• Nenhum resultado encontrado

Categoria ‘Exercício da liderança pelo/a diretor/a’

Capítulo VI – Apresentação, análise e interpretação dos dados

COORDENADOS Número de

3.2. Níveis de liderança

3.2.2. Categoria ‘Exercício da liderança pelo/a diretor/a’

No que se refere à categoria ‘Exercício da liderança pelo/a diretor/a’ a maioria dos 21 coordenadores (C) e 23 professores coordenados (P) considera que o exercício da liderança é marcado ou definido pela hierarquia, tendo-se contabilizado no total 13 unidades de registo entre os coordenadores, e 18 entre os coordenados (Quadro 1 do Anexo IX), enquadradas na subcategoria ‘Exercer a hierarquia e a supervisão sobre os docentes’, a mais representativa das opiniões dos nossos entrevistados. Tal revela mais uma postura hierárquica por parte do diretor do que uma postura supervisora, como podemos perceber pelos seguintes excertos das entrevistas:

"Eu penso que todos nós sentimos que há alguma falha de liderança… haverá, porque é muito de cima para baixo… Não temos um espaço de reflexão sem ser o pedagógico, de participar e refletir. Nós, coordenadores, quando somos abordados para as situações, quando temos que levar determinadas situações ao departamento, elas já vêm formatadas."

(Esc A.C2)

"Se nós estamos mais zangados ou mais aborrecidos com alguma situação, realmente, vemos as coisas mais negras, houve alguns momentos (…) notava-se mais a hierarquia, mas há outras alturas que não. Eu acho que também tem a ver com as tensões que... que se vivem no dia a dia." (Esc A.C3)

"É tudo muito centralizado na Direção, no Diretor, efetivamente é assim, se houver uma decisão da Direção nós temos de nos adaptar. Apenas, por vezes, há negociação. (…) tenta ser dialogante e é às vezes (...), se se dialogar demais, quem lidera acaba por ter algumas dificuldades depois em impor-se." (Esc A.C5)

"É evidente que cada vez há mais um peso hierárquico nas escolas." (Esc B.C5) "É, digamos que, o diretor é a coluna vertebral da escola.” (Esc D.C3)

Destacamos a seguir 2 unidades de registo entre os coordenadores e 8 entre os professores coordenados enquadradas na subcategoria “Dar o exemplo e assumir toda a responsabilidade”, e 5 unidades de registo entre os coordenadores e 2 entre os coordenados na subcategoria “Entender a escola como um todo e escolher as pessoas com

perfil para os cargos” que demonstram essa postura hierárquica e apenas ocasionalmente supervisora do/a diretor/a, através das representações de coordenadores (C):

“A Direção, o diretor, quando escolhe, vê que aquela pessoa tem perfil (…) mas também sabe que aquele elemento é aceite pelo grupo e é reconhecido pelo grupo como líder.”

(Esc C.C3);

“Este meu diretor, diretor deste agrupamento, tem um estilo de liderança gerador de consensos. De calma e pacificamente ouvir A, ouvir B e, portanto, tentar fazer com que as partes todas funcionem como um todo.” (Esc D.C1)

A propósito de ‘assumir toda a responsabilidade’ e ‘dar o exemplo’, os coordenados (P) referem o seguinte sobre os seus diretores:

“Já aconteceu tomar-se uma decisão que é válida para um departamento mas depois noutro departamento as coisas funcionarem de modo diferente." (Esc A.P7);

“Foi imposto pelo diretor. Ninguém foi auscultado sobre isso. Portanto aquilo gerou mal- estar.” (Esc A.P1);

“Eu acho que há uma preocupação de se auscultar a opinião de todos. Se ela depois se materializa e se concretiza em termos de decisão já tenho algumas dúvidas. Eu acho que muitas vezes a Direção consulta mas já tem uma posição praticamente tomada. Noutros casos há uma articulação negociada com os departamentos.” (Esc A.P6);

“Eu acho a Direção, a diretora muito humana, muito disponível para resolver qualquer assunto. E fá-lo com sucesso. Embora haja muita gente que não acha isso. Mas eu não tenho razão de queixa. Parte muito de nós próprios, da maneira como trabalhamos e encaramos.” (Esc C.P3);

“O facto de ele [diretor] pegar numa máquina e andar por aí a cortar relva. E se for necessário arregaçar as mangas e pintar uma sala, ele também faz isso. Portanto, sabe dar o exemplo.” (Esc D.P3)

Os diretores também demarcaram a questão hierárquica: 6 unidades de registo enquadradas na subcategoria “Exercer a hierarquia e a supervisão sobre os docentes”, 8 unidades de registo na subcategoria “Dar o exemplo e assumir todas as responsabilidades” e 6 unidades de registo na subcategoria “Entender a escola como um todo e escolher as pessoas com perfil para os cargos” demonstram o seu exercício da liderança marcada pelas exigências do Decreto-Lei n.º 75/2008, referindo que nem todos os docentes têm perfeita consciência delas. Expomos alguns excertos das entrevistas enquadrados nas subcategorias acima referidas:

