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Cena 1 – “Isso aqui é ao Vivo pessoal”: A Competência que possibilita a troca

4 “Superar-se”: a importância da competência em performance

4.1 Cenas que revelam e desvelam suas competências: Competências em diferentes gêneros de performance

4.1.1 Cena 1 – “Isso aqui é ao Vivo pessoal”: A Competência que possibilita a troca

Isso aqui é ao vivo, pessoaaal: assim

começa o chamamento (keying) para o público na

performance de Danilo (12 anos), um adolescente

morador de Santo Amaro, ao entrar no ônibus nas ruas movimentadas de Recife. Com seu triângulo feito de ferro de construção, uma calça meia canela, camisa social manga curta, e seu principal instrumento – a voz alta e estridente –, o garoto corre de um lado a outro da cidade, tornando usuários do transporte coletivo seus ouvintes/platéia e o ônibus como o palco de mais

ou menos quinze minutos de espetáculo. Esta performance, embora criada especificamente por seu irmão mais velho há uns três anos, com a qual tomei contato no primeiro dia de campo130, tem como base a antiga tradição nordestina dos emboleiros e repentistas, que usam o mesmo palco para manter viva sua arte e a sua família. Além das praças centrais, de ruas e avenidas movimentadas em grandes cidades (ou das vilas de interior), o ônibus transformou-se num palco comum de emboleiros, repentistas, cantores e rimadores. Danilo não é o único a seguir a tradição inventada pelo irmão quando esse se “aposentou”131, segundo Danilo; outros garotos e uma menina de sete anos, como ele, aprenderam de Gil a tocar triângulo e cantar nos ônibus da cidade, em busca do sustento diário. Tocando especialmente forrós, xotes, emboladas, músicas bregas, normalmente ritmos bastante animados e conhecidos do público em geral, o repertório também conta com composições próprias. Tais composições se juntam a canções conhecidas, que são bastante eficazes no palco, segundo os próprios tocadores, por serem apreciadas pelo público. Foi tocando músicas conhecidas pelo público que encontrei Danilo numa

performance bastante animada, numa noite de carnaval.

130 Descrevo logo no início da Introdução (página 8) desta tese a performance improvisada dos tocadores de triângulo, a qual chamo de “orquestra dos triângulos”, cujo principal autor era o irmão mais velho de D., que na época tinha onze anos. Quando este cresceu um pouco, o irmão herdou a profissão.

131 Conta, isso numa longa conversa que tivemos sobre sua profissão, que o irmão mais velho, por problemas familiares e de uso de drogas, fora morar temporariamente com uma família conhecido para afastar-se do bairro.

Carnaval de 2006. Ônibus Princesa Isabel. Depois de assistir à orquestra de maracatus, notando que o parque central de shows de Recife estava bastante lotado, decidi ir embora. Desanimada pela incapacidade de ver e ouvir qualquer coisa ao redor, tamanha a multidão132 presente no evento, abdicara do show de um dos músicos mais conhecidos de Pernambuco: Lenine. Depois de um tempo esperando um ônibus, eu e meu noivo, que me acompanhava nesse dia, subimos no primeiro que nos deixaria próximo do Varadouro, em Olinda, onde nos hospedávamos. O ônibus estava lotado, mas por ser bastante tarde, decidimos tomá-lo. No fundo do ônibus parecia haver uma espécie de show, animado por vários instrumentos. Todavia era pouco perceptível do que se tratava, já que o ônibus estava com o corredor lotado. Pensei estarem indo festejar o carnaval em Olinda. Quando nos sentamos, várias pessoas desceram, dirigindo-se ao show que deixávamos para trás e foi possível ver que os participantes do show estavam muito animados. Virei para trás e comprovei, auxilada pela poucas luz advinda dos postes, que eram alguns garotos tocando e cantando. Não pude esconder a vontade de me envolver com aquele evento de menor proporção. Ainda assim, ficamos sentados, aproveitando a boa música. O ônibus chegava próximo de Santo Amaro quando percebi que as músicas cantadas eram algumas das que ouvira a primeira vez que estive na praça Tacaruna, em Santo Amaro, na orquestra de triângulo. Quase imediatamente à minha associação, veio a confirmação. A música parou e um garoto que conhecera naquele primeiro encontro na Praça, veio pelo corredor, com roupas ainda de menino, gritando: isso

