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NOTA INTRODUTÓRIA

A HISTÓRIA URBANA COMO VALORIZAÇÃO DO NÃO-URBANO: SUBURBANIZAÇÃO CLÁSSICA

2.6 CIDADE-JARDIM: UMA UTOPIA SUBURBANA

No final do século XIX, as idéias de suburbanização como localização ideal de moradia familiar estava se consolidando e se firmando como a melhor opção para a classe média na Inglaterra e nos Estados Unidos. Aos subúrbios acrescentavam-se melhorias e

34 Em 1867, Cerdá publica sua obra Teoria general de la urbanización, que se torna uma das mais importantes

obras do assunto, não só por seu pioneirismo, mas por formular alguns princípios que foram utilizados no planejamento de cidades no século XIX e XX.

aperfeiçoamentos. Novas idéias surgiam e, entre elas, uma proposta elaborada por um estenógrafo iria levar a idéia de subúrbio a um novo patamar: a cidade-jardim, proposta por Ebenezer Howard. Esta proposta, embora tida como original, seria uma compilação de diversos autores utopistas dos séculos XVIII e XIX, como defende Schumann (2003) que coloca como suas principais influências John Sinclair e John Claudius Loudon. Além destes, Buder (1990) cita como importantes influxos James Silk Buckingham35, Benjamim Ward

Richardson36, William Morris37, entre outros, além de ter sido influênciado por personalidades,

como a pregadora e lider religiosa norte-americana Cora Richmond38, reunidas e

complementadas por propostas do próprio Howard.

Em 1898, Howard lançou a obra Tomorrow: a peaceful path to real reform que teve enorme repercussão e, em 1902, lançou uma nova edição revista, com novo título Garden cities of

tomorrow — Cidades-Jardins de amanhã — imaginando um sistema de cidades novas que

se caracterizariam por inserção, em ambiente de parque e áreas verdes que substituiriam as periferias das grandes cidades. Abordando o grave problema da habitação, Howard conjecturava que haveria três possibilidades de soluções: construção de novas habitações na região central das deterioradas grandes cidades, envolvendo altos custos; erigi-las nas periferias, que, na sua visão, não ofereceriam condições adequadas; ou construir no campo, que, segundo o autor, seria o ideal e na qual se baseavam suas propostas (HOWARD, 1902, p.671-672)

O ideal de cidade-jardim de Howard propunha-se ser a base de uma nova sociedade. Esta utopia Howardiana, compõe a maior parte de seu livro. O autor procurou sistematizar, de forma detalhada, a organização da sociedade baseada na idéia de três ímãs (FIG. 68). Inicialmente, dizia Howard, seriam dois ímãs, campo e cidade onde cada um procurava, com suas vantagens atrair pessoas. Em seu esquema, o autor apresenta as vantagens e

35James Silk Buckingham (1786-1855) autor da obra National evils and practical remedie, with a plan for a model

town - Males nacionais e soluções práticas: projeto para uma cidade-modelo – publicado em 1848 (MUMFORD,

2007, p.262).

36Richardson, médico inglês, autor da obra Hygeia, a city of health – Higéia, a cidade da saúde – de 1875, terá

grande influência e, segundo Moncan (2003, p.166), estaria em Hygeia a verdadeira origem da cidade-jardim. Propunha a criação de uma cidade ideal fundada no estrito respeito aos princípios da saúde pública, a idéia foi apresentada no congresso de 1875 da Associação de Ciência Social. Ampliada e publicada, esta obra influenciou as intervenções urbanas feitas em regiões centrais de cidades, como Paris, que, sob a égide de condições sanitárias, removiam favelas, cortiços e casas consideradas insalubres das regiões centrais de cidades.

37Morris, arquiteto, artista plástico, designer em tecidos e mobiliário,socialista e escritor, publicou em 1890, sua obra

News from Nowhere – Notícias de lugar nenhum – na qual propunha vida em comunidade, em pequena cidade,

sem propriedade privada, sistema monetário, valorizando a vida no campo e em contato com a natureza.

