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EVOLUÇÃO DOS CATÁLOGOS BIBLIOGRÁFICOS DO REGISTO MANUAL À WWW

4.4 Constituição e desenvolvimento dos catálogos eletrónicos 1 Catálogos em linha de 1ª geração

4.4.3 Catálogos na WWW

A identificação de catálogos como sendo de terceira geração é mais subtil e não é tão facilmente identificável como a passagem de primeira para segunda geração. Com a disponibilização das bibliotecas na WWW alguns sistemas passaram para a terceira geração devido à adição de novas funcionalidades, possibilitadas pelo aumento da sofisticação tecnológica, que os tornaram mais adaptáveis às necessidades dos utilizadores. Pesquisa em texto livre, pesquisa em bases de dados com registos bibliográficos enriquecidos (sumários, notas de conteúdo), pesquisa simultânea em revistas eletrónicas, funções de assistência operacional, como a correção automática de chaves de pesquisa baseada no contexto, estão entre as funcionalidades de recuperação de informação da terceira geração de catálogos em

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linha. Alguns destes sistemas também fornecem módulos de recuperação de texto integral ou funções complementares que permitem a pesquisa por termos relacionados, adjacência e proximidade e funcionalidades de substituição de caracteres (wild card). Além disso, o modo de interação com o utilizador também se desenvolveu a ponto de poder ser parametrizado de acordo com as suas preferências.

A evolução das funcionalidades do Windows também contribuiu para o aumento das funcionalidades do catálogo. Funcionalidades de apontadores permitem a quem pesquisa selecionar exatamente o termo que procura. As barras de scroll e menus com listas de opções (drop-down menus), facilitam a navegação em diferentes índices. Com a funcionalidade de pesquisa pós-Booleana, o programa de pesquisa também tenta interpretar as solicitações de pesquisa dos utilizadores, apresentando os resultados por relevância.

Na WWW o ambiente informacional externo às bibliotecas torna-se cada vez mais sofisticado e competitivo, aliando ao crescimento exponencial de informação e serviços digitais uma banalização das tecnologias de informação que possibilitam formas de descoberta, acesso e recuperação dos recursos mais rápidas e intuitivas, que mais se aproximam das necessidades e dos esquemas mentais dos utilizadores.

Este ambiente gera, nos utilizadores, grandes expectativas e exigências quanto à acessibilidade dos recursos e à sua disponibilidade sem intermediários, criando também a ideia que as bibliotecas digitais poderão vir a substituir as bibliotecas tradicionais e que novos serviços, como os dos motores de pesquisa, poderão substituir todo o trabalho de organização da informação consubstanciado nos catálogos das bibliotecas.

Esta noção de facilidade acentuou-se a partir do início dos anos 2000 altura que o Google127 começou a imperar. Ganham terreno as soluções mais fáceis, mais baratas e aparentemente mais convenientes, gerando-se a falsa impressão de que reside na WWW tudo o que se quer consultar, mesmo que o objetivo não esteja bem definido,

127

O Google definiu como objetivo a organização do conhecimento mundial, cf. Google (2005). Corporate information: Company overview. Disponível em: http://www.google.com/corporate/index.html.

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que a informação conseguida não seja a mais relevante, não responda cabalmente às necessidades, coloque problemas da credibilidade, ou se apresente desorganizada e numa quantidade que frequentemente não é manejável.

Nesta profusão de resultados parece ter sido esquecido que, para a obtenção de resultados pertinentes, continua a ser vital um bom conhecimento das ferramentas disponíveis e um bom domínio do seu uso.

Colocar a pergunta correta continua a ser importante quer se trate de um catálogo tradicional quer de um motor de busca mas, segundo Debowski (2001), os utilizadores gastam mais tempo na introdução de dados do que no planeamento das suas pesquisas:

“It was evident that [searchers] spent more time inputting, rather than planning a suitable search process. There was little evidence of search quality assessment [...] with most entering the next search statement very rapidly [...] those who were search without a solid foundation fail to gain a stronger understanding of the search process. Instead, they appear to develop further erroneous habits as they continue." (Debowski, 2001, p. 378.)

