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5. RESULTADO E DISCUSSÃO 1 Unidades analisadas

5.2.1. Categoria 1: Memórias e realidades Contemporâneas

A presente categoria temática discorre sobre as visibilidades da cidade de Oriximiná a partir da década de 1970. Enfatiza as diferentes características espaciais pelo resgate de registros realizados ao longo deste período comparando-as com as suas atualizações. Logo, apresenta as mudanças espaciais ocorridas neste município, onde é realizada uma reflexão sobre as diversas problemáticas e interferências.

De modo a resgatar memórias, apresenta por associações temporais a unidade de análise referente a área espacial do estudo. Dessa forma, são descritas as consequências dessas dinâmicas neste contexto, onde foram identificados expansão urbana, déficits ambientais, simbologias, revitalização de espaços e demais processos organizacionais via registro fotográfico de acordo com a técnica descrita na metodologia. Nesta direção, é construída então a análise dessas premissas por meio das alegações de Karl Marx e de Viola Recanses dada as contingências observadas quanto a incorporação do empreendimento minerador dentro da dinâmica capitalista.

Nestes termos, primeiramente considera-se que o processo de mudança nas sociedades está ocorrendo em um ritmo bem acelerado, envolvendo constantemente as relações sociais e

políticas das regiões. Contudo, em paralelo é observado que o espaço e a paisagem também recebem esse processo de transformação, certificando as novas necessidades da sociedade via modelo econômico, assim como propõe Santos (2014). Não diferente dessa assertiva, Oriximiná tem apresentado transições significativas em suas estruturas espaciais e consequentemente nas relações sociais, principalmente após a implantação da MRN.

No espaço, a orientação e as mudanças nas formas, estruturas e funções dos lugares trazem, em si, transformações no uso e acesso à cidade pelos cidadãos, para além da esfera produtiva. Nesse sentido, a dimensão concreta da produção do espaço (que engloba, mas não se restringe à produção puramente material do espaço) demonstra uma objetividade não absoluta; a realidade como movimento da reprodução das relações sociais, sob a orientação da expansão inexorável do processo capitalista, ao incorporar a produção do espaço da vida cotidiana, ilumina estratégias e projetos diferenciados (CARLOS, 2015; p. 06).

Para entender essa dinâmica, na construção desta pesquisa foram resgatadas imagens do arquivo da Biblioteca Municipal de Oriximiná, onde há registros das mudanças e expansões ocorridas nas últimas quatro décadas, mas, sobretudo, após a inserção do grande empreendimento minerador, diga-se MRN, que iniciou suas atividades no final dos anos de 1970 como já apontado. E como aporte para reflexão da introdução deste feito, foi realizada captura do cenário atual nas mesmas localidades a fim de permitir que a leitura seja visual, como proposta dentro da metodologia do estudo. Assim como de registros oportunos pela discussão.

Neste seguimento é notório que há uma nova organização inserida na paisagem, e esta revela a construção de uma nova dinâmica nesta região. Da cidade com predominância de copas de árvores (Fotografia 26), dá-se uma paisagem da zona urbana, onde são facilmente identificadas características que orientam para uma expansão do ambiente urbano, onde se observa claramente o seu crescimento e desenvolvimento urbanístico (Fotografia 27). Toda essa mudança é resultado de ações nacionais desde os anos 1950, e do ciclo extrativo que a Amazônia vem recebendo desde os anos 1970 (BRITO, COSTA, 2006; MARTINE, TUCHI, 1988), e ainda percebida nas regiões do baixo amazonas, contribuindo para transformações socioespaciais e ocasionando desordens no espaço urbano (SOUZA, 2018).

Assim, encontrou-se entre os acervos da Biblioteca Municipal outras possibilidades imagéticas quanto a inserção do capital minerador, não expostas aqui apenas por uma questão organizacional. Dessa forma, o conjunto de figuras e documentos localizados são bem significativos para reconhecer e compreender a dinâmica que ocorreu no município, e as eventuais mudanças culturais. Mas, sobretudo, são parte da memória do município e da formação de sua sociedade, propondo as identidades da localidade que vão sendo reveladas

hodiernamente por manifestações culturais que apresentam características marcantes quanto os saberes populares, inclusive pela Medicina Popular.

Fotografia 26: Visão panorâmica de Oriximiná na década de 1980.

