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CAPÍTULO IV – Analisando o discurso do Trabalhador

4.2. A Triangulação de métodos

4.2.8. Categoria: Expectativas da Equipe

As Expectativas da Equipe foram proclamadas apenas no grupo 2 e definidas enquanto possibilidades e desejos que amenizem as dificuldades e o sofrimento no trabalho. Nesse sentido

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estão divididas nos seguintes eixos: Inversão do Modelo Biomédico, Investimento, Devolutiva da Pesquisa.

A expectativa sobre a Inversão do Modelo Biomédico (eixo 27) está aliada a concepção do modelo de saúde pautado em práticas desmedicalizantes, que priorizem a realização de grupos e possibilitem uma maior articulação e vivência no território. Assim, a proposta é de ampliar a clínica, considerando as subjetividades e potencialidades do indivíduo para além da atenção curativa, ampliando, também a possibilidade de habitar outros espaços da comunidade, que não só o Consultório e o Centro de Saúde.

Na avaliação da pesquisadora é fundamental que o trabalho seja identificado como uma produção de sentido, prazer, satisfação e gozo.

O eixo 28, que se refere ao Investimento é apontado pela equipe enquanto necessidade de melhoria do espaço físico, pois nota-se a precariedade dos prédios, com pouca manutenção, aspecto de abandono e descuido, despreocupação com a limpeza e higienização, equipamentos e materiais desatualizados, inadequação dos ambientes, confirmando uma lógica de assistência curativa para um grupo social desprivilegiado.

No último eixo, Devolutiva da Pesquisa (29) a equipe solicita que o resultado desta pesquisa seja apresentado no serviço para que favoreça um segundo momento de reflexão da equipe. Além disso, reconhecem a importância da participação nesse processo, principalmente porque esse encontro possibilitou uma pausa na rotina de trabalho, permitindo uma revisão da atuação profissional e uma auto-avaliação.

Na visão da pesquisadora, esta solicitação de devolutiva “in loco” significa um pedido de apoio e de orientação, para uma equipe que está sentindo-se abandonada, o que pode ser verificado no relato sobre o distanciamento com o Distrito de Saúde e com o Apoiador Institucional.

CONCLUSÃO

A relevância desta pesquisa se dá na medida em que toma como ponto de partida o discurso do trabalhador, através de um estudo empírico no município de Campinas, levando em consideração as reflexões sobre a sua produção no trabalho diante das políticas públicas de saúde.

Há que se destacar uma notável diferença entre os dois grupos de discussão, pois o primeiro apresenta um funcionamento de equipe, com responsabilidade ética, organizativa e das relações de poder. Ao contrário do segundo grupo, que tem dificuldade de reconhecer, potencializar e configurar o trabalho em equipe, funcionando com ações e decisões isoladas.

Todavia, algumas discussões foram semelhantes para as duas equipes. Os problemas e as insatisfações identificadas pelos dois grupos participantes desta pesquisa e que geram sofrimento no trabalho estão relacionados à escassez de recursos (humanos e materiais), excesso da demanda atendida, falta de apoio à equipe, dificuldade em reconhecer o limite da AB (do próprio serviço e do profissional) e ao contexto político que atravessa o cotidiano do serviço, provocando instabilidade para garantir as ações conquistadas ou pretendidas.

A queixa da sobrecarga de trabalho gerada pelo atendimento à demanda espontânea foi unânime entre os trabalhadores dos dois grupos de discussão. Porém, não houve uma reflexão ou discussão sobre porquê essa demanda está aumentada. A primeira questão seria verificar se o dimensionamento da população está de acordo com a capacidade de atendimento da equipe, inclusive, com base na indicação da SMS que, nos relatórios apresentados nesta pesquisa, em 2005 e 2008 eram de no máximo 4000 pessoas por equipe. Esta análise, por sua vez, deve estar alinhada à avaliação do território, levando em consideração as situações de risco e vulnerabilidade. Pode-se, ainda, pensar em algumas hipóteses de falhas na rede de saúde: se a AB está conseguindo desempenhar seu papel de maneira resolutiva e efetiva; no mesmo sentido, se os Pronto-Socorros e Pronto-Atendimentos estão prestando um atendimento resolutivo e de qualidade. Para além disso, deve-se avaliar qual a lógica da população na procura de atendimento em saúde, ou seja, se há uma cultura na qual frente a qualquer sofrimento e dificuldade procura-se o serviço de saúde, ou até mesmo, se de fato a população está adoecendo mais. Estas respostas poderiam direcionar o cardápio da unidade e as ofertas da equipe, inclusive avaliando se o serviço de saúde está sendo a única possibilidade de atendimento para o sofrimento no mundo contemporâneo.