aqui é ao vivo pessoal... Veio em nossa direção, recolhendo dinheiro e cantando ao mesmo

tempo, com a torcida da turma traseira que, a cada pessoa que ele estendia a mão, incentivava a doar algo ao garoto. Pode ser um trocado, um real, um passe. Quando chegou perto de nós, reconheceu-nos imediatamente. Recebeu o dinheiro que oferecemos e retribuiu com um sorriso aberto o elogio que fiz perguntando se todo o show que ouvira fizera somente com aquele triângulo pequeno que tinha em mãos. Ficara satisfeito com o comentário. Olhei novamente para trás e percebi que, ao Danilo se aproximar do grupo de trás, todos começaram a tentar tirar som de alguma coisa – banco do ônibus, chão do ônibus, uma caixa de fósforo, a perna de um amigo, todos eram instrumentos sonoros agora. Danilo seguiu para a parte de trás do ônibus, recolheu mais dinheiro e, antes de sair, ainda ofereceu outra música à sua animada platéia, repetindo animadamente: isso aqui é ao vivo, ô pessoal! E segue cantando a música

132 Já experimentara a multidão de forma bastante dramática em Olinda, quando tentava atravessar a multidão para achar um bom lugar para ouvir a banda que tocava e quase fui pisoteada e roubada numa mesma noite.

que todos mais gostaram: Rico toma conhaque, pobre toma pitu. Rico toma no copo pobre toma 51. Rico toma conhaque, pobre toma pitu.

Rico toma no copo,

pobre toma no... (toca forte o triângulo, jogando o corpo para trás, dando uma grande risada)

Risos de todos. Apesar de a letra da

música terminar com o texto “51”, o nome de uma cachaça famosa na região, como o é a Pitú, ciente da importância da participação do público no evento, o performer primeiro canta o texto completo e, em seguida, repete a música deixando o texto em aberto. Permite, assim, que a imaginação e o conhecimento lingüístico do público termine a música, dando espaço para o riso e a participação na performance. O texto do Danilo sugere que pobre bebe as bebidas mais ruins, e logo sofre, aspecto partilhado por todos, mas não em forma de drama- e sim de comédia. A malícia de sua música, a facilidade com que fazia as pessoas rirem e se divertirem no meio da noite, fazia dele um performer que facilmente envolve o seu público. Uma perfeita integração de platéia e performer garantiram a Danilo os recursos não somente financeiros, mas também aqueles de que precisava para seguir insistindo no seu modo de arrecadar recursos: o aprimoramento da sua competência. Pára o ônibus e Danilo desce acenando para nós, sumindo entre a multidão presente na praça Tacaruna, no Bairro Santo Amaro. Era bem tarde.

Depois deste dia, procurei Danilo algumas vezes, mas realmente era muito difícil achá- lo. Encontrei outras vezes com alguns dos cantadores de ônibus, e outras vezes estive com eles nos ônibus, mas, como Danilo, eram ao princípio fugidios e não queriam mostrar-se como trabalhadores infantis. Quando me tornei conhecida deles, pude entender melhor porque suas

performances tinham que ser uma aparição fantástica e fugidia. O trabalho infantil não é bem

visto hoje em dia fora do seu bairro. Todavia, é justamente fora dele que conseguem dinheiro pelo seu trabalho artístico. Como os repentistas nordestinos, portando um triângulo na mão e

muita vontade “correria”133, “ganhavam a vida”134.

Levado por um dos seus vizinhos, fui até a casa de Danilo, num beco escuro e úmido, mas ainda lá ele estava ausente grande parte do tempo. Todos diziam que o viram “indo para o trabalho”. Só voltei a encontrá-lo num dia, na Praça de Tacaruna, quando ele lutava para não perder o seu triângulo para outra tocadora de triângulo, e uma senhora o atacou com um sapato na mão. Essa senhora parecia entender que ele machucava a menina, que era muito menor que ele. A situação em que se metera deixou Danilo um pouco perplexo ao princípio, quando viu o sapato vindo sobre sua cabeça, mas a tomou como cômica tão logo entendeu o que acontecia. Eu, que me aproximava exatamente no mesmo momento que o sapato o tomava em cheio, ri com Danilo daquela situação, muito embora a mulher estivesse bastante irritada com ele quando o deixou para pegar o ônibus. A garota, também conhecida minha, continuou gritando para atrair a atenção da senhora, propositadamente. Danilo era, naquele período, o mais velhos entre os tocadores de triângulo de Santo Amaro. Em Santo Amaro, além de Danilo, eram cinco meninos e uma menina. Danilo é considerado, entre todos os demais, o melhor tocador. Canta e toca sozinho alegando ser mais fácil assim, já que muitas vezes o parceiro coloca o dinheiro