Fonte: Arquivo da Biblioteca Municipal de Oriximiná (2018)

Fotografia 28: Visão atual de Oriximiná e registro em direção as novas áreas ocupadas

Sendo assim, como exemplo de evento modificador da dinâmica local, têm-se registros do exercício de navios de carga na região. Estes indiretamente são apresentados em conexão com populares em atividades portuárias nas estruturas físicas para aporte de navegação, diga- se “trapiche” (Fotografia 28). Portanto, o processo de transformação é explícito pelo registro visual, o que possibilita uma leitura ampla pela perspectiva estrutural quanto as novas condições de embarque e desembarque de embarcações, e pelo dinamismo dos grupos sociais. A leitura aponta que pelo tempo e/ou circunstância é percebido o crescimento do fluxo das atividades marítimas neste seguimento, principalmente quanto ao transporte de pequenas cargas e passageiros.

Deste modo, os carregamentos em geral são de madeiras e castanhas desidratadas, e vem sendo realizadas por todo esse período e pelas extensões do baixo amazonas, englobando Óbidos, Santarém e Oriximiná. Dessa forma, os registros apontam que um dos eventos de maior destaque foi o primeiro embarque para a Europa no ano de 1994, onde a empresa responsável considerou o feito importante para a população, pois, possibilitava a expansão de serviços para a mão de obra local (URUÁ-TAPERA, 2007). Desde este feito foram inseridas algumas mudanças, e hoje há uma infraestrutura mais compatível com as diversas atividades portuárias presentes na região, sobretudo quanto o trânsito de passageiros e pequenas cargas (Fotografia 29).

Fotografia 28: Trapiche municipal de madeira, década de 1980

Fonte: Arquivo da Biblioteca Municipal de Oriximiná (2018)

Fotografia 29: Trapiche municipal de concreto

Fonte: Arquivo de campo (2018)

Quanto aos registros encontrados apreendem-se como a territorialização fez-se presente. Visto que há uma reorganização social e um reordenamento dos espaços em função da presença de novas dinâmicas, incluindo o capital minerador e os adventos das políticas de ocupação da Amazônia a partir dos anos de 1970. É possível justamente entender isso pelas proposições de Freitas, Farias e Maciel (2014).

Na apropriação do território de Oriximiná foi se revelando como essa relação foi significante, pois, além de modificar a paisagem da região urbana determinou também as novas relações entre a cultura local e a economia regional, em virtude de novas mobilidades inseridas por meio de acessos rodoviários e meios de produção capitalista, diferentes das relações camponesas e do uso exclusivo de embarcações para escoamento de produções. Portanto, é necessário entender que:

Uma cidade é capaz de produzir o lugar dos ricos e o lugar dos pobres, das industrias e do comércio, dos fluxos e a circulação de mercadorias, bens e serviços, e também produzir riscos diferenciados para cada indivíduo ou grupo social. Sua estrutura é necessariamente heterogênea, resultado da permanente ação da sociedade sobre a natureza. Esse espaço produzido socialmente se configura como um território que exerce pressões econômicas e políticas sobre a sociedade, criando condições particulares para sua utilização por ator social, individualmente (GONDIM, et al., 2008, p. 237).

Consequentemente, essas dinâmicas provocaram mudanças no modo de vida dos municípios da zona urbana, pois, os cenários ante envoltos por simbologias mais próximas ao natural encontram-se cerceados por novas concepções. Incorpora-se isto inclusive por outros

campos quando pensado por uma perspectiva interdisciplinar. Por certo, é provável que no campo da saúde, por exemplo, isso também tenha influenciado inclusive nos itinerários terapêuticos, pelo advento de circulação financeira local mais expansiva e do poder de compra a novos fármacos.

Nota-se ainda que com a dada reorganização dos espaços de Oriximiná, foi possível constatar as adaptações que a rede hidroviária e seus atores foram construindo por essas relações. Foi identificada essa dinâmica nos registros da paisagem frontal e de acesso à zona urbana interna, haja vista o fato da cidade possuir aspectos ribeirinhos (Fotografia 30). A identidade permaneceu, obteve novas paisagens, inclusa a modernização da infraestrutura da orla para atracação de embarcações e da mobilidade de populares às ruas da cidade, mas o seu principal meio de transporte entre microrregiões não (Figura 31 e 32).

