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Fluxograma 2 – Processo de Validação do Projeto de REDD+ da RDS do Juma

6.1 DIREITO A TERRA

O primeiro direito das populações tradicionais a ser analisado é o direito a terra. Conforme já apontado neste trabalho, existe a preocupação de que REDD+ afete os direitos desses grupos sobre suas terras. Por outro lado, sustenta-se também que REDD+, por ser um mecanismo de PSA, pode fortalecer os direitos territoriais das comunidades locais.

Viu-se que, para concretização do direito a terra, devem ser reconhecidos às populações tradicionais os direitos de propriedade e de posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam.

No Projeto de REDD+ da RDS do Juma, propõe-se o estabelecimento de unidade de conservação de uso sustentável em área sujeita a grande pressão pelo desmatamento (FAS, 2009a, p. 8). Nesse sentido, pode-se pensar que o ato de criação da RDS do Juma seja

suficiente para que o projeto resguarde os direitos territoriais das comunidades locais. Esse pensamento, no entanto, não procede.

Conforme comentado, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma unidade de conservação de domínio público, isto é, de propriedade estatal. No caso da RDS do Juma, a propriedade é do Estado do Amazonas. Às populações tradicionais residentes é reconhecida apenas a posse. Assim, ainda que seja instituída a unidade de conservação, para a consolidação do direito a terra desses grupos, é necessário, também, regularizar as posses desses grupos tradicionais, materializada pela emissão de CDRU, por parte do órgão fundiário.

Por meio da regularização fundiária, as posses das populações tradicionais são legitimadas juridicamente, aumentando, assim, a segurança jurídica sobre elas. Portanto, para atender ao direito a terra das populações tradicionais, o Projeto de REDD+ da RDS do Juma deve ir além da criação da unidade de conservação, devendo priorizar também a regularização das posses dos grupos envolvidos. Apesar de a regularização ser de competência do órgão fundiário, o projeto deve se preocupar em estabelecer parcerias de apoio para acelerar o seu processo.

O Projeto de REDD+ da RDS do Juma prevê a realização de grandes investimentos em ações do órgão fundiário estatal, o ITEAM (FAS, 2009a, p.41-42). Apesar disso, até novembro de 2011, não haviam sido emitidas CDRUs para as populações tradicionais envolvidas no projeto89.

A ausência de regularização fundiária ameaça o surgimento de conflitos fundiários na região (GRIFFITHS, 2007). No caso da RDS do Juma, por enquanto, ainda não existem conflitos fundiários significativos90, mas, por se tratar de uma área sujeita à forte pressão do desmatamento, há uma grande possibilidade desses conflitos se intensificarem na região do projeto, à medida que a fronteira da expansão econômica se aproximar. Nesse sentido, a prévia regularização das posses das comunidades locais pode inibir esse prognóstico.

A falta de regularização fundiária dificulta, ainda, a clara identificação daqueles que devem ser recompensados nas ações de REDD+ (GEBARA, [20--]). Com isso, aumenta- se o risco de migração indevida de terceiros para a área do projeto, atraídos pela possibilidade de obter os benefícios de REDD+, o que também acarretaria conflitos fundiários na unidade

89 Informação fornecida por assessor técnico do ITEAM, proferida no “VI Encontro de Lideranças Representantes de Associações das Unidades de Conservação”, realizado em Manaus (AM), entre os dias 13/11/2011 e 17/11/2011.

de conservação. O Projeto de REDD+ da RDS do Juma busca inibir essa migração, ao exigir, no mínimo, dois anos de moradia na unidade de conservação para se tornar beneficiário do Programa Bolsa Floresta91. Essa exigência é importante, mas a forma mais segura de garantir os direitos às populações tradicionais sobre as suas terras é através da regularização fundiária.

Destaque-se que a regularização da posse, para atender de forma completa a noção do direito a terra, deve contemplar tanto as áreas de apossamentos individuais como as áreas de apossamentos coletivos das populações tradicionais. Assim, conforme o caso, devem ser emitidas CDRUs individuais e coletivas.

Outra questão sobre o direito a terra em REDD+ refere-se ao direito das populações tradicionais que se encontram no entorno da área do projeto.

Comentou-se, anteriormente, que a Convenção n. 169, da OIT (art. 14, item 1) prevê o direito de acesso, por povos indígenas e tribais, às terras que tradicionalmente utilizam, mesmo que não as ocupem exclusivamente.

A observância, por parte dos projetos de REDD+, do direito de acesso a terra é muito importante, pois as populações tradicionais desenvolvem relações especiais com as terras que ocupam e utilizam tradicionalmente, possuindo estas grande valor espiritual e cultural na vida desses grupos.

Na RDS do Juma, existem diversas comunidades situadas no entorno da unidade de conservação que tradicionalmente utilizam as terras do interior da unidade de conservação, as quais fazem parte do projeto de REDD+. No caso do Projeto de REDD+ da RDS do Juma, não houve o impedimento das comunidades usuárias de continuarem acessando as terras do interior da unidade de conservação. Ao contrário, essas comunidades usuárias foram acolhidas pelo Programa Bolsa Floresta, tornando-se beneficiárias do mesmo.

Assim como no Projeto de REDD+ da RDS do Juma, as demais ações de REDD+ não devem impedir o acesso para a área do projeto das comunidades tradicionais situadas em seu entorno e que tradicionalmente utilizam as áreas em seu interior. Ao procederem dessa forma, as iniciativas de REDD+ estarão contribuindo para salvaguardar o direito a terra das populações tradicionais.

Assim, analisado o Projeto de REDD+ da RDS do Juma, percebe-se que, para assegurar o direito a terra, é fundamental que as ações de REDD+, ao envolverem populações tradicionais, priorizem a regularização fundiária de suas posses, com a adoção de medidas concretas para acelerar esse processo junto ao órgão fundiário. Essa regularização deve

91 Conforme anotado anteriormente, a exigência de moradia mínima de dois anos na unidade de conservação é exigência do Decreto Estadual n. 26.958/2007 (art. 2º, I), que instituiu o Programa Bolsa Floresta.

procurar atender tanto as formas de apossamento individuais quanto as coletivas. Subsidiariamente, é importante tomar medidas para evitar a migração indevida para a área do projeto, por exemplo, exigindo período mínimo de moradia na área do projeto. Por fim, outro ponto essencial no atendimento ao direito a terra é que as ações de REDD+ não impeçam o acesso das comunidades tradicionais do entorno à área do projeto.