• Nenhum resultado encontrado

2 ARQUITETURA E URBANISMO EM UMA PERSPECTIVA

3.2 As dimensões como categoria de análise tallerista

3.2.4 Dimensão Ambiental

A dimensão ambiental está relacionada aos impactos causados por toda e qualquer atividade ligada à natureza quando o assunto é desenvolvimento produtivo, urbanização ou planejamento habitacional. Não por acaso as administrações locais estão, nos últimos anos, dando ênfase a essa temática, devido às pesadas multas pelos descumprimentos dos itens básicos e mínimos estabelecidos por conselhos ou órgãos fiscalizadores do meio ambiente.

Se formos pensar nesse cenário, instantaneamente, relacionamos esse contexto à paisagem do espaço em que vivemos. Para Santos (1988), significa pensar em um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais, pois a paisagem do espaço é formada por frações de ambas, considerando qualquer critério, quer o tamanho, a forma, o volume, a utilidade etc. Santos (1988) complementa, ainda, que quanto mais complexa a vida social tanto mais nos distanciamos de um mundo natural e encaminhamo-nos para um mundo artificial. Nesse sentido, Santos (1988) argumenta sobre o desenvolvimento urbano:

As mudanças são quantitativas, mas também qualitativas. Se até mesmo nos inícios dos tempos modernos as cidades ainda contavam com jardins, isso vai tornando-se mais raro: o meio urbano é cada vez mais um meio artificial, fabricado com restos da natureza primitiva crescentemente encobertas pelas obras dos homens. A paisagem cultural substitui a paisagem natural e os artefatos tomam, sobre a superfície da terra, um lugar cada vez mais amplo (SANTOS, 1988, p.16).

Ao fazer um exame de nosso espaço habitado, Santos (1988) acredita já termos chegado a uma situação-limite, considerando que o processo destrutivo da espécie humana

pode tornar-se irreversível, agravando-se à medida que o uso do solo torna-se especulativo e que a determinação de seu valor provém de uma constante luta de capitais que ocupam a cidade e o campo. Para o autor, o resultado é dramático quando o homem utiliza o saber científico e das invenções tecnológicas sem ter senso de medida no que se refere às suas relações com o entorno natural.

Falar sobre dimensões ambientais é o mesmo que questionar a sociedade e exigir dela respostas sobre a atual situação da natureza, sobre como ela conseguiu transformar progressivamente o meio ambiente em sua abrangência física e ecológica. É preciso equilíbrio para refletir sobre passado e presente, para inventariar o que foi modificado no meio ambiente, como, por exemplo, o solo, os recursos hídricos, a coberta vegetal, bem como o subsolo e as formas topográficas. É preciso avaliar o que ainda não foi significativamente modificado ou, ao menos, o que não tenha sofrido radicais modificações.

A própria ECO 9248, realizada na cidade do Rio de Janeiro e organizada pela ONU, foi um pilar primordial para a valorização das políticas e ações ambientais, no planejamento urbano, com reflexos traduzidos diretamente à comunidade, procurando, acima de inúmeras questões, a diminuição do impacto ambiental.

Somos cientes de que o impacto gerado no meio ambiente está diretamente ligado ao desenvolvimento produtivo de uma civilização e, portanto, o que verdadeiramente temos como definição de qualidade de vida e, como consequência, a qualidade dos elementos e funções da natureza, pois sabemos que, em todo o processo de urbanização, são modificados os recursos naturais vinculados ao solo, à cobertura vegetal e aos recursos hídricos.

Nesse sentido é que a criação dos espaços humanos deve, permanentemente, contemplar a história dos lugares, bem como a constante análise das relações entre as dinâmicas sociais e o meio ambiente, para evitar os abusos irreversíveis causados à natureza e que têm um apelo errôneo em prol do desenvolvimento urbano.