Fotografia 30: Fluxo hidroviário em frente a antiga orla/área de pequenas embarcações.

Fotografia 31: Fluxo hidroviário de pequenas e médias embarcações frente à cidade pelo rio Trombetas. Nada mudou quanto ao principal meio de transporte entre a zona urbana e rural

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Fotografia 32: Visão noturna das embarcações para transporte de passageiros entre as cidades vizinhas. Iluminação e orla modificadas pelos novos tempos de modernização.

Logo, os barrancos (Figura 33) característicos destas regiões e ainda que representativos em comunidades de populações ribeirinhas (BINSZTOK, FARIA, 2013) atualmente foram substituídos por orlas e pavimentações (Fotografia 34). Todo esse projeto de reestruturação não somente envolveu a parte frontal da cidade, como também as demais ruas de acesso aos bairros mais longínquos (Fotografia 35), onde a pavimentação e o esgotamento foram prioridades.

Fotografia 33: Área dos “trilheiros”.

Fonte: Arquivo da Biblioteca Municipal de Oriximiná (2018).

Fotografia 34: Antiga área dos “trilheiros”, atualmente pavimentada.

Fotografia 35: Atual área dos trilheiros.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Atualmente, as ruas e travessas antes permeadas por paisagens de uma cidade típica do baixo amazonas81 e com menos intervenções urbanísticas, são hoje resultados de ações de pavimentação, com breves resgates de paisagismo. Claramente toda a visão frontal da cidade mudou desde a Fotografia 38 em comparação com as características observadas na Fotografia 39, apenas sendo preservado a inserção de barcos e rabetas82 ao longo da orla. Este movimento

tem sido observado nas cidades da Amazônia brasileira, e é parte de um movimento que foi ocorrendo em função das relações antrópicas, muitas vezes desestruturando a paisagem natural e o modo de vida tradicional destas populações (LUI, MOLINA, 2008).

Por estes apontamentos foi possível identificar que a cidade de Oriximiná vem apresentando uma extensão urbana bem maior e com diferentes organizações paralelas a implantação da MRN, com novos bairros e novas infraestruturas de apoio a população (Fotografia 36 e 37).

81 Cidades desta região em geral apresentavam-se com florestas típicas, com rios e várias características ligadas a

essa configuração como presença de canoas, pequenas embarcações com redes, e alimentação com ênfase em frutos e peixes (BRAGA, 2015).

Fotografia 36: Travessa Carlos Maria Teixeira sem pavimentação e rede de esgoto.

Fonte: Biblioteca Municipal de Oriximiná (2018)

Fotografia 37: Travessa Carlos Maria Teixeira com pavimentação e meio fio.

Contudo, o que se quer demonstrar aqui é que não somente a estrutura física de apoio a rede portuária mudou em função do contingente de carga e descarga, mas também a cidade foi alvo de intervenções como percebido na Fotografia 38 a 40. Estas demonstram as transformações recebidas e as que permaneceram - pois algumas são inerentes as condições climáticas da região, como por exemplo, a cheia do rio no período do inverno amazônico. Nestes termos é necessário mergulhar-se a identidade amazônica já observada por Wagley (1977, p. 29):

Para os habitantes da Amazônia as estações são marcadas mais pelos volumes das chuvas do que pela variação da temperatura. Embora as chuvas sejam abundantes durante todo o ano (...) o período de janeiro a junho é a “estação chuvosa” chamada de “inverno”. Durante esses meses chove quase todos os dias e os rios transbordam. Os outros meses do ano formam a “estação da seca” ou “verão”. Durante o verão muitos são os dias sem chuva e esta, quando cai, é sob formas de tempestades rápidas e violentas. Durante esses meses baixa o nível das águas dos rios e secam as várzeas. As estações tropicais da Amazônia, apesar da falta de contraste com sua temperatura, afetam tanto a vida do homem como das zonas temperadas.

Fotografia 38: travessa 15 de novembro, asfaltada, com residências com dois pavimentos e pouca vegetação.

Fotografia 39: Mercado municipal do peixe, anos 1980

Fonte: Arquivo da Biblioteca Municipal de Oriximiná.

Fotografia 40: Antigo mercado municipal do peixe.

