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Centralização e totalização em um discurso sobre a imigração no Brasil pós-guerra

5. O discurso ‘acadêmico-científico’ sobre a imigração e os imigrantes no Brasil: a seleção e a assimilação em foco

5.2. Centralização e totalização em um discurso sobre a imigração no Brasil pós-guerra

Introdução

Como vimos no primeiro capítulo deste trabalho, o final da Segunda Guerra Mundial retira de milhares de pessoas seus lares, seus trabalhos, seus parentes, seus sonhos e seus planejamentos, em resumo, suas vidas cotidianas. Desse modo, um contingente humano fica a mercê de auxílios

vindos de outros países ou de órgãos internacionais criados com o propósito de ajudar esses indivíduos (que são mais conhecidos como os deslocados de guerra). A saída de seu país, devastado pela guerra, é uma das possibilidades colocadas a esses indivíduos, que podem então recomeçar suas vidas em outro lugar.

Após a interrupção do fluxo migratório por causa da Segunda Guerra Mundial, os países do continente americano voltam a se interessar pelos imigrantes, principalmente os europeus. Especificamente no caso brasileiro, são retomadas as discussões sobre o processo imigratório para se estabelecer o melhor modo de contar com a presença dos possíveis imigrantes vindos dos países envolvidos na Segunda Guerra Mundial.

Os discursos a respeito da melhor forma de se conduzir o processo imigratório no Brasil pós-guerra mantêm algumas características dos discursos que surgiram no início da imigração no país, ainda no século XIX. Assim, é possível observar duas formas de relação interdiscursiva nessas discussões: uma polêmica e outra contratual, ambas baseadas, obviamente, na figura do imigrante. Assim, há discursos favoráveis à imigração irrestrita, à imigração controlada e à proibição da imigração. O discurso mais frequente é o da imigração controlada, cuja característica geral é a de ser um discurso voltado para propostas de seleção daquele que é considerado o melhor imigrante para o país. No estabelecimento desses critérios de seleção, toda uma outra gama de possíveis imigrantes é deixada de lado, por meio de escolhas baseadas em traços culturais, biológicos, econômicos ou sociais.

Além da seleção para entrada dos imigrantes, ainda são discutidas formas de integração do imigrante ao “corpo social nacional”. Tanto a seleção como a assimilação visam, de um modo geral, à preservação de uma suposta unidade nacional, representada por conceitos abstratos como identidade nacional, caráter nacional, cultura nacional, etc. Como duas faces da mesma moeda, a seleção e a assimilação de imigrantes caminham, frequentemente, juntas nos discursos que tratam da imigração nesse período, ainda como reflexo das discussões sobre esse tema nas décadas iniciais do século XX.

Outro aspecto frequente nos debates a respeito da imigração no Brasil está na associação, quase direta, da presença do imigrante a um maior desenvolvimento econômico e cultural da nação. Assim, o imigrante é

concebido também como um elemento de melhoramento das condições materiais e simbólicas da nação brasileira, cujas orientações para o pleno desenvolvimento são discutidas pela chamada “elite nacional”.

Assim, uma série de políticos, militares e intelectuais se envolve nos debates a respeito de reformas ou de manutenção da política imigratória brasileira, cada qual contribuindo com seu ponto de vista e seu conhecimento. Dentre essas pessoas, Geraldo de Menezes Côrtes procura dar sua contribuição ao debate por meio do texto intitulado “A Imigração”, publicado na Revista de Imigração e Colonização em 1947. Esse texto se insere, por suas propostas, no campo da imigração controlada, caracterizada pela seleção criteriosa e rígida de grupos imigratórios para o Brasil.

O texto de Menezes Côrtes está organizado e subdividido em quatro seções: 1) “Como encarar a imigração atualmente” (que contém ainda mais cinco subdivisões: a) Suas causas; b) O quadro atual nos países de imigração; c) Situação das migrações internas, como aproveitar suas tendências e possibilidades; d) Diversas condições internas existentes e a considerar; e) Conclusões para a politica imigratória a adotar); 2) “Necessidades a que a estrutura administrativa para a imigração deve atender”; 3) “Bases dos planejamentos que devem ser montados”; e 4) “Projeto de lei” (Côrtes, 1947: 5).

