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Categoria “Desafios da Supervisão Pedagógica”

Capítulo 6 – Apresentação e discussão dos Dados

6.4. Categoria “Desafios da Supervisão Pedagógica”

Nesta categoria, “Desafios da Supervisão Pedagógica”, emergem duas subcategorias: o constrangimento causado pelo ato de ser observado que faz emergir inseguranças, timidez e o medo de ser julgado; o acumular de funções como um alerta pela falta de supervisão. Como podemos ler através das entrevistas, as entrevistadas sentem um constrangimento em relação à supervisão: “tenho atenção à questão da hierarquia e do respeito, não quer dizer que também me cale a tudo ou que não fale, não é essa a questão, mas também um bocadinho pela minha timidez, muitas vezes, e pela insegurança até em termos de trabalho, será que é o correto, se não é, são estas dúvidas, será que estou no caminho certo ou não estou, às vezes acaba por haver aqui algum constrangimento pensar pergunto não pergunto, será que é assim, peço ajuda não peço, mas não quer dizer que não faço ou que não aceito quando me digam, (AE3, UR132), (...) nem sempre é fácil, nós que estamos tão envolvidos no nosso trabalho, permitimos de certa forma que outra pessoa venha, às vezes somos mais nós, que acabamos por afastar as pessoas, tipo o trabalho é aqui ou muitas das vezes vamos pedindo também essa opinião. (UR113, AE3), a incerteza da compreensão do seu trabalho e a sua significância por parte do outro: “outro constrangimento que nós temos também se prende com o facto de as pessoas, não (…) mas as pessoas acima dela, terem pouca noção do que se passa, sem dúvida que é um constrangimento, as pessoas não têm noção da realidade, (UR242, AE6), “É um constrangimento o fator surpresa incomoda. Não quer dizer que deixo de ser o que sou, mas incomoda-me isso”, (UR360, BE4), “Nós consideramos que alguém está a invadir o nosso espaço e sentimo-nos logo um bocadinho retraídas. Depois, com a prática e a interação a relação isso vai-se minimizando, (UR374, BE5).

Como já foi referido, a acumulação de funções, por parte da supervisora coordenadora, foi a segunda subcategoria da categoria “Desafios da Supervisão Pedagógica”, tal como

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podemos verificar pelas respostas dadas na entrevista pela AE5 “a educadora responsável está a acumular funções e, portanto, é impossível fazer uma supervisão eficiente com 222 crianças, 10 educadores, 12 grupos. sendo que tem creche e jardim de infância e creche familiar, fora todas as questões organizacionais que esta casa tem e, portanto, dá-se resposta e tenta-se, mas é impossível” (UR192). Outros referem que “O coordenador trabalha muito porque tem demasiadas funções”, (UR329, BE2), “Tanta coisa ocupa o dia que a supervisão fica um pouco na cauda”, (UR260, AE7).

A resposta dada por alguns entrevistados refere que devia existir uma pessoa apenas dedicada à parte pedagógica dentro da organização “alguém que estivesse só essa função dedicada a supervisão” (UR261, AE7). Este acumular de funções não fica só pela solução, dada pelos entrevistados, de ser necessário uma pessoa ligada à área mais pedagógica como um supervisor pedagógico, mas existir alguém que trate das tarefas mais ao nível organizacional como é referido pelos seguintes entrevistados: “podia não ser só focada na parte pedagógica, podia ficar com outras coisas como receber as inscrições, mostrar a casa, realmente acho que há questões que eu acho que ocupam demasiado tempo porque são diárias, desde a requisições de produtos alimentares, reposições de produtos de higiene, controlo da assiduidade, nós somos 30 pessoas”.(UR273, AE7) “é muito difícil organizar esta equipa e com o acumular de funções ela acaba por estar muito centrada em questões organizacionais, bom funcionamento, cumprimento de pressupostos legais e onde é que falha é na supervisão da prática pedagógica”, (UR202, AE5), “neste momento a nossa supervisora está mais preocupa com questões mais burocráticas que dizem respeito à organização e acaba-se por perder a supervisão pedagógica. (UR225 AE6)

Já os coordenadores entrevistados referem os seus maiores constrangimentos. Para o entrevistado BE1 “É mesmo lidar com cada uma delas, é teres a capacidade de perante cada uma delas e mediante a personalidade de cada uma conseguir não impor, mas fazer ver o ponto de vista que eu acho que está certo ou que a escola que entende ou quer que seja utilizado lá está ...estava a ver se me lembrava de um exemplo. Não é impor, uma das coisas que lhes digo é que eu não mando nada, eu sou uma colega como outra qualquer, mas que às vezes há situações que tem de ser impostas, e eu peço, evidente que tenho de pedir, mas as vezes tenho de exigir” (UR302) e ainda que “Tem mesmo a ver com a personalidade de cada educadora, é conseguir... aquilo que eu tenho dito, às vezes tenho de me lembrar, vou falar com esta, tenho de falar assim, há pessoas que tenho de ser imperativa e outras que

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tenho de ir ao rodeio para lá chegar” (UR303). O entrevistado EA1 refere a acumulação de funções que lhe tira tempo para a supervisão “Supervisão é preciso muito tempo, direção pedagógica questões técnicas/burocráticas. Falta de tempo para aprofundar a supervisão. Não há tempo para supervisão” (UR004), “Falta de tempo” (UR030).

Os supervisores deverão ser “intelectuais transformadores” Giroux (1988)9, citado em Alarcão e Tavares, 2003, p. 149), mais experientes, formados nas áreas que envolvem a Supervisão, cabendo-lhes as funções principais de regulador, de prestar ajuda aos supervisionados e à organização escolar, devendo ajustar os seus procedimentos às caraterísticas dos docentes no sentido de contribuir para o desenvolvimento das capacidades atrás referidas, ultrapassando barreiras e obstáculos erguidos.

Apresentaremos em seguida a categoria com as funções do supervisor à luz das conceções das educadoras de infância e das coordenadoras/supervisores.