38 Cora Richmond (também conhecida como Cora Scott) foi uma importante pregadora norte-americana no

último quartel do século XIX. Seu movimento, o ―novo espiritualismo‖ misturava ideais evangélicos com pensamento científico e idéias socialistas. Propunha uma sociedade baseada no comunitarismo – movimento em voga no século XIX, influenciado principalmente pelas idéias de Tom Paine e sua obra Common Sense (Senso comum), de 1776 – e manteve amizade com socialistas como Robert Owen, de quem obteve uma carta de apresentação quando dirigiu-se à Inglaterra para difundir suas idéias (BUDER, 1990).

desvantagens de cada uma das opções e acrescenta um terceiro ímã: cidade-campo, que seria a base de sua sociedade ideal, justificando-o:

Mas nem o ímã da cidade nem o imã do campo representam todo o plano e as finalidades da natureza. A sociedade humana e as belezas naturais foram criadas para serem fruídas em conjunto. Os dois ímãs devem fundir-se num só. Do mesmo modo que o homem e a mulher complementam-se por seus vários dons e capacidades, assim deve ser com a cidade e o campo. A cidade é o símbolo da sociedade – da ajuda mútua e da cooperação amigável, da paternidade, da maternidade, da fraternidade, da sororidade, de amplas relações entre os homens, de largas e expansivas simpatias, da ciência, da arte, da cultura e da religião. E o campo! O campo é o simbolo do amor e do zelo de Deus pelo homem. Tudo o que somos e o que temos vem de lá. [...] cidade e campo devem estar casados, e dessa feliz união nascerá uma nova esperança, uma nova vida, uma nova civilização. A finalidade deste trabalho é mostrar como pode ser dado o primeiro passo nesse sentido, pela construção de um imã cidade-campo. (HOWARD, 1996, p.110)

FIGURA 68 – Os três ímãs propostos por Howard em sua proposta de utopia da cidade jardim. Nesqte esquema ele

apresenta as vantagens e desvantagens da cidade e do campo e, como a sua utopia, introduz um terceiro ímã, cidade-campo, que teria o melhor de cada um dos dois ímãs.

Fonte: PINDER, 2005, p.37.

Howard propunha a organização de uma sociedade comunitária e auto-suficiente. Ao longo de seu livro, o autor estudou minuciosamente as questões econômicas e de organização desta sociedade. De seus treze capítulos, apenas no primeiro discorria sobre a tessitura espacial da cidade-jardim. Embora a questão da organização socioeconômica seja muito mais enfatizada por Howard, foram as propostas de organização espacial de uma cidade – a cidade-jardim – que tiveram maior repercussão. Neste aspecto, como lembra Pinder (2005, p.55), a utopia de Howard se aproxima das repercussões obtidas por outros utopistas, especialmente os do século XX, que ―permanecem‖ menos as questões sociais e mais as questões espaciais.

Howard ilustrou suas propostas com diagramas que mostravam uma cidade circular dividida em seis setores (FIG. 69). Estes seriam delimitados por seis bulevares arborizados, com 36 m de largura, que se irradiavam a partir de um parque central e se estenderiam até o perímetro externo. A ferrovia circundaria a cidade para depois extender-se ao campo,

conectando às demais cidades e à área rural. A estes bulevares radiais somariam-se cinco avenidas, igualmente arborizadas, concêntricas ao parque central, sendo que a terceira – mediana – seria uma grande avenida com 128m de largura e 4,8 km de extensão (FIG. 70); Howard a idealizava como um grande parque linear e, segundo Ottoni (1996, p.41), teria se inspirado na avenue Foch de Paris, que tem 120 metros de largura.

FIGURA 69 - Diagrama de uma cidade-jardim;

desenho publicado na primeira edição de 1898,

Tomorow, mostrando os seis bulevares que se

irradiam do parque e as avenidas concêntricas, com a grande avenida central.

Fonte: BUDER, 1990, s.p.

FIGURA 70 – Detalhe da região hospitalar e centro da

cidade-jardim. Pode-se observar a grande avenida central e dois dos bulevares que se irradiam a partir do parque. Versão não publicada, parte dos desenhos de Howard, sem data.

Fonte: PINDER, 2005, p. 44.