Além das propostas apresentadas por Côrtes para a seleção e a assimilação do imigrante no Brasil, veremos também como seu projeto para o processo imigratório brasileiro envolve uma vontade totalizante. Em outras palavras, seu discurso se caracteriza por um /querer-fazer-dever-fazer/ que pretende englobar todas as etapas da imigração, nos menores detalhes possíveis. Uma das consequências dessa tentativa de totalização está presente na ideia de criação de um órgão central (chamado de Departamento Nacional de Imigração e Assimilação) que coordenaria todas as ações da imigração no Brasil, sendo subordinado apenas e diretamente à Presidência da República.

Por meio do que chamamos de “vontade totalizante” de suas propostas, podemos perceber a importância dada por Côrtes ao processo imigratório no Brasil. Ele considera a imigração um processo fundamental para o desenvolvimento econômico nacional e para a melhoria cultural (e,

implicitamente, racial) da sociedade brasileira. Por isso, quanto mais centralizada e detalhada for a proposta do processo imigratório, maiores são as chances de sucesso e de benefícios para o país, pois seriam menores as possibilidades de falhas.

Essa organização totalizadora e centralizadora se baseia, do ponto de vista do enunciador, na defesa dos valores nacionais (unitários e homogêneos, segundo seu discurso) e em uma melhoria da sociedade brasileira. Por ser um discurso que deseja controlar todas as possibilidades do processo imigratório, prevendo-as para evitar falhas, as propostas de Geraldo de Menezes Côrtes estabelecem um recorte para definir qual o melhor tipo de imigrante para o país. Veremos como algumas características valorizadas nos imigrantes selecionados promovem, consequentemente, a exclusão de todo um contingente de possíveis imigrantes, revelando, assim, uma postura preconceituosa, mesmo que difusa em seu texto. O texto de Geraldo de Menezes Côrtes pode ser caracterizado, assim, como um conjunto de propostas para um novo processo imigratório em discussão no Brasil.

Iniciaremos a análise por um tópico frequente nos discursos sobre a imigração no Brasil: tal como planejada e executada em seu tempo, o processo imigratório apresenta uma série de problemas. Tendo problemas, esse processo necessita de uma revisão de seus conceitos e de suas práticas para ter seus problemas resolvidos mediante novas propostas. São justamente os antigos problemas e as novas propostas de Côrtes que serão analisados a seguir.

Os problemas nacionais e a imigração como solução

O discurso de Côrtes procura indicar problemas e insuficiências no modo como o processo imigratório está sendo conduzido em seu tempo. Ao mesmo tempo, ele aponta para problemas próprios ao Brasil, cuja solução passa também pela entrada e instalação dos imigrantes. Consequentemente, como já dissemos, os problemas detectados pelo enunciador são o ponto de partida para a apresentação de suas propostas para a política imigratória.

Além do mais, logo no início do texto, fica explicitada uma das motivações do enunciador para apresentar suas propostas. O fato de ele ser

nomeado membro do Conselho de Imigração e Colonização, pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra, expõe, em alguma medida, sua motivação e sua autoridade para tratar do assunto “imigração”, reforçadas ainda pelo conhecimento autodeclarado sobre o tema:

Este trabalho visa sintetizar as ideias que tenho a respeito do problema e das bases para sua solução, sendo um modesto subsídio, à disposição do Governo, o qual se vê vivamente empenhado em solucioná-lo, quer reestruturando a administração correspondente quer traçando a política imigratória a adotar (Côrtes, 1947: 5).

Dessa forma, o texto de Geraldo de Menezes Côrtes se configura como uma organização programática para a política imigratória brasileira, com reformas e revisões de princípios em um momento de renovação política do Brasil que acaba de sair de uma ditadura (de Getúlio Vargas) e da Segunda Guerra Mundial.

