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Nome do santo mês rua bairro local da festa

S. Sebastião janeiro Cesário Alvim C. Velha casa de mina-nagô S Sebastião janeiro Tamoios Jurunas casa de umbanda S. João Menino junho Honório Santos Condor casa de umbanda N. Sª Santana julho S Silvestre Jurunas casa de mina-nagô S. Benedito julho Timbiras Jurunas sede Comunidade S. Benedito agosto Timbiras Jurunas sede Irmandade S. Lourenço agosto Caripunas Jurunas casa de mina-nagô S. R. Nonato agosto Caripunas Jurunas sede Irmandade Cosme/Damião setembro Conceição Jurunas casa de umbanda S. Miguel setembro A. Cacela Cremação paróquia S. Miguel S Judas Tadeu outubro A. Cacela Condor paróquia S. Judas S. Terezinha outubro R. Camelier Jurunas paróquia S. Terezinha N. Sª Conceição dezembro C. Alvim C. Velha paróquia Conceição N. Sª Conceição dezembro Honório Santos Condor casa de umbanda S. Luzia dezembro Pariquis Jurunas paróquia S. Luzia

As festas dedicadas a São Sebastião, santo venerado e homenageado no bairro desde o final do século XIX, eram realizadas tanto pelas igrejas (S. Domingos, S. Terezinha) quanto por diversas associações de fiéis, como a dirigida por Mestre Thomaz, já referida no Capítulo 3. Eram grandes eventos que culminavam com a realização de grandes procissões que percorriam as ruas do Jurunas, Cidade Velha e Condor, especialmente quando graves surtos epidêmicos atacavam a população. 198 Entretanto, pela metade do século, não encontramos mais referências às procissões católicas feitas pela paróquia mais importante do bairro, Santa Terezinha, que costumava realizar a festa desde a sua fundação, nos anos 40, incluindo novena e missas, e terminando com uma procissão que circulava pelo bairro. 199 Nesse momento, em que a maior festa do bairro no início do século, a de São Sebastião dos Jurunas, tentava sobreviver chamando os fiéis para participar dos eventos programados, 200 os jornais destacavam os tambores de São Sebastião nos diversos batuques espalhados pela cidade, e que após décadas de aparente invisibilidade, voltavam a chamar a atenção na mídia, não mais rotulados agressivamente de feitiçaria como no início do século, não mais expulsos pela polícia a mando da igreja católica, mas ainda vistos como práticas exóticas que atraíam alguns simpatizantes de outros segmentos da sociedade local, que se misturavam aos festejos. 201

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Coluna Echos e Notícias. “Foram registrados antehontem e hontem ainda no bairro dos Jurunas mais 8 casos novos de varíola, sendo os acometidos removidos para o isolamento de São Sebastião. Foram feitas desinfecções pelo Serviço Sanitário nos domicílios em que se deram esses casos, assim como nos circunvizinhos. No Jurunas e em outros bairros da cidade tem percorrido as ruas grupos de fiéis, fazendo preces públicas a São Sebastião e terminando por ladainhas votivas nas casas em que se organizam essas procissões”. Folha do Norte, 25.01.1926, p. 2.

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CELEBRAÇÕES RELIGIOSAS. FESTA DE SÃO SEBASTIÃO “Está sendo celebrada com todo brilhantismo a festa de São Sebastião na igreja de Santa Therezinha, no bairro do Jurunas. Terminará no dia 23, com missa cantada às 3 horas e procissão às 4 ½”. Folha do Norte, 21.01.1944, p. 2.

CELEBRAÇÕES RELIGIOSAS. FESTA DE SÃO SEBASTIÃO. “Na igreja de Santa Therezinha (bairro do Jurunas) está sendo celebrada à noite novena de São Sebastião, com muita concorrência de fiéis. Dia 20, Domingo, missa cantada às 8 horas e procissão às 4 ½”. Folha do Norte, 19.01.1945.

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SOCIEDADE SÃO SEBASTIÃO. “A diretoria da Sociedade São Sebastião, sita à travessa dos Jurunas, nº 75, convida os associados e devotos de São Sebastião para assistirem à missa em louvor de seu padroeiro, que será celebrada na igreja do Rosário da Campina, às 8 horas do dia 22, próximo domingo. A seguir ao santo ofício, realizar-se-á a procissão conduzindo a imagem até a sede da sociedade”. Folha do Norte, 24.04.1956, p. 4.

