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Fluxograma 2 – Processo de Validação do Projeto de REDD+ da RDS do Juma

3.1 CONTEXTO HISTÓRICO DE REDD+

Conforme explicado no capítulo introdutório, a Conferência das Partes optou por não incluir, no ordenamento jurídico internacional sobre mudança do clima, qualquer mecanismo que envolvesse a diminuição do desmatamento e da degradação florestal, a despeito do amplo consenso científico de que as emissões decorrentes de tais atividades representam parcela significativa das emissões globais de GEE e de que a conservação das florestas contribui bastante para a mitigação das mudanças climáticas.

Nesse sentido, começou-se a defender a necessidade de adoção de um mecanismo que contemplasse essa espécie de emissões, isto é, que envolvesse a conservação de florestas (PINTO et al., 2010).

Uma das primeiras sugestões nesse sentido foi proposta pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e parceiros, durante a nona Conferência das Partes (COP-9), realizada em 2003, em Milão, na Itália, e recebeu o nome de Redução Compensada (SCHLAMADINGER et al., 2005).

A Redução Compensada propunha que os países em desenvolvimento que promovessem a redução de suas taxas nacionais de desmatamento deveriam receber autorização para emitir certificados de carbono, semelhantes aos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, para vendê-los a outros governos e investidores particulares (SANTILLI et al., [200-]; MOUTINHO et al., 2005).

Essa proposta foi bem recebida, porém, até então, o debate sobre o tema era feito de forma não oficial pelos participantes da Conferência das Partes. A inclusão de discussões a respeito das emissões decorrentes do desmatamento tropical e mudanças no uso do solo apenas foi aceita, oficialmente, no âmbito da Convenção do Clima, em 2005, durante a COP- 11, realizada em Montreal, Canadá (PINTO et al., 2010).

Nesse mesmo ano, foi apresentada a primeira proposta oficial para inclusão de mecanismo envolvendo desmatamento. Tratou-se da proposta conjunta de Papua Nova Guiné e Costa Rica, sob patrocínio de um conjunto de países denominado Coalizão dos Países de

Florestas Tropicais35, que seguiu uma linha de argumento semelhante à proposta de Redução Compensada. Segundo a proposta oficial, o desmatamento evitado, promovido pelos países detentores de florestas tropicais, proporcionava benefícios climáticos globais e, portanto, deveria gerar créditos de carbono negociáveis em âmbito internacional (GRAU NETO, 2007). No ano seguinte, durante a COP-12, em Nairóbi, Quênia, os demais países foram convidados a apresentar posicionamentos ou propostas sobre a matéria. O Brasil, então, apresentou uma proposta em fevereiro de 2007. Para o governo brasileiro, os países em desenvolvimento que voluntariamente reduzissem suas taxas de desmatamento, abaixo de determinado nível e por certo tempo, deveriam ser recompensados, a posteriori, com recursos advindos de um fundo internacional, subsidiado por contribuições voluntárias de países desenvolvidos, sem geração de créditos de carbono (GRAU NETO, 2007; LAMY; MERTENS; MOUTINHO, [200-]).

Assim, a proposta realizada pela Papua Nova Guiné e aquela feita pelo Brasil diferem justamente nos benefícios que proporcionam aos países desenvolvidos, pois, na primeira proposta, os países desenvolvidos recebem certificados de redução em troca do auxílio aos países em desenvolvimento, ao passo que na proposta brasileira, os países desenvolvidos apenas financiam voluntariamente, através de um fundo internacional, sem auferir créditos de carbono (FURLAN, 2008).

Apesar das diferenças entre si, ambas as propostas buscam encorajar a adoção de políticas nacionais de conservação da floresta nos países em desenvolvimento, reduzindo o desmatamento em seus territórios, contribuindo, ao mesmo tempo, para a maior participação dos países em desenvolvimento na questão climática, e no combate ao desmatamento (SANTILLI et al., 2003).

