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CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA

No documento Introdução Aos Materiais Dentários (páginas 142-146)

Algumas das principais desvantagens dos cimentos de ionômero de vidro são:

■ tempo de trabalho curto e tempo de presa longo;

■ baixa resistência e baixa tenacidade;

■ aparecimento de fendas devido a desidratação; e

■ baixa resistência ao ataque ácido.

Com o advento das resinas compostas ativadas por luz, os dentistas começaram a se queixar de que as caracterís- ticas de manipulação dos CIVs estavam longe do ideal. Ainda assim, o material continuava a ser usado por causa da sua liberação de fl úor e das propriedades adesivas. Os fabricantes almejaram melhorar as propriedades de manuseio dos CIVs pela incorporação de uma resina que se polimerizaria sob a ação da unidade polimerizadora de luz azul. Esses são os materiais conhecidos como CIVs modifi cados por resina. Embora algumas vezes também sejam denominados CIVs híbridos ou ativados por luz, tais termos devem ser desencorajados porque não são sufi cientemente específi cos e podem ser confundidos com alguns materiais como os compômeros.

Composição

O material é apresentado como um sistema de pó-lí- quido, com o pó consistindo em um vidro radiopaco de fl úor-alumínio-silicato e um líquido ativado por luz mantido em um frasco escuro (para proteger da luz ambiente) ou na forma de cápsula. A composição do líquido varia de produto para produto, mas em geral é uma solução aquosa de monômeros hidrofílicos, por exemplo, hidroxietil metacrilato (HEMA), ácido poliacrí- lico ou um copolímero do ácido poliacrílico com alguns grupos metacriloxi pendentes, ácido tartárico e um ini- ciador ativado por luz. A escolha da resina é limitada pelo fato de que os CIVs são materiais à base de água e por isso a resina necessita ser solúvel em água. O HEMA é um monômero hidrofílico muito efetivo nesse aspecto e se dissolve prontamente na água.

Reação de Presa

A reação de presa ácido-base é essencialmente a mesma dos cimentos de ionômero de vidro e é iniciada quando o pó e o líquido são misturados. O material difere dos outros cimentos de ionômero de vidro no fato de que essa reação é muito mais lenta, promovendo um tempo de trabalho consideravelmente mais prolongado.

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO

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A presa rápida é fornecida pelo mecanismo de ativa- ção por luz, causando a polimerização do HEMA, e, para os materiais contendo copolímero, promovendo ligações cruzadas adicionais por meio dos grupos metacrilato pendentes, como mostra a Figura 2.3.13. Uma vez mis- turado, o material polimerizará logo após 30 segundos de exposição à luz. Se não exposto à luz, o material poderá tomar presa em torno de 15 a 20 minutos. Deve-se obser- var que a reação de polimerização por luz precede a formação das pontes de sal de alumínio. Portanto, tais materiais continuarão a geleifi car via reação ácido-base por algum tempo após o processo de polimerização ter sido completado.

Alguns sistemas também são conhecidos por conter um processo de polimerização por reação de oxidação-re- dução, promovido por um ativador e um iniciador, nesse caso usando a tecnologia de microencapsulamento. Isso possui a vantagem de que se a luz da unidade polime- rizadora não for capaz de penetrar toda a profundidade da restauração, a reação de oxidação-redução assegurará a polimerização do componente resinoso em toda a sua profundidade. Isto signifi ca que não é necessária a inser- ção incremental dos CIVMRs para os sistemas contendo reação de oxidação-redução. Uma desvantagem com esse sistema é que ele não pode ser fornecido na forma encapsulada, pois as tensões de cisalhamento durante a mistura da cápsula, diferentemente da mistura manual, são insufi cientes para quebrar as microesferas de vidro.

Como uma nota de advertência, deve-se lembrar que podem ter alguns dos problemas inerentes associados aos compósitos ativados por luz, tais como a profun- didade limitada de polimerização, que requer inserção

incremental, e a contração de polimerização, que pode comprometer a adesão ao dente.

Propriedades

A adição da química resinosa aos CIVs melhorou de forma signifi cativa muitas das suas propriedades. Usando essa abordagem, as vantagens dos cimentos de ionômero de vidro, tais como a capacidade de aderir à dentina e ao esmalte e a liberação de fl úor, foram combinadas com o tempo prolongado de trabalho e uma presa rápida, após a irradiação com luz visível. A restauração pode também ser polida imediatamente.

