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Categoria interacional no evento “Construção da metodologia particular da organização”

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.3 Processo de significação cognitivo-social dos praticantes da estratégia

4.3.4 Processo de significação cognitivo-social no evento “Construção da metodologia particular da

4.3.4.2 Categoria interacional no evento “Construção da metodologia particular da organização”

Sobre a categoria interacional, enxergou-se uma participação conjunta e legítima do grupo da diretoria e do grupo da operação de desenvolvimento de software no processo de significação cognitivo-social; de modo que as subcategorias reuniões da diretoria e conversas de cafezinho tiveram influência semelhante no mesmo. Isso alude ao envolvimento dos dois grupos de praticantes da estratégia na interpretação do evento de aprendizagem, mediante diferentes práticas que serão expostas a seguir, as quais foram avaliadas pelos dois grupos, considerando-as válidas junto com a produção de conhecimento gestada nelas.

Inicialmente, cada um dos grupos configurou ao interior das reuniões de diretoria e das conversas de cafezinho sua própria versão do inquérito. Enquanto para o grupo operativo o ativador do inquérito estava constituído pela necessidade de uma maior liberdade para incorporar elementos das metodologias ágeis no processo de desenvolvimento de software, para o grupo da diretoria o ativador do inquérito era a necessidade de um maior controle para a aplicação efetiva do processo de desenvolvimento de software institucional, sem ter modificações arbitrárias sobre o processo realizadas pelas equipes de desenvolvimento de software na sua execução.

Dessemelhante ao evento anterior, no qual a percepção de ativador do inquérito de um dos grupos possibilitou o surgimento da percepção do outro, a divergência de percepção no evento “Construção da metodologia particular da organização” outorgou uma qualidade emocional de tensão entre os grupos no momento de ativação do inquérito. Aquilo acabou instilando uma demanda de envolvimento mais abrangente para contribuir no processo reflexivo, por parte do grupo operativo de desenvolvimento de software. Como antecedente, o grupo da diretoria tinha solicitado há dois anos, para o grupo operativo de desenvolvimento de software, abster-se de introduzir modificações no momento do planejamento e execução do processo de desenvolvimento de software institucional nas equipes; não obstante, as equipes não acataram tal lineamento, argumentando, com dados de resultados dos projetos, que o software desenvolvido com o processo modificado satisfazia ao cliente e causava margens de retorno financeiro adequadas.

Diante dessa situação, a diretoria tinha efetuado para essa mesma época uma tentativa para elaborar um modelo de processo de desenvolvimento de software institucional que abraçasse as modificações comumente introduzidas nas equipes; porém, o grupo operativo de desenvolvimento de software não empregou tal modelo, o qual acabou caindo em desuso. Tal

fato foi interpretado pelo grupo da diretoria como consequência de não ter envolvido na elaboração desse modelo alguns membros da operação de desenvolvimento de software, e isso constituiu um gatilho para ponderar o comprometimento desses membros no processo de significação cognitivo-social que caracterizou o evento “Construção da metodologia particular da organização”.

Destarte, para o momento da intelectualização do problema, o grupo da diretoria, com apoio do grupo Software Engineering Process Group (SEPG), decide procurar a conciliação de interesses com o grupo operativo de desenvolvimento. Assim, formulou o problema como a busca por uma metodologia institucional que estabelecesse os mínimos necessários para que o processo de desenvolvimento de software fosse controlável, ao mesmo tempo que agenciasse as equipes da operação de desenvolvimento de software para decidir os detalhes da execução daquele processo.

Para o terceiro e quarto momentos, de investigação da situação e formulação de hipóteses de trabalho, e de raciocínio sobre as hipóteses como possível solução, a diretoria e o SEPG criaram espaços de participação com a capacidade de coletar uma grande quantidade de ideias vindas do grupo operativo de desenvolvimento de software, assim como absorver, desde as diferentes óticas dos colaboradores, os avanços do mercado que mais se adequavam à contingência particular da organização. Esses espaços assumiram a forma de fóruns, visando salientar a abertura para a participação de todos os membros da operação de desenvolvimento de software e, além disso, assemelhar os espaços de contribuição da academia, os quais reúnem um conjunto de experts em temas específicos.

