• Nenhum resultado encontrado

O design da investigação

Capítulo V Metodologia da investigação

3. O design da investigação

No quadro da pesquisa qualitativa, que presentemente detém um lugar reconhecido entre as várias possibilidades de se estudar os fenómenos que envolvem os seres humanos e suas relações interpessoais, a estratégia de investigação que nos pareceu mais adequada para a nossa investigação foi o estudo de caso, o qual passamos a caracterizar para fundamentar a nossa escolha.

Sobre a concetualização do ‘estudo de caso’, Bell (2008: 23) define-o como um “termo global para uma família de métodos de investigação”, porém, para Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de investigação.

Para este autor, a investigação por estudo de caso permite “uma abordagem empírica que investiga um fenómeno atual no seu contexto real, quando os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes” (Yin, 2001: 32), e para o qual “são utilizadas muitas fontes de dados.” (Carmo & Ferreira, 2008: 234).

Para Yin (2001), o estudo de caso é utilizado quando o investigador tem pouco domínio sobre os acontecimentos, por se considerarem as condições do contexto, que são tidas como muito pertinentes para o estudo em causa, condições essas que preservam as características holísticas e mais importantes dos factos quotidianos reais que interessa estudar.

Sem nos determos sobre o leque de desenhos que uma investigação pode assumir, “o estudo de caso tem sido largamente usado em investigação em Ciências Sociais” (Carmo & Ferreira, 2008: 234) e concretamente em Ciências da Educação, pelo que, num breve apontamento, podemos distinguir o estudo de caso de outras investigações, conforme o quadro que se segue:

Quadro 5.1: Características relevantes para diferentes estratégias de investigação

Fonte: Adaptado do quadro publicado em Yin (2001: 24), com as considerações de Carmo & Ferreira (2008).

Yin (2001) ressalta as seguintes componentes para o estudo de caso como estratégia de investigação:

1. A necessidade de se definir as questões de investigação, ou seja, conforme refere Carmo & Ferreira (2008: 235) “as proposições que focalizam a atenção do investigador sobre algo que deverá ser observado durante o estudo”;

2. A(s) unidade(s) de análise, como por exemplo, uma instituição ou várias instituições conforme se trate de estudo de caso único ou estudo de caso múltiplo “pertencentes à mesma estrutura metodológica (…) do estudo de caso” (Yin, 2001: 68);

3. A lógica que liga os dados às proposições; 4. Os critérios para interpretação dos resultados.

(Relativamente a estas duas últimas componentes que representam as fases de análise dos dados, ainda não há uma orientação precisa (Yin, 2001), pelo que não são relevantes para o design da nossa investigação.)

No entanto, Carmo & Ferreira (2008, citando Merriam, 1988) afirmam que primeiro, o investigador tem de definir o problema da investigação, sobre o qual formulará as questões de estudo, seguindo-se a escolha da unidade ou unidades de análise.

Assim, a primeira fase desta investigação consistiu na identificação de uma situação/ problema passível de ser investigado, com relevância na área da temática da liderança escolar, pois como refere Stake (2009: 33) “a enunciação dos problemas existe para facilitar o trabalho de investigação.” Trata-se de uma etapa fundamental ao planear e conduzir o nosso estudo que se traduz na definição do objeto de estudo: Como se caracterizam as relações interpessoais comunicacionais entre as lideranças intermédias e as lideranças de topo, enquadradas no Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril. Este objeto de estudo (inserido nas vastas temáticas da liderança) consiste na caracterização dessas relações interpessoais entre níveis de liderança em meio escolar, recolhendo-se a experiência decorrente de quatro anos de vivência sob a vigência do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de abril.

Relativamente à “definição da(s) unidade(s) de análise, ou seja, a definição do caso” (Yin, 2001: 43), a nossa investigação incide sobre um conjunto de quatro instituições escolares do concelho do Seixal, acima caracterizadas, pelo que configura um estudo de caso múltiplo.

