• Nenhum resultado encontrado

Contração de Polimerização

No documento Introdução Aos Materiais Dentários (páginas 112-115)

Como já notado, uma séria desvantagem dos compósitos conhecida há muito tempo é a contração de polimeri- zação. De certo modo, todo o campo da odontologia restauradora adesiva cresceu com essa limitação dos com- pósitos, pois invariavelmente poderia existir uma fenda marginal com a contração do compósito na cavidade (Fig. 2.2.13). Os compósitos não possuem nenhum mecanismo de defesa intrínseco contra o ataque cario- gênico, diferente dos cimentos de ionômero de vidro

Figura 2.2.13 Imagem de microscopia eletrônica de varredura de uma fenda marginal formada devido à contração de polimerização do compósito.

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO

102

(CIVs) e dos amálgamas. Dessa forma, quando uma fenda está formada, ocorrerá microinfi ltração, que pode rapida- mente levar à recorrência de cárie.

Deveria ser notado que enquanto o desenvolvi- mento das unidades de fotopolimerização tem focado na maximização do grau de conversão do monômero, isso também maximiza a quantidade de contração de polimerização.

A contração de polimerização do compósito é depen- dente do tipo de resina empregado e da quantidade de resina presente na sua forma não polimerizada. Muitos compósitos de uso odontológico utilizam resina com valores de contração de polimerização comparáveis. Em geral, uma maior proporção de carga de vidro resulta numa menor contração fi nal. Alguns compósitos com elevado teor de carga de vidro não terão necessariamente menores valores de contração que as resinas microparti- culadas, uma vez que as últimas usam partículas pré-poli-

merizadas as quais podem torná-las com uma quantidade fi nal de carga tão grande quanto o dos sistemas de par- tícula de vidro.

O ideal é que a contração de polimerização deveria ser tão menor quanto possível, uma vez que isso aumenta a adaptação marginal, reduz a possibilidade de rompi- mento da união aos tecidos dentários e inibe o desenvol- vimento de cáries recorrentes. Os amálgamas tradicionais minimizam esse problema porque mostram uma pequena expansão e, no devido curso, a fenda é preenchida com produtos da corrosão. Para os amálgamas com alto con- teúdo de cobre, a contração é na ordem de 0,1% vol. com- parado a 2%-3% vol. para um compósito. Típicos valores de contração de polimerização são mostrados na Figura

2.2.14. Entretanto, um pouco de cuidado é necessário

quando da avaliação de tais dados, uma vez que é difícil encontrar um método confi ável de quantifi car a con- tração de polimerização e, como a Figura 2.2.15 mostra,

Admira 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 Surefil Tetric Ceram Charisma F Z100 Solitaire Vo lu m e ( % ) 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0

Esthet X Surefil Tetric Ceram Charisma F Z100 Solitaire V olume (%)

Figura 2.2.15 Comparação da contração de polimerização volumétrica de várias marcas comerciais de compósitos. Os dados foram obtidos da literatura técnica fornecida pela Dentsply Detrey GmbH, Konstanz, Alemanha.

Figura 2.2.14 Comparação da contração de polimerização volumétrica de várias marcas comerciais de compósitos. Os dados foram obtidos da literatura técnica fornecida por Voco GmbH, Cuxhaven, Alemanha.

RESINAS COMPOSTAS E RESINAS COMPOSTAS MODIFICADAS POR POLIÁCIDO

103

um fabricante diferente tenderá a classifi car os compó- sitos de maneira diferente. Todavia, é nítido que com a tecnologia das resinas atuais, o menor limite de contração de polimerização está em torno de 2,0% vol.

Apesar das maiores vantagens dos materiais odonto- lógicos adesivos (Cap. 2.5), a contração de polimerização tem sido indicada como uma fonte primária de falha na interface de união, resultando em linhas brancas visíveis ou fendas invisíveis na margem entre esmalte e resina. Essas últimas são apenas visíveis clinicamente quando se usa transiluminação ou lentes de aumento. Durante o processo de polimerização, tensões de contração se desenvolvem porque o material está restrito pela adesão às paredes da cavidade. Essas tensões podem ser sufi - cientes para causar falha na interface de união, e desta maneira a vantagem do procedimento adesivo é perdida. Isso ocorre em especial na união à dentina, que é menos resistente do que aquela alcançada pelo esmalte subme- tido ao condicionamento ácido e, como consequência, a contração tende a ocorrer em direção à interface de união ao esmalte condicionado com ácido se a união à dentina for interrompida (Fig. 2.2.16). A fenda que se forma entre a restauração e a dentina provocará sensibili- dade pós-operatória, devido ao efeito hidrodinâmico. Se alguma das margens estiver em dentina, a falha de união ocasionará também infi ltração marginal. Isso é especial- mente um problema quando compósitos são colocados subgengivalmente em cavidades proximais.