Para Santos (1988), os grupos humanos têm o poder de modificar as forças naturais. Para o autor, a ação humana verifica-se segundo diversos modelos:

1 Quando o homem tem força para modificar os aspectos do quadro natural, fazendo deste uma segunda natureza mais adaptada aos seus fins;

2 Quando o homem, prevendo as mudanças conjunturais do quadro natural, se prepara, seja para tirar partido dessa mudança, seja para reduzir os seus efeitos nefastos ou puramente negativos;

3 Quando, através do conhecimento das possibilidades de oscilações das condições naturais consideradas em relação com a atividade humana desenvolvida nesta ou naquela área;

4 O homem imagina, elabora, codifica, impõe um sistema regulador mediante o qual os danos sociais ou individuais são coletivamente absorvidos(SANTOS, 1988, p. 27).

Santos (1988,) ainda argumenta:

Nem sempre pode haver controle ativo da natureza, mas apenas controle passivo, por exemplo, quando se escolhe melhor, cientificamente, a melhor estação do ano para plantar este ou aquele produto ou quando se elaboram controles financeiros ou fiscais, tornando, por exemplo, o preço garantido, independente das condições climáticas. É como se a natureza aqui fosse esquivada, ludibriada na sua ação, não significando porém que ela deixe de existir ou de agir. Estamos, pois, diante de um novo sistema da natureza. Hoje, o homem não comanda as intempéries, mas tem conhecimento prévio de sua eclosão. Tem condições de prever os terremotos, as enchentes etc., e isso pode mudar as suas consequências. São, certamente, esses dados naturais "invencíveis" (ao menos até agora) que então incluiríamos no capítulo da geografia física? Restam, ainda, muitas outras coisas: as correntes fluviais e aéreas, os movimentos de oceanos e mares, a erosão e os escorregamentos de terrenos, a expansão e a retração das calotas glaciais, o ritmo das florestas, a biografia dos seres vivos etc. (SANTOS, 1988, p. 27)

Existem novos enfoques metodológicos e operacionais, na participação da construção de espaços (habitat), que são a estratégia e a sustentabilidade. A estratégia refere-se ao modo de atuar e organizar os recursos humanos e materiais, com a finalidade de superar os obstáculos que possam surgir ao se tentar atingir os objetivos, tentando, de certa maneira, utilizar a menor quantidade de recursos possíveis e tempo, em busca dos melhores resultados (ROMERO; MESÍAS, 2004, tradução nossa). Para os autores Romero e Mesías (2004, tradução nossa), as quatro ações básicas da estratégia são: utilizar as forças; superar as dificuldades; aproveitar as oportunidades; e evitar as ameaças.

No que se refere à sustentabilidade como o outro enfoque metodológico, Romero e Mesías (2004, tradução nossa) dizem que essa terminologia assume, atualmente, diferentes conotações e são, muitas vezes, opostas, dependendo do modelo de desenvolvimento a que estamos nos referindo.

Assim, o conceito, que evoluiu desde uma visão originada no modelo atual (neoliberal), desencadeava uma concepção baseada em um modelo centrado em um desenvolvimento integral do ser humano, em equilíbrio com o ambiente (ROMERO; MESÍAS, 2004, tradução nossa).

Para os autores, essa ambiguidade gera uma dificuldade de entender a ideia, especialmente como um termo que será usado para solucionar problemas ou gerar estratégias de ações em habitações. A percepção de sustentabilidade evoluiu desde uma percepção centrada na deterioração do meio ambiente, a qual faz uma análise mais integral e estrutural

do problema, incluindo, então, a deterioração da qualidade de vida do ser humano (ROMERO; MESÍAS, 2004, tradução nossa). O quadro demonstrativo apresentado abaixo ilustra, de forma sintética, os enfoques de estratégia e sustentabilidade (Quadro 10).

Quadro 10 – Modificação de enfoques baseada na estratégia e na sustentabilidade

Fonte: Romero e Mesías (2004, p. 38).