto de o turismo acessível abranger três principais grupos do sistema turístico (Neumann & Reuber, 2004): (i) o fornecedor de produtos, visto como agente central para a satisfação das necessidades específicas dos consumidores antes, durante e após a viagem; (ii) o utilizador dos produtos, enquanto alvo da oferta turística; e (iii) a força política, segundo a forma de grupo do sistema turístico que, e embora presente nas definição de forma subentendida, devido às suas especificidades e à sua ação, demonstra ser uma máquina primordial para a implementação de diretrizes que permitam o bom funcionamento de toda uma sociedade inclusiva, através de exigências legais, incentivos ao investimento privado e público (Neumann & Reuber, 2004).

O correto entendimento destas três partes permitirá que sejam adotadas estratégias e delimitados programas turísticos que, assentes nos pontos base das definições apresentadas, beneficiarão todo o sistema turístico. Para tal, começa a ser necessário consciencializar toda esta panóplia de agentes e participantes para o verdadeiro significado do turismo acessível, bem como para as suas reais implicações.

O grupo de consumidores, e como referem algumas definições, não abrange apenas parte de um nicho de mercado específico que é o das pessoas com mobilidade reduzida (Moura & Kastenholz, 2010; Vlaanderen, 2001). Esta ideologia vai ao encontro do abordado no capítulo anterior, em que se refere que a acessibilidade e mobilidade não são apenas conceitos inerentes às pessoas com incapacidade, mas sim a todos aqueles que por um determinado motivo necessitam de cuidados diferenciados. Notem-se as definições mais recentes, como é o caso das apresentadas por Darcy (2010a); Darcy et al. (2010); Darcy e Dickson (2009), Devile (2009) e Devile et al. (2010), em que o enfoque é mais abrangente no que diz respeito ao mercado a atingir.

Turismo acessível deverá, então, ser conceptualizado como um tipo de turismo que tem em conta a necessidade e premência de dar resposta a pessoas com incapacidades físicas, sensitivas, intelectuais, ou outras (Kastenholz et al., 2009), que em determinado contexto se encontrem em condições peculiares de saúde, idade ou situação familiar, requerentes de cuidados especiais temporários ou permanentes (Darcy, 2010b; Kastenholz et al., 2009, 2010).

Denote-se que as definições apresentadas são maioritariamente pelo lado da procura turística. Isto denota a falta de investigação que ainda impera no que diz respeito à oferta turística. Embora haja estudos científicos nesta área, há ainda um longo caminho a percorrer para se consiguir delimitar um cenário de destino totalmente acessível. Esta perceção permite

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corroborar a ideologia que Devile (2009, p. 41) defende ao mencionar que o turismo acessível deve ser pensado e trabalhado primeiramente no quadro da oferta turística do destino, procurando tornar os espaços mais acessíveis, bem como os edifícios, atrações e eventos, para que se consiga dar resposta ao segmento de mercado do turismo acessível.