O texto parte do princípio de que há problemas no processo imigratório nacional, assim como problemas nacionais que podem ser resolvidos pela presença do imigrante. Se há problemas na política imigratória, em parte por culpa dos governos anteriores (mesmo que ele não mencione isso claramente), o texto procura sugerir soluções a esses problemas, tanto em seus aspectos administrativos e burocráticos como em relação à infraestrutura que pode ser instalada para um melhor acolhimento do imigrante no país em vista de sua assimilação. O enunciador crê, assim, que pode apresentar as propostas a serem adotadas pelo governo brasileiro para trazer os melhores imigrantes para o país. Por essa razão, seu texto se configura, em sua totalidade, como uma manipulação cujos destinatários são o governo brasileiro e os leitores da revista.

Um primeiro problema do país, apontado pelo texto, é o dos grandes espaços demográficos vazios. Em outras palavras, o Brasil apresenta um déficit populacional em determinadas regiões. Pela proposta de Côrtes, o imigrante pode ser utilizado para preenchê-los. Ocupar os espaços vazios significa, assim, encaminhar imigrantes para cultivar as terras, que estão sendo esvaziadas pelas migrações internas em direção às grandes cidades:

No presente momento um dos aspectos que mais preocupa a administração pública e os estudiosos do assunto e que condicionará, por certo, a política imigratória é o fraco índice demográfico das zonas rurais num contraste flagrante com o crescimento das populações urbanas. Situação que aconselha olhar com o maior interesse para a imigração que proporcione possibilidades de colonização agrícola (Côrtes, 1947: 7).

Respaldado, assim, pela conformidade de preocupações dele, da “administração pública” e dos “estudiosos”, o enunciador encontra uma justificativa para tentar resolver o que ele considera um dos mais urgentes problemas brasileiros a ser resolvido: o fraco índice demográfico em certas regiões do Brasil. A falta de material humano para o trabalho agrícola é uma das consequências desse problema. Por isso, se há uma falta no programa narrativo brasileiro, o imigrante pode se tornar o sujeito competente para eliminá-la:

Eis aí o problema mais urgente, embora não seja o mais importante, porque fortuito, que está preocupando o Governo e a exigir um plano montado para chegar-se às soluções práticas e interessantes que focalizaremos mais adiante ao tratarmos do caso geral (Côrtes, 1947: 7).

Além desse primeiro problema (espaços vazios no interior do país), o texto de Côrtes mostra outro para o qual o imigrante pode ser uma solução viável. A do desenvolvimento econômico nacional que, naquele momento, não apresenta a velocidade de desenvolvimento almejada pelo enunciador:

Quer em relação ao elemento nacional, quer em relação ao estrangeiro, trata- se de aproveitar esse desejo humano e natural de ‘ser mais feliz’ para, com inteligência, concorrer no sentido de acelerar nosso desenvolvimento econômico (Côrtes, 1947: 5-6).

Como se pode observar no trecho acima, o programa narrativo de base do discurso de Cortez é o do “desenvolvimento econômico”. E nesse programa narrativo, o imigrante e o migrante nacional108 são os sujeitos responsáveis por produzir esse aumento do desenvolvimento econômico nacional. A preocupação do enunciador com os espaços vazios foca a retomada do desenvolvimento econômico agrícola. Mas seu projeto não se resume a isso. Ele engloba, como veremos adiante, igualmente o imigrante para o trabalho na

108 Veremos, adiante, o paralelismo existente entre o migrante nacional e o imigrante no discurso de

indústria. Sendo o imigrante, então, um sujeito que vai reparar uma falta existente no programa narrativo brasileiro, é necessário antes selecionar esse sujeito para que sua ação seja bem feita e não apresente problemas.

Veremos, abaixo, como são construídos os princípios para a seleção de imigrantes no discurso de Menezes Côrtes, decorrentes dos valores defendidos pelo enunciador.

Como selecionar o imigrante: a triagem e suas consequências

Toda discussão acerca da política imigratória envolve algum tipo de seleção porque sempre se pretende o melhor para o país que acolhe os imigrantes. A diferença entre os discursos envolvidos nessa discussão está nos valores utilizados para desenvolver os critérios para a seleção de imigrantes.