A partir da idéia e dos princípios enunciados por Howard, numerosas experimentações foram tentadas, a começar por Lechtworth, a cerca de 50 km de Londres. Em 1903, iniciaram-se os procedimentos para a construção desta cidade projetada pelos arquitetos Barry Parker e Raymond Unwin39, sob a supervisão direta de Howard.

Em seu livro, Howard havia criado um diagrama circular da cidade (FIG. 69) que foi radicalmente alterado pelos urbanistas (FIG. 71). Além de adequar o projeto às condições locais, o plano de Unwin e Parker poderia ser aplicado em loteamentos residenciais e divisões suburbanas em outras cidades-jardim. Buder (1990, p.85) classifica as idéias da dupla de projetistas e as de Howard como ―propostas cruzadas‖, complementando que uma série de modelos de habitações implantadas por meio de baixa densidade à semelhança do modelo de Unwin/Parker passaram a ser designadas como ―planejamento tipo cidade jardim‖.

39Parker e Unwin eram cunhados e foram sócios em um escritório entre 1896 e 1914. A carreira de Barry Parker

(1867-1947) foi menos influente que a de Unwin (1863-1940), que foi professor, teórico e funcionário público, escreveu a obra Town planning in practice: an introduction to the art of designing cities and suburbs (1909) que influenciou a geração seguinte de urbanistas ingleses e foi uma das refrencias na construção de novas cidades inglesas no pós-guerra. (BUDER, 1990, p.85)

FIGURA 71 - Primeiro projeto (1903) para a

cidade-jardim de Letchworth, elaborado por Raymond Unwin e Barry Parker.

Fonte: GIRLING; HELPHAND, 1996, p. 59.

FIGURA 72 – Projeto definitivo para a cidade de Letchworh,

1904.

Fonte: BUDER, 1990.

No plano de Unwin e Parker (FIG. 72), a existência da ferrovia40 que cortava a cidade no

sentido leste-oeste e de outras estradas foram os condicionantes primários na distribuição e organização espacial da cidade. Assim, o local foi tratado como um quadrante não retangular, rodeado por um cinturão verde. Dentro da cidade (FIG. 73), Unwin e Parker planejaram áreas distintas para uso residencial, industrial e público – o mais importante dos quais era o centro cívico, no setor inferior esquerdo, organizado ao lado de um eixo de uma milha (1,6 km), na direção da estação ferroviária. A estação ferroviária foi instalada em região muito próxima ao ponto central da cidade. Pode-se conjecturar que, ao estabelecer esta premissa, os arquitetos subverteram parte das idéias de Howard, que, originalmente, previa a instalação do centro Cívico no centro geográfico da cidade, desta forma buscando enfatizar a importância das ligações e conexões comunitárias. Por outro lado, quando Unwin e Parker localizaram a estação ferroviária no local que, pelos planos de Howard, deveria estar localizado o Centro Cívico, enfatizaram a importância da conexão da cidade com a cidade maior: Londres. A localização do Centro Cívico em um setor secundário, pode-se conjecturar, estabeleceria que a conexão com o grande centro – Londres – seria mais importante que a organização comunitária idealizada por Howard. Embora a cidade-jardim jardim idealizada por Howard deveria se basear na criação de

uma comunidade, sua primeira materialização – ou espacialização – a remetia mais à idéia de subúrbio clássico do que a de criação de uma comunidade. Ao serem criados setores claramente separados e segregados, criaram-se grupos com interesses comuns sem, entretanto, criar-se uma comunidade que se previa agregar diferentes classes sociais.

FIGURA 73 – Vista aérea da cidade de Letchworth.

Fonte: KOSTOF, 1991, p.228.

As ligações das duas principais partes da cidade – norte e sul - ocorriam pela Norton Way e pela Spring Road, na direção norte—sul, sob dois pontilhões ferroviários. Entre estas duas vias foi localizada a Broadway, onde, a meio caminho da estação, localizava-se a Praça da Cidade, em um pequeno promontório rodeado por árvores de grande porte. Nas áreas residenciais, Parker e Unwin utilizaram um padrão altamente irregular de ruas, incluindo alguns cul-de-sacs e criaram alguns blocos de forma ímpar. As ruas curvilíneas — com casas isoladas, algumas projetadas pelos arquitetos — amplamente arborizadas, criaram uma imagem pitoresca, que Buder (1990, p.88) designa como ―ruas fotogênicas‖ (FIG. 74, 75, 76 e

77).

