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PARTE II – ENQUADRAMENTO CONCETUAL

2.6 AUDIÇÃO

2.6.6 Classificação da Deficiência Auditiva

Salienta-se que qualquer classificação é desprovida de interesse se não se levar em consideração uma ação de eficácia no que concerne à prevenção, ao diagnóstico, ao tratamento e à re(h)abilitação do indivíduo com deficiência auditiva. Com base nesta afirmação apresentam-se as diversas classificações:

2.6.6.1 Bases Médicas da Classificação

Preventiva e de Despiste (classificação etiológica) e Terapêutica (classificação clínica). Permite a re(h)abilitação segundo o nível auditivo (classificação audiométrica tonal e vocal), a possibilidade protética (classificação da perceção verbal) e o estado médico pedagógico (classificação psicológica).

2.6.6.2 Classificação Etiológica

A etiologia da surdez é um dos aspetos que mais condicionam a reabilitação auditiva. O aspeto condicionante reside no facto das doenças poderem ser diferentes consoante a causa da deficiência. Estima-se que cerca de 50% dos casos de surdez se devam a alterações genéticas.

Relativamente ao período de ocorrência da surdez, esta pode ser classificada como: Congénita, Pré-

natal, Neonatal, Infantil e do Adulto. De entre os fatores ambientais que levam à deficiência

destacam-se as infeções, as drogas e os traumatismos cranianos.

A Surdez Congénita pode ser constitucional ou degenerativa estando presente ao nascimento, sendo, na maioria das vezes, de causa genética;

A Surdez Pré-natal pode ocorrer por embriopatia (infeções maternas em particular a rubéola, sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose, herpes, alcoolismo materno, desnutrição, carências alimentares, hipertensão arterial, diabetes, exposição à radiação) ou por fetopatia (incompatibilidade sanguínea, hemorragias, entre outras);

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A Surdez Neonatal pode dever-se a prematuridade, pós-maturidade, infeção hospitalar, anoxia ou traumatismo obstétrico (distorcias, fórceps);

A Surdez Infantil pode ser de origem traumática, por exposição contínua a ruídos ou sons muito fortes, infeciosa (meningite, viral, otítica) ou metabólica (endócrina, proteica, tóxico- endógena entre outras);

A Surdez no Adulto pode estar relacionada com as causas anteriores ou ocorrer devido a causas vasculares, alérgicas ou de senilidade.

2.6.6.3 Classificação Clínica – Quanto ao Tipo

Efetuada consoante a localização da lesão.

Hipoacusia de Transmissão ou Condução (limiar por via óssea obtido com vibrador ósseo ([), melhor que por via aérea (o) obtido com auscultadores), como representada na figura 2.11. Revela-se por um abaixamento da acuidade auditiva por lesão que altera a função de transmissão aérea das ondas sonoras, particularmente nas frequências graves, mantendo-se íntegra a audição por via óssea. A recuperação é habitualmente possível quer pela intervenção médico-cirúrgica quer pela adaptação protética;

Hipoacusia de Perceção ou Neurossensorial (limiar por via óssea (]) semelhante ao limiar por via aérea (x)), como a figura 2.12 mostra. É o tipo de hipoacusia abordada neste estudo, que se revela por uma transmissão mecânica das vibrações sonoras normal, mas onde a sua transformação em perceção auditiva está comprometida. Para além da captação sensorial nem sempre existente, acresce-se a dificuldade na identificação e integração da mensagem. Pode manifestar-se em qualquer idade, desde pré-natal até idade avançada. É o tipo de

Figura 2.11 - Hipoacusia de Condução (Ouvido Direito).

perda auditiva que se caracteriza por envolver o Ouvido Interno (órgão de Corti), e/ou o Nervo Auditivo, originada por alterações genéticas ou por agentes ototóxicos, traumatismos cranianos ou exposição ao ruído excessivo, em geral é irreversível e pode progredir para uma perda total. Classifica-se como sensorial quando o afetado é o ouvido interno e por neural quando há compromisso do nervo auditivo ou das suas vias. Na hipoacusia neurossensorial a discriminação (capacidade de perceber as diferenças entre palavras que soam de forma semelhante) estará abaixo do normal quando a perda auditiva é sensorial e muito abaixo do normal quando se trata de perda auditiva neural;

Hipoacusia Mista revela-se por lesão da componente de transmissão, associada a lesão na componente de receção (ex. surdez traumática com lesão do ouvido interno, etc.), e que a figura 2.13 mostra;

Figura 2.12 - Hipoacusia Neurossensorial (Ouvido Esquerdo).