Para sua ocorrência, eram enviados convites via e-mail institucional: de uma parte, direcionavam-se para as pessoas identificadas como líderes na introdução de modificações arbitrárias ao processo nas equipes de trabalho, de outra parte, remetiam-se convites abertos para todos os colaboradores com interesse no tema específico do fórum, limitando a inscrição aos primeiros a dar retorno. Com isso, a diretoria e o SEPG almejavam obter uma participação numerosa do grupo operativo de desenvolvimento de software e legitimá-la, de maneira que as conclusões obtidas nos fóruns fossem reconhecidas como as melhores opções pelo grupo operativo, e, ao final do processo reflexivo, pudessem ser legitimadas como componentes de uma metodologia a ser usada efetivamente por toda a organização.

Uma vez encerrados os fóruns e obtidas possíveis hipóteses de trabalho como insumo, o raciocínio e o delineamento da solução final, que constituiria a proposta de metodologia de duas variantes (SOFTPE Verde / SOFTPE Maduro), efetuou-se nas reuniões da diretoria. Subsequentemente, procederam à execução do momento de testes, em curso em novembro de

2016, que envolveu a participação conjunta do grupo da diretoria e do grupo de desenvolvimento de software. A declaração de Gabriel, diretor técnico de operações, em entrevista de aprofundamento (follow-up), desenha o panorama da incongruência entre os resultados adequados na satisfação do cliente e o retorno financeiro, e a falta de seguimento à metodologia institucional por parte do grupo operativo, que levaram a procurar uma conciliação das participações:

“Estou [como projeto] dentro do orçamento, o cliente está super satisfeito, eu estou entregando no prazo, mas não estou executando o meu processo [institucional]. Lógico que a gente tem que olhar o por que não está gastando, se tem algum problema no meu processo, mas o importante é que eu estou fazendo dentro do orçamento, o cliente está super satisfeito e estamos entregando tudo dentro do prazo (...) Então vamos olhar bem por que está dando tão certo e não estamos adotando a metodologia? Tem alguma coisa... Por outro lado, isso não é tão comum. Normalmente quando está adotando, não está legal também.”

Na sua fala, o diretor técnico de operações mostra a contingência que estavam vivendo muitos projetos da organização, os quais estavam “dentro do orçamento”, contavam com um cliente “super satisfeito” e estavam “entregando no prazo”, todas elas consequências desejáveis da sua gestão, indicadas como “o mais importante”. Não obstante, esses projetos “não estavam executando [seu] processo [institucional]”, fator motivador de inquérito por parte da diretoria de “porque está dando tão certo” e porque não estão dentro da normalidade de “quando [se] está adotando”. Aquela necessidade de inquérito instilou um envolvimento mais abrangente do grupo operativo de desenvolvimento no processo reflexivo deste evento, com foco especial na revisão do processo institucional presente. Outro depoimento de Gabriel, na mesma entrevista, mostra a tentativa, precedente ao evento, de elaboração de uma nova metodologia de desenvolvimento institucional:

“Porque a gente já tinha tido tentativas anteriores de exigir que algumas partes do processo minimamente fossem executadas sem a participação de todos, sem uma abrangência maior, de uma colaboração das equipes na definição. E a experiência foi meio que frustrante (...) A coisa não vai acontecer, entendeu? Não adianta a gente ter um processo que seja definido pela alta direção e mandado para o resto da empresa e que as pessoas não o utilizem e não se sintam comprometidas com ele.”

