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Categoria “Projeto educativo como instrumento de gestão”

Capítulo 6 – Apresentação e discussão dos Dados

6.9. Categoria “Projeto educativo como instrumento de gestão”

Segundo as OCEPE (2016), o projeto educativo é um:

Instrumento global de gestão e orientação pedagógica da organização educativa que, tendo em conta o seu contexto e situação, prevê os modos de melhorar o seu funcionamento e eficácia, promovendo a aprendizagem de todos os alunos, apoiando o desenvolvimento profissional de docentes e não docentes, respondendo às características da comunidade (p.107).

Tal como a maioria dos entrevistados relataram, o PE é um documento orientador, onde a filosofia e a pedagogia da organização estão presentes e orientam o educador/a. Tal é referido pelo entrevistado AE2 “(…) Nós temos muito presente a nossa filosofia, valorizamos muito o espaço exterior, isso é uma das nossas grandes pedagogias e percebermos que as aprendizagens são feitas sempre no interior e exterior e é pé cá dentro, pé lá fora, pé lá fora, pé cá dentro, podemos começar uma atividade dentro da sala e acabá-

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la no exterior ou vice-versa. E depois termos presente a pedagogia de alguns pedagogos mas muito a pedagogia de projeto, até porque muitas vezes a partir do projeto educativo fazemos o projeto de grupo, temos presentes os interesses das crianças e às vezes ao longo do ano surgem projetos completamente diferentes e chegamos aqui, mexo nas planificações, acaba por ser um instrumento muito flexível, podemos planificar para a semana e mas chegarmos aqui um dia e alguma criança lembra-se de alguma atividade e essa atividade dura a semana toda” (UR089). Quem constrói o PE é a equipa educativa, educadoras e coordenação “Acabamos por dialogar umas com as outras, há atividades que são feitas em conjunto antes de terminar o ano letivo, fazemos sempre o projeto anual para o próximo ano. Depois é aquilo o facto de construirmos o projeto educativo em conjunto, todas temos as mesmas bases, e a partir dai através do diálogo que vamos tendo, do trabalho afixado das práticas de cada colega, acabamos por ver” (UR090), os pais e encarregados de educação são chamados a participar no projeto curricular de sala tal como é referido “Os meus são muito participativos e dão sugestões. São muito participativos, querem sempre fazer atividades, dão sugestões de sítios para visitarmos tendo em conta o nosso projeto” (UR091) e vivem o projeto curricular: “Vivem e também vejo em casa coisas que os pais dizem que foram feitas aqui e alguma visita” (UR092).

“É o nosso documento orientador em termos de trabalho ao longo do ano em termos de conhecimento da comunidade em que estamos inseridos dos recursos que temos da parte humana, do que precisamos do que queremos desenvolver quais são os princípios em que vamos orientar toda a nossa prática, portanto tem de estar bem explicito, a coisa tem de estar bem escrita, fazer sentido, para que todos nós, para que toda equipa consiga vivê-lo, com sentido” (UR137, AE3). Os pais e encarregados de educação sentem o projeto educativo e o curricular através do trabalho realizado ao longo do ano e do feedback que é dado nas reuniões “Pelo que espelhamos em termos de trabalho, há o projeto curricular dentro do projeto educativo, nas reuniões de pais a forma como vamos mostrando como estamos a viver o projeto, nas planificações, nos relatórios para os superiores, acaba por ir espelhando como é que nós estamos a viver, quais são as dificuldade que estamos a sentir o que é que nós estamos a sentir, se achamos que correu bem, se era assim que tinha pensado, se não” (UR138, AE3).

Para AE4, o projeto educativo contribui “para estarmos na mesma linha orientação, para sabermos todas que pedagogia, enquanto projeto, podemos todas seguir que caminho...

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e temos de identificar todas, ser pensado em conjunto e ser construído em conjunto. O projeto curricular já nos dá liberdade dentro do projeto educativo do tema principal cada uma se ajustar aos seus grupos, as necessidades, da sua forma de estar” (UR175, AE4). Tal como é referido nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, “o projeto educativo de estabelecimento educativo/agrupamento de escolas, enquadra o trabalho educativo dos profissionais e a elaboração dos projetos curriculares de grupo” (p.23). AE5 refere que “Em relação aos valores e aos princípios eu acho que de uma forma geral, todas nós fazemos um esforço muito grande e um dos aspetos que é importante para a casa da criança é estar atento a determinadas questões como ao saber ser, ao saber estar, questões ecológicas, a questão do outro e de uma forma, mas também muito com as famílias, nós estamos muito atentos às famílias, apoiamos a imenso em situações de conflito e de fragilidade, portanto tentamos fazer um trabalho multidisciplinar com outras equipas, no fundo também para monitorizar e supervisionar determinadas famílias que precisam do nosso apoio. Eu acho que isso na prática vamos tentando dar resposta vivendo isso diariamente” (UR211).