FIGURA 74 – Letchworth, Meadow Way, direção

oeste.

Fonte: KNIGHTON; CUTTS, 1911, p. 37.

FIGURA 75 - Letchworth, Fábrica de Motores Phoenix. Em

1911 haviam onze indústrias instaladas na cidade. Fonte: KNIGHTON; CUTTS, 1911, p. 71.

FIGURA 76 - Letchworth, Norton Way, direção

norte.

Fonte: KNIGHTON;CUTTS, 1911, p. 38

FIGURA 77 - Letchworth, Leyes Avenue, região comercial

da cidade.

Fonte: KNIGHTON; CUTTS, 1911, p. 48.

Em 1919, Howard iniciou os primeiros entendimentos para a construção de sua segunda Cidade-Jardim – Welwyn - após encontrar o local ideal para sua instalação. Louis de Soissons41 preparou projeto da cidade em 1921 (FIG. 78). Utilizou um plano prévio, elaborado

por C.M. Crickner, que tinha como uma de suas premissas a criação de um cinturão agrícola de cerca de seiscentos acres, além de uma ―rude composição circular‖ da cidade (BUDER, 1990, p.126), mantida por Soissons em sua concepção geral, mas alterada significativamente nos detalhes. A introdução mais importante no local foi a divisão em quatro parcelas determinadas pela linha principal da ferrovia Great Northern (A) e por seus dois ramais: leste – para Hartford (B) - e oeste – para Lutton (C).

FIGURA 78 – Projeto elaborado por Louis de Soissons para Welwyn em 1921. O traço destacadomostra a linha

ferroviária Great Northern (A) e seus ramais para Hartford (B) e Lutton (C). Na cidade estavam Centro Cívico (1), Centro Comercial (2), Distrito Industrial (3), Casas para trabalhadores do distrito industrial (4), avenida Howardsgate (5), Estação Ferroviária (6), avenida Parkway (7), parque (8), distritos residenciais (9)

Fonte: BUDER, 1990 (modificado pelo autor).

Na organização espacial de Welwyn (FIG. 78) Soissons localizou os centros Cívico (1) e Comercial (2) na parcela sudoeste e reservou duas seções a leste da linha principal para o

41Canadense, Soissons (1890-1962), cujo nome era Louis E. J. G. De Savoie-Carignan, tinha ascendência nobre – era

o filho mais novo do 37º Conde de Soisson – e, ao longo da vida, recebeu os títulos de Visconde d’Ostel e Barão de Longroy - estudou na École des Beaux-Arts em Paris. Tinha uma carreira acadêmica quando foi convocado para a guerra. Foi indicado como projetista da segunda cidade-jardim por Chambers, maior financiador da cidade, no final de 1919 (BUDER, 1990, p.125).

distrito industrial (3), com casas adjacentes para trabalhadores (4). O centro comercial foi organizado em uma grelha dividida por uma ampla avenida, a Howardsgate (5) (FIG. 79), que se iniciava na estação ferroviária (6) e terminava cerca de 360 metros depois em outra larga avenida, a Parkway (7) (FIG. 80) que separava os distritos comercial e residencial. No final do setor norte desta parcela sudoeste, foi instalado o centro cívico, organizado em um semi-círculo (1), flanqueado por um parque (8). Contrastando com o arranjo formal das áreas cívica e comercial, os distritos residenciais (9) apresentavam um layout altamente irregular de espaços e ruas, com grupos de quadras sem formas definidas, inseridas em áreas compactas e cul-de-sacs.

FIGURA 79 – Welwyn, Howardsgate, vista da

Parkway.

Fonte: STRATTON, 1997, p. 41

FIGURA 80 - Welwyn, vista parcial da Parkway.

Fonte: SOISSONS, 1988, p. 84.

