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Necessidade de renovar a estrutura sindética

Regras e códigos de catalogação

3.3 Síntese da literatura

3.3.2 Sobre o aparato normativo subjacente aos catálogos bibliográficos Introdução

3.3.2.2 Necessidade de renovar a estrutura sindética

Os sistemas de catalogação informatizados têm dado pouca atenção à forma como os dados são colocados no catálogo, o que contribuiu para o enfraquecimento da estrutura sindética de recuperação, útil ao utilizador, tendo-os transformado em pouco mais do que coleções de elementos sem relação (Svenonius, 2000; Le Boeuf 2005a, p. 4), que oferecem pouca informação sobre a semântica daquilo que está a ser descrito (Alemu, Steven e Ross, 2012).

Ao longo dos anos 90, muitas das críticas centram-se no facto de as normas usadas correntemente nas bibliotecas continuarem a manter alguns dos constrangimentos inerentes aos sistemas manuais:

Cataloguing rules have been updated in a incremental way over the past three decades to accommodate the description of an evolving repertoire of information carriers, and MARC formats have been enhanced to some extent to respond to current technical developments in data management, but the rules and formats remain strongly rooted in early technologies, and there is a growing gap between the conventions reflected in cataloguing rules and formats and the technological environment within which the catalogue currently operates (Delsey, 2000, p. 7).

É patente na literatura alguma contestação ao modo como os dados bibliográficos se apresentavam estruturados (ver subsecção 3.2.3.3, gráficos 8, 14 e 15). Especialmente no que diz respeito às AACR2, a literatura aponta deficiências na

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prática catalográfica e coloca em evidência as fragilidades das regras por não serem suficientes para ajudar os utilizadores a encontrar, identificar e selecionar os recursos de que precisam, num ambiente em que a maioria pesquisa e consulta, remotamente, o catálogo em linha.

Como é salientado por Yee, o conceito de “obra” nunca foi definido nas AACR, “the implicit acting concept of work in a code can be extrapolated from rules that relate the edition of a work (Yee, pt. 2, 1994b, p. 5). No entanto, outros autores, como Thomas (2000), defendem a flexibilidade das AACR2 e de outros esquemas de metadados usados para descrever, categorizar e comunicar informação, considerando- os bons e duráveis e realçando a sua contribuição para a organização do conhecimento.

Estes constrangimentos continuam a ser apontados nos anos subsequentes, na medida em que os metadados bibliográficos continuam a ser baseados essencialmente nas ISBD, AACR2 e formato MARC: redundância, inconsistência, falta de granularidade e complexidade das normas vigentes são aspetos considerados responsáveis pela inadequação e falta de operabilidade face ao ambiente informacional corrente (Delsey, 2000; Weinberger, 2005; Coyle e Hillmann, 2007; Coyle, 2010h), ressaltando a necessidade de se desenvolverem esquemas de metadados mais simples e de implementação mais fácil (Day, 2000; Tennant, 2002a; Guenther e McCallum, 2003; Chan e Zeng, 2003; Coyle e Hillmann, 2007; Coyle, 2010h).

É manifesta a necessidade não só de uma redefinição das normas, como de um enriquecimento dos registos bibliográficos com informação que contribua para uma melhor identificação e seleção dos recursos. Neste aspeto, Bates (2003, p. 49-50) afirma: “there is a lot of evidence that catalog users would like additional subject information provided in the cataloging record, specifically, a summary or abstract of the item”.

Com a publicação do modelo FRBR (1998), o debate sobre o futuro da catalogação intensifica-se (ver Bicentennial Conference on Bibliographic Control for the

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atravessem na década de 2000 um período de profunda mudança, durante o qual os princípios e normas são avaliados (Veltman, 2001; Taniguchi93, 2002 e 2003; Mathes, 2004; Shirky, 2005; Weinberger, 2005; Marcum, 2006; Coyle e Hillmann, 2007; Ivey, 2009; Wakimoto, 2009; Lagoze, 2010; Coyle, 2010h; Baker e outros, 2011; Alemu, Stevens e Ross, 2012). Taniguchi (2005, 2006, 2007) sugere um sistema de registo de evidências das ações de catalogação que melhore a expressividade e confiabilidade dos registos de metadados.

Marcum (2006), põe em causa o modo tradicional de realizar a descrição bibliográfica defendendo a necessidade de um maior investimento no controlo de autoridade, indexação e identificação e avaliação do recurso; e Calhoun (2006) questiona o custo-benefício da prática catalográfica tradicional, advogando a sua simplificação e enfatizando a necessidade de se seguirem estratégias que envolvam a consolidação dos dados, analisados de um ponto de vista global, combinadas com múltiplas técnicas de descoberta de recursos.

A Library of Congress (2008a), através do Working Group on the Future of Bibliographic Control (WGFBC), produziu um relatório redefinindo o controlo bibliográfico e o universo bibliográfico, dando-lhes maior amplitude, para além das bibliotecas e dos editores. O relatório cobriu um conjunto de aspetos fundamentais, incluindo a recomendação para se desenvolver um plano para levar à prática o modelo FRBR (ibid., p. 32-33), enfatizando o controlo de autoridade e os vocabulários controlados (ibid., p. 19-21), em que já é visível um prenúncio do foco de BIBFRAME nas autoridades. Realçou, também, a importância da gestão das relações entre comunidades, ao nível de obras, nomes, conceitos e descrições de objetos (ibid., p. 10).

Outras instituições, especialmente universidades, também se interrogam sobre o futuro da catalogação e produzem documentos de reflexão sobre a função que está

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Este autor propõe um modelo conceptual que dá primazia à entidade bibliográfica “expressão” com o objetivo de abordar questões críticas tais como as variações de formato e o conteúdo versus suporte.

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cometida ao catálogo e quais as possibilidades de desenvolvimento futuro (University of California Libraries, 2005; Byrd e outros, 2006).

[…] will not be diminished in the coming years. Rather, catalogers of the future will work in the evolving environment of publishing, scholarly communication, and information technology in new expanded roles (Byrd e outros, 2006, p. 2).

Nas recomendações do WGFBC (Library of Congress WGFBC, 2008a), na parte que aborda a tecnologia futura para as bibliotecas, sublinha-se o abandono do MARC, não só por ser uma técnica com 40 anos de existência e de uso restrito à comunidade biblioteconómica “is out of step with programming styles of today” (ibid., p. 24), mas também por haver aplicativos bibliográficos, desenvolvidos externamente, que podem ser compatíveis com os registos bibliográficos codificados em MARC.