A declaração reflete como esta tentativa antecedente ao evento “Construção da metodologia particular da organização” excluiu a participação do grupo operativo de desenvolvimento ao mencionar “sem a participação de todos, sem uma abrangência maior, de uma colaboração das equipes na definição”. Assinala o resultado da experiência como “frustrante” porque o grupo operativo de desenvolvimento de software não empregou tal modelo “definido pela alta direção e mandado para o resto da empresa”, e as pessoas não se

sentiram “comprometidas com ele”. A frustração naquela experiência anterior marcou o caminho para a abertura a uma participação periférica e legítima por parte do grupo operativo de desenvolvimento no evento objeto desta análise. Em relação aos fóruns, como mecanismos que compreenderam tal participação, José, analista da gerência de configuração e membro do

Software Engineering Process Group (SEPG), afirma:

“Eram todos presenciais. A gente dividiu nas nossas... o que a gente chama de disciplinas, né? Por exemplo, gerência de configuração, engenharia de software, medição e análise, capital humano, em algumas áreas; mas a gente dividia as áreas do ciclo de desenvolvimento de software, e aí a gente convocava.”

Na sua fala, José retrata a constituição dos fóruns, os quais se assemelharam aos espaços acadêmicos, convocando experts nas “áreas do ciclo de desenvolvimento de software”. Com tal esquema, procurava-se colher um grande número de informações do mercado, alimentado pela academia, e pontos de vista dos membros do grupo de desenvolvimento, possibilitando a discussão dos mesmos na modalidade “presencial”. Elizabeth, analista de garantia da qualidade e membro do Software Engineering Process

Group (SEPG), refere-se, além disso, sobre os fóruns:

“Tinha assim, o fórum com formato das pessoas que eram sempre fixas (...) Antes da gente começar os fóruns, destacou algumas pessoas que a gente considerava que eram fixas, que estavam também nessa movimentação de falar que “o processo não estava agregando” e tudo, e a gente definiu, validou, conversou com elas, claro, para ver se elas aceitavam. São pessoas críticas que a gente achava que iam agregar a essa discussão. O que tinha o interesse exato para determinado fórum e se inscrevia para poder participar como convidado. A gente mandava o convite, acho que uma semana antes, e aí tinha um processo de inscrição e os primeiros inscritos participavam. A gente comunicava que eles participariam como convidados. Também participava o grupo da SEPG, que é aquele grupo de melhorias, como grupo fixo. A diretoria, a gente preferiu que não participasse, para que as pessoas se sentissem mais livres para falar o que elas acham.”

A analista de garantia da qualidade amplia a informação sobre o perfil dos participantes dos fóruns. Com a expressão “pessoas que eram sempre fixas” ou “grupo fixo”, alude a colaboradores do grupo operativo de desenvolvimento com um perfil especifico, e ao grupo SEPG, quem eram convidados a todos os fóruns. Dito perfil é caracterizado por ela como “pessoas críticas que a gente achava que iam agregar a essa discussão”, e descreve, aliás, um modo cuidadoso de convidá-las, como dito em “validou, conversou com elas, claro, para ver se elas aceitavam”, denotando provavelmente um interesse em evitar aumento da tensão no processo de envolvimento destas pessoas no processo reflexivo do evento, e acolher sua contribuição na construção de uma solução. Elizabeth também especifica outro tipo de

participantes dos fóruns, não fixos, como “o que tinha o interesse exato para determinado fórum”, quem dependia do processo de inscrição. Finalmente exclui a diretoria como participante dos fóruns, por considerar um efeito inibitório na expressão das opiniões dos colaboradores.

Destarte, a categoria interacional salientou uma influência semelhante das subcategorias “reuniões da diretoria” e “conversas de cafezinho”. Circunscreveu-se uma participação conjunta e legítima do grupo da diretoria e do grupo da operação de desenvolvimento de software, em diferentes momentos do processo de significação cognitivo- social, constituindo como meio adicional o espaço dos fóruns presenciais, novidade na organização.

4.3.4.3. Categoria temporal no evento “Construção da metodologia particular

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