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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 ESTUDO 1b: Análise dos documentos referentes ao curso de Licenciatura em Física

5.3.4 Um olhar sobre a fala dos professores

5.3.4.5 Categoria: Disciplina específica para a EJA

A categoria “Disciplina específica para a EJA” tem como subcategorias a necessidade e a não necessidade de uma disciplina com ementa específica voltada para a EJA. Essa é uma realidade presente em muitas Universidades. Essa constatação se deu no V Seminário

Nacional de Educadores de Jovens e Adultos realizado em São Paulo em 2015 do qual participamos apresentando um recorte do Estudo 1 aqui posto.

Os professores foram questionados quanto à necessidade de se abrir uma disciplina específica para a EJA e esperava-se que a resposta se voltasse à necessidade pela especificidade da própria EJA ou da não necessidade já que as disciplinas existentes já devem dar conta ou deveriam dar desse processo de formação na visão dos formadores.

Cabe retomar algumas conclusões dos Estudos 1 e 2 que já obtivemos como resultados: 1) os documentos técnicos (PPP) não fazem menção a realidade da EJA nos cursos formadores, 2) não há disciplinas voltadas para essa especificidade, 3) não há orientações bibliográficas que tratem especificamente da EJA, 4) essa abordagem não é realizada pelos professores formadores entrevistados a exceção do professor G, 5) alguns professores citaram a especificidade da EJA (Tabela 16) como fundamental para a preparação da carreira docente do aluno egresso.

Diante dessa realidade achamos por bem ver a opinião dos professores sobre a questão da possibilidade da implementação de uma disciplina específica. Vamos trazer alguns excertos dos professores para a discussão sobre essa categoria.

O professor A acredita na ideia de que outras disciplinas deveriam dar conta ou pelos menos tentar aproximar a discussão nas outras disciplinas. De acordo com os resultados que citamos nesta seção a pergunta seria como, se não há orientações técnicas para as mesmas nos PPP.

PROFESSOR A: uma disciplina específica eu acho desnecessária até porque eu acho que a EJA deva ser vista de diversos olhares, então as diversas disciplinas que nós temos com as PPQ devem ter em cada momento, um momento específico pra situação do EJA (33).

O professor B leva em conta as especificidades da EJA já vista na Tabela 16 e ainda dá sugestões a mesma. Os grifos feitos na fala do Professor B são as categorias “Dúvidas” (1,9%) presentes somente na fala dele que pode ser visto na Tabela 11.

PROFESSOR B: Eu acho que é. Porque é como eu lhe disse. É uma modalidade que o aluno, o egresso, quando ele sair daqui ele pode se deparar, né?[...] Então eu não sei se um desses estágios fosse direcionado a educação de jovens e adultos, acho que seria interessante, porque aí o que é que iria acontecer, ia ter toda uma preparação de material, de análise do livro deles que é um material que é diferenciado, o material da EJA não é igual ao material do ensino regular, ele é bem resumido, então assim, talvez seria interessante, um estágio direcionado pra educação de jovens e adultos (34).

Os professores C e D consideram como fundamental para a inclusão de uma disciplina específica e êxito da mesma o papel do formador. Segundo eles, deve ser alguém que esteja preparado.

PROFESSOR C: Olha! Não adianta colocar uma disciplina se não tiver gente pra dar essa disciplina. [...] simplesmente aumentar o conteúdo ou criar uma disciplina e sem ter gente com condições de lidar, talvez até piore a situação. Enquanto a gente não tem alguém com capacidade técnica de ministrar uma disciplina como essa. Se a gente tem, ótimo! Vamos colocar a disciplina! Mas a gente não tem é... Pra gente começar a fazer esse trabalho é dentro das próprias disciplinas pedagógicas, a gente começar a incluir esses temas de acordo com o que cada disciplina possa receber (35).

PROFESSOR D: Eu sou meio descrente de que o que faz a coisa acontecer seja um componente curricular. Porque eu acho que o que faz a coisa acontecer quem tá, de certa forma responsável pela execução do currículo. Porque o que tem no papel não necessariamente é garantia pra acontecer na sua sala. [...] Não adianta criar um componente se não tiver quem compre essa ideia. Porque não é o conteúdo prescrito que vai pra sala de aula, a gente sabe disso (36).

O professor E aprecia a ideia de disciplinas específicas para a EJA como outras na área de inclusão, necessidades especiais, etc.

PROFESSOR E: De urgência uma disciplina? sim, mas eu acho que necessitaria de mais disciplinas pra complementar mais essa discussão na EJA (37).

Os professores F e G consideram a importância de uma disciplina e afirmam que os cursos estão se orientando para isso.

PROFESSOR F: Sim, com certeza é algo que é tanto que no próximo, o NDE tá discutindo o curso e no próximo acredito que, 2016.1, o currículo da UEPB de licenciatura tenha disciplinas para o EJA, tenha disciplinas de inclusão, então há discussão (38).

PROFESSOR G: apesar de ainda existir uma distância do ponto de vista de ter essa discussão mais aprofundada, inclusive na reforma curricular que vamos propor agora a gente tá dando direcionamento especificamente pra modalidade da Educação de Jovens e Adultos (39).

Chegamos ao final da apresentação dos resultados obtidos nos Estudos 1 e 2, , e o que podemos acrescentar as discussões já apresentadas anteriormente ou que resultados surgiram deste estudo?

O primeiro fato constatado é que as instituições de ensino superior tem silenciado a questão da formação voltada para as especificidades da EJA a partir de seus documentos técnicos, reflexo da falta de uma orientação pelos documentos oficiais analisados que instituem a modalidade EJA (Estudo 1).

O segundo fato verificado é que a realidade da EJA não se expressa na práxis dos professores formadores na formação inicial dos futuros licenciados e a maioria dos

formadores considera a importância dessa temática, mas não efetua mudanças para que a mesma ocorra, o que torna o discurso da importância empobrecido pela falta da atitude confirmando a nossa hipótese de que não há uma formação inicial específica para a modalidade EJA nos referidos cursos e tal fator tem oferecido obstáculo ao professor quanto ao enfrentamento dos desafios cotidianos de sua prática docente.

Fica claro, pra nós, e alguns professores evidenciaram nas falas que os mesmos não foram preparados para essa realidade em seus cursos de formação inicial o que pode ser um fator sintomático para o que encontramos hoje nas pesquisas. Entretanto cabe salientar que a EJA não surgiu hoje e que essa realidade já vem expressa há muito tempo conforme percebemos até o presente momento.

Torna-se claro para nós que é preciso repensar a importância das políticas públicas na criação e principalmente na efetivação da proposta de uma educação voltada as especificidades dos jovens e adultos. Nas palavras de Beisiegel (1974)

Se um meio adverso lhes impede o desenvolvimento, o meio culturalmente elevado produz um efeito contrário. A criança alfabetizada, em um meio de adultos analfabetos, não logra modificar a situação dos adultos. Mas, o adulto provido de alguma instrução, em meio igualmente rude, pode contribuir para transformá-lo, seja atuando no seio do lar, sobre os filhos, seja nas suas relações mais extensas, sobre toda a comunidade (BEISIEGEL, 1974, p. 87).

A efetivação da proposta da EJA, nas palavra de Beisiegel, nos orienta que com essa preocupação, alcançaremos para além de uma prática formativa ou a formação de um professor em EJA, mas uma mudança que produza efeitos na sociedade, no contexto do adulto e dos seus pares, que possa contribuir para a transformação da realidade em que vive e que, em uma visão mais ampla, possibilite melhorias a sociedade como um todo.