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Fluxograma 2 – Processo de Validação do Projeto de REDD+ da RDS do Juma

5.5 CERTIFICAÇÃO

Conforme já anotado, os projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, após um processo de certificação, podem gerar créditos de carbono, conhecidos como Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), que são transacionáveis no mercado de carbono criado pelo Protocolo de Quioto.

No entanto, de acordo com o atual estágio de negociações internacionais, REDD+ não integra esse mercado oficial de carbono, mas apenas um mercado voluntário. No mercado voluntário, os créditos de carbono são conhecidos como Reduções Verificadas de Emissões (RVEs) (VALLE; YAMADA, 2010).

Assim, o Projeto de REDD+ da RDS do Juma pode gerar e transacionar RVEs, e não RCEs.

No mercado oficial de carbono, há um rito de certificação de créditos de carbono determinado e supervisionado pela Conferência das Partes. Já, nos mercados voluntários, os parâmetros para a geração de créditos de carbono são formulados pelo próprio mercado, o que levanta desconfiança sobre a qualidade desses créditos (SIMONI apud SOUZA et al., 2011).

Para conferir, então, maior credibilidade aos créditos de carbono comercializados pelos mercados voluntários, foram criados padrões internacionais de creditação, com a

finalidade de certificar que os créditos de carbono trouxeram benefícios climáticos a ambientais para a biodiversidade e para as comunidades locais (DUPRAT, 2011).

Esses padrões internacionais estabelecem diretrizes e critérios para serem seguidos pelos projetos de REDD+, resultando em maior solidez aos seus resultados e agregando maior valor aos respectivos créditos de carbono gerados (SOUZA et al., 2011). A certificação, portanto, confere vantagens tanto para aqueles que vendem quanto para aqueles que compram créditos no mercado voluntário.

Os três principais padrões internacionais para certificar esses créditos de carbono, atualmente, são: Voluntary Carbon Standards (VCS), Climate Action Registry (CAR) e

Chicago Climate Exchange (Bolsa do Clima de Chicago – CCX) (SOUZA et al., 2011).

O Projeto de REDD+ da RDS do Juma está sendo submetido ao padrão internacional VCS (FAS, 2010).

Cada padrão internacional tem seus próprios critérios e procedimentos. Para a certificação pelo padrão VCS, o projeto deve passar pelas seguintes fases:

a) Validação e Verificação; b) Registro do Projeto; c) Revisão do Projeto;

d) Emissão inicial de Unidades de Carbono Verificadas86 (VCU);

e) Emissão Periódica de VCU; e f) Manutenção do Projeto (VCS, [20--]).

O VCS admite também que sejam submetidas a ele sugestões de metodologias para verificação de redução de emissões (VCS, [20--]). Nesse sentido, em 2010, a FAS e alguns parceiros, tendo por base o Projeto de REDD+ da RDS do Juma, propuseram ao VCS uma metodologia para quantificar RVEs de projetos de REDD+ (FAS, 2010).

Em julho de 2011, essa metodologia foi aprovada87, o que significa que passará a integrar as metodologias utilizadas pelo padrão VCS para a verificação de créditos de carbono. Assim, o Projeto de REDD+ da RDS do Juma fica mais próximo de obter a certificação VCS. Mas, para isso, o projeto ainda tem que passar por algumas etapas, pois ainda na fase de Validação e Verificação (FAS, 2010).

Com a obtenção da certificação VCS, o projeto de REDD+ consegue gerar créditos de carbono (RVE) e pode comercializá-los no mercado voluntário.

86 Verified Carbon Units. A VCU é o nome que o padrão VCS deu à Redução Verificada de Emissão (RVE). 87 Informação disponível em: <http://www.idesam.org.br/noticias/ultimas_noticias/2011/Nova%20metodologia

No caso do Projeto de REDD+ da RDS do Juma, conforme indica o Documento de Concepção do projeto (FAS, 2009a, p. 72-73), os créditos de carbono correspondentes a sua fase inicial serão adquiridos pela Marriott, após negociação do preço base da tonelada de CO2, com valor mínimo de um dólar americano para cada tonelada de CO2.