A apresentação de resultados por relevância, tão popularizada pelo Google, também pode ter como implicação uma ausência de aferição do número total de resultados obtidos, na medida em que muitos utilizadores, ao encontrarem o que pretendem na primeira metade da primeira página, já não avançam mais, ou centram- se nos resultados apresentados em primeiro lugar, e escolhem um como ponto de partida para percorrer mais itens relevantes, não chegando a percorrer até ao final as sucessivas lista disponibilizadas (Eden, 2007).

Embora os catálogos do início do século 21 já não apresentem os constrangimentos verificados nos primeiros OPAC web de meados dos anos 90, o seu desenvolvimento, em termos de funcionalidades, tem sido lento se comparado com os motores de busca. Em grande parte, tal se deve ao facto de os catálogos sempre terem funcionado um pouco como “caixas negras” ou como “silos”, quer devido à complexidade dos seus metadados e normas subjacentes, quer devido à grande

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dependência que as bibliotecas sempre tiveram dos fornecedores de software para o desenvolvimento de novas soluções.

Com efeito, tem-se verificado que, no que respeita ao funcionamento com a coleção física da biblioteca, os OPAC normalmente já oferecem funcionalidades sofisticadas (integração do catálogo com listas de renovações, listas de aquisições, pedidos de empréstimos, entre outros).

“Indeed, one of the 20th century’s grandest information technology accomplishments was the transformation of the library card catalog into the online public access catalog, the centerpiece of today’s Integrated Library Systems (ILS). IFLA’s emerging International Cataloguing Code specifies five basic functions for this tool – finding, identifying, selecting, obtaining, and navigating – and, most would agree that the current generation of OPACs performs these task competently.” (Byrum, 2005, p. 7.)

Todavia, quando se pretende uma maior abrangência de funcionalidades e serviços, começam a ser encontradas falhas especialmente quando não possuem, por exemplo, um portal que permita a integração dos vários produtos eletrónicos subscritos pela biblioteca, quando o interface de pesquisa é complexo e pouco intuitivo, quando não são capazes de fornecer resultados de acordo com fatores de relevância ou interesse, quando são demasiado limitados no âmbito ou quando são demasiado direcionados para materiais impressos e deficientes face aos requisitos de conteúdos eletrónicos (Breeding, 2007).

Com o foco da atenção dos utilizadores centrado na rede, abrem-se novos ambientes de descoberta onde é necessário localizar os recursos. Para Boock (2007) a falta de adequação das funcionalidades do catálogo leva a que muitos utilizadores usem o Google para encontrar com rapidez materiais relevantes e só depois, se os materiais não estão disponíveis em livre acesso, é que recorrem à pesquisa por título no catálogo da biblioteca para verificar se esta os possui.

Novamente se coloca a questão da função do catálogo e da diferença entre encontrar (descobrir) e localizar, isto é, identificar onde está disponível o recurso. Os catálogos bibliográficos, tal como se apresentam, podem ser uma parte no processo de

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localização, mas necessitam de um trabalho mais aturado no que diz respeito ao processo de descoberta (Dempsey, 2006b).

A perda de importância do catálogo face às atuais necessidades dos utilizadores resulta, em certa medida, dos muitos anos de práticas catalográficas originárias num mundo centrado no impresso, o que não é suficiente no novo ambiente WWW. Quando as bibliotecas descrevem e dão acesso aos recursos em rede têm vindo a fazê- lo com os mesmos procedimentos usados para constituir os catálogos pré-WWW. Para irem mais longe e se integrarem no novo ambiente é necessário que encetem caminho numa nova direção (Oliver, 2010), em que o catálogo não seja visto como mero armazenamento de dados mas antes como instrumento mais amplo, de interação com outras entidades.

A necessidade de munir o catálogo com ferramentas que providenciem funções de pesquisa que supram as necessidades dos utilizadores finais, mais do que continuarem a ser ferramentas que constituam uma extensão de uma ferramenta de gestão da coleção para os bibliotecários, acabou por criar um conflito entre duas funções base do catálogo – encontrar e colocar. Embora os catálogos apresentem vários pontos de acesso, continua a faltar-lhes um meio para expressar a totalidade da estrutura sindética, para definir a sua organização e para representar, numa só estrutura, o universo bibliográfico. Com efeito, os registos encontrados para responder à função encontrar não possuem os elementos de dados suficientes para responder à função colocar, denotando a urgência de definir qual o objetivo do registo bibliográfico (Bianchini e Guerrini, 2009).