IMPORTÂNCIA CLÍNICA

A recomendação para o uso dos compósitos é que esses devem ser usados apenas quando todas as margens estão em esmalte.

Várias opções têm sido propostas para superar esses problemas, as quais incluem uso de compostos quimi- camente polimerizados na base das cavidades, pois se acredita que a contração tende a ocorrer em direção às paredes da cavidade. O uso da técnica de inserção em incrementos, combinada com polimerização através do dente, é outra estratégia que se acredita estimular a con- tração de polimerização em direção às paredes da cavi- dade ao invés de contra elas (Fig. 2.2.17).

Outro problema potencial é que a contração causará a aproximação das cúspides do dente para o centro, de modo que as tornam altamente tensionadas. Esse efeito tem sido sugerido como uma das razões para a sensibili- dade pulpar após a colocação de compósitos em dentes posteriores. Esse efeito pode ser exacerbado se for usada uma tira de matriz fi rme e rígida, durante a realização da restauração em resina em dente posterior.

É óbvio que a eliminação ou pelo menos uma redução signifi cante da contração de polimerização da matriz resinosa poderia representar um dos maiores avanços no futuro. As etapas para evitar ou minimizar as con- sequências da contração de polimerização são de longe os principais aspectos do consumo de tempo durante o procedimento para a realização de restaurações em compósito e realmente não resolve o problema de forma satisfatória. Possíveis formas de se melhorar a integridade marginal das restaurações em compósito incluem:

■ o desenvolvimento de melhores agentes de união à dentina e procedimentos de adesão para melhorar a resistência as tensões geradas pela contração de poli- merização;

■ o uso de um material de forramento de baixo módulo para agir absorvendo tensões; e

Esmalte Dentina Fonte de luz Adesão ao esmalte condicionado por ácido Fenda devido a contração de polimerização Fotopolimerização por incrementos Fotopolimerização de toda a resina em uma única porção Autopolimerizado

Figura 2.2.17 Várias opções propostas para o preenchimento da caixa proximal e minimização dos efeitos da contração de polimerização. A direção da tensão de contração de polimerização é indicada pelas setas.

Figura 2.2.16 Formação de fenda como consequência da contração de polimerização.

MATERIAIS DENTÁRIOS DE USO CLÍNICO

104

■ redução da velocidade de reação pelo uso das chama- das unidades de fotopolimerização ‘início lento’. Desenvolvimento de agentes de união à dentina con- tinua, mas existe um limite em relação a quanto a resis- tência de união pode compensar as tensões geradas pela contração de polimerização e é possível que esse limite já tenha sido alcançado. A ideia de usar materiais de forra- mento de baixo módulo de elasticidade carrega com ela o problema de que as tensões geradas pelas cargas oclusais não podem ser facilmente transferidos pela interface entre dente e restauração, e podem causar elevadas tensões em qualquer parte da estrutura dental. A terceira estratégia está baseada na ideia de que a redução da velocidade de reação poderia permitir maior tempo para as tensões geradas pela contração de polimerização ser dissipadas por um processo de escoamento pela superfície livre e relaxamento de tensões. Isso tem levado à introdução de unidades de polimerização com luz azul de início lento, usando perfi s de fotopolimerização em rampa, em passos e oscilatório (Fig. 2.2.18). A efetividade clínica de todas essas estratégias é assunto de considerável discussão nas pesquisas da literatura odontológica.

Desde que a incorporação de carga de vidro como meio de redução da contração de polimerização prova- velmente tenha ido tão longe quanto se possa ir (ver a seguir), a solução será provavelmente encontrada no desenvolvimento de novas resinas, que mostrem pouca ou nenhuma contração de polimerização. Uma variedade de diferentes sistemas resinosos está sendo explorada atualmente, mas nenhum foi desenvolvido ainda como um produto comercial. Esses incluem monômeros do cristal líquido e resinas que abrem anéis, como: oxiranos, espiroorto-ésteres, espiroorto-carbonetos e siloranos, que estão além do escopo deste livro.

No documento Introdução Aos Materiais Dentários (páginas 112-115)