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As narrativas mostraram que a avaliação sobre a gestão da AB no município de Campinas denuncia um mau gerenciamento da rede, principalmente relacionado à crise de formulação política, com ausência de direcionamento, clareza e de coesão do modelo de saúde proposto. A partir de 2005, ocorreu um desmantelamento da rede de saúde com um desinvestimento nos trabalhadores e nos serviços. Frente a isso, os profissionais encontram-se à margem dos processos decisórios e, mais do que isso, ficam subordinados ao arbítrio da vontade política da gestão.

Apesar desse contexto, há um enfrentamento dos trabalhadores e da população, que se caracterizam como militantes e defensores do SUS, e colocam-se na contramão da política atual, procurando resistir e garantir os avanços conquistados. Não há dúvidas sobre a importância da participação, do controle social e do comprometimento na construção cotidiana de parcerias (entre gestor, trabalhador, território e rede), contudo, uma gestão centralizadora e desarticulada acarreta enorme sofrimento, principalmente, aos profissionais e deixa claro o quanto o contexto político ameaça e é capaz de desmontar, até mesmo, os projetos que vinham dando certo. Essa situação confirma a evidência de que o SUS não é uma política de Estado e sim, de governo.

Os grupos sinalizaram, ainda, a importância das diretrizes e do conhecimento produzido a partir do Programa Paidéia de Saúde da Família, pois os profissionais continuam produzindo ações advindas desse conhecimento e alguns profissionais procuram dar continuidade nas reflexões, buscando grupos de debate nas universidades, além do interesse em produzir teoricamente sobre sua prática de trabalho. Além disso, na análise das narrativas, destacou-se a denúncia sobre a falta de um direcionamento claro da política de saúde e do descuido com o trabalhador, traduzida num pedido de um “segundo momento Paidéia”.

Com relação ao trabalho na AB, os profissionais relataram o desejo e a escolha em atuar nesse nível de atenção, dada a possibilidade de trabalhar no eixo da prevenção e da continuidade do cuidado. Ao mesmo tempo, reconhecem que a prática de trabalho imprime um modelo biomédico, com pouca possibilidade de realizar ações de prevenção, promoção e longitudinalidade do cuidado. Porém, nessa dicotomia entre o desejo e a realidade, a tentativa é de estabelecer relação de apoio e confiança entre a equipe, o que tem garantido satisfação profissional, inclusive, pelas trocas e encontros com os usuários, diferente da primeira hipótese apresentada pela pesquisadora, no sentido de que a equipe e os usuários fortalecem o trabalhador. Nesse contexto, as expectativas das equipes em relação ao trabalho desenvolvido no serviço situam-se entre o papel

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do gestor e das equipes para fortalecer a inversão do modelo biomédico, garantir investimento e adequação de recursos financeiros, qualificação e capacitação profissional.

Nesta pesquisa, procurou-se identificar como o trabalhador da AB compreende o SUS e, em especial, este nível de atenção. Fica evidente que há um distanciamento entre os programas decretados pela gestão federal e os serviços, seja pela infinidade de regulamentações, pela improdutiva divulgação, ou ainda, pelo sentimento de desconfiança do trabalhador para com a gestão, no sentido da descrença política. Não é frequente encontrar profissionais da AB discutindo sobre os termos de compromisso e as pactuações sugeridas e elaboradas pelo Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde, como é o caso do Pacto pela Saúde e outras regulamentações. Os documentos elaborados pelo Ministério da Saúde traçam diretrizes e normas gerais, ao mesmo tempo em que dão autonomia para que o município organize os programas e sua rede de acordo com a sua realidade e necessidades locais. É importante que exista essa flexibilidade, porém, isso deve estar atrelado à fiscalização e avaliação contínuas, inclusive com a participação do MS. Até mesmo porque isso poderia garantir a permanência das ações, para além do desejo da gestão.