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NOITE DE SÃO SEBASTIÃO. O ESPÍRITO DESCE NOS TERREIROS ATRAÍDO PELO RUFAR DOS TAMBORES. “Os batuques ante-ontem nesta capital. Babassuê, babassuê, cantaram alegremente ao som dos tambores espalhados nos terreiros dos pais de santo e as “meninas” componentes dos batuques que dominam os subúrbios da cidade, e que na noite de ante-ontem foram visitados pela reportagem e pela autoridade policial encarregada da fiscalização de tais festejos. Eram quadros impressionantes e que estavam sendo assistidos por uma infinidade de pessoas simpatizantes das danças afro-brasileiras, cheias de mistérios e brilhantismo. Homens e mulheres de projeção vimos nos terreiros de mistura com os humildes moradores dos subúrbios (...) O [terreiro] do Bassu, na Volta da Tripa, recebeu também a visita da autoridade policial e da reportagem. No Guamá, Marco e Jurunas também esteve a reportagem, sempre

A disseminação desses batuques de terreiros, fenômeno aparentemente novo e cada vez mais difícil de esconder na paisagem urbana, exigia formas mais modernas de controle do Estado, tais como seu mapeamento completo, seu registro junto às autoridades policiais e a criação de normas de funcionamento.

Ainda assim, nos anos 60 existiam no bairro três associações dedicadas ao santo: a primeira e mais antiga era dirigida por Joaquim Gomes da Conceição, migrante da região do Arari (ilha do Marajó), que veio residir em Belém na década de 30, na travessa dos Jurunas com Quintino Bocaiúva (hoje bairro da Condor). Mestre Joaquim foi também um dos três fundadores da Festividade do Glorioso São Benedito, dos Timbiras, nos anos 50, junto com Manoel Maria da Costa e Manoel Cirineu da Costa, atualmente uma das mais importantes festas populares realizadas no bairro. A segunda associação foi organizada por moradores da rua dos Tamoios e depois dirigida pelo pai Reginaldo Lopes, morador nessa rua. A terceira foi trazida do distrito de Pinheiro (hoje Icoaraci) por mãe Santa, estabelecida à rua Cesário Alvim, na fronteira Cidade Velha com o Jurunas.

Dessas três festividades a primeira se extinguiu nos anos 80, com a morte de seu dirigente, a segunda realiza apenas uma ladainha no dia 20 de janeiro, na casa do dirigente, e somente a última realiza um ciclo mais extenso de festas, que consiste de ladainhas à noite e uma procissão no dia 20 pela manhã, saindo a imagem da igreja de Santo Antônio, em Batista Campos, e terminando ao meio-dia, com cantos e danças rituais, na casa do organizador da festa, o Ilê de Minanagoense Oxossi Pena Verde (ver adiante).

Já as festas de São Benedito, as mais importantes hoje no bairro, realizam-se por meio de várias procissões e outros ritos, organizadas por duas associações:

a) a Associação dos Moradores da rua dos Timbiras, cuja dirigente afirma ser a sua festa a mais antiga e mais tradicional do bairro. Essa festividade era realizada na primeira metade do século XX por seus avós, ex-escravos que comemoravam principalmente a festa do Divino Espírito Santo, que saía em procissão da Igreja de São João Batista, na

acompanhada da autoridade policial encarregada de fiscalizar os festejos”. Folha do Norte, 22.01.1956, última página.

Cidade Velha, dirigindo-se então ao Jurunas. Ela não sabe precisar, com mais detalhes, em que momento misturaram-se as duas festas, ou como começou a comemoração a São Benedito, mas afirma que sua festa vem desde 1932, completando mais de 70 anos de existência.

b) a Irmandade Cultural e Recreativa de São Benedito, localizada na mesma rua, dois quarteirões abaixo, na direção do Rio Guamá. É atualmente dirigida pelo filho de um dos fundadores, que mora em uma pequena casa de madeira, onde a festa era realizada nos anos 50 e 60, e que é também o dono de uma pequena igreja localizada na mesma quadra, a capela de São Benedito, que não é reconhecida pela paróquia de Santa Terezinha, a mais importante do bairro, por ser, segundo seu pároco, particular, isto é, não tem qualquer relação com as paróquias católicas.

