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Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Capítulo V Metodologia da investigação

5. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Sendo uma investigação uma busca de uma nova compreensão para algum fenómeno ou de um novo conhecimento sobre algum fenómeno, o desenvolvimento do trabalho de pesquisa implica que se tomem decisões, se assumam opções de ordem metodológica, teórica e técnica. Logo, é necessário selecionar um método e técnicas de investigação adequadas ao objeto de estudo. (Bell, 2008)

Considerando o exposto no ponto anterior, consideramos ‘método’ como “um corpo de princípios que presidem a toda a investigação organizada, um conjunto de normas que permitem selecionar e coordenar as técnicas” (Carmo & Ferreira, 2008: 193), pelo que o ‘método’ é uma conceção intelectual. Por seu turno, as ‘técnicas’ são procedimentos operatórios bem definidos adaptados ao tipo de problema e ao fenómeno em causa, pelo que diz respeito às operações, e ligam-se a elementos práticos. (Idem, 2008)

Após uma fase de investigação sobre o tema, pesquisas bibliográficas, consulta de artigos científicos quer na internet, quer em bibliotecas, e respetiva leitura, procedemos à sistematização em texto da revisão da literatura, e paralelamente debruçámo-nos sobre a vertente empírica do estudo sustentada por uma investigação que combina a utilização da técnica de análise documental e da técnica do inquérito por entrevista (técnicas da investigação qualitativa) com a técnica do inquérito por questionário (técnica da investigação quantitativa) para recolha de dados, com o objetivo de enriquecer o estudo. Recordamos que para Bell (2008), não existem métodos prodigiosos para a resolução de problemas de investigação e refere que as técnicas de recolha de informação selecionadas são aquelas que se adequam à tarefa.

O inquérito por entrevista é uma das técnicas de investigação mais usadas nas ciências sociais sendo das mais importantes no estudo de caso. (Yin, 2000) Dada a sua importância, esta técnica foi utilizada com os seguintes elementos da população do nosso estudo: o(a) diretor(a) de cada escola, os coordenadores de departamento e coordenadores de diretores de turma e dois docentes de cada departamento curricular com mais de dois anos de permanência na respetiva escola.

A técnica do inquérito por entrevista com utilização da entrevista semiestruturada implicou a elaboração e utilização de um guião, em que os dados recolhidos foram analisados recorrendo às técnicas de análise de conteúdo ou de análise do discurso. E os dados de natureza quantitativa, recolhidos através de inquérito por questionário, foram objeto de registo em base de dados numa folha de cálculo e submetidos a análise recorrendo-se à estatística descritiva.

As categorias de análise que estruturaram o referido guião da entrevista emergiram da leitura de literatura específica e de alguma legislação, com destaque para o Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril. (Anexo I) Tais dimensões que serviram de base para a elaboração do guião da entrevista semiestruturada, também estruturaram as questões/itens do questionário e da grelha de análise dos documentos consultados (atas das coordenações de departamento e atas das coordenações dos diretores de turma).

O inquérito por questionário é uma técnica de observação não participante, que se apoia numa sequência de perguntas escritas, dirigidas a um conjunto de indivíduos (respondentes), revelando-se adequado para interrogar um leque alargado de pessoas, e recolher as suas opiniões, representações, interesses, vivências, sentimentos, crenças ou várias informações factuais sobre eles próprios ou o seu meio. (Quivy & Campenhoudt, 2008)

No entender de Ghiglione & Matalon (2001: 17) “o questionário apresenta […] duas vantagens: permite observar relações ao nível dos indivíduos e obter informações mais ricas sobre cada um.” Carmo & Ferreira (2008) referem que nesta técnica não existe uma interação direta, presencial entre investigador e sujeito. Segundo Quivy e Campenhoudt (2008:188), o inquérito por questionário “chama-se ‘de administração indireta’ quando o próprio inquiridor o completa a partir das respostas fornecidas pelo inquirido […] [ou] ‘de administração direta’, quando é o próprio inquirido que o preenche”. Este último foi o adotado para o estudo em questão.

Assim, o questionário e o guião da entrevista, enquanto instrumentos de recolha de dados, derivam das técnicas de recolha de dados já anunciadas.

Para a conceção dos referidos instrumentos de recolha de dados partimos da leitura e análise do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, que possibilitou inferir algumas dimensões para a elaboração das questões sobre interação e comunicação das lideranças intermédias com as lideranças de topo em meio escolar, no sentido de recolher dados em quatro escolas dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário, do concelho do Seixal, segundo o já apresentado critério ‘número de alunos da escola’, durante o ano letivo 2011/2012. Designámos os instrumentos de recolha de dados elaborados por “Lideranças intermédias, comunicação e interrelação.”

Após uma breve introdução que explica as finalidades do inquérito por questionário, este está estruturado em três partes: (i) Identificação dos inquiridos (dados biográficos); (ii) Lideranças intermédias e suas interrelações; (iii) Questões abertas. A primeira parte (i) diz respeito a dados biográficos: a) pessoal e b) profissional. A segunda parte (ii) integra três dimensões: a) níveis de liderança na escola; b) lideranças e desenvolvimento organizacional; c) relação e comunicação entre níveis de liderança (ou lideranças). A terceira parte (iii) compõe-se de duas questões abertas.