no bolso e não divide com a gente. Conhece em pormenores quais os ônibus e os espectadores

que gostam de assisti-lo tocando, um saber que faz muita diferença no dia-a-dia do seu trabalho. Entre todos os espectadores, diz que os estudantes e os trabalhadores são os que lhe dão mais dinheiro e o aplaudem.

Entre os demais tocadores, existe uma espécie de trabalho coletivo, normalmente formando parcerias de dois, intercalando os pares vez por outra. No entanto, a parceria nem sempre era solidária. Numa conversa que tive com dois meninos e uma menina, fiquei sabendo que não assumir responsabilidade da sua própria capacidade, era justamente o que fazia possível a exploração de um pelo outro no grupo. Um dos garotos aconselhava a menina que nos acompanhava no ônibus esse dia: tu devia começar a tocar por conta própria e ficar mais

ligada com o R. Ele ta é te roubando. Contou-me que os dois trabalhavam juntos e o garoto

ficava com grande parte do recurso arrecadado.

No dia em que encontrei Danilo como essa mesma menina, disputando o triângulo na praça, propus que fizéssemos uma conversa com eles e os demais tocadores de triângulo ali na praça, no dia seguinte. Ficaram animados. Danilo propôs trazer o triângulo, e queria que o

133 Termo usado pelos meninos e meninas para referir-se a trabalhar honestamente, pelo próprio esforço. 134 Garantiam o seu próprio sustento.

filmasse cantando no ônibus. No próximo dia, cheguei e quatro, entre eles Danilo e Ninha, esperavam-me na praça. Foi uma longa conversa, intercalada por cantorias conhecidas por eles; o gosto pela música e a presença da filmadora juntou mais alguns garotos que trabalhavam ali perto limpando carros, e um dos componentes da Banda de Rap “Guerreiros

da Rua”, formando uma platéia grande para a performance filmada de Danilo. Danilo tocou e

cantou várias músicas, auxiliado por alguns dos colegas presentes. Na interação, os desafios iam surgindo. Toca essa. Quero ver se tu sabes aquela. O triângulo passou pela mão de alguns dos tocadores presentes. Gilmar (09), quando teve o pequeno microfone que auxiliava na filmagem, cantou parte de uma música que disseram ser “a música da gente”:

Oi oi oi Tô com fome Oi oi oi sem café,

Tô com a roupa do ano passado, Sapato furado

e calo no pé.

Ele pára repentinamente por não se lembrar de toda a música. Então, sugere que Danilo cante. Gilmar, Ninha e Danilo formam um trio, com Danilo ao centro tocando triângulo. A memorização da letra era essencial para a performance, e Danilo a recordava por completo.

Quando eu morava lá na rua, quando eu morava lá na rua, eu não tinha compromisso. A pior coisa do mundo, A pior coisa do mundo, era catar papel do lixo. Um pedaço de sabão, Com uma meleca no nariz, ia correndo lá pra praça, tomar banho no xafariz. A única coisa que eu fazia, Era ir pra minha escola. Ia pegar o meu uniforme, Ia pro campo jogar bola.

Óh meu deus que é dono da terra, Orai pra esse povo que vevi na guerra. Óh meu deus que é dono da lua,

Orai por esse povo que vive na rua.

Moro numa cidade cheia de fé e cheia de lixo. Aonde que o prefeito não manda limpar. Ela dança cavaquinho com a cabeça, E toca triânguinho no pé.

Oi oi oi, tô como fome, Oi oi oi sem café.

Tô com a roupa do ano passado, Sapato furado,

Com calo no pé.

