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As horas de gravação, fruto das entrevistas em profundidade, geraram grande quantidade de informações, o que exigiu maior atenção nas atividades de classificação dos subsídios para estabelecer os grupos temáticos sem se distanciar dos objetivos da pesquisa. Assim, foi criado um esquema de análise fruto do arcabouço teórico e das entrevistas, que serviram de inspiração para firmar as categorias da nossa estrutura de análise. Para Duarte (2006, p.79), as categorias

são estruturas analíticas construídas pelo pesquisador que reúnem e organizam o conjunto de informações obtidas a partir do fracionamento e da classificação em temas autônomos, mas inter- relacionados. Em cada categoria, o pesquisador aborda determinado conjunto de respostas dos entrevistados, descrevendo, analisando, referindo à teoria, citando frases colhidas durante as entrevistas e a tornando um conjunto ao mesmo tempo autônomo e articulado.

Tanto as entrevistas transcritas como os documentos foram examinados a partir das categorias de análise e interpretados sob o viés criterioso da revisão bibliográfica e das questões que orientaram a tese. Os critérios de análise surgiram a partir das principais teorias que alicerçam a pesquisa, sendo mais enfática, para este estudo, a teoria da comunicação pública. Essa sinergia fortalece o referencial teórico da metodologia que foi constituído e conectado pelo referencial conceitual da tese. É basilar que os referenciais, tanto da tese em si, como os da metodologia, apresentem canais de convergência para uma análise de dados mais devotada ao objeto da pesquisa.

Nas transcrições, em particular, a atenção deteve-se nos padrões e nas contradições. Destarte, o primeiro passo para a construção das estruturas analíticas foi conhecer, a partir da identificação de expressões e falas, as ‘unidades de registro’. Essas unidades de registro foram coligadas pelo critério das semelhanças semânticas e, em seguida, cada conjunto se constituiu uma categoria.

Elaboramos, desse modo, doze categorias que resumem praticamente todos os dados essenciais para a análise. As oito primeiras, dessas categorias (Quadro 12), foram elaboradas a partir das falas próximas ao contexto da Comunicação Pública (CP), que para uma melhor compreensão confrontamos com as principais bases teóricas. As outras quatro (Política de Comunicação, Estratégia de Comunicação,

Patrimonialismo e Dificuldades enfrentadas pela equipe de comunicação) foram

construídas para dar conta de um volume de dados que não se referem diretamente à Comunicação Pública, mas que expressam, ao mesmo tempo, o cerne da pesquisa. Essa decisão atendeu às análises dos registros próximos aos assuntos Política e Estratégia de Comunicação, e, aos imprescindíveis questionamentos: se as políticas e estratégias de comunicação da Presidência não se aproximaram da CP como podemos caracterizá-las? Quais foram as adversidades que a SECOM/PR enfrentou? Assim, a partir dessa trajetória chegamos às doze categorias de análise que serviram para examinar, juntamente com o referencial teórico, todo o corpus estudado.

Quadro 12: Categorias de Análise

Categorias próximas à Comunicação Pública

Informação Divulgar, levar e disponibilizar informações sobre os programas, projetos e ações governamentais com conteúdo suficiente para usufruir dos serviços públicos oferecidos. Tornar as informações de interesse público acessíveis.

Comunicação (diálogo) Diálogo com a sociedade. Ouvir as demandas e as expectativas. Construir relação dialógica com o cidadão. Expressar e ouvir.

Participação Ações do governo para criar e oferecer espaços públicos de diálogo e decisão. Debate público para discutir pautas comuns. Criticar e deliberar sobre temas de interesse público. O cidadão atua como ator social e não mero ouvinte. Garantia da expressão. Estimula o cidadão a ser protagonista.

Comunicação Pública Presença da CP na comunicação da Presidência do governo Lula. Diálogo entre Estado, Governo e Sociedade. Comunicação a serviço do interesse público.

