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2 ARQUITETURA E URBANISMO EM UMA PERSPECTIVA

3.2 As dimensões como categoria de análise tallerista

3.2.3 Dimensão Cultural

A dimensão cultural é requisito incondicional dos objetivos da metodologia tallerista, ao ponto de as propostas urbanas, por meio dos cenários de atuação, serem essenciais ao atendimento das unidades de obra humana e da compreensão do conceito de paisagem histórica que marca um espaço e tempo. Esse processo permite a reflexão e a ação das mais diversas variáveis sociais coordenadas por uma gestão integrada e identificada com seu povo.

Nesse processo de identificação, há formulações que permitem o desenvolvimento e a evolução de assentamentos humanos, proporcionando novas miradas do patrimônio histórico cultural, que são marcadas pela tradição. A compreensão da localização de um patrimônio, por exemplo, identifica situações e é capaz de iniciar o desenvolvimento de um modelo territorial, reforçando, em inúmeros casos, um recorte urbano como parte importante e histórica de uma cidade e de sua cultura.

Tarouco e Reyes (2011) destacam a importância desse marco urbano na vida das pessoas e no aspecto global, em que

A construção de uma identidade territorial é algo complexo e que envolve vários fatores, mudando a cada realidade. Na tentativa de criar uma imagem forte na mente das pessoas, várias cidades investem no que tem de mais característico, diferenciado e atrativo, como elementos de visibilidade, partindo sempre da ideia de Castells de que toda identidade é construída e, da necessidade dos lugares em desenvolver uma imagem que os diferencie dos demais. Sendo assim, podem-se citar diversos elementos que contribuem para a construção de uma identidade territorial, como por exemplo:

- A Arquitetura, que segue sendo um dos principais elementos que ajudam a deixar um lugar marcado na memória das pessoas. Serve como exemplo o Museu Guggenheim em Bilbao, o Teatro de Ópera de Sidney, o estádio de futebol Ninho de Pássaro em Pequim, o Parlamento de Londres, o Museu do Louvre em Paris, o

Coliseu em Roma e a Torre de Pisa, além da nova cidade de Dubai (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

A identidade territorial é construída a partir dos enunciados (materiais e imateriais), que se apresentam na cidade e que são sempre resultados da vida dos homens naquele lugar, entrelaçados com os interesses da população, o exercício do poder local e global. Conforme a citação percebe-se que esses exemplos mundiais, que em seus lugares específicos apresentam características importantes e que, embora não o sejam destaque para o mundo, podem ser muito significativas para a população local.

- Os Monumentos que, além de servirem de referência mundial, tornam-se marco histórico de uma determinada época. Podem-se citar os mais conhecidos da atualidade: Torre Eiffel em Paris, Estátua da Liberdade em Nova Iorque, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro e a Muralha da China (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

Assim, cada cidade tem seus monumentos, que podem ser da igreja ou de personalidades que são importantes ao lugar. Podem ser exemplos de conhecimento a nível nacional ou mundial, mas são significativos para a população do lugar. Essa memória do local faz-se com sujeitos marcados pelo tempo, em que acabam construindo sua história.

- A História que é contada e recontada através das pessoas, dos livros e das mídias. As cidades baianas revivem a origem do Brasil e a chegada dos escravos, Berlim que foi reconstruída após a 2ª Guerra Mundial, Pompéia soterrada pela erupção do Monte Vesúvio, as pirâmides do Egito com seus faraós e os deuses gregos da Acrópoles (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

Essas formas de organização das cidades, considerando suas origens e a população que a constituiu, e também as formas de contar a sua cidade, que pode não ser exatamente o que ocorreu, transformam em tradições criadas e que passam a valer como símbolos para a população.

