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Anexo IV: Parecer do Comitê e Ética em Pesquisa Anexo V: Declaração revisão ortográfica

APÊNDICES 439 Apêndice A: Esquema metodológico da pesquisa científica

3.5. Políticas de saúde para populações específicas

3.5.1. Legislação e redes de atenção

As populações e povos tradicionais não possuem uma legislação de saúde única que vigora para todos de modo linear. O que se identifica em verdade são políticas direcionadas para cada grupo e/ou comunidade, povo e população. Tal afirmativa se baseia na organização e efetivação das políticas de saúde vigentes para populações indígenas, do campo e da floresta e de

populações negras, aqui discutidas. Há necessidades inerentes a cada realidade, e nesse ensejo foram sendo desenvolvidas desde a promulgação da lei orgânica da saúde.

Como aporte as diretrizes da lei 8080/1990 foram sendo construídas, organizadas e efetivadas várias políticas assistenciais que dão suporte as contextualizações do cuidado à saúde. Deste modo cabe aqui referir a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNAISPI) (Portaria nº 254, de 31 de janeiro de 2002), Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) (Portaria nº 992 de 13 de maio de 2009) e a Política Nacional de Atenção aos povos do campo, floresta e águas (PNAIPCFA) (Portaria n° 2.866, de 2 de dezembro de 2011). Todas conquistadas por meio da participação coletiva e direcionadas as premissas do SUS.

Há, portanto algumas considerações que devem ser pontuadas, pois, foram relevantes após suas efetivações. Primeiramente, em virtude das novas concepções advindas da reforma sanitária, houve inicialmente a necessidade de reformulação da gestão da saúde indígena no país, em consonância a reivindicações realizadas nas três Conferências Nacionais de Saúde Indígena ocorridas entre 1986 e 2001. Nesta direção que foi criada a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), frente a antiga organização, que era de responsabilidade do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena criado em 1999, e que realizava suas atividades por meio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA)14, cuja organização já ocorria pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI’S). Contudo, pela necessidade de reorganização dos serviços em função dos problemas apontados pelas populações aldeadas ao longo das várias conferências em saúde, no ano de 2010, tais poderes passaram para o MS por meio da SESAI (FERRREIRA, PORTILLO, NASCIMENTO, 2013).

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), instituída pela Lei 12.314, de 19 de agosto de 2010, e pelo Decreto nº 7.336, de 19 de outubro de 2010, com posteriores revogações até a edição do Decreto nº 8.065, de 07 de agosto de 2013, é a unidade integrante da estrutura do Ministério da Saúde responsável por coordenar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e executar todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no âmbito do Sistema Único de Saúde – SasiSUS em todo o território nacional (BRASIL, 2016a, p.10).

A SESAI atualmente se organiza em três departamentos e um distrito, conforme observado no organograma 1. Cada departamento possui funções específicas de acordo com Quadro 2. Os Distritos Sanitário Especial Indígena (DSEIs) possui 34 unidades que atendem

14 De acordo com os autores, os serviços de gerenciamento da FUNASA acabaram por serem terceirizados,

considerando-se que não se conseguiu suprir as demandas, trazendo diversos prejuízos as populações indígenas. Segundo Brasil (2009) as situações de precariedade culminaram na condenação da União e da Funasa, na Ação Civil Pública nº 0751-2007-018-10-00-4.

5.103 aldeias, por meio de 351 Polos Indígenas15 e 66 Casas de Saúde Indígenas (CASAI)16 (BRASIL, 2018).

Organograma 1 – Estrutura Organizacional da SESAI

Fonte: Elaborado pela autora (2017) baseado em BRASIL (2015; 2016)

Quadro 2: Missões dos Departamentos e Distritos Indígenas de Saúde

Departamentos/Distritos Missões

DASI

(Departamento de Atenção à Saúde Indígena)

Planejar, coordenar e supervisionar as atividades de atenção integral à saúde dos povos indígenas; orientar e apoiar a implementação de programas de atenção à saúde para a população indígena, segundo diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS); planejar, coordenar e supervisionar as atividades de educação em saúde nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs); coordenar a elaboração de normas e diretrizes para a operacionalização das ações de atenção à saúde nos DSEIs; prestar assessoria técnica às equipes dos DSEIs no desenvolvimento das ações de atenção à saúde; apoiar a elaboração

15 Os Polos Indígenas de Saúde são unidades de primeira referência para as Equipes Multidisciplinares de Saúde

Indígena (EMSI) que atuam nas aldeias. Estes Polos abrangem grupos de aldeias que em geral estão em um espaço geográfico próximo sendo estes estão divididos em dois modelos de complexidade em relação as suas funções (BRASIL, 2014).

