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Fluxograma 2 – Processo de Validação do Projeto de REDD+ da RDS do Juma

5.4 CONTRATO DE FINANCIAMENTO

Falou-se no tópico anterior que uma das diferenças entre o Projeto de REDD+ da RDS do Juma é o financiamento do PBF e seus programas de apoio por um parceiro privado. Cabe avaliar, neste tópico, qual é o instrumento jurídico que materializa tal financiamento e se está de acordo com o que exige a legislação.

Segundo o Documento de Concepção do Projeto de REDD+ da RDS do Juma (FAS, 2009a, p. 58), a FAS é considerada titular dos créditos de carbono das unidades de conservação estaduais do Amazonas, como resultado da gestão dos serviços ambientais concedidos a ela pela Lei n, 3.135/2007 e pelo Decreto Estadual n. 27.600/200883. Assim, no Projeto de REDD+ da RDS do Juma, a FAS pretende desenvolver, um mercado de serviços e produtos ambientais, a partir da geração de créditos de carbono (FAS, 2009a).

No entanto, os créditos de carbono ainda não foram gerados no Projeto de REDD+ da RDS do Juma, de modo que a FAS deve fazer parcerias com investidores, para obter suporte financeiro para as atividades previstas no projeto (FAS, 2009a).

Nesse sentido, a FAS estabeleceu uma parceria com a Marriott International Inc. para realizar o financiamento inicial do Projeto de REDD+ da RDS do Juma (FAS, 2009a). Através do contrato assinado entre Governo do Amazonas, FAS e Marriott, a rede hoteleira se

82 Já existem outras unidades de conservação estaduais que estão sendo financiadas por instituições privadas, como a Samsung, que está financiando atividades na Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Negro (FAS, 2010).

comprometeu a disponibilizar ao Projeto de REDD+ da RDS do Juma R$ 500.000,00 anuais, totalizando a quantia de R$ 2.000.000,00, combinando receitas provindas de seus hóspedes84 e clientes corporativos, bem como de entidades parceiras com propósitos de colaboração para o projeto na RDS do Juma. Esses recursos, por sua vez, serão utilizados para custear os investimentos de todas as modalidades do PBF e de seus programas de apoio, no período de 2008 a 2011 (FAS, 2010).

O Fluxograma 1 ilustra a cadeia de geração de recursos para o Projeto de REDD+ da RDS do Juma.

Fluxograma 1 – Cadeia de geração de recursos

Fonte: FAS (2009a, p. 163).

84 Os hóspedes da Marriott são convidados a neutralizar suas emissões de carbono decorrentes da sua hospedagem, através da contribuição de US$ 1 por noite (DUPRAT, 2011).

Pelo Documento de Concepção do Projeto de REDD+ da RDS do Juma (FAS, 2009a), podem-se deduzir certos aspectos desse contrato de financiamento85.

As partes do contrato são o Governo do Estado do Amazonas, a FAS e a Marriott. A FAS considerada, atualmente, a titular dos produtos e serviços ambientais das unidades de conservação estaduais do Amazonas figura como uma das partes do contrato de financiamento. No entanto, como visto anteriormente, essa titularidade ainda está sendo discutida judicialmente. Nesse sentido, caso seja considerada a inconstitucionalidade da doação desses produtos e serviços ambientais, restaria afastada a legitimidade da FAS para a realização do contrato de financiamento em questão.

Assim, em razão dessa indefinição, para conferir maior segurança jurídica ao contrato de financiamento, o Governo do Estado do Amazonas também figurou como uma de suas partes.

Em relação às partes, cabe destacar, também, a ausência, nesse contrato, de qualquer parte representante direto das comunidades tradicionais envolvidas no Projeto de REDD+ da RDS do Juma.

Quanto ao objeto do contrato, conforme visto, ainda não foram gerados créditos de carbono, de modo que não se pode dizer que o contrato cuida da comercialização desses créditos.

Sobre o objeto do contrato, o Documento de Concepção (FAS 2009a, p. 72-73), dispõe o seguinte:

Baseado no contrato atual assinado pelo Governo de Amazonas, FAS e Marriott International (MI), MI irá comprar os créditos de RED gerados pelo projeto da RDS do Juma pelo preço mínimo de US$ 1 por tonelada de CO2. (...) O preço base para os créditos de carbono inicial será negociado, para garantir a sustentabilidade financeira que o projeto requer para alcançar seus objetivos ambientais e sociais.