“Para nortear a nossa prática que anda desnorteada, que tem a ver com os valores da instituição” (UR246, AE6). “O PE da instituição tem como base as opções metodológicas e parte dos nossos princípios que nos definem como instituição. A base é comum a toda a fundação, o que quero dizer é que os princípios que nos regem são comuns a todos e isso eu sei, que há reuniões dos responsáveis de estabelecimentos e aí são discutidos e alinhavados todos esses procedimentos que façam sentido, que nos definem a nossa identidade como instituição e claro que as partes mais específicas com as caraterizações do meio, etc., são diferentes de casa para casa. Depois a parte pedagógica, o nosso projeto pedagógico como o tema é aquilo que fazemos em equipa, fazemos sempre quando estamos todas juntas” (UR276, AE7). “Eu acho que é um documento extremamente aliado e útil que, às vezes nós, os nossos interesses vão ser diferentes, e isso no fundo acaba por ser um foco. Não temos connosco e vemos e lemos e no fundo faz-nos regressar àquilo que é o nosso pressuposto inicial, a nossa filosofia e acho que é importante porque nos remete para a lei, para a nossa função como educadores, para aquilo que queremos para as crianças e acho que é um documento que é quase uma bíblia no fundo acho que é isso. Para além de ter um valor legal que tem, e necessidade obrigatória que lhe é exigido, acho que é um documento importante e que está alcance de todas e nós podemos ler em papel” (UR278, AE7). “Serve de guião, ajuda-nos imenso a decidir o tema” (UR333, BE2). “Base de uma instituição porque é com

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base no projeto educativo que as coisas vão funcionar e vamos melhorar e é a base do que vamos mostrar aos pais” (UR348, BE3).

Como acabámos de ler, o PE é um documento importantíssimo para uma organização com impacto no trabalho de cada educadora. Costa (2003) refere o PE enquanto instrumento de “planificação da ação educativa” e de “construção da identidade própria de cada estabelecimento de ensino” obriga a uma conceção da escola como uma “organização que continuamente se pensa a si própria” (p.56).

Quem realiza este documento, segundo das respostas dadas pelos entrevistados, são as educadoras juntamente com a coordenação. Ao trabalharem em conjunto na construção do PE, refletem sobre a visão estratégica, sobre o que pretende para a organização, sobre as suas funções, os desafios da organização e as formas de ultrapassá-los.

“Estamos todos, educadores e diretora, fazemos todas o projeto de forma a estarmos todas integradas no mesmo” (UR088, AE2). “Equipa educativa, nós as 11 educadoras” (UR135, AE4). “Encontrar tempo para, (incluir as auxiliares para a construção do PE) vai acontecer o mesmo com reuniões e que vamos nós tentando transmitir ideias tudo isso, vamos tendo de estar em contacto para podermos também fazer valer opinião delas nos diversos momentos” (UR136, AE4) “Todas fazemos... participamos na construção do projeto educativo e as nossas reuniões servem para isso” (UR174, AE4). “O projeto educativo, nós temos reuniões e fazemos o projeto nas reuniões efetivamente, julgo que também é feito tendo em conta os inquéritos que são passados aos pais, ou seja, o feedback que é dado aos pais, agora sinceramente não tenho a certeza. (UR209, AE5), “As auxiliares participam com sugestões na troca de informação que o educador leva até elas, quando muito na reunião geral que temos antes do ano letivo, começar isso é falado, agora não participam de forma ativa, portanto estão abertas, podem dar sugestões quando muito na reunião geral ou quando estamos a construir o documento e elas estão com os meninos e nós vamos dizendo e vão dando sugestões, mais do que isso creio que não estou a mentir” (UR210, AE5).

No Decreto-Lei n.º 43/89, de 3 de fevereiro, o PE aparece identificado com a própria questão da autonomia. Assim, “entende-se por autonomia da escola a capacidade de elaboração e realização de um projecto educativo em benefício dos alunos e com a participação de todos os intervenientes no processo educativo” (DL n. º43/89, artigo 2.º, ponto 1). Tal como o decreto-lei refere, a construção do PE conta com a participação de

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todos os intervenientes no processo educativo, entre eles destaco os pais e encarregados de educação e a comunidade. Na organização AE contaram um pouco da sua experiência. “Houve uma ano em que chamamos cá os pais presencialmente para a construção, ou que se colocou essa hipótese, mas aquilo também deu tanto novelo, aquilo deu tanto..., é difícil porque, as vezes as pessoas também vêm para ter visibilidade, não vêm para construir no sentido construtivo, colaborativo, no sentido ‘estamos aqui para criar um projeto’, o projeto dos nossos filhos, e depois é muito fazer-se cedências, é muito difícil, isto da democracia é uma coisa muito difícil mesmo para nós adultos. Isto também nos cria alguns constrangimentos, na prática” (UR212, AE5).