"Esta escola estava habituada a trabalhar no sistema colegial e tem sido (…) muito difícil de aceitar, tem havido algumas resistências em aceitar a autoridade ou a figura do Diretor." "Dantes [antes do DL 75/2008] o pedagógico era o órgão que decidia tudo, (...) E então tenho sentido alguma dificuldade [da parte dos coordenadores] em fazer distinção assuntos de carácter pedagógico de assuntos administrativos, [estes pertencem ao diretor decidir]." (Esc A.D)

"é uma liderança repartida, partilhada. Partilhada neste aspeto: é nos vários sectores porque a minha tomada de decisão é unipessoal, eu ouço as pessoas, quando tenho que

ouvir – quando acho que não tenho informação suficiente - ouço e depois penso nas soluções e então tomo a decisão." (Esc A.D)

"Eu conheço-os todos, escolhi aqueles que entendi que tinham empenho, tinham interesse. Há pessoas que dão aulas, vão para casa e acabou, há outras que dão aulas e depois é mais isto e estão disponíveis para aquilo, e são essas que eu agarro." (Esc A.D)

“Agora, há questões administrativas que eu tenho que decidir, não posso consultar.” (Esc

A.D)

“Ser-se Diretor é uma responsabilidade superior à de um Presidente de uma escola. (…) Foi difícil reconhecerem: A partir do momento em que passei a ser Diretor mudei de gabinete porque sou sozinho [órgão unipessoal], aqueles elementos que estão ali são elementos que eu convidei para me ajudar, são pessoas da minha confiança mas eles têm de me perguntar, não podem decidir, a responsabilidade está totalmente no Diretor.” (Esc

B.D)

"as pessoas veem a Direção ou o Diretor como o local onde elas vão para resolver os seus problemas. Se a Direção resolver o meu problema, óptimo, se a Direção não consegue resolver o meu problema é uma Direção pouco eficiente. A ideia da Direção para resolver os problemas da escola, como um todo, serão poucos os professores que têm essa noção."

(Esc C.D)

“escolho determinadas pessoas para determinados cargos, tendo em atenção (…) se têm perfil. Se têm um perfil de liderança. (…) para conseguir motivar as pessoas. (…) para coordenar reuniões com professores." (Esc D.D)

O enquadramento legal em vigor (Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho) não faz distinção entre os coordenadores de departamento e os restantes docentes, o diretor exerce poder hierárquico sobre todo o pessoal (docente e não docente) (Cf. alinea b) do n.º 5 do art.º 20.º. Porém, conforme refere Fischer (1992, citado por Barracho, 2008: 188) o exercício da liderança gera relações de poder, em que “o poder é definido como a capacidade que um indivíduo tem para impor a sua vontade a outro(s) […] para atingir determinados resultados numa situação concreta”. No entanto, o ‘poder’ é decretado pela posição hierárquica que se ocupa e impõe-se sobre o outro (de fora para dentro), enquanto o exercício da liderança permite levar o outro a fazer ou a aceitar algo apenas por ação inspiracional de quem exerce a liderança, independentemente da posição hierárquica que ocupa (Vargas, 2011), gerando reciprocidade e sentido de comunhão.

Assim, coordenadores, coordenados e diretores, cuja experiência colegial está bem marcada, reconhecem mais facilmente que a liderança exercida provém da lei, identificando-a com o exercício do poder para responder às solicitações da tutela. O facto dos coordenadores referirem que ‘as situações já vêm formatadas da Direção’ que assim assume uma posição muito centralizadora, deixando pouca margem de negociação e de autonomia aos departamentos, tem sido difícil de aceitar devido a esse histórico de vivência colegial nas escolas, mas também revela pouca capacidade do diretor(a) suscitar

o envolvimento e compromisso de todos, especialmente quando as exigências da tutela não permitem que o desfecho seja outro. Os diretores, no contexto relacional que revela a sua ação, parecem não conseguir assumir uma postura de “produzir resultados com as pessoas” (Vargas, 2011:47), arrastando consigo os seus coordenadores intermédios que, não estando comprometidos, também não conseguem motivar e suscitar a adesão dos seus coordenados; por um lado, porque grande parte das pessoas (os docentes em geral) parece não revelar noção do todo ‘escola’, mas por outro, porque a posição hierárquica do diretor(a), como responsável máximo da escola, permite cumprir e fazer cumprir as exigências da tutela independentemente do envolvimento, conhecimento, compreensão e compromisso de todos. Assim, o papel do ‘diálogo’ parece não estar bem equacionado quando um coordenador refere “se se dialogar demais, quem lidera acaba por ter

algumas dificuldades depois em impor-se", pois, considerando a opinião de Estanqueiro

(2009: 72), o diálogo “começa quando escutamos os outros, com atenção, para compreender profundamente o que eles pensam e desejam […] [procurando] descobrir e valorizar todos os pontos de acordo possíveis, (…) o que nos une, (…). Essa é a chave do diálogo autêntico”. Logo, saber escutar é um pilar do diálogo, reconhecemo-lo como a base da relação interpessoal (idem, 2009), pelo que podemos inferir que nunca dialogamos demais, o que acontece é não dialogarmos bem, e daí, como refere Vargas (2011) ser pertinente refletir sobre a maneira como se dialoga.