Mas certamente, há cenários desolados, abandonados e por vezes espaços para riscos á saúde individual e coletiva em funação da ausência de manutenção predial e ambiental como observado na Fotografia 41 a 43.

Fotografia 41: Entorno do antigo mercado de peixe visão lateral.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Fotografia 42: Entorno do mercado de peixe e nas proximidades de área comum de lazer.

Fotografia 43: Espaço interno do antigo mercado de peixe, atualmente praça de alimentação.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Vale ressaltar que são incontestáveis as grandes mudanças dos espaços destinados a rede hidroviária e o comércio em seu entorno. Por certo, Oriximiná notadamente recebeu mudanças significativas quanto a pavimentação (Fotografia 44 e 45), que propiciaram condições favoráveis a mobilidade e qualidade de vida. Têm-se o reconhecimento que parte destas mudanças no cenário são positivas quando do desenvolvimento local e sobretudo interferem em vários campos socioambientais. Assim, como são parte da dinâmica da economia capitalista (CASTRO, 2008; CAVALCANTE et al., 2011; CAVALCANTE et al., 2008; CORTÊS, 2012).

Fotografia 44: Feira Livre de produtos de roupas e ao fundo navio de transporte de minério.

Fonte: Biblioteca Municipal de Oriximiná (2018).

Fotografia 45: Antigo espaço de vendas de roupas. Atualmente com orla pavimentada, com meio fio e com venda de comidas por ambulantes.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Todavia, não somente de atividades portuárias foi consolidada a cidade ao longo destas quatro décadas. Sistemas paralelos foram se estruturando e servindo de base para sonhos e perspectivas de seus populares. Um dos exemplos é a praça matriz de Santo Antônio de

referência aos ritos da Igreja católica, a mesma é bem conhecida pelo Círio de Santo Antônio (Fotografia 46 a 47) e a restruturação da praça “Centenário”, considerada uma das praças mais bonitas do Brasil. Estes são lugares de forte apelo paisagístico e ritualístico, assim como de lugares de forte apelo religioso e de lazer como demonstrado nas fotografias 48 a 49, foram recebendo reformas e reorganizações, mostrando a influência predominante da igreja católica na região.

Reconhecer a forte influência do catolicismo nessa região facilita o entendimento sobre cooptações inseridas nos contextos das populações tradicionais de Oriximiná. Uma vez que o catolicismo se tornou uma prática (religiosa) dominante na região e ainda o é em Oriximiná de acordo com o IBGE (2010)83. Desta maneira, compreender e reconhecer estas transformações oportuniza revelar como a identidade local foi sendo construída assim como suas culturas foram revelando novos significados, inclusive nas rotinas dos serviços de saúde, e por certo, deve ser considerada conforme Campos (2002).

De todo modo, espaços emergiram significados importantes para a população local. É possível encontrar vários elementos representativos nas praças e demais espaços públicos que identificam tanto questões religiosas como étnicas. Entretanto, ainda que infraestruturas urbanísticas tenham sido inseridas, a presença de recursos naturais está sempre presente nas edificações e na cultura popular (Fotografia 50 e 51).

Fotografia 46: Vista lateral da praça matriz de Santo Antônio.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

83 No CENSO de 2010 44.152 pessoas declararam-se católicos a frente de 13.323 autodeclarados evangélicos e

Fotografia 47: Praça matriz de Santo Antônio após revitalização. Nota-se uma “oca” estilizada ao fundo.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Fotografia 48: Clíper da igreja de Santo Antônio.

Fotografia 49: Clíper de Santo Antônio, ampliado e reformado e com a imagem do padroeiro em destaque.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Fotografia 50: Escadaria do “cai-cai”.

Fotografia 51: Praça Centenário.

Fonte: Arquivos de Alexandre iluminação (2018).

Os espaços sociais urbanos apresentados nestes registros nos mostram como a estrutura da sociedade local se reorganizou nos últimos anos. Contudo, apesar da grande expansão de bairros e da população84, principalmente da zona urbana, essas mesmas realidades não foram

observadas em zonas rurais (Fotografia 52 e 53), onde a paisagem ainda é bem representativa de modos de vida do homem da Amazônia paraense, com pequenas mudanças na paisagem em função de obras de saneamento (Fotografia 54).