No nível narrativo do discurso de Côrtes, dois programas de uso existem para propiciar uma plena realização do programa narrativo de base que identificamos como sendo o do desenvolvimento econômico do Brasil. O primeiro programa de uso é o da triagem, que pode ser dividido em duas operações distintas de exclusão. O segundo programa é o da mistura, que é convertida no tema da assimilação dos imigrantes para que se melhore a própria sociedade brasileira, foco da próxima seção desta análise.

Esta seção será dedicada a observar como a proposta de seleção é organizada em três etapas no discurso de Menezes Côrtes. Adiantamos que há uma triagem átona que é responsável pela separação dos imigrantes em dois grupos distintos. Em seguida, uma triagem tônica que implica a exclusão de um grupo em proveito de outro. Há, por fim, uma última triagem, novamente átona, que é projetada sobre uma das partes geradas pela triagem tônica, que separa indivíduos de um mesmo grupo social ou de uma mesma origem nacional, produzindo duas categorias distintas: os imigrantes aptos a entrar no país e os imigrante inapropriados para o Brasil. As três triagens têm em comum realçar as características negativas dos imigrantes que não podem ser aceitos no país e as melhores qualidades do imigrante que deve entrar no país.

Em suas propostas para o processo imigratório brasileiro, Côrtes considera inicialmente dois tipos de motivações relacionadas às “correntes migratórias”: a “material” e a “sentimental”. A primeira se caracteriza por

envolver “a corrida ao melhor salário, às melhores condições de vida onde se possam encontrar fatores atrativos como os de bom clima, salubridade, alimentação fácil, habitação etc.”, enquanto a segunda é marcada pelas “consequências de conflitos sociais, quer de ordem religiosa, quer de ordem política” (Cortez, 1947: 5).

No texto, a motivação “material” é mais importante do que a “sentimental” porque aquela sempre existiu e sempre existirá em qualquer processo imigratório, uma vez que o desejo de uma vida melhor, que impulsiona uma pessoa a buscar sua realização, mesmo em outro país, é um traço inerente ao ser humano, segundo Côrtes. Já a motivação “sentimental” decorre, segundo o texto, de situações mais raras, como as grandes revoluções e os conflitos, que criam um ambiente insuportável que leva uma pessoa a sair de seu país de origem.

Para o enunciador, uma correta política imigratória brasileira deve se preocupar, principalmente, com os elementos do primeiro tipo. Em certa medida, o enunciador começa a delinear seus próprios valores, uma vez que ele instaura uma visão mais pragmática109 do que humanista em suas considerações sobre a imigração. Ele coloca em segundo plano o interesse por possíveis imigrantes que fogem de seu país de origem por conta dos horrores causados pela guerra ou por causa das perseguições decorrentes de revoluções. Podemos dizer que, para o enunciador, o imigrante a ser privilegiado é aquele com condições plenas para trabalhar no país, característica não completamente garantida nos imigrantes que saem de seu país por causa das perseguições.

Dessa forma, o enunciador vislumbra a possibilidade de atrair imigrantes com vontade de “vencer na vida”, ou seja, de conquistar uma vida melhor por meio do trabalho. Essa vontade é a qualidade necessária para ser um bom trabalhador, esforçado, disciplinado e focado em seus objetivos. Em outras palavras, o país necessita de imigrantes dotados da modalidade do /querer- fazer/. Consequentemente, possuir uma quantidade considerável de trabalhadores com essa característica pode conduzir o país a um aceleramento da economia, como deseja o enunciador.

109 Veremos abaixo como o enunciador constrói a imagem definitiva do imigrante desejável para o Brasil,

Essa questão do movimento humano motivado pelo desejo de encontrar melhores condições de vida em outro lugar se aplica, no texto, tanto aos estrangeiros como aos brasileiros que residem em regiões precárias (como vimos no trecho citado na seção anterior, referente à aceleração do desenvolvimento econômico nacional). Esse desejo de uma vida melhor, presente em qualquer ser humano, deve ser explorado pela política imigratória brasileira para daí poder usar essa característica em proveito do país.