Mídia Relacionamento com a mídia. Referente aos meios de comunicação. Os esforços para o governo Lula informar e comunicar (não) dependeram do apoio da mídia. Publicidade Promoção dos serviços oferecidos,

ofertados pela administração pública. A publicidade foca a autopromoção (gestor público, governo) ou informa os programas, os serviços públicos ao cidadão para que conheça e aprenda como utilizá-los. Campanhas a serviço da utilidade pública.

Accountability (prestação de contas) Prestação de contas à sociedade sobre as ações e gastos do governo. Transparência.

Equipe de governo capacitada para informar e dialogar com o cidadão

Governo preocupado em informar e capacitar as equipes de trabalho para estarem melhor preparadas no atendimento ao cidadão. As equipes são aliadas estratégicas. Diálogo com o público interno.

Categorias Transversais

Política de comunicação Políticas determinadas pela Presidência da República para nortear o trabalho de comunicação. Formas de organização e

comportamentos que orientaram o labor da comunicação durante os governos. Estratégia de comunicação Caminhos determinados (ações, projetos

e programas) para o cumprimento das políticas, missão e objetivos de comunicação.

Patrimonialismo A comunicação posicionada/praticada para atender os interesses particulares. Distante da feição comum. Adere aos interesses privados, individuais. Dificuldades enfrentadas pela equipe

de comunicação

Impedimentos enfrentados pela equipe de comunicação, da Presidência da República, para colocar em prática o planejado.

Fonte: elaborado pela pesquisadora

Para Bardin (1988, p. 37), as categorias, na sua aplicação metodológica, funcionam como “gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas da mensagem”. O corpus analisado, no qual inferimos as categorias, faz parte do contexto político brasileiro do período dos governos Lula. As gestões do presidente (2003 a 2010) pareciam distintas dos governos anteriores, porque alguns setores organizados passaram a ter a chance de experimentar a possibilidade de dialogar e participar de espaços públicos para conversar e deliberar sobre políticas públicas, o que já representou um fator de inclusão democrática relevante. Até aquele período, não se via tantos chamados de uma gestão do Porte Executivo Federal convocando atores da sociedade para conversar a respeito de pautas de interesse público. Apesar da convocação, a resposta a ela ficou prejudicada pelo nível de alienação e fragmentação existente na população.

As inferências permitiram relacionar os dados contraídos com o seu contexto, buscando confirmar ou não os pressupostos. “Na análise de conteúdo, a inferência é considerada uma operação lógica destinada a extrair conhecimentos sobre os aspectos latentes da mensagem analisada” (FONSECA JÚNIOR, 2006, p. 284). Significa, portanto, retirar informações que estão para além do que é percebido num primeiro momento, ou seja, busca por “(...) pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos dos signos (...), expondo tendências, conflitos, interesses, ambiguidades ou ideologias presentes nos materiais examinados” (HERSCOVITZ, 2010, p. 127). Desta maneira, à medida que os conteúdos foram submetidos às inferências, foi possível interpretar o contexto dos dados, constatar as predisposições,

os obstáculos, as contradições e as ideias, que fizeram parte da comunicação da Presidência da República.

Por conseguinte, o desenvolvimento das análises procurou corresponder aos propósitos da pesquisa legitimando as constatações através dos indicadores (presença/ausência das categorias) e, ao mesmo tempo, confrontando os resultados com as teorias discutidas no estado da arte. Desta forma, o texto descreve e analisa as políticas e as estratégias de comunicação dos governos Lula, procurando entender quão próximas estavam do modelo de comunicação pública concebido na perspectiva da visão construtivista. Nesta etapa da pesquisa – referência à análise de dados e elaboração dos resultados – foi fundamental inserir trechos das falas dos entrevistados, para acarear o discurso com a prática e testar os pressupostos. Todavia, afirma Bardin (1988, p. 69), que o tratamento dos resultados tem a finalidade de “(...) estabelecer uma correspondência entre o nível empírico e o teórico, de modo a assegurar-nos – e é esta a finalidade de qualquer investigação – que o corpo de hipóteses é [seja] verificado pelos dados do texto”.