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3.10. Mineração, desenvolvimento e saúde

Historicamente, as mudanças no padrão de uso da terra na Amazônia brasileira têm sido impulsionadas por políticas públicas, tais como, a construção de grandes obras de infraestrutura (rodovias e usinas hidrelétricas). Entre essas terras inclui-se a região do Tapajós, inserida no baixo amazonas, que é formada por muitos povoados típicos da Amazônia. Essas configurações acabem por apresentar algumas particularidades, sendo um dos grandes agravos de saúde mais pertinente nesta região a malária. A decorrência deste fato justamente ocorre pelo envolvimento dos indivíduos, trabalhadores em sua maioria, estarem ligados aos espaços explorados diretamente pelas empresas que foram inseridas nesta região. Neste ensejo, dados confirmam o caráter de endemicidade desta doença na região do baixo Amazonas (SOUSA et al., 2015), assim como da relação laboral atrelada a condição do agravo, como já pontuada em outros estudos (COUTO et al., 2001).

Justamente pelas demandas observadas, fora solicitada pelo Ministério Público e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que o MS tivesse uma participação nos pareceres realizados por este órgão frente a inserção de empreendimentos. Considerando tais fatos, o MS criou a metodologia de Avaliação de Impacto à Saúde (AIS). Esta apresenta subsídios para a avaliação dos impactos à saúde das populações expostas aos empreendimentos inseridos no Brasil em todas as fases (pré-instalação, operação e contínua operação) (BRASIL, 2014).

Documentos oficiais como este, já identificam previamente impactos à saúde das populações que vivem no baixo Amazonas em decorrência da instalação de empreendimentos hidroelétricos. Contudo, para que ações que controlem esses problemas sejam de fato resolutivas, é necessário a participação da população em foco. Essa postura é essencial para o reconhecimento dos indivíduos dentro do cenário, pois, revela suas necessidades, o que contribui para as decisões previstas pelos gestores de saúde frente a esses fatores de risco (MENDES, 2016).

Há, contudo, outros problemas pontuais como no caso de Oriximiná, que pertence ao oeste paraense, de grande extensão territorial e baixa densidade demográfica, e onde vivem diversas populações tradicionais. As populações tradicionais que vivem em áreas mais remotas sofrem pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde básicos, incluindo também as populações não tradicionais rurais.

Ainda conforme Leite et al., (2013), são nítidas as diferenças de políticas para o desenvolvimento a saúde entre as comunidades pertencentes ao município. Razão pelo qual envolvem o incentivo a organização e busca por direitos dos povos indígenas por órgãos competentes próprios como a FUNAI, e de políticas públicas voltadas exclusivamente para a população indígena e presença de organizações não governamentais na gestão da atenção à saúde. Essa percepção e engajamento já é evidenciada pela postura de representantes legais destes povos e que será pontuada à frente.

Como aporte a essas falências, Organizações não governamentais (ONG), já se apresentaram neste cenário. Atualmente possuem sede em Santarém, e por meio de convênio com o Ministério da Saúde e a Prefeitura de Oriximiná, desenvolvem ações de saúde com a presença de médicos, dentistas, enfermeiros. Estas atividades têm acontecido em um barco em intervalos de tempos programados para promover saúde, prevenir agravos e para reabilitar a população quilombolas, que vivem em Oriximiná, reclusos as margens do rio Trombetas. Durante estes deslocamentos são realizadas consultas, palestras, atividades preventivas e procedimentos curativos (ARAÚJO, BARROSO, DAMASCENO, 2005).

Há outras realidades que devem ser consideradas quando da exploração econômica desta região. Mais recentemente, impactos ambientais em micro bacias e nascentes foram identificados no município de Juruti. Tais impactos são inerentes a inserção do capital minerador nestas localidades, se mostrando controverso quanto ao discurso apresentado por este referente a promoção da qualidade de vida por meio do desenvolvimento local (MATURANO et al., 2012). Não se pode desconsiderar este fato, haja vista que é relevante nos estudos com saúde das populações são considerados os determinantes sociais e de saúde.

Ainda dentro deste contexto, há outras situações pontuais e inerentes a implantação desses empreendimentos: a mobilidade urbana. O aumento da mobilidade urbana e descontrolada é resultado da busca de novas perspectivas de vida atreladas aos novos espaços de emprego previstos e circulação de capital. Estas condições intensificam a explosão geográfica fazendo que os núcleos urbanos e os entornos dos projetos de mineração recebam uma demanda superior ao planejado pelas instituições governamentais (SILVA, SILVA, 2016). Nestes termos é importante entender que:

As cidades mineradoras na região amazônica possuem dinâmica econômica e ordenamento territorial diferenciados, cada uma tem apresentado graus distintos de complexidades a partir, principalmente, dos efeitos provocados pelas empresas de mineração em seus territórios. O processo da riqueza de seus recursos naturais (jazidas minerais) impulsionou ações por parte de grandes grupos empresariais internacionais na economia da região e, consequentemente, no estado paraense, um dos maiores arrecadadores da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) no Brasil (SILVA, SILVA, 2016, p. 133).

Percebe-se por estas informações a dada importância da região paraense como fornecedor de matéria prima mineral. Atualmente 35 cidades estão sendo exploradas pela mineração no território paraense, sendo o baixo amazonas a mesorregião com maior retorno econômico concebido pela exploração da bauxita, no que se refere as escalas local-internacional (SILVA, SILVA, 2016). E dentro desta escala o município de Oriximiná destaca-se como o maior produtor do minério da bauxita.

Por conseguinte, para se reproduzir e assegurar as condições adequadas de qualidade de vida, estes empreendimentos deveriam dar suporte necessário as populações destas localidades. Há, no entanto, algumas condições que devem ser elencadas para assegurar essa condição, como o entendimento que a exploração mineral tem uma dimensão sociológica que está atrelada de modo contínuo com os problemas ambientais das áreas exploradas. Por certo, isto possibilita o entendimento de que todos elementos contidos nestes cenários não são distintos entre si (AMORIM, CONCEIÇÃO, FERREIRA, 2016).

Percebendo isto, Araújo (2016) elucida que como o diálogo entre as comunidades receptoras dos possíveis impactos destes empreendimentos e a empresa não são equilibrados. Resta, portanto, por estas populações a busca ativa pela não implantação destas mineradoras em seus territórios. Para tal, o fortalecimento do capital social é necessário, e torna-se o caminho mais harmônico para que as ações que envolvem a implantação e produção de empresas mineradoras resultem em benefícios mútuos (LIMA, VASCONCELOS, 2013).