Essa primeira triagem sobre o imigrante, enquanto uma totalidade dotada de sentido, separa o imigrante mais desejável (dotado de “força de vontade para o trabalho”) do menos desejável (o que vem para o Brasil por causa das condições precárias do seu país, devastado por uma guerra ou por uma revolução). O discurso mostra que esse último tipo de imigrante pode ser aceito, mas não deve ser prioridade para a política imigratória, pois fica implícita a ideia de que a vontade de trabalhar não pode ser garantida como no primeiro tipo de imigrante.

A segunda forma de triagem promovida pelo discurso de Geraldo de Menezes Côrtes ocorre entre imigrantes europeus, de um lado, e imigrantes asiáticos, do outro. A triagem, que realiza a separação em dois grupos distintos, faz com que o grupo asiático seja excluído das discussões a respeito da imigração no Brasil. Produz-se, por meio da triagem tônica, uma separação categórica do universo semântico “imigrantes”, tomados, até então, como uma totalidade dotada de sentido. No trecho abaixo, podemos observar a justificativa para essa exclusão:

Trataremos somente dos Países Europeus visto que os Asiáticos, por condições raciais inassimiláveis, não devem entrar em nossas cogitações de aproveitamento (Côrtes, 1947: 6).

Em uma perspectiva semiótica, vemos, no fragmento acima, que a triagem tônica produz a exclusão dos imigrantes de origem asiática. Ocorre aqui uma sanção negativa sobre o /ser/ dos possíveis imigrantes que têm essa origem. A justificativa para essa sanção é a de que os imigrantes asiáticos não têm condições de cumprir um contrato baseado na “raça”, ou seja, eles não conseguem se integrar completamente à sociedade brasileira, pois a diferença racial da qual eles são portadores os impede de serem assimilados, segundo o

texto. Por isso, fica implícita a ideia de que a sociedade brasileira110 é ou deve ser constituída por indivíduos brancos em um momento histórico em que a imigração japonesa já é mais do que uma realidade no país. Os imigrantes de origem asiática são excluídos, assim, logo no começo do percurso narrativo de uso no discurso de Côrtes.

A negação que incide sobre os imigrantes de origem asiática, no trecho acima (“não devem entrar em nossas cogitações de aproveitamento”), merece ainda alguns comentários. Zilberberg, em trabalho recentemente publicado sobre a “Condição da negação” (2010: 02), constrói, a partir das noções de subcontrário e sobrecontrário, um quadro paradigmático com as diferentes intensidades das formas de afirmação e negação111:

Sobrecontrário tônico Subcontrário átono

Afirmação Totalmente de acordo Sim

Negação De jeito nenhum Não

A presença da modalidade deôntica no trecho assim nos leva a pensar que não se trata apenas de uma simples negação (átona), mas sim de uma forma tônica de negação (“de jeito nenhum”) por envolver a impossibilidade (/não-poder-ser/) de se contar com os imigrantes asiáticos como parte do processo imigratório no Brasil. Essa negação categórica sobre os imigrantes asiáticos é a segunda operação para a construção da figura do imigrante ideal para o país.

O texto passa a tratar somente dos imigrantes de origem europeia. Pela sua concepção, os países devastados pela guerra na Europa podem fornecer bons imigrantes para o país. Mas para isso acontecer, é preciso ainda realizar

110 Essa é a única passagem do texto que menciona os asiáticos. Por isso, não é possível afirmar ainda que

a concepção da sociedade brasileira construída por Côrtes é exatamente a que dissemos, uma vez que seu texto também não trata explicitamente da constituição racial da sociedade nacional.

111 Transcrevemos, abaixo, o quadro original:

Sur-contraire tonique Sous-contraire atone

Affirmation Tout à fait Oui

outra triagem para separar os bons trabalhadores dos indivíduos inapropriados para o Brasil.

Devido às situações políticas nos Estados que se viram arrastados na convulsão da Guerra, particularmente os que sofreram e sofrem a interferência direta da Rússia Soviética, depois do domínio alemão, há grande parte de população deslocada dos Estados natais e aos cuidados das autoridades norte-americanas e inglesas de ocupação, reunidos em campos de concentração ou de trabalho, onde o índice cultural e o valor econômico maior