O NASF, por exemplo, é uma proposta do MS para todo o território nacional e, apesar da flexibilidade de cada município poder optar pelos profissionais de acordo com as necessidades locais, não considera, por exemplo, os municípios de grande porte que investiram e criaram outra organização mais condizente com a sua realidade, como é o caso de Campinas com o Apoio Matricial na Atenção Básica. Entende-se que o NASF está baseado nesse modelo, porém, como não previsto e proposto pelo MS, não gera financiamento ao município que opta por outro modelo de organização.

Obviamente, os documentos e portarias são de extrema importância e, em especial, a legislação do SUS é bastante atualizada e garantidora de direitos, de modo que muitos documentos apresentam avanços concretos e propõe resoluções às dificuldades práticas. É o caso do Decreto № 7.508 que surge para regulamentar a Lei № 8.080, após vinte e um anos de sua aprovação, mas, apesar disso, efetiva a proposta e cobrança do uso de instrumentos de avaliação e controle, cria as Regiões de Saúde que trazem um estímulo aos municípios de pequeno porte, prevendo o investimento na rede e estímulo à RAPS. Por outro lado, muitas informações, diretrizes e indicações repetem-se nos documentos, desde a criação do SUS. A saúde enquanto um direito de cidadania, por exemplo, aparece em todos os documentos analisados nesta pesquisa, desde a Lei №8.080, até a PNAB 2011, mas, na prática, será que esse direito está realmente assegurado?

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Outra questão refere-se ao conhecimento e divulgação sobre o que está sendo produzido e teorizado, seja no nível municipal, estadual ou federal. Dificilmente os Relatórios de Gestão dos municípios (que apresentam o plano para a rede de saúde do município durante o quadriênio da gestão) são compartilhados ou apresentados aos profissionais de saúde, assim como, o Pacto de Indicadores da Atenção Básica, no plano federal, dificilmente é divulgado ou chega para o conhecimento dos trabalhadores. Ainda, os profissionais pouco conhecem sobre a situação de saúde do país e até mesmo de seu município, pois não é comum que os dados de saúde e de produtividade sejam apresentados e devolvidos para as equipes. Dessa forma, o conhecimento do território em que se atua é empírico, ou seja, acontece a partir da vivência do trabalho, sem o respaldo de dados de produção e indicadores de saúde. É fundamental que o trabalho na AB seja embasado por esses dados e que a gestão consiga garantir um fluxo de informações com as equipes de saúde, contemplando das diretrizes municipais às federais.

Aliada a essa questão, está a necessidade de utilizar a avaliação na rotina do trabalho como forma de planejamento das ações e da garantia da qualidade da assistência. Pensada na linha da co- gestão, ou seja, compartilhada e construída na pactuação com todos os envolvidos, esta é uma possibilidade para manter a equipe coesa, reflexiva e responsabilizada, podendo ser, também uma alternativa para lidar com o profissional que não tem perfil e não acredita no SUS. Porém, essa é uma proposta a ser construída.

O PMAQ, modelo de avaliação da AB proposto pelo MS, foi importante para instituir a avaliação e o monitoramento, mas, talvez seja necessário rever esta metodologia que utiliza uma enxurrada de perguntas na autoavaliação. Além disso, seria importante pensar num avaliador externo que trabalhe na linha do Apoio Institucional, acompanhando as equipes por mais tempo e mais de perto, trocando experiências, fazendo devolutivas e pontuações. Assim, a equipe poderia refletir e ser orientada sobre o que é possível fazer para melhorar, em quê precisa melhorar, ou ainda, o que a equipe está fazendo que está dando certo.