Segundo Manoel Costa, atual coordenador da festividade da Irmandade, esta começou com uma simples ladainha no ano de 1954, quando seu pai, Mario Batista da Costa, que fazia parte da festividade de São Benedito na igreja do Rosário dos Pretos, no bairro da Campina, desligou-se da Irmandade. Como já tinha por devoção uma imagem de São Benedito, mandou celebrar uma ladainha e ofereceu um jantar aos participantes do evento. No ano de 1955, vieram mais dois irmãos que também se afastaram da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos: Joaquim Gomes da Conceição e Manoel Cirineu da Costa, que se juntaram ao primeiro e fundaram a festividade de São Benedito. Joaquim Gomes da Conceição era muito católico e festejava vários santos, especialmente São Sebastião, a quem dedicava uma grande festa em seu sítio, localizado na travessa dos Jurunas com Quintino Bocaiúva, na metade do século XX.

A festa de São Benedito iniciou-se então no ano de 1955, simplesmente com uma procissão pela manhã, e uma missa na igreja da Trindade. Na chegada da missa houve um almoço e à noite a ladainha. Depois da missa veio a procissão e um almoço, a ladainha e um jantar. No outro ano já fizeram por 3 dias, depois levantaram o mastro, depois 7 dias, depois 9 e a tradição está até hoje.

A primeira festividade começa no último domingo de julho e termina no primeiro domingo de agosto, realizando duas procissões, no primeiro e no último dia. A primeira procissão, realizada à tarde do último domingo de julho, tem um trajeto aberto,

dependendo de onde estarão esperando os mastros, a bandeira e o andor do santo, elementos doados, a cada ano, a partir de promessas feitas, na maioria dos casos associados a curas de doenças sofridas pelos devotos ou por seus familiares. Alguns contribuem todos os anos, em função de promessas feitas para serem cumpridas até a

morte como, por exemplo, na decoração do andor e na preparação do manto do santo,

assim como na preparação do salão da festa, que deve receber nova ornamentação a cada ano.

A sede da Comunidade é também a casa da dona do santo. É um grande salão no fundo do qual, à direita, localiza-se um nicho onde ficam durante todo o ano, expostas à visitação, duas imagens do santo. No dia da primeira procissão, são levantados os dois mastros de São Benedito, que serão derrubados ao final da festa, no primeiro domingo de agosto. Neste dia ocorre nova procissão, com trajeto fechado: no sábado à noite, a imagem é levada à igreja de Santa Terezinha, de onde sai pela manhã, após a missa das 9 horas, fazendo um percurso pelo bairro e retornando ao seu local de origem.

A segunda festividade de São Benedito dura duas semanas e inclui uma procissão fluvial vinda do baixo Acará, no segundo domingo de agosto, para onde uma imagem do santo é levada na semana anterior. Essa procissão chega ao Porto do Açaí por volta das 11 horas da manhã (Fotos 22 e 23), acompanhada por vários barcos de moradores da região e da cidade de Belém, e inicia sua caminhada após receber a primeira homenagem, no próprio porto do Açaí, feita por feirantes, carregadores e madeireiros, entrando no Complexo do Jurunas, quando recebe a segunda homenagem, feita por peixeiros e feirantes, após o que segue pela avenida Bernardo Sayão até alcançar a rua dos Timbiras, onde se localiza a capela de São Benedito, por volta do meio-dia, quando a imagem entra na capela e realiza-se uma oração de chegada.

No terceiro sábado do mês da festividade, por volta das 7h30 da noite ocorre a trasladação da imagem, que há 25 anos sai do colégio Gonçalo Duarte, na rua Conceição, com destino à igreja de São Judas Tadeu, no bairro da Condor. A imagem é conduzida na berlinda, previamente preparada pelos organizadores da festividade, em direção à paróquia de São Judas, onde fica até as 9 horas de domingo, quando termina a missa solene da festividade, e retorna em procissão (Fotos 24 e 25), através de um longo

percurso em que atravessa os bairros da Condor, Cremação, Batista Campos e Jurunas, sendo chamada de mini-círio por seus organizadores. Ao longo desse percurso ocorrem várias homenagens a São Benedito, como a dos moradores da Padre Eutíquio, em frente à praça Batista Campos, e a dos moradores da rua dos Tamoios.

