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2.2 Embates ideológicos e pragmáticos entre o funcionalismo e o

2.2.1 Funcionalismo e Positivismo

A base filosófica do funcionalismo foi o positivismo, proposto por Auguste Comte (1798-1857), que se caracteriza pela orientação no sentido de pressupor e, assim, admitir como possível “a formulação de leis que representassem a repetibilidade e a regularidade dos fenômenos” (GENRO FILHO, 1987, p. 29). O estrutural-funcionalismo é uma corrente teórica sociológica que entende a sociedade pelo viés da instituição de sistemas, percebidos pelo funcionamento das partes, mas

que ao mesmo tempo interagem e se integram ao conjunto. Dito de outra forma, esta teoria procura explicar, através da visão institucionalista e análoga a um corpo orgânico, o funcionamento sistemático do social (DEMO, 1987).

Os principais autores clássicos norte-americanos do estrutural-funcionalismo foram Talcott Edgar Frederick Parsons e Robert K. Merton. O sociólogo Parsons (2010) desenvolveu métodos para entender como a sociedade funciona. Deste modo, buscou compreender o indivíduo, procurando responder: o que leva a pessoa a tomar uma decisão? O que a faz se comportar de uma determinada forma? Vai se deixar dominar? Como o homem influencia uma unidade maior no qual faz parte (grupo, comunidade)? A observação na dimensão macro também foi ponderada pelo autor, pois questionava como o macrocosmo é capaz de se impor sobre o pensamento individual. Neste cariz, inquiria: as ações sociais individuais passam a sofrer influência de um grupo que faz parte ou gostaria de integrar? Como os grupos se influenciam? Como se submete ao pensamento da maioria? Mediante reflexões, Parsons (2010) constata que a crença, os valores, os conhecimentos são fatores que devem ser considerados para a análise nas dimensões individual e social. Para tomarmos como exemplo, atentemos à família que “é uma pequena coletividade, com normas, valores, e papéis diferenciados, tais como: pai, mãe, filho, parentes, etc.” (DEMO, 1987, p. 47) que resiste historicamente.

Embora Parsons trabalhasse na mesma linha de pensamento do sociólogo Émile Durkheim, eles divergiam nas suas percepções quanto à definição de sociedade. Enquanto Durkheim a entendia como um organismo, que apresenta estados considerados saudáveis e doentios, Parsons aproximou sua compreensão de um sistema social. Este afirmava ser a sociedade um tipo de sistema social muito elevado e autossuficiente com relação ao seu ambiente e que nele se incluem outros sistemas sociais (PARSONS, 1974). As observações empreendidas por esses autores contribuem para que entendamos os fenômenos da sociedade, procurando por suas causas e descobrindo quais são os papéis que lhes cabe no processo das relações sociais. Sem esquecer que sociedade diz respeito a uma relação entre seres humanos (RÜDIGER, 2009).

As contribuições de Robert King Merton marcaram a sociologia do século XX. As principais teorias do âmbito estrutural-funcionalismo desenvolvidas por Merton (1970) foram as estruturas cultural (compêndio de valores que regulam o comportamento comum das pessoas de uma sociedade) e social (fenômeno obscuro

e de difícil compreensão de relações sociais nos quais os partícipes de uma sociedade acreditam estarem diversamente inseridos). O sociólogo também se interessou por outras áreas teóricas como: burocracia, comunicação, psicologia social, estrutura social e a anomia como fator de desestabilização da vida social.

Segundo Wolf (2003), a teoria funcionalista das comunicações de massa faz uma abordagem global no propósito de explicitar as funções exercidas pelos mass

media na sociedade, no seu conjunto ou sobre os seus subsistemas. “As funções

analisadas não estão associadas a contextos comunicativos especiais, mas à presença normal dos mass media na sociedade” (WOLF, 2003, p. 62-63). Neste sentido, percebemos que a teoria funcionalista revela os problemas dos mass media a partir do lugar da sociedade, do seu equilíbrio, do aspecto do funcionamento do sistema social no seu todo e na contribuição que as partes dão a esse funcionamento (WOLF, 2003). Diante do exposto, a teoria sociológica do estrutural-funcionalismo direciona o foco para a ação social e não para o comportamento (manipulável) do indivíduo. Para esta teoria, de acordo com Talcott Parsons, “os seres humanos aparecem como ‘drogados culturais’ impelidos a agir segundo o estímulo de valores culturais interiorizados que comandam a sua atividade” (PARSONS apud GIDDENS, 1983, p. 172).

Por meio da teoria funcionalista dos mass media, é possível interpretar mais profundamente a respeito das funções sociais exercidas pelos veículos de comunicação de massa na sociedade. O ator mídia mantem-se estruturado por um sistema, desenvolvido por ele, para conservar esquema de valores no intento de enaltecer e reforçar modelos ideais de comportamento. Acreditamos que esse sistema consegue ser pragmatizado quando os mass media se colocam como observadores dos acontecimentos sociais; quando encampam o papel de intérpretes dos fatos; e, quando transmitem cultura e diversão. Destarte, é inquestionável a dimensão do poder que essas atividades atribuem às grandes empresas de comunicação além de, concomitantemente, construírem um ambiente desfavorável à liberdade de pensamento e de participação do homem.

Segundo Esteves (1997), o paradigma dominante no estudo da comunicação estrutural-funcionalista era o estudo das funções desempenhadas pelos mass media para atender a finalidades particulares. O autor critica a equivalência entre política e economia, que margeou o ponto de vista metodológico e as finalidades das pesquisas. Ou seja, “soberania do consumidor e democracia são assim consideradas

equivalentes funcionais” (ESTEVES, 1997, p. 86). Nesse ponto de vista, o cidadão é qualificado como cliente independentemente da estrutura lógica de mercado ou política de que faz parte. Assim sendo, suas preferências de consumo passaram a ser tecnicamente mapeadas, porém, agora, com a aliança das ciências sociais. Esse consórcio foi peculiarmente estratégico para os atores envolvidos porque

a sociologia da comunicação dominante nos Estados Unidos serviu tão bem o sistema econômico de consumo quanto o sistema político correspondente, fornecendo a um e ao outro instrumentos técnicos de intervenção e uma base de legitimidade (o ‘saber’); como contrapartida, recebeu de ambos o reconhecimento oficial e autorizado que lhe garantiu uma posição hegemônica e a força de paradigma científico (ESTEVES, 1997, p. 86).