Assim, segundo o documento acima, apesar de não haver uma contraprestação atual em créditos de carbono, há a previsão contratual de futura contraprestação em créditos de carbono, na hipótese de geração dos mesmos, ocasião em que a Marriott adquirirá os créditos de carbono gerados pelo Projeto de REDD+ da RDS do Juma. Ademais, quando gerados os créditos de carbono, será negociado o seu preço base, com a condição do preço mínimo ser de um dólar americano para cada tonelada de dióxido de carbono.

85 As considerações feitas sobre o contrato de financiamento da Marriott são feitas com base em informações de documentos elaborados sobre o Projeto de REDD+ da RDS do Juma, da literatura, da internet e de entrevistas. Não foi possível o acesso ao contrato, por haver nele cláusula de confidencialidade.

Nesse sentido, o contrato de financiamento acima delineado configura como exploração econômica de produtos e serviços ambientais de unidades de conservação. Em razão disso, conforme explicado anteriormente, para que a exploração esteja em conformidade com a Lei do SNUC e a Lei do SEUC, são exigidos:

a) autorização prévia do órgão executor, baseada em estudos de viabilidade econômica e investimentos;

b) previsão no Plano de Gestão;

c) oitiva prévia do Conselho Deliberativo da unidade de conservação; e d) pagamento do explorador.

Ademais, cabe ressaltar que, atualmente, uma estratégia bastante utilizada pela iniciativa privada é o uso de imagem de unidade de conservação. O uso de imagem de unidade de conservação vem sendo utilizado como uma poderosa ferramenta de marketing para agregar valor a uma marca ou a um produto, uma vez que vincula a marca/produto a noções como responsabilidade social e ambiental, consistindo, portanto, em uma boa opção econômica para o financiador (BAPTISTA; VALLE, 2004).

Nesse diapasão, pode-se aventar a possibilidade de ter sido incluída, adicionalmente, no contrato de financiamento, cláusula para uso de imagem da RDS do Juma. Caso tenha sido incluída, há de se destacar que as legislações federal e estadual do Amazonas a enquadram como uso de imagem com fins comercais e, portanto, exigem, para essa exploração, a prévia autorização do órgão gestor (CEUC) e o pagamento pelo explorador, cuja cobrança depende de regulamentação, que, no caso do Estado do Amazonas, ainda não existe.

Quanto às obrigações decorrentes do contrato de financiamento, a FAS, em seus relatórios de gestão (FAS, 2008, 2009a, 2010), mencionou algumas delas:

a) FAS - se comprometeu a observar a legislação brasileira, a investir os recursos obtidos integralmente nas atividades da RDS do Juma, bem como a prestar contas de forma transparente e a ser avaliada por uma empresa internacional de auditoria. Comprometeu-se, ainda, a contratar uma certificação independente, de acordo com os padrões internacionais conhecidos como CCB e a investir R$500.000,00 no processo de implantação da parceria (custeio da certificação e demais custos iniciais); b) Marriott - se comprometeu a aportar os valores informados anteriormente,

a divulgar entre seus hóspedes a oportunidade de carboneutralização de suas hospedagens e a reverter os respectivos recursos para as atividades executadas pela FAS; e

c) Governo do Amazonas - se comprometeu a implantar as ações de gestão da RDS do Juma, que são de responsabilidade do CEUC, a implementar ações de proteção ambiental na zona de amortecimento da RDS e a apoiar o processo de execução de todas as atividades previstas no projeto.

Ressalte-se que houve a previsão contratual de que a parceria apenas se efetivaria se fosse obtida a certificação CCB. Tal certificação foi obtida em setembro de 2008. Assim, em outubro de 2008, a Marriott começou a fornecer os aportes financeiros contratados (FAS, 2008).

Por fim, o período de vigência do contrato é de quatro anos, tendo iniciado em 07 de abril de 2008 e, portanto, expira em 07 de abril de 2012. Há a possibilidade de aditamento desse período, mas ainda está em negociação.

Essas são, em linhas gerais, as principais considerações sobre o contrato de financiamento entre Governo do Amazonas, FAS e Marriott.