Dessa forma, com base nas narrativas dos trabalhadores, nos documentos relacionados ao PMAQ e na experiência da pesquisadora, pode-se analisar que esta avaliação apresenta falhas em todo o seu processo de desenvolvimento, iniciando-se pela adesão e contratualização, visto que os profissionais tem pouco conhecimento sobre do que se trata esse programa. Ainda, considerando as quatro etapas da fase de desenvolvimento: na Autoavaliação, pode-se observar uma infinidade de perguntas; no Monitoramento (metas e indicadores contratualizados) observa-se que a equipe tem

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pouco acesso à sua produção, visto que os dados captados pela gestão (planilhas, indicadores) geralmente não são apresentados para a equipe; a fase de Educação Permanente parece não ter acontecido; o Apoio Institucional não aconteceu mesmo, pois, mais uma vez, a responsabilidade ficou para as equipes. Na Avaliação Externa, o avaliador manteve-se distante da equipe, elegendo apenas um membro para conversar e não levando em consideração ações que as equipes consideravam importantes, além da ocorrência do PMAQuiamento. Por fim, na Recontratualização, as equipes não tiveram acesso aos resultados e, por isso, desconhecem “onde estão falhando” (conforme discurso do grupo de discussão: “a gente não sabe se é bom ou ruim”) e nem o que está recontratualizado para a próxima avaliação (“não sabe em quê tem que melhorar”).

Outro problema, também bastante debatido nos grupos com os trabalhadores, refere-se à formação, perfil e comprometimento do profissional da AB. Fica evidenciado, confirmando uma das hipóteses da pesquisadora, que o sofrimento e desmotivação dos profissionais estão relacionados ao contexto político, à falta de apoio e investimento e à sobrecarga no trabalho. O sistema contribui para uma degradação do trabalho, na medida em que desrespeita os profissionais, em que não oferece incentivo e reconhecimento, e, até mesmo, quando “premia” o profissional descomprometido.

Por outro lado, o que sustenta o profissional na AB é a sua ideologia, ou seja, crença no modelo e luta pelos direitos de cidadania, e as produções que se dão nos encontros com usuários e equipes. Dessa forma, o retorno que se tem do usuário, o apoio e afeto da equipe, assim como a possibilidade de concretizar ideias de justiça social e igualdade traduzidas em produções coletivas de convivência e promoção de saúde, são o real alimento interno dos profissionais da AB.

Apesar de não ter sido evidenciado no discurso dos trabalhadores, a pesquisadora aponta a dificuldade de se efetivar o trabalho em equipe, pois é um campo de tensões e interesses, que está sempre sendo construído e desconstruído. Assim como lidar com o usuário não é apenas prazeroso, pois as relações entre os sujeitos são complexas, demandam disponibilidade, tolerância, potencialidade para aproximar-se dos sujeitos e estabelecer os pactos, bem como para abdicar-se dos seus próprios desejos, pensando na construção do desejo coletivo. Entretanto, essas considerações não descaracterizam o discurso dos trabalhadores em relação a essas temáticas.

Outro ponto a ser destacado é o papel da Universidade possibilitando um espaço para a entrada do profissional da rede de saúde e oferece escuta para a narrativa de suas experiências, permitindo sustentação, reflexão e produção do conhecimento. Esse fato pode ser observado no

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Grupo I e na própria trajetória narrada pela pesquisadora, evidenciando o papel da Universidade enquanto um local para imprimir o fortalecimento e defesa do SUS.

No entanto, a formação é um nó crítico no cotidiano de trabalho, visto que os profissionais não são formados para o trabalho no SUS e a visão fragmentada apreendida na graduação, dificulta a discussão do papel político, social e humano do trabalhador da saúde. A ideia de que a formação acontecerá de forma empírica, parece ser admitida por profissionais e gestores, pois não se espera que os profissionais cheguem para trabalhar no SUS com formação, mas, ao contrário, há uma insistência em formar os profissionais na prática de trabalho, como se fosse possível superar todas as defasagens e fragilidades do ensino/ graduação. Autoriza-se a invenção de mecanismos que formem o profissional para que, a partir daí, haja possibilidade de mudar o modelo de saúde. Porém, como os alunos/profissionais vão aprender na prática se encontram trabalhadores com pouco embasamento no SUS? Nesse sentido, no caso da Residência, a aposta é que esses estudantes sejam capazes de provocar mudanças no modelo de saúde e nos serviços, todavia, a proposta desse curso está ligada à formação profissional. Sendo assim, a formação pode se dar por meio da oferta de um campo de trabalho precarizado. Além disso, a gestão pode utilizar o residente como mão de obra para substituir um cargo que não existe no serviço. Se, por exemplo, não há um Terapeuta Ocupacional na unidade, quem será o núcleo de referência para o residente Terapeuta Ocupacional?