Oriximiná tem sido um exemplo de cidade da Amazônia que representa bem as mudanças socioambientais ocorridas pós políticas de ocupação. Nota-se a centralidade dessas mudanças em um polo (aqui na zona urbana), e de modo muito menos visual, mas não menos impactante em seu entorno. Consequentemente, os próprios avanços tecnológicos tendem a mudar essa realidade e cada vez mais trazer à tona visualidades que revelam falências e déficits institucionais.

84 Nos primeiros dez anos de atuação da MRN em Oriximiná foi registrado um crescimento de 76% da

Fotografia 52: Barrancos e embarcações peculiares das comunidades locais da zona rural (Comunidade Boa Nova) permanecem apesar de novas tecnologias presentes como o sinal de telefonia móvel.

Fonte: Arquivo de campo (2018).

Fotografia 53: Nas zonas rurais não há orlas pavimentadas, mas em alguns casos há escadas que dão acesso ao rio em tempos de “verão” (Comunidade São Pedro).

Fotografia 54: Melhorias no saneamento básico (Comunidade Ascensão).

Fonte: Arquivo de campo (2018).

De um modo geral observam-se os avanços no desenvolvimento da localidade e como esses dentro da contextualização foram possibilitando constructos em Oriximiná. Sua história está ligada às simbologias, e estas interações com o capital criou elementos simbólicos. Sendo assim, entendendo que toda simbologia refere uma representação de um vínculo, a pedra da bauxita encontrada a frente da cidade como um monumento85 é bem representativa neste sentido, e mostra exatamente como a cidade é um referencial nesse minério. Esta pedra-símbolo de tamanho peculiar, primeiramente foi exposta na praça matriz (Fotografia 55), sendo posteriormente transportada e fixada na praça dos pescadores. É descrita em sua placa como a representação da “matéria-prima do alumínio e minério abundante na região” (Fotografia 56).

Do mesmo modo a praça da “Saudade” representa um dos símbolos de forte atração turística para a cidade e conhecida como “cartão postal da cidade”, pois possui uma vista muito atraente e natural. Esta praça possui como visão panorâmica o rio trombetas e a ilha de Jacitara, o que permite que seja visualizado um pôr-do-sol espetacular. É um espaço urbano que inicialmente não apresentava infraestrutura em todo o seu entorno (principalmente as ruas paralelas), que se apresentavam em alguns trechos com barrancos. Nos anos de 2000 a mesma recebeu reformas diversas, possibilitando a circulação de automóveis por estas mesmas

85 Goff (1994) refere que a palavra latina monumentum remete à raiz indo-européia men, de monere, memória,

avenidas, inclusive facilitando a mobilidade de pedestres, e sem perder a vista que a deixou famosa (Fotografia 57 e 58).

Salvo exceções, entre as localidades com uma das maiores intervenções urbanas e com fortes mudanças visuais que chegam a descaracterizar o cenário antes natural encontra-se o Lago do Iripixi. O mesmo caracteriza-se por uma margem praiana, localizado hoje em uma área urbana, com acesso por uma via intitulada com o mesmo nome do lago. Suas características atualmente estão direcionadas para de um balneário urbano, composto por um complexo de bares. Tais condições antes não eram percebidas, principalmente por fazer parte de uma região apenas composta por fazendas e sítios. Logo, há de se destacar a mudança do cenário, pela redução da região praiana, com a introdução de estruturas urbanas e diminuição da arborização. Ao refletir uma abordagem mais ampla, é claro que essa mudança se consolidou por uma visão turística, a fim de atender a população em expansão. A sua modernização atende a finalidade de abrigar novas concepções que primam por tecnologias. Contudo, também se perdeu um pouco da paisagem natural do seu entorno. São consequências dos avanços do centro urbano de Oriximiná e da política orientada pelo desenvolvimento.

De fato, são tantas representações simbólicas de Oriximiná, que não caberia nesta tese. Entretanto, compreende-se que as simbologias são grandes atrativos em Oriximiná, e revelam as diversas facetas culturais e naturais desta cidade do baixo Amazonas, o que precisaria ir além das visualidades. E como neste trabalho falar das culturas é necessário para entender o objeto em estudo, nesta oportunidade revela-se aqui uma das inúmeras manifestações culturais que apresentam estas características simbólicas, descrevendo não somente lendas e ritos, mas também a história das diversas intervenções realizadas nesta cidade. A poesia ilustrada a seguir