Acredita-se que sua resistência intrínseca e superfi cial à dessecação e ao ataque ácido foi muito melhorada. A adesão ao esmalte e à dentina é boa, se não supe- rior àquela dos cimentos de ionômero de vidro, pois os componentes resinosos conferem adicional resistência à tração ao cimento depois de pronto. Um exemplo típico das diferenças das propriedades entre os CIV e CIVMR de um mesmo fabricante é mostrado na Tabela 2.3.5.

Uma desvantagem potencial com a incorporação do HEMA nesses sistemas é que relatou-se que o HEMA é citotóxico quando entra em contato com os tecidos da polpa dental e os osteoblastos. Portanto, é muito impor- tante seguir os procedimentos necessários que garantirão que todo o HEMA seja polimerizado.

Aplicações

Os cimentos de ionômero de vidro modifi cados por resina só foram introduzidos recentemente, e foram projetados especifi camente como materiais restauradores diretos ou como bases ou materiais de forramento para uso sob compósitos, amálgamas e restaurações cerâmi- cas. Quando usado em conjunção com os compósitos, é obtida uma forte adesão entre o material de forramento e o compósito e não existe necessidade de condicionar a superfície do cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina.

Luz

Figura 2.3.13 Combinação entre as ligações cruzadas ativadas por luz e endurecimento durante o processo de presa de um CIV modifi cado por resina.

Tabela 2.3.5 Propriedades relativas de um cimento de ionômero de vidro (CIV) e de um cimento de ionômero de vidro modifi cado por resina (CIVMR)

Propriedade CIV CIVMR

Tempo de trabalho 2 min 3 min 45 s

Tempo de presa 4 min 20 s

Resistência à compressão 202 MPa 242 MPa Resistência à tração diametral 16 MPa 37 MPa Resistência de união por

cisalhamento ao esmalte bovino

4,6 MPa 11,3 MPa Resistência de união por

cisalhamento à dentina bovina

CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO E CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO MODIFICADOS POR RESINA

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Tais materiais se tornaram muito populares e possuem o potencial de substituir os CIVs como materiais restau- radores e muitos tipos de bases e forradores cavitários. Se eles são superiores ou não e substituirão os CIVs, apenas o tempo dirá. Contudo, as indicações prévias mostram que esses materiais são mais populares que os CIVs para forramento. Os CIVMRs também têm melhor desem- penho que os CIVs tradicionais como materiais restau- radores para dentes posteriores na dentição decídua e são comparáveis aos novos CIVs condensáveis. Alguns dos materiais restauradores mais recentes estão listados a seguir.

PRODUTO FABRICANTE

FUJI-II-LC Improved GC UK, Ltd, Newport

Pagnell, UK

VITREMER 3M/ESPE, Loughborough, UK PHOTAC-FIL QUICK 3M/ESPE, Loughborough, UK RESTORE-PF VLC First Scientifi c Ltd,

Abertillery, UK

Existem diferenças signifi cativas na composição e nas propriedades desses materiais. Os CIV modifi cados por resina se comportam de modo muito diferente um do outro, dependendo da quantidade e do tipo de elemento resinoso incorporado e dos mecanismos de polimeriza- ção empregados. Portanto, cada produto possuirá pro-

priedades de manipulação que são mais adequadas em função apenas da seleção dos dentistas.

RESUMO

Os cimentos de ionômero de vidro tiveram um impacto muito importante na odontologia restauradora. Uma grande variedade de formulações está agora disponível, projetada para uma ampla faixa de aplicações. Os novos CIVMRs são materiais com propriedades superiores. Contudo, essas melhorias são ainda insufi cientes para competirem com as resinas compostas em situações de altas tensões mastigatórias, tais como restauração de bordo incisal e restaurações oclusais posteriores na den- tição permanente.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

Os CIVs são imensamente melhores comparados com os cimentos originais tipo ASPA. Os cimentos de ionômero de vidro mostraram ser materiais dentários restauradores efi cazes e ainda são materiais dentários em evolução, como mostra a introdução recente dos CIVs compactáveis e dos CIVMRs, o que sugere que mais melhorias podem ser esperadas.

LEITURA COMPLEMENTAR

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