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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 ESTUDO 1b: Análise dos documentos referentes ao curso de Licenciatura em Física

5.3.4 Um olhar sobre a fala dos professores

5.3.4.3 Categoria: Aluno Egresso

A categoria “Aluno Egresso” é a terceira categoria de nossa grelha de análise. Esta categoria tem como subcategorias “Encontra-se preparado para a EJA”, “Não se encontra preparado”, “Relatos de vivências” e “Formação em segundo plano”.

Numa tentativa de justificar cada subcategoria, confeccionamos a Tabela 14 de modo que facilite a nossa compreensão sobre cada uma delas.

Tabela 14 – Categoria “Aluno Egresso” e as subcategorias Aluno Egresso

Encontra-se preparado para a EJA O formador considera que o aluno esteja preparado para a demanda da EJA e apresenta seu ponto de vista sobre a afirmação.

Não se encontra preparado O formador considera que o aluno não esteja preparado para a demanda da EJA.

Relatos de vivências O professor traz a formação do licenciando as suas experiências enquanto professor de EJA e acredita que o aluno esteja preparado para a demanda da EJA

Formação em segundo plano O formador não cita aspectos de uma formação específica voltada para a EJA, mas acredita que ele esteja preparado para mesma. Fonte: Elaborada pelo autor

Os professores formadores foram interrogados a cerca da formação de seus licenciandos de acordo com os Apêndices A e B. Essa categoria foi a mais diferenciada das demais em termos de respostas possíveis, pois leva em consideração a visão do formador sobre os licenciandos, a visão do formador sobre a própria visão que ele tem do curso e pode levar também em conta a sua própria formação.

Vamos explicar melhor a partir do excerto 18 do professor A.

PROFESSOR A: Bom, eu acredito que sim. Eu acredito porque os alunos quando saem daqui, apesar de a gente saber que a gente nunca está preparado, eu tenho 20 anos de

carreira e não me sinto preparado ainda, mas aquela preparação básica inicial que a gente precisa delimitar também um pouco, não precisa imaginar o aluno perfeito sair daqui pra ser capaz de lecionar tudo, que isso não existe em canto nenhum, mas eu acredito que pra modalidade de EJA, nossos alunos saem competentes pra trabalhar. (18)

A pergunta inicial que fazemos a partir do grifo feito no excerto do professor A é de que forma os professores acreditam que os licenciandos estejam preparados para a realidade da EJA. Essa questão envolve muito da cosmovisão do professor formador sobre a EJA. O professor A no excerto (19) que trazemos para a nossa discussão vem afirmando numa crescente que o professor nunca está preparado, o que é uma verdade devido ao próprio processo de formação que é continuo. O final do excerto do professor A é que nos gera certa inquietação.

PROFESSOR A: [...] mas eu acredito que pra modalidade de EJA, nossos alunos saem competentes pra trabalhar. (19)

Esse “mas” nos provoca a pensar de que forma pensamos a formação para a EJA? Sabendo que o “mas” é uma conjunção adversativa, precisamos se a ter a fala como um todo. É possível perceber que o excerto 18 vem numa crescente afirmando de certo modo que o professor nunca está preparado para os desafios da função docente e encerra de acordo com o excerto 19. A partir disso, podemos pensar o excerto 19 de variados modos em que o licenciado pode estar preparado:

a) porque teve uma formação voltada para as especificidades da EJA;

b) porque para a EJA não precisa se ter uma formação tão específica e sólida; c) porque há muitos pontos em comum entre a formação inicial e a EJA; d) porque a EJA não tem uma organização enquanto modalidade de educação; e) porque nunca vai se estar preparado mesmo.

Trazendo novamente o excerto 17 da seção anterior para a discussão podemos ser levados a compreender que o aspecto da formação inicial pode ser refletido em alguns dos itens citados anteriormente.

Utilizamos o excerto 19 do professor A e toda essa discussão que se permeia em todas as análises das categorias para o demonstrar o uso de desvios. Segundo Bardin (1977, p. 88) “As conjunções E e MAS figuram de maneira característica na ordem das frequências,

modulando, tal como já assinalamos, as informações demasiado precisas, afinando os comportamentos aconselhados e temperando o negativo através do positivo”.

Ainda sobre este ínterim:

A coerência aparente (num discurso desconexo, por exemplo) pode ser dada pela utilização retórica (no sentido da argumentação como função persuasiva) de procedimentos lógicos: a utilização de conjunções (portanto, e, mas, ora, ... ) pode dar artificialmente uma ilusão de um rigor de raciocínio ou desviar a atenção do verdadeiro raciocínio (BARDIN, 1977, p. ) (grifo nosso).

