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2 ARQUITETURA E URBANISMO EM UMA PERSPECTIVA

3.2 As dimensões como categoria de análise tallerista

3.2.2 Dimensão Econômica

Nas estratégias fundamentais do Taller, o desenvolvimento econômico possui caráter primordial, as quais são propulsoras de transformações de seus cenários como forma de engrenagem a políticas públicas capazes de modificar o cotidiano das pessoas e atender às demandas de mercado regional do mundo globalizado.

Dessa maneira, faço destaque, novamente, a Becerra Lois e Pino Alonso (2005), pela maneira como descrevem o processo econômico cubano:

O conceito de desenvolvimento aplicado à economia regional é uma derivação das teorias econômicas de caráter geral. No caso específico de Cuba, almeja-se a

47BECERRA LOIS, F.; PINO ALONSO,J. R. Evolución del concepto de desarrollo e implicaciones en el

necessidade de conquistar um desenvolvimento o mais equilibrado possível entre os territórios e a redução das disparidades inter-regionais, com ênfase na ideia central de estabelecer um vínculo orgânico entre os aspectos econômicos e sociais de desenvolvimento e colocar o centro da atenção em seres humanos (BECERRA LOIS; PINO ALONSO, 2005, p. 112, tradução nossa).

Nesse percurso, cito a cidade de Havana, que possui características temporais singulares, mas também possui um princípio social transformador, com distintas dinâmicas do ambiente político e econômico do lugar. Com isso, o país tem um sistema básico de organização tallerista, visando à interdisciplinaridade e ao pluralismo de ideias na busca de soluções alternativas dentro da realidade local dessa comunidade, caracterizando as intervenções que desenvolvi no território.

Nesse contexto, Cuba iniciou, no século XXI, uma economia desacelerada depois da crise conturbada da década de 90. Somam-se a isso interferências econômicas e políticas que acabaram criando um clima de desânimo, na sociedade cubana, acerca de seu futuro. Porém, o ponto de maior questão nesse debate é, sem dúvida, o bloqueio imposto pelos Estados Unidos da América, que, por mais de meio século, obrigou o país cubano a buscar outras maneiras e alternativas de crescimento e desenvolvimento.

Mas, afinal, o que tratamos no cenário cubano? Quais as distinções entre crescimento e desenvolvimento? Para esse debate, volto, novamente, com os autores Becerra Lois e Pino Alonso (2005), em que dialogam, de maneira abstrata, essa percepção, por meio de quatro premissas importantes:

Primeira premissa: crescimento não é igual a desenvolvimento, pode haver, excepcionalmente, crescimento na ausência do desenvolvimento; porém não pode haver desenvolvimento com a ausência do crescimento. Mas a acumulação meramente quantitativa de sucessivos crescimentos produz a transição qualitativa do desenvolvimento e leva, em si, ao desenvolvimento;

Segunda premissa: desenvolvimento não é um fim mensurável em términos absolutos (não há “desenvolvimento zero”, não há “menos desenvolvimento”); sua análise estará sempre ligada em dimensões espaço-temporais que lhe outorgam relativamente a sua expressão. Isso ocasiona que se expresse em término de níveis de desenvolvimento que encerrem uma relatividade, bem ao tempo, bem a dimensão geoespacial;

Terceira premissa: desenvolvimento é um fenômeno social e histórico, tanto porque seu conteúdo é exclusivamente social quanto porque suas formas, expressões e percepções manifestam-se em uma dimensão espaço-temporal determinada, que é reflexo pela consciência social;

Quarta premissa: portanto, desenvolvimento refere-se a níveis de avanço ascendente do indivíduo social, no que se refere a suas relações sociais (BECERRA LOIS; PINO ALONSO, 2005, p. 87, tradução nossa).

Para o homem, já é fato comum perceber esse mundo confuso e confusamente percebido, pois o mundo tornou-se um vicioso ciclo dentro do repertório de técnicas e

ciências por ele próprio criado e divulgado, porém, fadado às amarras do que se diz sucesso financeiro e, colocando a vida dos que trabalham nessa globalização sempre em dívida com o mundo profissional e o pessoal, o que não é muito distante da realidade do cenário cubano.

Destaco as palavras de Santos (1988) quando ele aborda que:

A internacionalização da economia permitiu falar de cidades mundiais, verdadeiros nós na cadeia de relações múltiplas que dão um arcabouço à vida social do Planeta. E Na verdade, porém, é o espaço inteiro que se mundializou, e já não existe um único ponto do Globo que se possa considerar como isolado (SANTOS, 1988, p. 11).