“Normalmente que eu saiba, acho que é a Dra., temos um prazo para entregar depois ela lê e devolve com questões para serem melhoradas, nós sabemos que existe feedback” (UR277, AE7). “São as educadoras da casa da criança e inclusive pela AE1” (UR245, AE6). “São as educadoras. Engloba toda a escola” (UR332, BE2). “Nós educadoras, coordenação, para a parte pedagógica do projeto e outros elementos que não fazem parte da parte pedagógica” (UR347, BE3). “São as educadoras que fazem a parte pedagógica e depois temos a parte dos recursos humanos, a parte da nutrição. Junta-se tudo e faz-se um todo” (UR378, BE5).

“A contribuição dos educadores na elaboração do projeto educativo e o modo como o concretizam confere-lhes também um papel na sua avaliação” (OCEPE, 2016, p.23). No que diz respeito avaliação do PE, este é avaliado por todos os intervenientes, pelas educadoras, que em primeiro lugar avaliam o seu projeto curricular de forma individual e depois o PE em equipa, juntamente com a coordenação. Referem sobre articulação entre estes dois projetos. Há quem chame as auxiliares a refletirem também sobre avaliação dos projetos educativos. Outros intervenientes no processo avaliativo são envolvidos através de questionários, como por exemplo os pais e encarregados de educação.

Podemos verificar através das respostas dadas pelos entrevistados. “No Projeto de sala ou de grupo sou eu e a auxiliar. No PE está a equipa” (UR095, AE2). “Fazemos avaliação do projeto mesmo, é a educadora responsável, o que nós fazemos no projeto curricular de grupo que é o nosso projeto de sala mas enquanto equipa nessa avaliação que ela faz, nesse relatório que ela faz com esses componente nós somos voz ativa também porque somos elementos integrantes do projeto e vamos dando feedback o que achamos que correu bem e vamos contribuindo para essa avaliação dela” (UR139, AE3), avaliação com os pais é feita

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através de um “Questionário no final do ano letivo” (UR140, AE3) e com as auxiliares “Vamos falando nas reuniões gerais, nos contactos com educadora responsável e com a educadora” (UR141, AE3). “Quem faz avaliação é a coordenadora responsável, acabamos por contribuir nas reuniões que vamos tendo, vamos sempre falando sobre isso. Ela é que escreve e envia” (UR178, AE4).

“Avaliação do projeto: nós também falamos nos nossos relatórios e fazemos articulação entre o projeto de sala e o projeto” (UR213, AE5). “É avaliado no nosso relatório trimestral e depois fazemos no final. Se nos propomos a determinados objetivos temos de justificar se os atingimos ou não e como. Ele é feito dessa forma na nossa reflexão individual, nós vamos fazendo metas trimestrais e vamos vendo o que é que fizemos para cumprir, e depois a AE1 tem de fazer avaliação, o relatório dela, que no fundo engloba tudo o que nos fizemos, as saídas, as atividades com os pais, na comunidade e tem de documentar através de diferentes registos, fotográficos, escritos, etc.” (UR279, AE7).

“As educadoras, diretora do centro” (UR334, BE2). “Nós educadoras, cada uma faz a sua avaliação da sua sala.” (UR349, BE3). “A avaliação do PE normalmente é feita depois, em reunião com todas as educadoras e algum elemento da direção e com a coordenadora pedagógica; o que é que falhou o que não falhou, o que conseguimos alcançar, o que falhou nesta altura, o que aconteceu. Tal como as festas, avaliamos sempre tudo” (UR364, BE4). “A avaliação é feita no final do ano, individual e depois coletiva. Individual do nosso desemprenho e do nosso projeto e depois fazemos por valências” (UR379, BE5).

Para as supervisoras/coordenadoras o PE define-as enquanto organização uma vez que: “O PE define-nos. Diz-nos tudo o que somos, princípios orientadores e casa da criança (…). Fundamentação teórica. Ele sustenta-nos, com linhas orientadoras, promovendo a coesão. Um documento que nos orienta.” (UR044, AE1) “A avaliação é feita pela equipa técnica ao fim dos 3 anos, tal com é referido pelo entrevistado AE1 “Avaliação 3 anos equipa técnica” (UR045). Este projeto é construído por “Toda a equipa - pelo grupo de educadores” (UR041), onde “Discutimos e conversamos muito. PE está baseado na filosofia (…) (UR042). E contam ainda com a contribuição de outros intervenientes. “Temos o contributo dos pais, auxiliares e crianças. Participam muito na casa da criança são chamados todos, questionário para auscultação da sua opinião na reunião de pais” (UR043, AE1).