16 As CASAIs são unidades de apoio para população indígena na cidade e/ou para um serviço de referência do

SUS, quando da necessidade de deslocamento para fora dos territórios das aldeias. SESAI DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA (DASI) DEPARTAMENTO DE GESTÃO DE SAÚDE INDÍGENA (DGESI) DEPARTAMENTO DE SANEAMENTO E EDIFICAÇÕES DE SAÚDE INDÍGENA (DSESI) DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA (DSEI)

(34)

-ALDEIAS (5103) POLOS (360)

- CASAI (66) - UNIDADES BÁSICAS (1007)

dos Planos Distritais de Saúde Indígena e coordenar as ações de edificações e saneamento ambiental no âmbito dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

DGESI

(Departamento de Gestão da Saúde Indígena)

Garantir as condições necessárias à gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS); promover o fortalecimento da gestão nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs); propor mecanismos para organização gerencial e operacional da atenção à saúde indígena; programar a aquisição e a distribuição de insumos, em articulação com as unidades competentes; coordenar as atividades relacionadas à análise e à disponibilização de informações de saúde indígena e promover e apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas em saúde indígena.

DSESI (Departamento de Saneamento e Edificações de

Saúde)

Planejar, coordenar, supervisionar, monitorar e avaliar as ações referentes a saneamento e edificações nas áreas indígenas. O departamento tem como atribuições planejar e supervisionar a elaboração e implementação de programas e projetos de saneamento, de edificações e de educação em saúde indígena, relacionadas à área de saneamento. Também é responsável por estabelecer diretrizes para a operacionalização das ações de saneamento e edificações, bem como apoiar as equipes dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas no desenvolvimento das ações de saneamento e edificações.

DSEI (Distritos Sanitários Especiais Indígenas)

Executar ações de atenção à saúde nas aldeias e de saneamento ambiental e edificações de saúde indígena. Os Distritos foram divididos por critérios territoriais, tendo como base a ocupação geográfica das comunidades indígenas.

Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Brasil (2016).

Todo o sistema de saúde indígena está de acordo com as políticas de saúde do SUS e a Rede de Atenção à Saúde (RAS)1718. Estes “são arranjos organizativos de ação dos serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (BRASIL, 2010)”. Contudo, há discrepâncias19 conforme observado na figura 5, pois, há modelos internos diferenciados da

17 Evidencia-se que não há um modelo único para as RAS, e sim processos organizacionais, articulações e redes

de apoio em vários níveis de complexidade.

18 A RAS difere do modelo piramidal do SUS que era vertical, hierárquico e que dividia a assistência em três níveis

de complexidade, sendo este horizontal e multipolar com iniciativa na atenção primária em saúde.

19 As diferenças são observadas pela concepção das unidades básicas de saúde dentro das aldeias, sendo os serviços

particularizados para estes povos, a fim de realizar atenção primária dentro do território das aldeias de modo que o indígena permaneça em seu espaço físico preservando suas rotinas. Há também a inserção de uma unidade administrativa que serve de apoio as demais redes de apoio que são os Polos Indígenas, que não existem no modelo utilizado para outras populações.

rede de atenção saúde indígena em comparação a RAS de outras populações20, em decorrência da necessidade da demanda do serviço.

Figura 5: Rede de atenção do SUS para saúde indígena e para populações não indígenas

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Observa-se que os Polos Indígenas de Saúde e/ou Polo Base são as instâncias que realizam a organização do atendimento fora do território da aldeia, e também é o articulador dentro da rede SUS quando da necessidade de serviços em outro nível de atendimento conforme a necessidade da demanda. Segundo Brasil (2006) os Polos podem estar dentro e fora do território do aldeamento, sendo neste último caso em um município de referência e/ou sede. Cada Pólo-Base cobre um conjunto de aldeias e são organizados em dois tipos conforme Figura 6, realizando resoluções de acordo com a seu modelo.

Figura 6: Tipos de Polo Base Indígena

Fonte: Elaborado pela autora (2018), baseado em BRASIL (2014; 2018).

20 As demais populações ainda que tenham políticas de saúde específicas, recebem assistência à saúde pela RAS

“padrão”, contudo sua operacionalização reúne os três elementos constitutivos: população/região de saúde definidas, estrutura operacional e por um sistema lógico de funcionamento determinado pelo modelo de atenção à saúde, possibilitando assim as adequações previstas nas políticas de saúde para populações negras e do campo e floresta.

• Caracteriza-se por sua localização em terras indígenas. Além das atividades previstas para o Posto de Saúde Tipo II, esse tipo de estabelecimento realizará também atividades assitenciais e de educação permanente