A elaboração dos itens ou questões referentes à segunda parte do guião: ‘Lideranças intermédias e suas interrelações’ inclui itens ou questões de verificação, de modo a aferir a fiabilidade/ coerência das respostas ao questionário. (Anexo II)

O questionário apresenta a seguinte estrutura de conteúdos: a primeira parte (i) sobre a caracterização genérica pessoal do docente e sua experiência profissional destina-se a recolher dados sobre idade, sexo, situação profissional e formação académica com o objetivo de traçar o perfil da população de liderados do nosso estudo; a segunda parte (ii) sobre Lideranças intermédias e suas interações, apresenta três grupos de questões, um com 12 itens sobre níveis de liderança, outro com 8 itens sobre liderança e desenvolvimento organizacional, e um outro sobre relação e comunicação entre níveis de liderança, subdividido em 12 itens relativos à relação e comunicação dos coordenadores com a liderança de topo, e 20 itens relativos à relação e comunicação dos coordenadores com os coordenados; a terceira parte (iii) comporta duas questões abertas sobre dificuldades no exercício da liderança e sugestões para o desenvolvimento das lideranças em meio escolar.

Com este instrumento pretendemos recolher as representações dos liderados sobre as interrelações que se estabelecem entre coordenadores intermédios e diretores.

Para a segunda parte (ii) do questionário escolhemos uma escala tipo Likert formada por um conjunto de cinco proposições ou níveis: ‘nunca’, ‘raramente’, ‘às vezes’, ‘frequentemente’, ‘sempre’, das quais o inquirido seleciona uma, com uma X, assinalando a frequência com que verificava os procedimentos/comportamentos descritos nos itens relativamente ao seu coordenador.

Procedemos à testagem prévia do questionário (Anexo III) junto de 3 docentes de uma escola do concelho do Seixal que não faz parte deste estudo. As considerações recolhidas serviram essencialmente para desfazer dúvidas através de um aprimorar da clareza e coerência da linguagem, bem como fazer jus ao princípio da neutralidade libertando o inquirido do referencial de juízos de valor ou de eventuais preconceitos, pois “a formulação [dos itens] não é tão fácil como pode parecer, sendo também necessário […] garantir que todas as perguntas [ou itens] significam o mesmo para todos os inquiridos”. (Bell, 2008: 27)

Sublinhamos que o objetivo do questionário consiste em recolher dados sobre as lideranças intermédias, para descrever e analisar as relações entre as lideranças intermédias e as lideranças de topo em ambiente escolar, no sentido de identificar linhas mestras e conteúdos de formação para docentes na área das lideranças pedagógicas, decorrente das alterações no enquadramento jurídico da gestão escolar produzidas pelo Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril.

Este questionário dirigiu-se a todos os docentes com dois ou mais anos de permanência nas escolas do concelho do Seixal que integram este estudo.

Do mesmo modo, os inquéritos por entrevista semiestruturada foram estruturados conforme as mesmas dimensões e categorias, garantindo-se, em todos os casos, o anonimato dos participantes.

O guião da entrevista apresenta a seguinte estrutura esquemática: A primeira parte do guião integra: a) caracterização genérica pessoal do docente; b) experiência profissional do docente. A segunda parte integra as seguintes dimensões: a) níveis de liderança; b) lideranças e desenvolvimento organizacional; c) relação e comunicação entre níveis de liderança (com a direção, com os coordenadores e com os docentes em geral). A terceira parte integra: a) dificuldade, e b) sugestões para o desenvolvimento das lideranças em meio escolar. (Anexo IV)

O guião da entrevista semiestruturada apresenta a seguinte estrutura de conteúdos: a primeira parte versa sobre a caracterização genérica pessoal do docente e sua experiência profissional, e destina-se a recolher dados sobre experiência profissional, sexo, situação profissional e formação académica com o objetivo de traçar o perfil dos coordenadores e do diretor; a segunda parte versa sobre níveis de liderança, lideranças e desenvolvimento organizacional e relação e comunicação entre níveis de liderança, para recolhermos as representações no que respeita a relações de hierarquia/ dependência/ independência/ interdependência/ participação/ envolvimento/ negociação/ prescrição/ centralização/ responsabilização/ colaboração/ alinhamento/ união/ diálogo, sob o olhar dos diretores, sob o olhar dos coordenadores e sob o olhar de dois coordenados por departamento; a terceira parte procura recolher as dificuldades sobre o exercício da liderança e sugestões para o desenvolvimento das lideranças em meio escolar.

Com a técnica da entrevista pretendemos recolher e descodificar as representações a partir das experiências e práticas vividas pelos diretores, coordenadores de departamento e coordenadores de diretores de turma, e coordenados, sobre as características da comunicação e das interações que se estabelecem entre os coordenadores de departamento/ coordenadores dos diretores de turma e a liderança de topo (diretor ou diretora) da escola, em ambiente escolar.

Importa tecer algumas considerações sobre o conceito de “representação” que, enquanto instrumento das ciências sociais e humanas para estudar o homem, afigura-se transdisciplinar e aglutinador de especificidades, sendo as principais: “representação

individual”, “representação coletiva” e “representação social”69. No âmbito deste estudo, entendemos por “representação” o conjunto de explicações, crenças e ideias que cada ator verbaliza sobre si próprio, sobre o seu agir, a sua prática no contexto organizacional escola, bem como, sobre como pensa que os outros atores o veem.

Assim, ao captarmos tais representações dos diversos atores em estudo pretendemos chegar à formulação de princípios/linhas de formação em liderança pedagógica escolar, que contribuam para fazer evoluir as interações e a comunicação dos atores em meio escolar, com efeitos no contexto organizacional, mas sem a preocupação de generalizar os resultados ou validar determinadas teorias como referem Carmo & Ferreira (2008).