Em 2007, durante a COP-13, em Bali, Indonésia, o debate acerca das florestas avançou bastante, tendo sido reconhecida, oficialmente, pela primeira vez, a contribuição das florestas para o equilíbrio climático. Nesse sentido, o documento final elaborado na COP-13, o Plano de Ação de Bali, orientou que, em um prazo de dois anos, deveria ser discutida a criação de mecanismo de combate às emissões associadas ao desmatamento e degradação florestal, para entrar em vigor no período pós-2012, isto é, após o primeiro período de compromisso estabelecido pelo Protocolo de Quioto. Foi também na COP-13 que surgiu a

35 A Coalizão dos Países de Florestas Tropicais é formada pela Bolívia, República Centro-Africana, Chile, Congo, República Democrática do Congo, República Dominicana e Nicarágua (CENAMO et al., 2010, p. 12).

sigla REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), para designar o mecanismo em discussão (CENAMO et al., 2010; PINTO et al., 2010).

Nos dois anos em que se discutiu sobre REDD, o mecanismo foi aperfeiçoado, passando a considerar elegíveis outras atividades relacionadas às florestas, tornando-se, assim, REDD+ (ou REDD plus)36 (PINTO et al., 2010).

Então, dois anos após o Plano de Ação de Bali, em 2009, esperava-se que a COP- 15, realizada em Copenhagen, Dinamarca, definisse diversos temas polêmicos sobre REDD+ levantados durante as discussões nos anos anteriores. Esperava-se também, que fosse aprovado, na COP-15, o tratado que substituiria o Protocolo de Quioto após 2012 (CENAMO

et al., 2010).

No entanto, as discussões para aprovação do tratado subsequente impediram que se avançassem nas discussões referentes a REDD+. Ao final da COP-15, frustrando-se as expectativas, não se conseguiu nem aprovar o tratado subsequente, nem decidir sobre as questões controversas de REDD+ (CENAMO et al., 2010; MOTTA; HARGRAVE; LUEDEMANN, 2011).

Porém, pode-se afirmar que o Acordo de Copenhagen, aprovado como resolução da COP-15, apesar de politicamente frágil, contribuiu para o aumento do reconhecimento de REDD+ como alternativa para a mitigação das mudanças climáticas (MOTTA; HARGRAVE; LUEDEMANN, 2011; PINTO et al., 2010). O item 6 de tal acordo (Decisão2/CP.15) diz o seguinte:

Nós reconhecemos o papel crucial do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e a necessidade de intensificar a remoção de gás carbônico por florestas e concordamos na necessidade de fornecer incentivos positivos a essas ações através do estabelecimento imediato de um mecanismo incluindo REDD-plus37, para possibilitar a mobilização de recursos financeiros oriundos de países desenvolvidos.

No item 8 do Acordo de Copenhagen há, também, o comprometimento dos países desenvolvidos em financiarem substancialmente as ações de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, dentre elas as ações de REDD+ em países em desenvolvimento. E, para intermediar esses financiamentos, foi estipulada a criação do Green Climate Fund (Fundo Verde para o Clima).

36 As diferenças entre REDD e REDD+ serão comentadas no tópico seguinte. 37 Sobre REDD-plus comentaremos adiante neste capítulo.

Por sua vez, na COP-16, realizada em 2010, em Cancun, México, houve um avanço em relação às diretrizes de REDD. Ademais, foi efetivada a criação do Fundo Verde para o Clima, (PINTO et al., 2010).

Finalmente, na COP-17, ocorrida em 2011, em Durban, África, as decisões resultantes do evento trataram sobre alguns aspectos metodológicos de REDD+, como os níveis de emissões de referência e sobre salvaguardas socioambientais. Na COP-17 também foi decidida a prorrogação do Protocolo de Quioto para o período pós-2012 e sobre as negociações para a elaboração de tratado posterior. Ademais, definiu-se que, nesse novo tratado, serão estabelecidas metas obrigatórias também para países em desenvolvimento 38.

Assim, apesar dos avanços das negociações internacionais até o momento, REDD+ ainda não foi adotado oficialmente por um tratado internacional como mecanismo que vincule os países. Porém, a expectativa é de que ele venha a ser incluído nos próximos anos.