A procissão chega à capela de São Benedito por volta do meio-dia, quando a imagem do santo é retirada da berlinda e recebida pelo diácono encarregado das orações desse último dia. Após terminadas as orações, é chegada a hora do almoço, servido aos presentes na sala interna, situada nos fundos da capela. No fim da tarde, sai novamente a imagem pelo bairro, fazendo um trajeto bem mais curto, e ao retornar são derrubados os mastros. Após a derrubada dos mastros é celebrada a última ladainha da festividade, que é encerrada com o Te Deum Laudamus, rezado em latim. Todas as noites, durante duas semanas, moradores do bairro, investidos na função de noitarios da festa, realizam ladainhas e procissões noturnas pelas ruas do bairro.

No final das festas da Comunidade e da Irmandade de São Benedito, na rua dos Timbiras, começa a festa de São Raimundo Nonato organizada por moradores da Caripunas Beira-Mar, de 15 a 30 de agosto, e da qual participam os organizadores e freqüentadores das duas festividades anteriores. No meio destas, ocorre um ritual, ao som de tambores, em homenagem a São Lourenço, na rua dos Caripunas. Em setembro, começam as festividades de Santa Terezinha, na principal paróquia do bairro, que duram o mês inteiro, terminando no início de outubro, quando começam as festividades do Círio de Nazaré.

Na segunda quinzena de setembro realiza-se também a festa paroquial em homenagem a São Miguel, em sua igreja, na Cremação. No final de outubro e início de novembro, começam as festividades na paróquia de São Judas Tadeu, no bairro da Condor. No final do mês uma procissão em homenagem a Cosme e Damião atravessa todo o bairro, pela avenida Bernardo Sayão, da rua Conceição até a Cesário Alvim, limite do Jurunas com a Cidade Velha, local onde se realiza nos dias atuais a festividade de São Sebastião, no mês de janeiro. Ela equivale, em extensão, à procissão em homenagem a N. Sª de Santana, realizada no último domingo de julho. Organizada pelo presidente da Irmandade de São Benedito, sai da igreja de N. Sª da Conceição, no bairro da Cidade Velha e segue em direção ao rio até o Complexo do Jurunas, subindo depois

pela rua Conceição e transversais até a rua São Silvestre, próximo à Roberto Camelier (trecho conhecido como beco da Vivi), onde chega finalmente à casa de mina-nagô pertencente ao organizador da festa, quando a imagem da santa é depositada no centro do salão principal.

Em dezembro temos as festas de N. Sª da Conceição e Santa Luzia, nas respectivas paróquias da Cidade Velha e Jurunas. A festa de N. Sª da Conceição coincide com a de Santa Bárbara, homenageada em diversas casas de mina existentes no bairro, como no Ilê de Minanagoense Oxóssi Pena Verde, acima referido. Nessa casa realizam-se, no mesmo dia, ladainha em homenagem a N. Sª da Conceição e, ao final desta, uma festa em homenagem a Santa Bárbara, com toque de tambores e danças rituais (Fotos 26 e 27). No Terreiro de N. Sª da Conceição, a Oxum, localizado no final da rua Honório Santos (fronteira Jurunas/Condor), ocorre outra grande festividade em homenagem à santa, com levantação e derrubada de mastro, procissões, toques de tambores e um grande arraial montado na rua, com barracas para comida e bebida, música eletrônica e queima de fogos no seu encerramento.

Essa festividade, que pretende ser a continuidade da festa realizada desde os anos 60 por mãe Faustina, fundadora da casa, se inicia no recírio, com a circulação de duas imagens de N. Sª da Conceição pelo principais ruas dos bairros da Condor e Jurunas, conduzidas por senhoras devotas da santa, que dirigem e acompanham as ladainhas realizadas nas casas dos moradores onde as imagens pernoitam. No primeiro dia do mês de dezembro as imagens retornam à casa da organizadora da festa, em procissão, à noite, quando se realiza uma ladainha seguida de um tambor.

No dia 2 ocorre a levantação do mastro, às 7h e 7h30 da noite, seguida de ladainha e arraial. No dia 4 há um tambor para Santa Bárbara, que atravessa a madrugada, enquanto lá fora prossegue o arraial todas as noites. Todas as noites, até o dia 7, ocorrem as ladainhas, enquanto no dia 8 acontece a procissão, pela manhã, seguindo em direção à igreja de São Judas Tadeu, onde ocorre a missa, às 8h30, e depois retorna à sede, quando ocorre o almoço dos participantes. À noite ocorre novamente o tambor, o arraial lá fora, e à meia-noite, queima de fogos. (Fotos 28, 29, 30 e 31).