- O mobiliário urbano que cria nas cidades uma identidade marcante que será reproduzida através de fotos, vídeos, filmes e documentários. Como os telefones públicos de Londres, os calçadões de Copacabana no Rio, as paradas de ônibus em forma de tubo de Curitiba e as luminárias do bairro da Liberdade em São Paulo(TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

Toda cidade tem algo que a distingue e que lhe marca a identidade e que pode ser insignificante no contexto global, talvez até mesmo no nacional, mas que, para a população do lugar, tem significado e que a demarca em relação a outras localidades, mesmo próximas e/ou vizinhas.

- Os fatos políticos que dominam o mundo. São exemplos: a realização do Fórum Social Mundial que projetou Porto Alegre no cenário externo, o Fórum de Davos na Suíça, o regime comunista de Cuba, o fim do Apartheid na África do Sul, a queda do muro de Berlim e das Torres Gêmeas, entre outros fatos que acontecem a cada dia (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

Porém, também podem ser exemplos, os fatos que têm expressão regional e que são marcantes, além de emprestarem características especiais para cada lugar.

- A Religiosidade, fenômeno praticado mundialmente de diversas formas e por diferentes crenças. São lugares identificados pelos fatores religiosos: o Vaticano, palco do Catolicismo, a cidade de Meca na Arábia Saudita, centro do Islamismo, o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo moderno, assim como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

São exemplos, as construções de igrejas e templos religiosos que, em determinadas cidades, constituíram-se, inclusive, como o nascedouro do lugar, agregando a população ao seu redor.

- Os símbolos gráficos, que cada vez mais estão sendo utilizados como estratégia visual. O mais conhecido de todos eles é a marca I LOVE NY, da cidade de Nova Iorque, mas outros estão tentando repetir os seus sucessos, como I‟AMSTERDAM e os logotipos que representam as sedes dos jogos olímpicos e mundiais de futebol (Tarouco e Reyes, 2011, p. 4).

Essas são marcas que podem ser construídas pelo marketing com o objetivo de criar uma ideia de identidade com o lugar.

- Os aspectos Culturais e Artísticos conseguem dar cara a um lugar, além de torná-lo único. É o caso do Carnaval do Rio de Janeiro, das Touradas Espanholas, do Tango argentino, dos gondoleiros de Veneza, dos diversos idiomas falados e escritos mundialmente, dos ideogramas chineses, as feições orientais, etc.

Atualmente várias cidades estão buscando construir símbolos culturais que as identifiquem com a história vivida pelos antepassados construindo assim marcas que passam a ser veiculadas como a história do lugar e das populações que deram início a colonização e que hoje vivenciam os costumes e formas de lazer inclusive (TAROUCO; REYES, 2011, p. 4).

Fica compreendido que o marco urbano é parte do pertencimento cultural e histórico de uma nação, sendo, também, marcado regionalmente e globalmente. Esse marco urbano dá identidade à cidade e faz com que as pessoas tenham apreço a ele, de modo que seja possível marcar as suas histórias e as características de suas vidas em cada lugar.

Os talleres de Arquitetura e Urbanismo buscam complementar esse marco por meio do aprimoramento da identidade territorial constituída e de seus imaginários urbanos, por meio

de uma compreensão profunda e reflexiva dessa temática, em que, atualmente, constam estudos vagos e sem desdobramentos aos conceitos e fundamentos nos estudos urbanos.

Nesses estudos culturais, o autor Hiernaux (2007, p. 27, tradução nossa) aborda a questão do imaginário urbano de uma cidade, sendo que:

Sem dúvida, os estudos culturais sobre a cidade não faziam um bom entendimento desses imaginários, tampouco da cidade. Podemos, então, compreender essa situação como o resultado de uma febre inicial, que impulsionou um florescimento de trabalhos sem que se tenha terminado de analisar com determinação o que significa, realmente, falarmos de imaginários nos estudos urbanos.

Esses imaginários urbanos provocam sensações nos sujeitos, de modo que faz parte da essência da cidade e da sua capacidade de promover o bem-estar social de sua população.