A rima se apresenta em toda a estrutura da letra, apontando para questões poéticas, paralelismos, repetições. Quando a música finaliza, Ninha, saindo de perto dos colegas que cantavam, repete uma frase, que usam como finalizador da performance no ônibus. Me dá um

real aí, sô... Nesse momento solto um espirro alto, e alguém diz: Saúde. E Gilmar emenda,

rimando mostrando que a rima está presente em diferentes gêneros de comunicação oral:

Toma binquilim com grude. Risos de todos.

Ninha, a mais nova entre o grupo, foi desafiada pelos colegas a cantar também. Vai

Ninha, vai cantar!

Já com o microfone nas mãos, apesar da insistência dos colegas, ela se negava; parecia envergonhada. Os demais riram dela, dizendo que por isso tinha que trabalhar para os demais. Essa era uma das críticas que um colega dela tinha: porque não ia tocar sozinha, era explorada por um colega ainda mais novo que ela. A criticavam por não assumir a responsabilidade, nos termos de Bauman (1977) de tocar e cantar sozinha (fazer sua performance). Enquanto a conversa seguia com os garotos, ela permaneceu com o microfone na mão, e cantou muito baixo, num tom de voz quase inaudível, como se estivesse contando um segredo, revelando a apenas dois ou três e à câmera (que embora direcionada para os demais garotos, gravou sua cantoria) sua capacidade de cantar. Ficou evidente que ela decorara várias músicas e as cantava inteiras, que sabia um pouco manejar o triângulo, mas não o fazia com o vigor necessário para uma performance no ônibus. Tinha vergonha do público e sua timidez a tornava dependente dos demais. De fato, Ninha, tímida e ainda bastante iniciante no ofício, não se arriscava a fazer o espetáculo sozinha. Ao contrário do Danilo, que era capaz de fazer um ônibus inteiro acompanhá-lo numa noite de carnaval de volta à casa, ou ainda num dia de trabalho, Ninha usava de artifícios, como o tamanho e sua aparência de menina, para conseguir dinheiro. De certo modo, era vista mais como uma pessoa que esmola a uma artista de rua.

Danilo disse sentir-se um artista e que queria começar a tocar em bar. Danilo contou que recebera um convite de uma “madame” para cantar num bar. O dia combinado para falar com a mulher, Danilo telefonou, e atendeu o marido da mulher, que achando que Danilo era um pretendente, xingou o menino pelo telefone. Bravo, disse a Danilo que nunca mais telefonasse, porque a mulher não ia atender. Danilo, narrando o evento, ria do fato que ele, um menino, pudesse despertar ciúmes num homem casado. Terminada a história, Danilo se levantou e propôs irmos para o ônibus. Ninha quis ir junto. Danilo entrou no ônibus animado, pela porta de trás. Interessava-lhe um grande número de ouvintes. Cabeça levantada, olhando diretamente para as pessoas, o triângulo à mostra, parecia já nesse instante anunciar que ia apresentar algo. Os demais, que entramos pela porta da frente, pagamos a passagem e sentamos. Danilo esperou que sentássemos, preparássemos a câmera e localizássemos ele no visor. O espetáculo que seguiu pode ser acompanhada via internet, no endereço http://video.google.com, sob o titulo “Isso aqui é ao Vivo pessoal”, ou no DVD anexo da tese. Perguntou se estava pronta para gravar. Parado num lugar possível de ser

ouvido e visto, deu uma forte batida no triângulo, coloca a mão em forma de concha próxima da boca e anunciou-se:

Senhoras e Senhores Passageiros! Primeiramente boa tarde pra vocês todos. [batida no triângulo]

Vô canta um forrozinho prá vocês [batida no triângulo]

Só pra vê se arranjo qualquer

trocado que possa me ajudá. Fazendo um microfone Heeeeeiiiiiiii [tocando o triângulo].

E iniciou a cantar um forró completamente rimado, enfatizando a função poética da letra:

Vamos sair prá algum lugar, que dá prá até dançar. À beira mar,

a lua linda vai clarear. Tomar um chopp, dialogar, o que [há] de ser será.

Posso fugir, seu olhar só falta falar. Você não sai do meu pensamento, esperei tudo por esse momentoooo. Meu coração impaciente lentoooo,

mas se encantou, agora só quer lhe falar.

Perei are, perei gibi perei tempo prá ficar com você. Agora senta aqui comigo,

Por favor, não vá embora. Veja, veja meu irmão,

um ano sem saber se vai dizer sim ou não. veja, veja meu irmão,

um ano sem saber se vai dizer sim ou não135....