Fonte: Elaboração própria (Junho, 2014).

Figura 2.13 - Hipoacusia Mista (Ouvido Direito).

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Hipoacusia Central revela-se por um distúrbio do processamento auditivo, por um défice no processamento percetivo do estímulo auditivo e da atividade neurobiológica subjacente a esse processamento; a lesão ocorre nas vias auditivas do SNC. São lesões cuja deteção ou localização é difícil, e muitas destas não se podem demonstrar através das medições convencionais. Outras medições como o reflexo acústico, o reflexo Decay, a discriminação da fala a altos níveis de intensidade, devem ser efetuadas para diagnóstico diferencial entre a alteração do VIII par (nervo auditivo), extra axial e intra axial do tronco. Outras medições como a resposta auditiva evocada e a ressonância magnética podem ser efetuadas;

Hipoacusia Funcional/Pseudo hipoacusia, o indivíduo não apresenta lesões orgânicas no aparelho auditivo periférico ou central. Na base podem estar perturbações emocionais ou psíquicas como ansiedade neurótica, conflitos de personalidade e histeria. Noutros casos o indivíduo simula perda de audição com determinada finalidade. O Audiograma Tonal Simples é normal, como a figura 2.14 mostra.

2.6.6.4 Classificação Audiométrica – Quanto ao Grau

Segundo o Bureau International d’Áudio Phonologie (B.I.A.P. – 02, 1996), o grau de audição pode ser classificado como:

Audição Normal, quando inferior a 20 dB, onde não há qualquer dificuldade na compreensão da palavra;

Hipoacusia Ligeira, quando a perda se situa entre os 21 e os 40 dB, onde há dificuldade na compreensão da voz baixa;

Hipoacusia Moderada de Grau I, quando a perda se situa entre os 41 e os 55 dB e de Grau

II, quando se situa entre os 56 e os 70 dB, onde a fala só é percebida quando se eleva a voz;

Figura 2.14 - Audição Normal (Ouvido Esquerdo).

Hipoacusia Severa de Grau I, quando a perda se situa entre os 71 e os 80 dB e de Grau II, quando se situa entre os 81 e os 90 dB, onde a fala só é percebida com voz forte junto ao ouvido;

Hipoacusia Profunda (Perda Tonal Média – PTM – 250; 500; 1000; 2000 Hz) de Grau I, quando a perda se situa entre os 91 e os 100 dB, de Grau II, quando se situa entre os 101 e os 110 dB e de Grau III, quando se situa entre os 111 e os 119 dB, onde não há qualquer perceção das palavras, só se ouve ruídos muito fortes;

Perda Total ou Cofose, quando a perda se situa acima dos 120 dB, onde nada se ouve e nada se percebe.

A figura 2.15 mostra a perda auditiva em dB. Salienta-se: a surdez não se mede em percentagem e o grau da surdez não se confina a uma média aritmética, sendo necessário considerar a incapacidade e o transtorno que a mesma implica no indivíduo e nos que o rodeiam.

Em indivíduos com deficiência auditiva mas com resíduos auditivos (reserva coclear), refere-se hipoacusia, quando os indivíduos não apresentam quaisquer resíduos auditivos refere-se cofose.

2.6.6.5 Bases Pedagógicas na Criança

Classificação da palavra e da linguagem, determinação do nível linguístico e classificação das aquisições escolares.

Figura 2.15 - Grau de Audição.

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