Percebe-se que o valor econômico torna o mundo perverso, fazendo com que o ser humano perca os reais valores de humanidade e solidariedade, sendo aberta uma disputa de egos e poderes, em que as pessoas, muitas vezes, são tratadas como rivais e inimigas umas das outras. Essa disputa competitiva possui a questão do consumismo em regime unânime, o que o próprio autor, em sua obra, denomina como “Globaritarismo”, e, com isso, suas consequências perversas, como a pobreza, a fome, desemprego etc.

Jacobs (2011, 2011, p. 325-326) destaca que:

O dinheiro tem suas restrições. Não compra o sucesso intrínseco de que carecem certos lugares das cidades, nos quais o uso do próprio dinheiro não consegue propiciá-lo. Além do mais, o dinheiro provoca prejuízos irreparáveis por destruir as condições necessárias para o sucesso intrínseco. Por outro lado, por ajudar a obter os requisitos imprescindíveis, pode contribuir para o surgimento intrínseco do sucesso nas cidades. Na verdade, ele é indispensável. Por esses motivos, o dinheiro tem poder de contribuir tanto para a decadência quanto para a revitalização das cidades. Porém, é preciso entender que o mais importante não é a simples disponibilidade do dinheiro, mas sim como ele se torna disponível e para quê.

Destaco um trecho da letra de uma canção, intitulada Latino América, composta por um trio de cantores porto-riquenhos, conhecidos mundialmente como “Calle 13”, que me faz refletir sobre a questão econômica e seus impactos na vida das pessoas, sobre as interferências em questões culturais e sobre o dano que possa ser cometido na vida ambiental urbana.

[...] não se pode comprar o vento, não se pode comprar o sol, não se pode comprar a chuva, não se pode comprar o calor, não se pode comprar as nuvens, não se pode comprar as cores, não se pode comprar minha alegria, não se pode comprar minhas dores [...].

Conforme Becerra Lois e Pino Alonso (2005, p. 91, tradução nossa), a dimensão espacial de conceito desenvolvimentista pode ser percebida por meio de sua própria

identidade. Isso ocorre devido às escalas geográficas estarem interligadas numa visão macro de analisar o território como algo totalmente unificado, acarretando em processos significativos de mudanças, nos cenários econômicos, conforme Figura 05:

Figura 05 – Fluxograma do conceito desenvolvimentista urbano

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Com base nessa reflexão, paralelas ao surgimento desse conceito de desenvolvimento, surgem desigualdades macrorregionais em inúmeros cenários da América Latina. Analisando a dinâmica do território, essas desigualdades podem ser amenizadas com mecanismos de controle e de políticas coerentes por parte do controle público e estatal.

Tovar et al. (2009) debatem sobre essa desigualdade espacial:

No âmbito latino-americano, as cidades, em geral, têm sido construídas a partir de múltiplas migrações impostas e/ou não planejadas e atravessadas por inúmeras variáveis próprias que tem sido adquiridas ao sistema político e econômico, pelo capitalismo dependente, e isso tem gerado um esquema de ocupação do espaço e de construção do território devido à desigualdade e à segregação socioeconômica e espacial da população, que tem expressado, a nível urbano, numa configuração denominada assentamentos precários e na auto produção de habitação na maioria dos casos. Porém, também se expressa, num desigual desenvolvimento regional, a concentração da terra, e, em geral, dos fatores produtivos: terra, capital, trabalho e ciência (TOVAR et al., 2009, p. 134, tradução nossa).

A dimensão econômica trata diretamente da evolução e do nível de vida das pessoas, pois, de acordo com seus territórios, o alcance econômico, em nível regional, dá-se por meio

de políticas de blocos e planejamento (em longo prazo). Os talleres, por si só, são capazes de pensar a vida das pessoas sob o ponto de vista econômico, pois consideram estratégias de zonas de produção e recuperação de espaços capazes de promover a capacidade econômica, antes perdida ou inexistente.

A busca a partir desse processo é de que a cidade tenha condições de produzir renda e, por meio disso, dialogar com a comunidade, na proposição de melhorias e distribuições de benefícios, que encadeiam na qualidade de vida dessa faixa populacional urbana. É importante não se esquecer de analisar as condições/visões econômicas desse território, ou seja, a vocação e a oportunidade para geração de oportunidades aos sujeitos (agentes do processo).