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2 ARQUITETURA E URBANISMO EM UMA PERSPECTIVA

3.1 Categorias de análise

O estudo referente às categorias de análise aborda as categorias em que o estudo das experiências talleristas vividas foram divididas para apresentar uma análise de suas dimensões, o que será destacado no subitem seguinte, neste mesmo capítulo.

Primeiramente, apresento uma abordagem sobre Arquitetura e Urbanismo e o lugar(espaço geográfico).Procuro, por meio de vários autores referenciais, dialogar sobre as paisagens e suas transformações, em busca de espaços habitados pelo sujeito, relacionando o fato do habitar desse sujeito como ente social e, portanto, como um agente de cidadania.

Para Unwin (2013)39, “a identificação de lugar está no núcleo gerador da arquitetura”. Nesse mesmo raciocínio, é possível pensar na arquitetura não como uma linguagem, mas como algo que, muitas vezes, porta-se como tal, ou seja, o lugar representa para a arquitetura aquilo que o significado representa para a linguagem. Logo, a arquitetura muda e evolui à medida que formas novas ou reinterpretadas de identificar lugares são inventadas ou aprimoradas (UNWIN, 2013).

Ainda para Unwin (2013), a ideia de participação coletiva deve ser o aspecto mais importante ao pensar na arquitetura como identificação de lugar. Acredito ser um marco histórico e pontual o sentimento de pertencimento de lugar, pois as pessoas identificam-se de acordo com suas características e, dessa forma, preenchem seus legados nesse território.

No que diz respeito ao entendimento do lugar em que vivemos, Callai (2009) afirma que, ao se trabalhar o estudo do lugar com os estudantes, cria-se a possibilidade de discutir a vida cotidiana e as exigências da sociedade em geral. Essa afirmação vem ao encontro do que é referido, na Arquitetura e Urbanismo, como condição básica para o início dos estudos preliminares para a implantação de um projeto: o estudo do lugar como forma e função de espaços e vidas que ali habitam e produzem suas próprias histórias.

Como ocorre no Taller, que usa o espaço real para inserir o estudante nos princípios de cidadania, Callai (2009, p. 180) considera que “a sala de aula pode auxiliar na formação da cidadania, na constituição dos sujeitos pela construção de sua identidade e seu pertencimento, mas precisa teorizar também”.

Santos (1988), afirma que “a paisagem é diferente do espaço”. Ainda para o mesmo autor:

A primeira é a materialização de um instante da sociedade. Seria, numa comparação ousada, a realidade de homens fixos, parados como numa fotografia. O espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço é um par dialético. Complementam-se e se opõem. Um esforço analítico impõe que os separemos como categorias diferentes, se não queremos correr o risco de não reconhecer o movimento da sociedade (SANTOS, 1988, p.25).

Nesses movimentos, Castellar (2009)40 analisa as diferentes paisagens e as transformações que ocorrem nelas e que nos permitem perceber a existência de vários lugares, além de perceber como a sociedade organiza-se em função do planejamento e da urbanização. Essas informações relacionadas a espaço geográfico e suas transformações são muito importantes para a análise feita pelo arquiteto e urbanista aos estudos preliminares que ele realiza durante a elaboração de um projeto. “Compreender o lugar de vivência, a cidade e sua paisagem é dar sentido à identidade que os indivíduos têm dos objetos naturais e fabricados” (CASTELLAR, 2009, p. 38).

Para Santos (1988), o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável em que participam, de um lado, um arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a sociedade em movimento, ou seja, a vida que os preenche e os anima. O espaço é um conjunto de formas, contendo, cada qual, uma fração da sociedade em movimento, em que a forma tem um papel na realização social.

A isso, Blanco (2007)41 argumenta que podemos fazer os seguintes questionamentos:

Como vincular a transformação material da superfície terrestre com as ações que configuram essa transformação? Como relacionar as ideias e representações acerca do espaço com as decisões sociais que produzem e são condicionadas pelo espaço? A proposta de definição de

espaço geográfico de Milton Santos aporta-nos para algumas aproximações de respostas para essas perguntas. Isto é, compreender o espaço geográfico como algo “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá [...].” (SANTOS, 2006, p. 63).

