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3. FORMAÇÃO DE PROFESSORES

3.1. Formação de professores em documentos

Numa tentativa de cumprir os objetivos de sua missão, as Instituições de Ensino Superior (IES) estabelecem os seus documentos técnicos abalizados pelos documentos oficias, a fim de orientar os seus cursos de formação para os objetivos já predeterminados em seu escopo.

Silva et al (2009, p. 4556) afirma que “como produto de uma sociedade, o documento manifesta o jogo de força dos que detêm o poder. Não são, portanto, produções isentas e ingênuas; traduzem leituras e modos de interpretação do vividos por um determinado grupo de pessoas em um dado tempo e espaço”.

Nessa reflexão, outros momentos foram marcados pelas tentativas de regulamentação da formação de professores a partir de criação de instrumentos que legitimassem a formação de professores.

O primeiro documento que abordou a questão de direito a formação e a melhores condições de trabalho dos professores foi o Pacto Internacional de Derechos Econômicos, Sociales y Culturales, assinado pelos países membros das Nações Unidas, em abril de 1966. O artigo 13, inciso 2, foi considerada a necessidade de “melhorar continuamente as demandas materiais dos docentes”.

No mesmo ano, outro documento que abordou sobre a formação de professores foi a Recomendación relativa a la situación del personal docente, elaborado na Conferencia Intergubernamental Especial sobre la Situaçión de los Docentes de los Países Miembros, evento promovido pela UNESCO e OIT.

O Documento produzido neste evento contém 150 diretrizes sobre política de educação, planos de estudo, formação docente, emprego, condições de trabalho, e participação dos professores na toma de decisões. Junto com as normas internacionais do trabalho pertinentes, a OIT propus a aplicação destas

recomendações tanto pelos governos, quanto pelos empregadores do setor privado da educação e os sindicatos docentes (RODRIGUEZ, 2008, p. 5691).

Sobre essa recomendação, Lima (2005, p. 61) cita que mesmo com “a Recomendação relativa ao Estatuto dos Professores, feita pela UNESCO em 1966 com diversas recomendações, acordos e Pactos, por parte dos organismos internacionais e nacionais não tem tido força suficiente para sair do papel”.

Há de se considerar fatores externos para a lentidão na efetivação dos compromissos firmados no Pacto Internacional de Derechos Econômicos, Sociales y Culturales e na Recomendación relativa a la situación del personal docente: a Guerra Fria, violação de direitos civis e políticos em vários países do mundo, privatizações de serviços públicos incluindo escolas e hospitais e forte negação de direitos econômicos, sociais e culturais. Somente no final do século XX que se percebem vários efeitos desses fatores: desigualdades, precarização de empregos, alta percentagem da sociedade em situações excludentes.

A partir de 1990 novas ações foram articuladas para, entre outros aspectos, obter uma maior equidade no acesso à educação, melhorar a qualidade e os resultados dos serviços educativos, criar um sistema de monitoramento dos resultados, descentralizar o sistema educativo e promover a autonomia das escolas.

Vários eventos internacionais deram conta de discutir questões como pobreza, desigualdade social e educação no mundo. Um destes eventos foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien (Tailândia), em 1990, já discutida em outra seção deste estudo. Em 1997, a UNESCO/OIT elaboraram outro instrumento, a Recomendação sobre a Situação do Pessoal Docente de Ensino Superior que discutia, além de outros assuntos, a “formação” docente.

Em 1996, em Kingston (Jamaica), elaborou-se o documento Educación, Democracia, Paz y Desarrollo, onde as instituições devem

Diseñar planes de formación a largo plazo dirigidos a los docentes en servicio. La formación de docentes aislados no consigue cambios e innovaciones profundas y sostenidas en la práctica educativa de las escuelas. Para ello es necesario potenciar la modalidad de formación dirigida al conjunto de la escuela en función de las necesidades que se derivan de la ejecución de su proyecto educativo (UNESCO, 1996, p. 11) (grifo nosso).

No mesmo ano, ocorreu a 45ª Reunião da Conferência Internacional de Educação33, em Genebra. O tema central debatido “O papel dos docentes num mundo em processo de

33 Durante a década de 1990, aconteceram encontros marcantes: em 1990, teve lugar a 42ª Reunião, cujo tema foi

mudança”. Tanto a reunião, quanto o documento elaborado da mesma, reconhecem a função do professor como um ator chave nos processos de transformação da educação e se propôs a elaboração de políticas que atenderam o problema docente de maneira integral. No Brasil, vale salientar, a LDB 9.394 foi estabelecida nesse mesmo ano.

A questão da formação de professores ainda manteve-se presente em Santo Domingo (República Dominicana), em fevereiro de 2000, onde os países da América Latina, o Caribe e América do Norte avaliaram os avanços da Região em matéria educacional tendo como parâmetro as metas antes formuladas. Os países reunidos reafirmaram o documento Educación para todos en las Américas. Marco de Acción Regional com metas estabelecidas para os próximos quinze anos.

O último evento que gostaríamos de citar, embora se tenha havido outros, foi o evento em Dakar (Senegal) no ano de 2000, já discutido neste estudo em outra seção. Esse evento conhecido como Marco de Ação de Dakar, retomou as discussões feitas em Jomtien e Santo Domingo e dele se definiram futuras ações a serem cumpridas até 2015, resultados estes que podem ser observados também neste trabalho, nos relatórios de Educação Para Todos (EPT).

Deste evento foram gerados dois documentos: Marco de Ação Mundial e um anexo Educación para Todos Cumplir nuestros compromisos comunes. Comentario detallado del Marco de Acción de Dakar, onde em meio as várias metas temos como destaque a necessidade de oferecer uma formação de qualidade.

Sobre esses eventos e seus documentos, Rodriguez (2008, p. 5701) comenta

Apesar dos avanços nas discussões dos fóruns internacionais com respeito à necessidade de sua formação e a valorização do trabalho docente, se verifica ainda, uma defasagem entre o discurso e as ações concretas nesse sentido. Em relação ao trabalho docente verificasse nos discursos e documentos oficiais que justificam a reforma das últimas décadas, uma falta de definição concreta, tanto no que diz respeito ao processo de formação inicial e continuada dos professores, quanto as condições de trabalho e ensino (grifo nosso).

Se há uma falta de definição concreta nos documentos oficiais no que diz respeito aos processos de formação, nas palavras de Rodriguez (2008), como então as IES se organizam nessa questão se seus documentos são abalizados nos documentos oficiais? Essa discussão veremos posteriormente.

sobre A contribuição da educação para o desenvolvimento cultural; em 1994 a 44ª Reunião se fez um Balanço e perspectivas da educação para o entendimento internacional; 1996 na 45ª Reunião foi discutido o Fortalecimento da função do pessoal docente num mundo cambiante; em 2001 na 46ª Reunião foi sobre A educação para todos para aprender a viver juntos: conteúdos e estratégias de aprendizagem - problemas e soluções.

Algo que precisamos delinear é o que vem a ser essa formação? Quais as necessidades formativas que necessitam os docentes? Qual a importância desses documentos para os cursos de formação? Dentre várias questões que podemos elencar, vejamos o que podemos elencar inicialmente sobre a formação.