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Fotodocumentação como registro das intervenções ao ambiente e indivíduo

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3.11. Fotodocumentação como registro das intervenções ao ambiente e indivíduo

De acordo com Velloso e Guimarães (2011) pouco tem sido feito em relação à imagem e ao seu registro, numa sociedade que vem se tornando cada vez mais visual, e com a imagem em processo acelerado de exploração. De todo modo, compreende-se que tais registros possibilitam uma gama de propriedades que se articulam para o entendimento do imaginário das imagens, pois identificam e analisam estes contextos (SIMONIAN, 2007). E por este “a relação entre a realização de pesquisa científicas e a produção de imagens é uma querela interessante, que há muito ronda as discussões acadêmicas” (FIGUEIREDO, 2007 p. 86).

Por certo, a imagem pode auxiliar as ciências em seu esforço para uma melhor apreensão da realidade do mundo. Tais apontamentos são compreensíveis quando do uso da imagem, por exemplo, como objeto de reflexão para os estudos das ciências sociais, pois possibilita a realização de um diálogo entre o texto verbal e o visual (PEIXOTO, 2011).

Ademais, a fotografia quando incorporada às práticas médicas e científicas vigora como um instrumento preciso e absoluto de observação (HOSCHMAN, MELO, SANTOS, 2002).

Por conseguinte, a fotografia revela-se nos projetos de pesquisas, como aporte para replicação de fragmentos e da realidade fatual cujo interesse em geral é estimulado pelo perfil da pesquisa e das empresas de fomento (SIMONIAN, 2007). Versando a isto: “Ninguém mais tem dúvidas de que as imagens influenciam na percepção da realidade histórica e que socialmente predominam, de forma exponencial, na cultura contemporânea. Não estaríamos errados se pensássemos que vivemos sob certo paradigma visual ou em época iconófila” (OLIVEIRA-JUNIOR, 2013).

Ademais, quando do seu advento para as relações científicas, possibilita diminuir as barreiras culturais que podem ocorrer ao longo do processo de trabalho, pois, acabam por torna- se narrativas visuais que definem de forma mais sensível a realidade do campo da saúde coletiva para o pesquisador sobre o pesquisado (GOMES, DIMESTEIN, 2014). Torna-se o registro fotográfico um instrumento que verbaliza aspectos pessoais e singulares do pesquisado (MONTEIRO, 2014). Deste modo, ao se registrar um momento, pode o pesquisador analisar em diversos momentos a imagem, diferentemente de uma observação participante, podendo compreender melhor a dimensão da pesquisa (VELOSO, GUIMARÃES, 2013).

Tais ponderações foram observadas por Bronislaw Malinowski quando do uso do recurso fotográfico em seu trabalho intitulado Argonauts of the Western Pacific (MALINOWSKI, 1976). Neste estudo, o antropólogo utilizou o recurso fotográfico para registrar as diversas culturas observadas na Ilha da pesquisa de campo, o que possibilitou a identificação pelas imagens de cotidiano de trabalho, estrutura de casas, rituais e festas (SOUZA, 2013). Foi justamente por meio desta pesquisa que se consolidou a atualmente conhecida antropologia visual, que configura uma nova linha da antropologia, permeada pela experiência de Malinowski (SIMONIAN, 2007).

Estes fatos confirmam a fotografia como essencial para captar a interação entre os indivíduos de uma comunidade e dando uma dimensão maior de seus conhecimentos populares e seus saberes, tornando-os mais visíveis (LIMA, MARCELINO, SANTANA, 2016). Neste mesmo plano vários estudos foram efetivados, utilizando desta técnica em comunidades tradicionais. Nesta direção, podem ser citadas as pesquisas de Montardo e Schneider (2012), Albuquerque e Aureliano (2006) e Souza (2013) e o próprio trabalho Ribeiro (1996), que transmite de forma iconográfica a descrição dos espaços e indígenas no qual entrou em contato pela sua expedição.

É preciso apontar, de todo modo, que além do indivíduo devemos captar também a mensagem que é transmitida pelo registro fotográfico o quanto do desenvolvimento local e da inserção do capital no ambiente. Nestes termos recorre-se as afirmativas de Santos et al., (2014) quando cita que as transformações locais são percebidas e constroem significados ao cenário em estudo, o que possibilita a construção de um olhar crítico. Este questionamento favorece a compreensão das modificações ao ambiente e suas casualidades (FREIRE, 2001). Justaposto que “...do território não escapa nada, todas as pessoas estão nele, todas as empresas, não importa o tamanho, estão nele, todas as instituições também, então o território é um lugar privilegiado para interpretar o país” (AMARAL et al., 1998).

Ainda é pertinente considerar a amplitude da fotografia pelo território estudado pois:

O território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre as quais ele influí. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que está falando em território usado, utilizado por uma população (SANTOS, 2003, p. 96).

As mudanças percebidas na historicidade espacial salientam a intervenção no ambiente e os achados observados e/ou registrados, e além de identificarem a causalidade fazem o mapeamento das áreas mais afetadas. Então, entender que esses achados irão construir uma história e desvelar possibilidades para análises e reflexões podem identificar as ações diretas ou indiretas ocasionadas pelo capital. Assim, o registro fotográfico soa como uma ferramenta para demonstrar como foram conduzidas as transformações históricas de um determinado local por meio da materialização de um momento (SILVA JÚNIOR, 2014).