No que se refere à formulação das questões de base do nosso processo de investigação, de modo claro e sem ser ambíguo (Azevedo, 1994), delineámos as seguintes questões de partida, que recordamos: 1) Como se caracteriza a interação e comunicação entre as lideranças intermédias e a liderança de topo? 2) Como é assumida e vivida a verticalidade hierárquica consagrada no Decreto-Lei n.º 75/2008, em face dessas interações? 3) Que tópicos podemos enunciar para a formação de professores na área das lideranças pedagógicas, relacionada com a temática do nosso estudo?

Acreditamos que com estas questões, ligadas às áreas do desenvolvimento organizacional e da formação profissional, podemos chegar a alguma compreensão da problemática da relação interpessoal entre níveis de liderança em meio escolar, e enunciar tópicos para a formação profissional de docentes.

Trata-se de um estudo com potencial para ser alargado a outros contextos escolares. A opção de reunir apenas quatro instituições escolares deveu-se a fatores relacionados com a questão do tempo disposto para a recolha de dados, e ainda com a amplitude do trabalho, que se pretende exequível e factual. Assumimos, desde já, estas e outras limitações ao estudo, incluindo as que se prendem com a generalização dos resultados, e,

como se trata de um processo interpretativo, cabe aos leitores “a transferibilidade […] a avaliação/comparação entre este [estudo] e outros.” (Lima, 1992: 397)

Neste sentido, considerando que a nossa investigação incide sobre um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, estamos perante um processo de investigação empírica que adota a estratégia de pesquisa de estudo de caso (Yin, 2001), que no nosso estudo apresenta uma tipologia de caso múltiplo, também denominado de estudo comparativo (Idem) com características explicativas, mas também com características exploratórias, pois as escolas obedecem a critérios de dimensão possibilitando essa comparação.

No “estudo de caso” as questões de pesquisa centram-se no “como” ou no “porquê”, (Quadro 5.1) e a estratégia de pesquisa é abrangente, recorrendo a várias fontes de evidência e a diversas triangulações de dados (Ibidem), conforme atesta o capítulo seguinte.

Como estratégia de pesquisa, os estudos de caso podem ser estudos exploratórios, estudos descritivos e estudos explanatórios (explicativos), dependendo do “tipo de questão de pesquisa, da extensão de controlo que o investigador tem sobre eventos e do grau de enfoque em acontecimentos contemporâneos em oposição a acontecimentos históricos” (Ibidem: 23). Neste sentido, através de uma descrição holística de um fenómeno social contemporâneo, bem identificado e delimitado, sobre o qual não exercemos qualquer controlo, respondemos, no nosso estudo, a questões de natureza explicativa. Pretendemos compreender a situação, sem a modificar, e cruzámos a teoria existente com os nossos resultados.

Assim, segundo Stake (1994) o estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado, em que o objeto é algo específico, funcional (como uma pessoa ou uma escola ou conjunto de escolas), mas não uma generalidade (como uma política). Assim, o estudo de qualquer entidade que se qualifica como objeto único ou múltiplo (por exemplo: indivíduo(s), grupo(s), organização(ões), escola(s) ou mesmo país(es)) seria um estudo de caso único ou múltiplo, independentemente da metodologia utilizada. (Yin, 2001)

Yin (2001) advoga que tal estratégia não se resume a uma ferramenta de ensino, a uma ferramenta de observação participante ou a uma ferramenta de um método ‘qualitativo’, embora as possa incluir. O autor refere que o que distingue tal estratégia de pesquisa são os assuntos tratados.

Em síntese, o presente estudo de caso múltiplo, pela sua natureza apresenta-se circunscrito a um conjunto de quatro escolas do concelho de Seixal, obedecendo a critérios de dimensão (duas escolas com mais de 1500 alunos e duas escolas até 1500 alunos), de modo a que possamos comparar e aferir diferenças na relação interpessoal de comunicação entre níveis de liderança por virtude da dimensão das escolas. Porém, a natureza da temática da nossa pesquisa afigura-se-nos de importância nacional, tanto em termos teóricos como em termos práticos, constituindo uma matéria significativa, de interesse transversal na área das Ciências da Educação e concretamente na Supervisão Pedagógica.