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METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

2.3 Epistemologia e método

Epistemologicamente, segundo Capurro (2003), a CI tem duas raízes: uma, a da “ciência das mensagens”, ligada a todos os aspetos sociais e culturais; e outra, mais recente, de carácter tecnológico, que se refere ao impacto da computação nos processos de produção, recolha, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação. Contudo, o aspeto mais importante nestes dois conceitos está em distinguir: “information as an object or a thing (e.g. number of bits) and information as a subjective concept, information as a sign, i.e. as depending on the interpretation of a cognitive agent” (Capurro e Hjørland, 2003, conclusão, paragr. 3).

“We can consider the process of storage and retrieval of information hermeneutically as the articulation of the relationship between the existencial world-openness of the inquirer, his/her different open and socially shared horizons of pre-understanding and the established horizon of the system” (Capurro, 2000, paragr. 12).

Capurro e Hjørland (2003) também defendem que a inclusão, na CI, de processos de interpretação é uma condição sine qua non dos próprios processos de informação. Com efeito, vários autores reconhecem que diversos temas de CI recorrem a perspetivas influenciadas pela hermenêutica, desde, por exemplo, o estudo de comportamentos informacionais (Vakkari, 1997) à análise dos conceitos que

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formam um domínio (Soergel e outros, 2004) ou, ainda, às técnicas e funcionalidades tecnológicas de recuperação de informação (cf. Hjørland, 1998).

Pela natureza do tema deste estudo, consideramos que o mesmo se enquadra na vertente com raiz de carácter tecnológico da CI referida por Capurro, e que as perguntas definidas para a investigação justificam que a base epistemológica se insira no paradigma hermenêutico ou interpretativista.

De acordo com Boland:

“Viewing information system use as a hermeneutic process would open a new set of research concerns. Taking a hermeneutic view, attention would shift from how well an information system represented a situation to how well it enable a reader to appropriate possibilities for being, both in the situation and in their own lives. […] shift from identifying the user’s essential, foundational and enduring set of information needs to identifying how different information availability enabled the juxtaposition of quantity and quality, the shifting back and forth from numbers and calculation to persons and values” (Boland, 2002, p. 237).

Como método, o interpretativismo é usado na ótica que lhe é conferida por Cornelius (1996, p. 6) – a de ser uma atividade que busca uma forma de compreender e descobrir significados para, e no âmbito, dos estudos de informação. É uma abordagem holística que tem em consideração várias variáveis incluindo o contexto do estudo (Klein e Myers, 1999).

Na abordagem hermenêutica19 ou interpretativa existem, embora com uma base comum, diversas correntes e posições sobre a noção de “compreensão interpretativa”. Neste estudo, seguimos a posição de Walsham (2006, p. 321) quando afirma: “we are biased by our own background, knowledge and prejudices to see things in certain ways and not others”.

Segundo Walsham (2002), o desenvolvimento de uma escola interpretativista em CI não tem sido isento de debate, especialmente no que diz respeito às vantagens

19 Na sua origem, a hermenêutica era a arte da interpretação de textos. A hermenêutica acentua a interpretação através da cultura e da história e implica uma forma de “holismo semântico” na medida em que implica a compreensão do todo para se apreenderem as partes (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 2005, p. 58).

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de uma abordagem interpretativa versus abordagem positivista (cf. Orlikowski e Baroudi, 1991) ou à possibilidade da sua combinação (Lee, 1991; Gable, 1994). Contudo, apesar da existência de diferenças, a literatura já apresenta um número significativo de estudos que aplicam o interpretativismo (cf., por ex., Boland e Day, 1989; Orlikowski, 1991; Walsham, 1995).

“The output of an information system is not simply a representation of some aspect of the world being transmitted in as clear and unbiased a way as possible to its user. Instead, the output of an information system is an unfamiliar text to be read, interpreted and made meaningful by those who use it in way that will always surpass any particular understanding the system’s creators had mind. In making their interpretations, the readers bring the world into being in a certain way, and bring themselves into being differently as well. Studying that process of interpretation is the hermeneutic task for information system research.” (Boland, 2002, p. 226.) Segundo Walsham (citado em Myers e Avison, 2002, p. 6), em CI os métodos interpretativos destinam-se a produzir um entendimento do contexto do sistema de informação e o processo pelo qual o sistema de informação influencia e é influenciado pelo contexto.

O interpretativismo não deixa, assim, de reconhecer a existência de subjetividade na investigação, na perspetiva de que não existe uma realidade objetiva única, tendo que ser consideradas várias realidades. Bannister (2005) sugere que a realidade é examinada através de uma série de processos mentais, ou filtros, que podem incluir, entre outras, “lentes” percetuais, contextuais, linguísticas. Ao estar ciente destes filtros o investigador avalia e compreende as evidências fornecidas pela informação.

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Cada situação é considerada como um caso e torna-se necessário que o investigador aprofunde detalhadamente a sua reflexão para compreender a realidade:

“the researcher’s best tool for analysis is his or her own mind, supplemented by the mind of others when work and ideas as exposed to them” (Walsham, 2006, p. 325).

Mais do que apenas compreender através de descrições detalhadas, deve procurar-se responder a perguntas tais como: “o quê?”, “porquê?” e “como?”.

Como já referido, o paradigma interpretativo tem vindo a crescer em importância na investigação em CI (Walsham, 2006). À luz da citação de Einstein colocada no início deste capítulo, pretendemos que a epistemologia que dá suporte ao método de investigação a aplicar seja simples (o que não quer dizer que seja simplista), e que o método escolhido seja o apropriado às perguntas da investigação, reconhecendo, tal como Weingand (1993), que a aplicação de métodos flexíveis é uma condição chave para resultados efetivos. Estas premissas levaram-nos a escolher o interpretativismo como abordagem predominante no nosso estudo.