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rido criar um banco central sem conselho monetário, para lá dar um assento ao presidente do Banco do Brasil, muito

provavelmente não teríamos conseguido. "41

No balanço que fez da instituição que "criou", Denio Nogueira não

hesitou em afirmar que a ampliação do Conselho Monetário Nacional

teve o "objetivo claro de enfraquecer o Banco Central":

"Estão lá quase todos os ministros gastadores,( ... ) os dos

Transportes, da Viação e Obras Públicas etc. - com o mesmo

poder do ministro

da

Fazenda, que é, por definição, o homem

que defende a moeda. Ora, isso enfraquece o Banco Central."42

Já a função de fomento conferida ao Banco Central, mesmo

sublinhando que fora o preço pago pelo "indispensável" apoio da

bancada ruralista no Congresso, Denio reconheceu que "isso tornou

o Banco Central um órgão de expansão monetária concedendo van­

tagens de caráter político".43 Mas negociação, alertou, não deveria

ser confundida com " submissão". Era preciso, pois, afastar a sus­ peição de que tivesse cedido "no essencial" para criar o Banco Central: "Nessa hora eu vendia a .alma ao diabo para criar o Banco Central. Eu tinha o compromisso de criar, o ministro Bulhões

e o presidente Castelo Branco tinham confiado em mim. Mas não vendi não. E vou dizer por quê."44

o episódio relembrado por Denio Nogueira como uma importante peça de defesa contra as acusações de que teria havido "submissão" do Banco Central envolveu o mesmo deputado Herbert Levy, o "papa" do Congresso em assuntos econômicos, e a quem Denio precisou "convencern para criar o Banco Central.

"Quando o projeto do Banco Central ainda estava andando no Congresso, eu devia muito ao então secretário da Mesa da Câmara dos Deputados, Paulo Watzl. Ele era paulista, muito ligado ao deputado Herbert Levy.( ... ) Depois que o Banco Central foi aprovado, eu já na presidência, o Paulo Watzl veio ao Rio me fazer um pedido em nome do Herbert Levy.( ...

)

V

árias municípios do Brasil contrataram entâo com a Siemens e a Ericson a instalaçâo de centrais eletrônicas locais.( ... ) E várias delas se localizavam em São Paulo, na área em que O

Levy tinha mais votos. Ele é que tinha conseguido financia­ mento para a compra dessas estações locais. Como anterior­ mente a taxa de câmbio nào mudava, ficava supervalorizada, e a dívida era em moeda estrangeira, o custo das centrais era zero. Mas nós, logo de saída, em três ou quatro meses, desva­ lorizamos três ou quatro vezes a taxa de câmbio. IS80 assustou as prefeituras, que foram pedir ao Herbert Levy que o risco de câmbio da amortização da dívida fosse assumido pelo Tesouro Nacional através do Banco Central. Eu disse ao Paulo Watzl o seguinte: '( ... ) Jamais concordarei com qualquer medida que transfira um risco de câmbio para o Tesouro Nacional. (

... ) A

diferença de câmbio terá que ser incluída na tarifa.' E assim foi feito."45

Não é difícil entender por que a perda da independência do Banco Central era uma hipótese completamente fora das cogitações de Denio Nogueira.

A

sua fé na capacidade de o Banco Central resistir às inflexões da política residia num conjunto de fatores que enfatica­ mente procurou destacar no seu depoimento.

A

começar, pela iden-

tificação do Banco Central com os "valores pessoais" do seu "criador" e primeiro presidente, cuja atuação sempre se pautara pela máxima: negociar sim, submeter-se nunca.

Mas foram ainda a "competência técnica" do banco e o "aparato legal" que presidiu a sua criação os outros argumentos apresentados por Denio para explicar por que nào "admitia a hipótese" da perda da independência:

"Considero o Banco Central tecnicamente quase perfeito e isso até hoje. Naquela época, tivemos que assumir uma série de funções que na verdade não deveriam ser do Banco Cen­ tral.(oo.) sempre considerei que o Banco Central devia ser também um escudo de defesa do Ministério da Fazenda.(oo.) tinha mais condições de resistir a pressões do que o ministro da Fazenda, que ocupava um cargo político e podia ser demi­ tido por não atender a um pleito de pessoa politicamente influente.(oo.)

A

Lei do Banco Central passou no Congresso normalmente, não entrou em regime de urgência, levou quase um ano em discussão. Eu achava que dificilmente o país andaria para trás, tirando do Banco Central a força que ele precisa para defender a estabilidade da moeda."46

Daí por que Denio fez questão de marcar que o seu afastamento da presidência do Banco Central (março de 1967), em claro desres­ peito à Lei nO 4. 595, que previa um mandato de seis anos, seria a sentença de morte da independência do órgão. Afinal, teriam desapa­ recido, de uma só vez, os principais pilares que a poderiam sustentar: de um lado, fora comprometida a atuação "técnica" e "neutra" da instituição, até então garantida pelo seu arcabouço jurídico-legal; de

outro, afastaram-se Os principais "avalistas' dessa independência, o próprio Denio e o presidente Castelo Branco.

Membros da equipe econômica castelista, Denio Nogueira e Octa­ vio Gouvêa de Bulhões convergem na avaliação de que foi Castelo Branco o principal "responsável' pela "bem-sucedida' política de estabilização da economia brasileira implementada em meados dos anos 60, e na qual o Banco Central ocupou um papel fundamental. Sobre o papel dos presidentes, em geral, e de Castelo Branco, em particular, na condução da política econômica, Bulhões não hesitou em aÍlrITIar que:

"(00') num regime presidencialista, tudo depende muito do presidente. Se for um presidente como o Castelo Branco, as

pressões são inúteis, pois ele não atende. Se o presidente for fraco, ele atende àa pressões e não leva avante um plano de estabilização monetária. A pergunta, portanto, deve ser esta: quem é o presidente?

É

um presidente que mantém princípios ou que cede a pressões?( ... ) Nós dependemos muito mais dos homens do que propriamente dos regimes .. ."47

Não é dificil assim entender a ambigüidade do depoimento de Denio Nogueira no que se refere à ambivalência da força institucional

e da interierência pessoal na origem e posterior evolução do Banco Central. Ao mesmo tempo em que enfatizou a capacidade do órgão de se impor, {(pela lei", até mesmo ao ministro da Fazenda � "não digo especificamente ao professor Bulhões, mas�ualquer outro" -, Denio Nogueira ressaltou que:

"enquanto o ministro da Fazenda foi o professor Bulhões tudo funcionou perfeitamente.( ... ) Se o ministro Bulhões tivesse permanecido como ministro da Fazenda, certamente eu teria permanecido no Banco Central, e a independência não teria sofrido a interrupção que sofreu naquele período.

É uma

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