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Capítulo 3 – O Turismo Acessível

4.5 Justificação do estudo

Como referido na introdução do capítulo anterior, 15% da população mundial sofre de algum tipo de mobilidade reduzida, representando mais de um mil milhão de pessoas em todo o mundo (OMS, 2011). Se tivermos em conta que grande parte desta população tem o desejo de viajar (Packer et al., 2008), e que os dados demográficos corroboram esta tendência de crescimento de viagens realizadas por este grupo de pessoas (Devile, 2009), então este mercado terá de fazer parte das agendas dos representantes da indústria turística mundial. Darcy (2003, p. 62), aquando da compilação da sua tese de doutoramento, salientou que, contrariamente ao que o senso comum defende, as pessoas com mobilidade reduzida não veem na sua condição um fator decisivo para não viajar. Pelo contrário, cerca de 94% da população em estudo manifestou desejo de viajar.

A aposta no turismo acessível permite uma maior sustentabilidade social (Darcy, 2010a) que, segundo Moura e Kastenholz (2010, p. 236), se apresenta como vantajoso, não apenas para

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os visitantes com mobilidade reduzida, mas também para os seus acompanhantes e todos aqueles que demonstram ser sensíveis e esta causa social. Buhalis et al., (2005, p. 8) vão ao encontro desta perspetiva, ao afirmar que enquanto a indústria turística não perceber esta importância, não conseguirá atrair uma maior base de clientes.

Todavia, apostar neste novo segmento é também apostar na diferenciação e acréscimo de valor do destino (Moura & Kastenholz, 2010), cuja vantagem competitiva (Buhalis et al., 2005; Moura & Kastenholz, 2010) se alicerça na construção de uma sociedade mais acessível, no melhoramento da gestão operacional dos destinos (Buhalis et al., 2005; Michopoulou & Bihalis, 2011), na competitividade face a outros concorrentes e na diferenciação de produtos que o destino dispõe (Moura & Kastenholz, 2010).

Embora os visitantes com mobilidade reduzida geralmente possuam menos poder económico, autores, como Buhalis et al. (2005) e Neumann e Reuber (2004), defendem nos seus estudos que estes tendem a economizar o rendimento de que dispõem para que assim possam viajar. Uma vez no destino escolhido, estes tendem a gastar mais por dia do que os restantes segmentos (Buhalis et al., 2005; Guerra, 2003).

Assim, o desenvolvimento sustentável de um destino turístico, como verificado até ao momento, não deverá remeter para segundo plano a promoção de produtos acessíveis assentes em princípios e direitos de equidade e justiça (Devile, 2009; Michopoulou & Bihalis, 2011), pois a sua competitividade, se assente na tomada de consciência da existência de um novo segmento de mercado e na melhoria da qualidade da oferta turística, permitirá o aumento da quota de mercado e, consequentemente, uma oportunidade de negócio com perspetivas a longo-prazo (Guerra, 2003; Montes & Aragall, 2009).

Para conseguir dar respostas ao segmento de mercado em estudo é necessária uma atenção especial dos gestores da oferta para as diferentes estatísticas apresentadas por instituições ou estudos da área em investigação. Através de estatísticas publicadas pela OMS (2011) e por Buhalis et al. (2005), e tendo em conta os países emissores de visitantes com maior quota de mercado na cidade de Aveiro – universo que irá ser estudado na segunda parte do projeto – poder-se-á verificar a prevalência de incapacidade segundo cada país, a percentagem de membros da família e amigos que são afetados pelo visitante com algum tipo de mobilidade reduzida, bem como a população com necessidade de requisitos de acessibilidade (Figura 4.12). Denote-se o caso específico de Portugal e Espanha, cujo número de dormidas e número de hóspedes detém o maior valor (Figura 4.13) para a cidade de Aveiro. Se os agentes da oferta turística apostassem na remoção das barreiras e respondessem com eficácia às motivações dos visitantes com mobilidade reduzida, eles poderiam abranger cerca de 20% da população portuguesa e 8,5% da população espanhola, e dar resposta a quase 30% e 23,5%, respetivamente, da população com necessidades especiais de acessibilidade.

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Figura 4.12 - Prevalência de incapacidade, membros da família e amigos que são afetados pelo visitante com mobilidade reduzida e população com necessidade de requisitos de acessibilidade, por país de

origem

Fonte: Buhalis et al., (2005); OMS, (2011)

Figura 4.13 - Número de dormidas e de hóspedes na cidade de Aveiro Fonte: INE (2009)

O segmento dos visitantes com mobilidade reduzida, quando despertado o sentimento de segurança e acessibilidade num destino, são mais leais a este do que aqueles sem mobilidade reduzida, o que importará consequências bastante positivas para os agentes económicos (Buhalis et al., 2005; Kastenholz et al., 2010; Neumann & Reuber, 2004). Se aliado ao facto de que normalmente as viagens são realizadas na época baixa, então os gestores poderão ver neste segmento uma saída para um dos grandes problemas da indústria turística – a sazonalidade (Buhalis et al., 2005; Moura & Kastenholz, 2010).

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% Prevalência de Incapacidade (OMS)

Membros da família (OSSATE)

Amigos (OSSATE)

População com necessidade de acessibilidade (OSSATE) 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 Nº Dormidas (INE) Nº Hóspedes (INE)

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Neumann e Reuber (2004, p. 19) e Darcy (1998, p. 22) chamam ainda a atenção da oferta turística para o facto de os visitantes com mobilidade reduzida viajarem quase sempre acompanhados por familiares ou amigos. Esta condição, comprovada na Figura 4.14 através dos dados referentes aos membros da família e amigos afetados pela incapacidade deste segmento de mercado, permitirá um maior efeito multiplicador sobre as despesas de viagens em geral (Buhalis et al., 2005) e, consequentemente, um maior retorno económico para o destino, caso este apresente um ambiente turístico acessível, e um aumento da sua capacidade de atração (Devile, 2009).

Em suma, a aposta no turismo acessível por parte da oferta traria os seguintes benefícios para o destino (Moura & Kastenholz, 2010, p. 233): (i) argumentos morais (inclusão social); (ii) inovação e aumento da competitividade; (iii) dimensão do mercado; (iv) atração de novos clientes; (v) combate à sazonalidade; e (vi) fortalecimento do negócio proporcionado pela inovação e reforço da competitividade.

4.6 Conclusão

A correta delimitação de todo o processo metodológico a ser aplicado numa investigação científica encontra-se revestida de extrema importância e com um enorme contributo para o sucesso desta.

Assim, pretendeu-se, com este capítulo, e numa primeira fase, dar a conhecer os diferentes modelos de procedimentos metodológicos existentes na literatura. Através do seu estudo, compreensão e aplicabilidade na área do turismo, estes serviram de base à delimitação do modelo conceptual específico da investigação em curso.

Devidamente sustentados cada um dos passos, a investigadora, após a revisão da literatura, e de delimitar os diferentes objetivos específicos a que se propôs para a investigação em curso, decidiu optar pela aplicação de entrevistas para a obtenção dos dados primários, cuja análise será efetuada através da análise de conteúdo. O objetivo geral e os objetivos específicos, bem como as hipóteses foram delimitadas. Por fim, procedeu-se à justificação do estudo.

Ponte de ligação entre a revisão da literatura e a apresentação dos dados recolhidos, este capítulo permite dar continuidade ao que a investigadora se propôs alcançar. Assim, o próximo capítulo será o resultado de todos os passos metodológicos apresentados. São realizadas as devidas análises às informações relativas a cada caso entrevistado, e reiteradas as devidas conclusões.

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Capítulo 5 - Apresentação, análise e