A PNAB 2011 (Brasil, 2011) aponta que compete ao governo federal articular com o Ministério da Educação para indução às mudanças curriculares nos cursos de graduação e pós- graduação na área da saúde. Em que medida os Ministérios da Saúde e Educação têm conseguido realizar a co-gestão para pensar na formação do profissional da saúde? As políticas indutórias do MS têm contribuído para a formação do profissional da saúde? A metodologia ativa está presente em todos os programas de formação, mas este é o melhor e/ou o único modelo de formação? Banaliza o papel do professor.

A escassez de profissionais, uma queixa unânime das equipes participantes desta pesquisa, reafirma o modelo do “SUS para pobres”, pois, os profissionais duplicam e até triplicam funções, realizando, inclusive, ações que fogem de sua competência e capacidade. Uma coisa é trabalhar com a clínica ampliada e a possibilidade de desenvolver conhecimento em outras áreas (campo e núcleo de saber). Outra é por falta de pessoal, um profissional ter que desempenhar outras funções e ocupar diferentes papéis dentro de uma equipe.

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A SGTES foi criada em 2003 na tentativa de valorizar o trabalhador do SUS, dada a compreensão de que isso influencia na qualidade do atendimento prestado. No entanto, o que observa desde então, são ações focais, desarticuladas e com baixa capacidade resolutiva. Não se conseguiu estabelecer uma política concisa e efetiva de RH que, de fato, garanta o direito dos trabalhadores e, por consequência o dos usuários, promovendo, por fim, a qualificação da atenção e da gestão. Faz-se urgente a discussão, elaboração e efetivação de uma política para gestão de pessoas que traga em sua essência a avaliação e que defenda uma carreira no SUS, tendo como base um Plano de Cargos, Carreiras e Salários. Essa política deve possibilitar o reconhecimento e valorização do profissional, mas também, deve estabelecer critérios para cobrar comprometimento e possibilitar respostas ou encaminhamentos efetivos frente ao profissional que não corresponde às expectativas da equipe e não cumpre com as tarefas estabelecidas.

Com base nos dados deste trabalho, a pesquisadora apresenta uma sugestão sobre o Apoio Institucional que poderia ser um mecanismo de aproximação entre as políticas instituídas pelo governo federal e a rede de saúde dos municípios. Nesse sentido, o Apoiador, na linha hierárquica da Secretaria do Estado e do Ministério da Saúde, deveria ser referência aos municípios, possibilitando o conhecimento e a compreensão das diretrizes e programas propostos, bem como, aproximando-se das realidades dos territórios e das equipes de forma horizontal. Está intrínseco nesse papel, a função de facilitador para o desenvolvimento de ações e a função de Apoio às necessidades e potencialidades da equipe, garantindo, também, sua formação e capacitação. Em contrapartida, esse vínculo poderia efetivar a comunicação entre os gestores das três esferas de governo, estabelecendo uma ponte para que a prática profissional possa subsidiar a política proposta no âmbito federal, estadual e municipal.

Uma última questão apresentada refere-se ao recurso financeiro que o MS repassa ao município. Muitas vezes, há uma indução sobre de que forma essa verba pode ser utilizada, sem uma pactuação ou avaliação sobre as necessidades do município. Esse fato contribui para uma irracionalidade na utilização dos recursos, pois um município pode conseguir garantir, por exemplo, itens ou materiais de menor importância e não conseguir abastecer a rede com materiais urgentes ou básicos para garantir a assistência. Ser gestor exige um grau de competência administrativa que beira à mágica: como organizar os gastos com o que o MS autoriza e como avaliar e comprar o que a equipe precisa com os recursos certos, não desperdiçando-os?

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De fato, o projeto do Sistema Único de Saúde e, em especial, da Atenção Básica, são extremamente inovadores e contrapõem completamente a lógica predominante, propondo um modelo de construção coletiva e um modo de operar a saúde através da co-gestão. Nessa lógica, a