Para este distrito residencial, Soissons projetou dois quarteirões fechados42 – Handside Walk e

Quadrangule – que Panerai (2004, p.53) considera como o trecho da Cidade-Jardim que

mais fez concessões ao pitoresco (FIG. 81). Handside Walk era um quarteirão fechado retangular, aberto para a rua, formado por casas parcialmente isoladas, separadas por jardins, fechadas no final por duas casas localizadas em cada um dos lados do eixo central. O Quadrangule era um retângulo, rodeado por árvores que existiam antes da construção da Cidade. Este retângulo era definido por casas isoladas, separadas por jardins, fechado por dois grupos de casas parcialmente isoladas (FIG. 82).

FIGURA 81 – Planta de Welwyn: à esquerda (1)

localiza-se o o quarteirão fechado de Handside

Walk e à direita (2) o Quadrangule

Fonte: PANERAI, 2004, p. 52.

FIGURA 82 - Casa semi-solada construída no

Quadrangule em Welwyn.

Fonte: PANERAI, 2004, p. 52.

42No original em inglês é designado como close. Sem uma expressão similar específica em português, resolveu-se

Fishman (1982, p.23) relaciona Howard como um dos três mais importantes utopistas do século XX – juntamente com Le Corbusier e Frank Lloyd Wright — ressaltando, entretanto, que foi o mais influente, entre outras razões pela capacidade de organizar um movimento que manteve vivas suas idéias. Fundamental, para esta propagação lembra Clark (2003, p. 95), é que Howard preconizava que a Cidade-Jardim deveria, necessariamente, sofrer modificações em sua estrutura básica, para adaptar-se às condições específicas de geografia, clima e topografia, além de procurar atender necessidades sociais e condições históricas.

A repercussão positiva da obra contribuiu para que o movimento das cidades-jardim se tornasse, rapidamente, internacional43. De sua origem Inglesa influenciou movimentos

urbanísticos e mesmo novas urbanizações em diversos países:

- Na França foi criada uma Associação de Cidades-Jardim44 em 1903. Um de seus membros,

o socialista Henri Sellier quando Ministro da Habitação na década de 1930, criou os

banlieues (subúrbios) de Paris como Surennes (FIG. 83). Embora inspirados nas idéias de

Howard ―produziram-se blocos de apartamentos para dar uma sensação dos bulevares parisienses nas ruas, mas preservando as áreas centrais dos blocos para bem-cuidados jardins comunais‖ (MILLER, 2002, p.15).

FIGURA 83 – Jardim entre blocos de apartamentos

em Surennes, Paris. Fonte: MILLER, 2002, p.14.

FIGURA 84 – Margarethenhõhe, portada de entrada para

a Steiller Strasse.

Fonte: LEJEUNE, 1996, p.55.

43Em 22 de agosto de 1913 foi formalmente lançada a Associação Internacional de Cidades-Jardim. Em 1922 foi

reformulada e transformada na Federação Internacional de cidades-jardins e planejamento urbano (BUDER, 1990).

44Organizada pelo advogado George Benôit-Lévy, contava com uma eclética composição de membros como os

empresários Jules Siegried – industrial e ex-prefeito da cidade de Le Havre – e Georges Risler – dono de manufatura de tecidos, tornou-se um dos líderes do movimento de planejamento urbano na França, tornando-se presidente da

Comissão Superior de Organização das Cidades além de presidir a Sociedade Central de Crédito Imobiliário – ao

socialista Henri Sellier – ministro da habitação. Para informações adicionais ver Ward (1992, p. 54-5), BUDER (1990, p.138) e CHALINE (1996, p.18).

- Na Alemanha, próximo a Essen, foi construída a ―Aldeia-Jardim‖ de Margarethenhõhe45,

que seguia os princípios de Howard, porém com uma ambiência que procurava reproduzir uma aldeia medieval com portal de entrada (FIG. 84), praça central de mercado, taberna, ruas estreitas e curvas onde o tráfego de veículos foi excluído.