O excerto 19 foi utilizado para nos aperceber dos perigos que envolvem a análise qualitativa e mais de maneira mais específica, da análise de conteúdo. Sobre o modo de análise de textos curtos (excertos) e análise qualitativa Bardin (1997) acrescenta:

A compreensão exata do sentido é, neste caso, capital. Além do mais, o risco de erro aumenta, porque se lida com elementos isolados, ou com frequências fracas. Donde a importância do contexto. Contexto da mensagem, mas também contexto exterior a este; quais serão as condições de produção, ou seja, quem é que fala a quem e em que circunstâncias? Qual será o montante e o lugar da comunicação? Quais os acontecimentos anteriores ou paralelos? Por outro lado, a abordagem qualitativa evolutiva, confronta-se com o perigo de “circularidade” em maior grau do que a abordagem quantitativa e fixa (BARDIN, 1977, p. 115)

No proposto por Bardin (1977) sobre contexto a afirmação “quem fala” pode ser respondido a partir do exposto na Tabela 8 sobre o perfil dos professores. Quando observamos um desvio na fala do entrevistado que teve experiência com EJA pode nos levar alguns questionamentos: Qual a relevância dessa experiência para o professor formador? Foram experiências exitosas ou marcadas por dificuldades das quais algumas estão elencadas neste estudo? Esses questionamentos dos quais não temos resposta são também importantes para o entendimento deste contexto de produção da fala.

Trazendo os excertos dos outros professores para a discussão temos que para o professor B o aluno não se encontra preparado para a EJA e como percebemos na categoria “Abordagem da EJA nos componentes curriculares” o excerto 5 se reafirma no excerto 20 que é a não orientação do PPP para o formador voltado para EJA.

PROFESSOR B: Não. Não tem, mas eu estou fazendo o seguinte como já lhe disse [...] Procurei segui o ementário, o conteúdo que é colocado lá, disposto no PPP [...] mas eu sempre falo com os meninos, eu falo muito da minha experiência, então a gente trabalha muito texto, eu também coloco muito eles pra ir na frente falar, a gente estava trabalhando agora antes da greve algumas sequências didáticas e assim, eu costumo falar pra eles: _ olha gente, eu trabalhei com educação de jovens e adultos! Falar da minha experiência. (20)

O professor C apresenta uma justificativa muito geral para a formação acadêmica dos licenciados

PROFESSOR C: Não. O aluno que sai das graduações de licenciatura ele não está preparado pra quase nenhum desafio do ensino médio, do ensino fundamental, ou seja, do ensino básico, em geral. (21)

O professor D afirmou que a EJA acontece do mesmo jeito. Segundo ele, não teve experiência nessa área. Como então, afirmar que a EJA acontecer do mesmo jeito sem uma certa vivência (Excerto 22) ? Em segundo plano, como os licenciandos sabem se não foram preparados durante os componentes curriculares (excerto 23)?

PROFESSOR D: [...] como eu não tenho vivencia nessa área, eu tenho muito o olhar dos meus alunos quando chegam lá e uma coisa que me preocupa é que, por mais que no papel o EJA esteja desenhado numa forma completamente diferente do ensino regular, ela acontece do mesmo jeito (22) [...] porque há abertura pra compreender que é uma educação que têm suas peculiaridades, eles conseguem, eles sabem, eles refletem durante os componentes curriculares. Agora, as dificuldades operacionais, eles buscam dentro das possibilidades dos contatos que eles tem. (23)

O professor E e F, quando questionado sobre a preparação do licenciando para a EJA, afirmaram que essa formação está sujeita, de certo modo, para algo mais específico. O professor E e F conseguem enxergar a necessidade de uma formação mais voltada para as especificidades da EJA.

PROFESSOR E: Olha, depende. Depende. Eu acho que, na verdade, se a gente for olhar de fato, eu acho que cada modalidade de ensino exige uma certa formação específica (24) PROFESSOR F: Não! Como a gente já falou inicialmente o EJA é um pouco específico e aqui você trabalha uma formação inicial aonde você tem aspecto de um conteúdo específico de Química, conceitual, científico. (25)

O professor G considera o papel da formação inicial como um caminho para a formação do futuro licenciando voltado para a Educação de Jovens e Adultos.

PROFESSOR G: Isso é muito relativo, porque eu acho assim: vai muito das discussões que foram feitas aqui. [...] não vou dizer assim que eles estão preparados, mas a gente procura dentro do possível trabalhar nesse sentido (26).

Numa análise das subcategorias e dos excertos vistos até aqui, podemos perceber que elas se encaixam muito bem dentro dos pontos a, b, c, d e e citados nesta seção.