Usando da função fática, interagiu com sua audiência, fazendo referência do evento: heiiiiii!!!aaaaaaaaaaaooooooooooooooo vivooooooo!!!!!

Todas as prolongações das palavras, aceleração de determinadas frases, as pausas, são recursos que Danilo usa frequentemente para atrair a atenção do público, que fazem sua

performance rica em vocalização. Fez uma pequena pausa e seguiu cantando um xote, cuja

base da letra é a função poética.

Escrevi seu nome na areia136.

O sangue que corre em mim sai da sua veia. Mas veja só:

você é a única que não me dá valor. Então por quê será que é,

O que eu ainda quero ter?

Tenho tudo nas mãos, mas não tenho nada. Então melhor ter nada e lutar pelo que eu quiser Hê, mas pera aí.

Ouço o forró do bom. Tem muita gente aí. Não é hora prá chorar. (....)

E segue até o final da musica, animadamente: Eh! prá surdo ouvir, prá cego ver Que esse xote faz milagre acontecer.

Vendo que vagara um espaço no ônibus onde poderia ainda ser visto, Danilo se sentou. Entre uma música e outra, a frase que lembra que ele canta ao vivo parece querer lembrar ao público local o privilégio de poderem assistir a um show ao vivo no fim de um dia de trabalho exaustivo.

135 A música é uma adaptação livre de “Vamos Sair Para Algum Lugar”, de Aviões do Forró. Danilo adapta para um diálogo com o público, na última estrofe. Ver letra da música no anexo III.

Colocando a mão na boca, apontou para o fático da linguagem novamente, e grita com força: Ô pessoaaaaallll! Isso aqui é ao vivo, heim?! E na mesma seqüência, iniciou a cantar a mesma música que entusiasmara tanto os jovens na primeira vez que o encontrei cantando, na noite de carnaval. Essas músicas, ele certamente o sabia, captavam facilmente a atenção do público. Agora nos aproximávamos do centro. Colocando a mão próxima ao peito, querendo referir-se a si mesmo, cantou:

Perguntaram pra mim se eu como mortadela, Respondi, pelo ovo Cuidado na panela. O rico toma cerveja, O pobre toma Pitú. O rico toma no copo, O pobre toma 51.

Mesmo que Danilo feche a sentença citando 51, a mesma parece não se completar, pois cerveja e pitu são bebidas, mas copo e 51 não têm a mesma classificação. Outro aspecto é o fato que Pitu não rima com 51 e, logo, a ausência da rima faz o público completar a mesma maliciosamente. Tendo envocado a rima nas primeiras frases, sugere que assim seja finalizada. Danilo e seu público sabem disso, e isso atrai o riso e cria a integração do performer com o seu público. Ciente do seu sucesso, Danilo o assume prontamente, e mencionando o nome do Ônibus [P15], situa o local do seu sucesso.

Suuuuuuuuuuuuuuuuucesso Aqui no P15.

E segue cantando uma música onde o seu virtuosismo se torna mais evidente.

Essa é uma história, muito difícil de contar. Eu e meu amigo Louro, foi de burro galopar. Tudo corria muito bem,

mas é o que burro na perna tropeçou. Eu não escapei,

Mas só que o burro se atolou. Ai ai,

o burro se atolou.

Arguiriiiiiiirrrr [grunhido de burro] Ai ai,

o burro se atolou, Ai, o burro se atolou.

Espetáculo com triângulo feito por Danilo a partir de ferro de construção

Novamente, com um esforço tremendo da voz, produziu o som do bicho, usando a função onomatopéica da linguagem. Arguiriiiiiiirrrr. O uso desse recurso na performance de Danilo certamente chamou atenção de muitos no ônibus. Uma mulher, muito séria, olhou-o com os cantos dos olhos e soltou um riso um tanto tímido, sacudindo a cabeça. Outra olhou diretamente a ele e abertamente achou engraçado. Um rapaz que acompanhava Danilo todo o tempo com o canto dos olhos, também passou a olhá-lo diretamente. Alguns voltavam a cabeça para trás para ver a performance e não apenas ouvi-la. Uma criança riu, olhando para a mãe e