Por sua vez, Costa (1998) possibilita entender que os chamados “vestígios materiais e imateriais no estudo do passado” são utilizados como documento histórico, e possibilita visualizar os espaços urbanos de forma conservadora. Tais vestígios oportunizam perceber as mudanças sofridas ao longo da inserção de grandes empreendimentos nos espaços urbanos e rurais, e oferece dados para análises mais profundas como a sustentabilidade. Henriques (2014) evidência isto comparando as modificações paisagísticas em seu estudo, ratificando a fotografia como registro visual desta modificação.

A possibilidade de usar a imagem como ferramenta de estudo da intervenção em um ambiente e do próprio desenvolvimento exercido é uma das reflexões de Goltara e Mendonça (2015) que discute como elementos observados nos registros podem ser fundamentais para estudos sociais e políticos, assim como do modo de vida da população. Mas, sobretudo, torna- se democrática e inclusiva pois possibilita dentro da sua contextualização diversas

interpretações que servem para que ocorra a compreensão de forma muito próxima ao real, haja vista que, registra a sociedade, principalmente no caso de fotojornalismo.

Nesta lógica, que a compreensão da fotografia com o olhar para os elementos envolvidos no espaço deve ser utilizada, a fim de fornecer informações para o entendimento das mudanças ocorridas. Um exemplo neste aspecto são as inserções de palafitas em Manaus, Estado do amazonas, que de acordo com Pereira, Silva e Barros (2013) e seus registros fotográficos devido a projetos de ordem social e ambiental e que não são mais encontradas nos espaços manauaras. Seus registros mostram exatamente essa mudança ao longo da inserção de novos empreendimentos comerciais e da perda de heterogeneidade cultural, pois estas mudanças que inicialmente visam melhoras sociais e sanitárias anulam uma cultura tipicamente local.

Metodologicamente, as imagens permitem a realização de leituras das experiências vividas, dos conflitos, das representações e dos imaginários. Além disso, as produções etnográficas audiovisuais ou fotográficas têm sido frequentes, não apenas como registros dos trabalhos de campo ou ilustrações dos textos mas também como formas alternativas de construção de narrativas sensíveis sobre o universo cultural investigado (OLIVEIRA, 2014).

Dada as dimensões destes apontamentos, já que o espaço que o homem intervém se produz pelas perspectivas social e econômica, os registros acabam por revelar dada constituição pelo homem, que participa por meio de seus processos culturais. Logo, é percebido que nesta projeção a fotografia poderá depreender o lugar (FREITAS, 2013). Nestes termos, de forma integral, o registro fotográfico desvela detalhes, assim como a rotina de seus atores sociais, as noções de tempo e as relações humanas (CONORD, 2014).

Há outros arranjos possíveis dentro desta dinâmica, e esta referência pode ser situada nas relações de saúde. Toralles-Pereira (2004), demonstram bem isso quando utilizam da fotografia como ferramenta de autonomia e relações do paciente com o espaço e situação, pois possibilita a reflexão crítica sobre o aspecto saúde. Situação equivalente ao problematizado por Menezes, Bergamarchi e Pereira (2015) quando utiliza da imagem fotográfica como ponto de vista de um sobre o outro em comunidades tradicionais. Revela-se assim as possibilidades inerentes ao “fotografar”.

Nestes termos, a fotografia vem sendo utilizada na saúde como aporte para de preservação da memória institucional e social (SILVA, 2013). Ademais, é usada principalmente como instrumento de coleta de dados, envolvendo ambiente e saúde (MACIEL, FELIPE, LIMA, 2015; MENDONÇA, MAGALHAES, TRINDADE, 2015; RIBEIRO et al., 2015). De fato, tem sido pontual para registrar práticas cotidianas de populações da Amazônia que envolvem indiretamente a qualidade de vida e saúde (COSTA et al., 2015).

Certamente, a fotografia se mostra como importante ferramenta, não apenas de modo técnico, seja na organização do processo de trabalho, do registro de sentimentos e percepções de clientes e acompanhantes, fato este às vezes não visualizado pela comunicação verbal. Possui ainda, inúmeras possibilidades para o planejamento da assistência, identificação de necessidades prioritárias do paciente ou do processo de trabalho de modo geral. Colaboram, portanto, para melhor utilização dos recursos envolvidos (COSTA et al., 2015)

Ainda, a abordagem foto etnográfica propicia uma amplitude sobre o aspecto saúde- doença. Essa magnitude revela necessidades e favorece o olhar sobre as questões culturais, assim como serve de referência para implicações na gestão em saúde (MELLEIRO, GUALDA, 2006). Logo, é necessário utilizá-la como meio comparativo e crítico-reflexivo para os planejamentos das ações e suas intervenções diretas.

Trata-se então de um dispositivo que contribui significativamente ao longo da história da saúde. E ainda que seus objetivos sanitários tenham sidos diferentes em alguns casos, como dos registros da década do início do século 2030 em comparação dos registros atuais (SILVA, 2001), pondera-se, portanto, afirmar que a fotografia vem ainda sim, sendo utilizada como dispositivo crítico na assistência e pesquisas de saúde (pesquisa-ação) (NOGUEIRA et al., 2015). Todos estes fatos nos revelam seu potencial nos diversos âmbito e intervenções pela Saúde Coletiva (GOMES, DIMENSTEIN, 2014; NOGUEIRA et al., 2015).

30 As fotografias das revistas médicas de São Paulo caracterizam as fotografias como ferramentas para “dizer ou

denunciar algo do que pensavam seus produtores a respeito do que faziam ou daquilo que documentavam”. Esta modelo de monitoramento era comum no final do século XIX e início do século XX, pois, “entremeadas à descrição de uma campanha sanitária, as fotos desempenhavam o papel de valorizar a instituição e seu corpo médico enquanto projetavam as noções de hierarquia e de submissão que desejavam ver assimiladas pela população”(SILVA, 2001, p.215).