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Natureza da investigação

Capítulo V Metodologia da investigação

4. Natureza da investigação

Uma investigação pode assumir uma natureza qualitativa ou uma natureza quantitativa, ou ainda, uma natureza mista. Segundo Bogdan e Biklen (1994:16) uma investigação de natureza qualitativa recolhe dados qualitativos que são “ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico” e “Privilegiam essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação”.

Tuckman (1994) refere que a investigação qualitativa procura compreender e interpretar o sentido oculto dos comportamentos, pelo que proporciona uma possibilidade de reflexão sobre a realidade social observada, bem como a descrição dos problemas que uma vez analisados e interpretados podem trazer maior compreensão dos fenómenos verificados. Uma investigação de natureza quantitativa utiliza métodos quantitativos de recolha de dados, pois, conforme referem Carmo & Ferreira (2008:196) “Os objetivos da investigação quantitativa consistem essencialmente em encontrar relações entre variáveis, fazer descrições recorrendo ao tratamento estatístico de dados recolhidos, testar teorias”. No âmbito dos métodos quantitativos o objetivo é obter respostas […] ao ‘quê?’, ‘onde?’, ‘quando?’ e ‘como?’, “de modo que o investigador possa descrevê-las, compará-las e relacioná-las e demonstrar que certos grupos possuem determinadas características.” Bell (2008:27) Porém, para respostas ao ‘porquê?’, os métodos qualitativos são mais indicados.

“Tradicionalmente a investigação qualitativa e a investigação quantitativa estão associadas a paradigmas” (Carmo & Ferreira, 2008: 193), paradigma qualitativo e paradigma quantitativo, respetivamente:

O paradigma qualitativo apela, naturalmente, aos métodos qualitativos e, centrando-se na subjetividade (a partir dos próprios pontos de vista daquele que atua), impede a generalização dos resultados da investigação que o aplica. Fundamentado na realidade e orientado para a descoberta, exploração e narração, recolhe dados ‘profundos’ e ‘ricos’, encara a realidade como dinâmica, postula uma conceção global estruturalista, indutiva e marcada pelo processo. Por seu turno, o paradigma quantitativo convoca, obviamente, os métodos quantitativos, centra-se na procura das causas dos fenómenos sociais usando medição rigorosa, e caracteriza-se por prestar pouca atenção aos aspetos subjetivos dos indivíduos, pelo que assume uma vocação generalizável, orientada para a confirmação e comprovação. Assim, trabalha com dados sólidos e repetíveis, encarando a realidade como estável, postulando uma conceção global positivista, hipotético-dedutiva e particularista que releva os resultados. (Idem, 2008)

A utilização de métodos quantitativos em Ciências Sociais apresenta algumas limitações, relacionadas com a natureza dos fenómenos que estuda, que se centram na complexidade dos seres humanos e dos quais destacamos: subjetividade do investigador, dificuldade em controlar todas as variáveis, validade e fiabilidade dos instrumentos de medição. (Ibidem, 2008)

Para Afonso (1994), a utilização de métodos qualitativos parece ser a que responde melhor aos desafios da investigação educacional nos dias de hoje, permitindo estudar os factos em contexto natural e descrever, interpretar e analisar a realidade, a partir dos significados que os atores envolvidos partilham.

Na mesma linha, Bogdan & Biklen (1994) consideram que a metodologia de carácter qualitativo, ao permitir um contacto mais direto com os indivíduos nos seus contextos naturais, possibilita a obtenção de um conhecimento mais aprofundado do objeto de estudo. Entendem, ainda, que esse contacto direto do investigador com a situação a estudar é um aspeto positivo, pois permite captar e retratar não apenas os factos mas também o significado que as pessoas lhes atribuem.

Assim, cada tipo de método está ligado a uma perspetiva paradigmática qualitativa ou quantitativa, cuja distinção incide no processo de recolha de dados e no modo como estes são registados e analisados. (Carmo & Ferreira, 2008: 196) Estes autores referem que muitos investigadores aderiram a um dos paradigmas e correspondentes metodologias, mas que outros combinam as metodologias preconizadas pelos dois paradigmas.

Embora consideremos a natureza deste estudo como essencialmente qualitativa, socorremo-nos, também, de técnicas do âmbito do paradigma quantitativo, pelo facto de

necessitarmos de alargar a recolha de informação a diferentes atores da escola com opinião quantificada, tendo em vista a inclusão de vários olhares. No sentido de diversificar e enriquecer o tipo de informação recolhida, demos especial atenção à “triangulação das fontes de dados” (Stake, 2009: 126), na medida em que solicitamos informações a diferentes atores (diretor, coordenadores de departamento e docentes). Considerando que os estudos qualitativos atribuem à técnica de inquérito por entrevista uma importância fulcral, privilegiámo-la na nossa investigação pois permite ter em consideração as experiências relatadas sob o ponto de vista do inquirido. Ou seja, ao permitir “apreender as perspetivas dos participantes, a investigação qualitativa faz luz sobre a dinâmica interna das situações [...].” (Bogdan e Biklen, 1994: 50) Os mesmos autores consideram que a investigação qualitativa é descritiva, na medida em “que os dados recolhidos são em forma de palavras e imagens e não de números” (Idem: 48), sendo os resultados da investigação normalmente “apresentados com o recurso a citações dos dados recolhidos, nomeadamente recorrendo a transcrições de entrevistas, procurando deste modo aproveitar o mais possível a riqueza dos dados”. (Ibidem)

“Qualquer que seja o método selecionado […], o objetivo é obter respostas (…) de modo que o investigador possa descrevê-las, compará-las e relacioná-las” (Bell, 2008:27). Neste contexto, o presente estudo caracteriza-se por ser descritivo, exploratório e de cariz comparativo, dado que optámos por realizar a nossa investigação em quatro instituições de ensino, duas com mais de 1500 alunos e duas até 1500 alunos, de forma a captar diferenças ou semelhanças no que se refere à interação e comunicação entre níveis de liderança em meio escolar. Assim, assumimos que o nosso estudo tem uma natureza eminentemente qualitativa, mas com recurso a técnicas quantitativas para recolha de dados que possam dar um contributo válido para a compreensão e análise dos dados, e consequentemente para a consecução dos objetivos definidos. Deste modo estamos perante um estudo de natureza mista pois utiliza métodos de natureza qualitativa e quantitativa, como expomos a seguir.