Para o BE1, o “projeto tem um tema que é global a escola inteira e lá está, todas as áreas tentam trabalhar com este objetivo” (UR310). “O tema que vamos definir é a

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cooperação, agora, mediante este tema todas nós temos de que sejam nós educadoras, crianças, educadoras direção, comunidade temos de estar todos alinhados” (UR311, BE1). A construção do PE é realizada pelas diversas áreas de intervenção da organização, “as educadoras encarregando-se da parte aqui da área educativa e depois tem aqui a parte da área da comunidade que também acabam por complementar” (UR309, BE1).

Os pais e encarregados de educação e outros intervenientes não contribuem para o projeto educativo, tal como é referido pela BE1 “Os pais no projeto educativo não opinam, não estão presentes para a elaboração. Não sei se isso poderia ser uma maneira de os motivar, mas não sei se isso tem a ver com o dia a dia de hoje, sabes, da correria e de tudo mais, do pouco tempo que tem querem estar na tranquilidade da sua família e há muitos que não. Se calhar nós é que não fomentamos muito isto, não sei. Mas eu vejo pelas reuniões acabam por não... gerais, as de sala não” (UR312). A avaliação é realizada pelas equipas das diferentes áreas: “Seja a equipa pedagógica e dos vários setores. Cada uma acaba por ter eixos definidos que acabam por ser medidos” (UR313).

Ao analisar os Projetos Educativos de cada organização, podemos verificar há informações que não foram relevadas nas entrevistas e que se tornam fundamentais para o nosso estudo. Na organização AE podemos ler qual a imagem que possuem de um PE, “O Projeto Educativo é um instrumento de orientação global de ação e melhoria que reflete a dinâmica própria de cada estabelecimento educativo.” (PE 2018/2019, p.1), ou seja, apoiam- se no PE como instrumento de gestão da organização que promove a melhoria da ação desenvolvida por ela. A avaliação do PE “é realizada a três níveis: avaliação feita com e pelas crianças; avaliação com e pelas famílias e avaliação pela equipa educativa” (PE, 2018/2019, p.25) tal como foi referido por todos os entrevistados, a avaliação é realizada pela equipa educativa. Alguns referiram ainda as famílias, fosse em reuniões ou questionários, mas nenhum fez menção a avaliação pela parte das crianças. No PE ainda se pode ler que “A avaliação é o processo de identificar o modo como as crianças aprendem e se desenvolvem, as suas conquistas e progressos face a resultados desejados. A avaliação é partilhada com os pais de modo a garantir a sua colaboração e apoio à aprendizagem e desenvolvimento das suas crianças” (PE, 2018/2019, p.25) e “A avaliação do projeto educativo é um processo que visa analisar as intencionalidades e objetivos traçados pela equipa, com base na recolha de informação organizada e sistematizada na elaboração trimestral e anual dos relatórios dos projetos curriculares de cada grupo pelas educadoras

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(creche e jardim de infância) e do relatório de atividades pela educadora responsável” (PE, 2018/2019, p.27).

A BE define como PE “O Projecto Educativo consiste na definição das metas a atingir de modo a optimizar o papel da Escola na formação do aluno e que ela seja geradora de educação apontando para perfis de mudança” (PE, 2019/2021, p.3), ou seja, é um dos instrumentos que possui metas para o rumo de um educação mais sustentável, além de ser também “um instrumento de gestão pedagógica da escola, que fomentará uma cultura de reflexão e de análise de ensinar e de fazer aprender com melhor qualidade” (PE, 2019/2021, p.3). Quanto à avaliação do PE, segundo a nossa análise do documento fornecido, a informação revelada é parca e incoerente, a informação existente refere-se apenas à avaliação do plano de atividades anual referindo que “A avaliação do plano de anual de atividades resulta na elaboração de um relatório de atividades, evidenciando:

Atividades e ações planeadas e implementadas e respetiva justificação de eventuais atividades planeadas e não implementadas (desvios);

Atividades e ações implementadas não planeadas;

Resultados das atividades e ações desenvolvidas, mediante os indicadores definidos; Grau de concretização da intervenção;

Conclusões, evidenciando se as ações geraram os resultados pretendidos e sugerindo recomendações e ações de melhoria para incorporar o plano de atividades seguinte” (PE, 2019/2021, p.53).