Blanco (2007) faz importantes reflexões do espaço segundo um sistema de objetos artificiais:

O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e a seus habitantes. Os objetos não têm realidade filosófica,

40CASTELLAR, S. M. V. Lugar de vivência: a cidade e a aprendizagem, 2009.

isto é, não nos permitem o conhecimento, se os vemos separados dos sistemas de ações. Os sistemas de ações também não se dão sem os sistemas de objetos. Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma (SANTOS, 1996 apud BLANCO, 2007, p. 44-45).

Fica claro o caráter indissociável dos componentes materiais e de decisões no espaço geográfico. Os sistemas de objetos fazem referência, na materialidade do espaço geográfico, aos sucessivos agregados de formas espaciais que se incorporam em relação às formas existentes. Esses conjuntos desencadeiam distintas instâncias de articulação entre si, não necessariamente harmônicas, e as decisões sociais que consolidam e localizam esses objetos não são indiferentes à existência prévia de outros objetos localizados (BLANCO, 2007, tradução nossa).

Para Blanco (2007), as construções fixas são expressões de relações sociais:

As construções fixas, como edifícios, infraestrutura energética e de circulação, equipamento industrial, patrimônio cultural etc. são expressões de relações sociais que deram a este tipo de construção, ainda que sobrevivam a esses processos, e são funcionalizados em cada momento. A partir desse momento, a história dos lugares está presente sincronicamente, e esses objetos agregados vão voltando a uma qualidade do espaço. Essas construções fixas podem ser simplificadas a partir de uma abordagem tecnológica arquitetônica, urbanística das idades dos objetos e, especialmente, desde o ponto de vista funcional (BLANCO, 2007, p. 45, tradução nossa).

A questão do espaço habitado pode ser abordada segundo um ponto de vista que vê o ser humano não mais como indivíduo isolado, mas como um ser social por excelência, que retrata o fenômeno humano como dinâmico e demonstrado na transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado (SANTOS, 1988).

Cada espaço possui, dentro de seu contexto, suas características mais específicas e peculiares, e isso denota um campo de atuação do arquiteto e urbanista na medida em que influencia as suas ações projetuais para o desenvolvimento de propostas que tenham a razoabilidade de concretização. O espaço, em si, é único, porém as alternativas de propostas são inúmeras, advindas de professores e estudantes de Arquitetura e Urbanismo.

O espaço urbano resulta de sucessivas, múltiplas e contraditórias decisões sociais tomadas ao largo do tempo, denotando sua característica central: ser uma construção social e histórica. Os processos sociais que explicam a dinâmica urbana são os de produção, da cidade, e de reprodução social. Os processos de produção, na cidade, são aqueles destinados à elaboração de bens e prestação de serviços, entendidos no sentido amplo da própria produção

e circulação desses bens e serviços. Ao mesmo tempo que se produz na cidade, realiza-se a produção urbana da cidade: a criação de seus objetos físicos, a geração das condições para a produção (infraestrutura de energia, transporte, armazenamento), a fixação do valor produzido, a materialização das atividades no uso do solo.

A reprodução social refere-se à organização da habitação, ao abastecimento de alimentos, à prestação dos serviços educativos, sanitários, culturais e recreativos indispensáveis para o desenvolvimento da vida dos habitantes da cidade. Esse conjunto de processos e formas urbanas associadas apresenta-se, em cada momento, como as condições para as decisões dos agentes sociais, sejam todos estatais (governo local, estadual, nacional etc.), econômicos (empresários industriais, comerciantes, corporações, câmaras etc.) ou comunitários (vizinhos agrupados formalmente ou reunidos de maneira informal, organizações não governamentais etc.).

A sintetização de Corrêa (2002)42, quanto às características essenciais do espaço urbano, são fundamentais para a compreensão desse processo:

O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexivo e condicionante social, cheio de símbolos e campos de luta – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível, o processo aleatório atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivada da dinâmica de acumulação de capital, das mudanças necessárias de reprodução das relações de produção e dos conflitos de classe que elas emergem. A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um processo constante de reorganização espacial que se realiza através da incorporação de novas áreas ao espaço urbano, da densificação do uso do solo, da deterioração de certas áreas, da renovação urbana, da recolocação diferenciada da infraestrutura e das transformações coercitivas ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas das cidades (CORRÊA, 2002, p. 11).