Além da certificação para a geração de créditos de carbono, existem também outras certificações, como a validação do CCB, que avalia, de forma integrada, os benefícios do projeto de REDD+ para o clima, para as comunidades locais e para a conservação da biodiversidade.

Conforme já anotado, a obtenção de certificação de padrão CCB era condição para a efetividade do contrato de financiamento entre Governo do Amazonas, FAS e Marriott, e esta última apenas começaria a repassar o financiamento quando obtida a referida certificação.

Cumprindo sua obrigação contratual, em julho de 2008, a FAS submeteu o Documento de Concepção do Projeto de REDD+ da RDS do Juma para sua certificação no padrão CCB, avaliado pela TÜV SÜD, certificadora independente alemã.

O processo de desenho do Projeto de REDD+ da RDS do Juma para a certificação CCB está demonstrado no Fluxograma 2.

Fluxograma 2 – Processo de Desenho do Projeto de REDD+ da RDS do Juma para Certificação CCB

Pelo processo indicado no fluxograma, nota-se que, durante o desenho do Projeto de REDD+ da RDS do Juma, houve a realização de consulta pública.

A realização de consulta pública é uma exigência para certificação CCB, que requer que os stakeholders88 sejam envolvidos no desenho do projeto, para definirem, entre

outras coisas, os objetivos do projeto e o processo de diálogo entre as comunidades locais e os proponentes do projeto (OLANDER; EBELING, 2011).

Em 30 de setembro, poucos meses após sua submissão, o Projeto de REDD+ da RDS do Juma recebeu a certificação CCB, sendo o primeiro projeto de REDD+ do mundo a alcançar o nível máximo (padrão de qualidade ouro). Isso significa que, para os certificadores da CCB, o projeto oferece benefícios climáticos, sociais (para a comunidade local) e ambientais (notadamente, quanto à biodiversidade).

Portanto, mesmo que essa certificação não permita a geração de créditos de carbono, ela agrega bastante valor ao projeto e o torna mais atrativo para os financiadores. Ademais, grande parte dos créditos de carbono comercializada no mercado voluntário provém de projetos que possuem certificação CCB, o que sugere que a certificação CCB é um significativo passo rumo à certificação para geração de créditos de carbono (OLANDER; EBELING, 2011).

Conforme se observou no presente capítulo, o Projeto de REDD+ da RDS do Juma é uma iniciativa brasileira de REDD+ bastante avançada que envolve populações tradicionais. Esses grupos, conforme já anotado, possuem muitos direitos coletivos, que devem ser respeitados, a fim de lhes preservar a reprodução enquanto grupos culturalmente diferenciados. Nesse sentido, é importante questionar o que REDD+ deve fazer para atender a tais direitos, análise essa que partirá da experiência do Projeto de REDD+ da RDS do Juma.

88 Os stakeholders são os atores sociais envolvidos em um evento, no caso, o evento é o Projeto de REDD+ da RDS do Juma.

6 PROJETO DE REDD+ DA RDS DO JUMA E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS

Assim como em qualquer outro processo que envolva populações tradicionais, as ações de REDD+ também devem se preocupar em respeitar os direitos coletivos desses grupos em todas as suas etapas, desde a sua concepção, até a comercialização dos respectivos créditos de carbono.

Dentre esses direitos coletivos, destacam-se aqueles mencionados no segundo capítulo: o direito a terra, o direito ao uso dos recursos naturais, o direito ao consentimento prévio e informado e o direito à repartição justa e equitativa dos benefícios.

O respeito a tais direitos é fundamental para buscar a diminuição dos riscos socioambientais de REDD+ indicados pela literatura – os quais foram abordados no terceiro capítulo.

No entanto, o que, exatamente, deve ser observado pelas ações de REDD+ para que se considere atendidos os mencionados direitos das populações tradicionais? O enfrentamento dessa questão no presente capítulo partirá da experiência do Projeto de REDD+ da RDS do Juma.