- Na Polônia, em Varsóvia, na década de 1920, foi construído o bairro-jardim de Zoliborz46,

cujo projeto (FIG. 85) ficou a cargo de uma equipe chefiada pelo arquiteto Tadeusz Tolwinski, um seguidor dos ideais da Cidade-Jardim. Localizado ao norte de Varsóvia, junto à margem esquerda do rio Vístula. Inicialmente área rural, pertencia a um convento. Durante a ocupação russa no século XIX, foi convertido em fortaleza. Com a independência polonesa em 1918 e à expansão de Varsóvia, no final da década de 1920 a área de Zoliborz foi convertida em bairro. A partir de 1930, passaram a ser construídas casas para a alta classe-média (FIG. 86), a maioria por arquitetos ligados ao movimento modernista (CROWLEY, 1992, p. 77).

FIGURA 85 – Planta de Zoliborz, 1932.

Fonte: INSTYTUCIE OCHRONY ŚRODOWISKA, 2009 FIGURA 86 Fonte: ŻOLIBORZ ...2009 – Zoliborz, Varsóvia, vista geral, 1925.

- Na Finlândia, perto de Helsinki, na década de 1950, foi construída a Cidade-Jardim de Tapiola, projetada em 1953 por uma equipe de arquitetos, chefiada por Otto-I Meurman e Aarne Ervi47. Tapiola surgiu a partir da criação de uma sociedade civil de utilidade pública —

Väestöliitto — liderada pelo advogado Heikke Von Hertzen (HALL, 1991, p.89), se tornou muito popular, ficando conhecida como ―cidade de madeira‖; em sua concepção havia uma região central e quatro bairros residenciais, que eram separados da cidade por cinturões verdes (FIG. 87 e 88).

45Encomendada ao arquiteto Georg Metzendorf em 1912, pela família Krupp, Margarethenhõhe, localizava-se nas

imediações de Essen, na Ruhrgebiet - região do Ruhr.

46 Para informações adicionais ver Nowy Zoliborz 1918-1939: Architektura-urbanistyka (Studia z historii sztuki) de

Lukasz Heyman (1976).

47 Ervi também projetou o centro da cidade (1954-59), habitações (1952-64), a piscina pública (1962) e o Hotel

FIGURA 87 – Projeto para a cidade-jardim de Tapiola, Finlândia.

A cidade é setorizada com uma região central e unidades de vizinhança, localizadas a leste, oeste e norte. As habitações estão distribuídas de maneira ―informal‖ em contraste com a estrutura do centro.

Fonte: HALL, 1991, p.90.

FIGURA 88 – Vista de Tapiola.

Fonte: GEOGRAPHIC.ORG, 2009.

- Na Áustria, a influência das cidades-jardim ocorreu principalmente no modelo de implantação de unidades de apartamentos em Viena (FLETCHER, 1996, p. 1323)48, dentre os

quais se destacam Karl-Marx-Hof (FIG. 89 e 90) e o Svoboda-Hof, ambos projetados por Karl Ehn. Esta influência, entretanto, estava mais relacionada à formação comunitária de cunho socialista do que na organização morfológica urbana. Em menor escala foram construídos subúrbios, inspirados nas idéias de Howard, como em Rannersdorf; subúrbio-jardim, projetado em 1921 por Heinrich Tessenow49 e construído nesta pequena cidade, localizada

a sudeste de Viena.

FIGURA 89 - Karl-Marx-Hof, Viena, exterior.

Fonte: PILS, 2008

FIGURA 90 - Karl-Marx-Hof, Viena, planta.

Fonte: LAMAS, 2007, p.335.

- Com uma tradição de construção de casas de campo – as Dacha - que remonta ao século XVIII, a cidade-jardim na Russia50 teve grande aceitação. As características das

48A prefeitura socialista durante o período conhecido como Gemeinde Wien (Viena vermelha), entre 1919 e 1933,

implantou um amplo programa de construção de habitações sob o qual foram construídas 66.000 unidades. Em geral eram blocos urbanos, com seis ou sete pavimentos, agrupados em volta de quadras. Os apartamentos eram pequenos internamente, mas tinham generosas instalações comunitárias (FLETCHER, 1996, p. 1323).

49Para Informações complementares ver Fletcher (1996, p. 1323) e Tafuri (1995, p. 216).

50Em 1909, um grupo de trinta arquitetos russos visitou Letchworth. Um deles, Alexander Block, traduz para o russo a