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Conhecer algumas Estruturas Envolvidas na Audição

PARTE II – ENQUADRAMENTO CONCETUAL

2.6 AUDIÇÃO

2.6.2 Conhecer algumas Estruturas Envolvidas na Audição

parecendo pertinente a precisão de conceitos como cóclea e nervo auditivo, atendendo a que são estas estruturas que quando sofrem alterações contribuem para esse tipo de hipoacusia.

2.6.2.1 Cóclea

A Cóclea situada no ouvido interno, também designada por caracol, é uma estrutura especializada recetora dos sons. Anatomicamente tem a forma de um canal, com paredes ósseas, enrolada em forma de caracol com duas espiras e meia com a dimensão de aproximadamente 35 mm. No interior e ocupando só parte do canal ósseo está a porção membranosa que quando vista em corte transversal apresenta forma triangular, em que uma das faces desse triângulo se apoia sobre tecido ósseo. Enrola-se em torno de um cone de tecido ósseo esponjoso, o modíolo, que contém um gânglio nervoso, o gânglio espiral. Do modíolo parte lateralmente a lâmina espiral óssea. Um dos lados do triângulo está apoiado sobre a lâmina espiral óssea e o vértice aponta para o modíolo. A base do triângulo liga-se à parede óssea da cóclea e dá origem à estria vascular que é uma região de células diferenciadas. O lado superior é composto pela membrana vestibular ou de Reissner e o lado inferior pela lâmina espiral membranosa que apresenta uma estrutura histológica complexa onde se encontra o órgão de Corti que possui as células recetoras da audição.

A figura 2.6 mostra a cóclea, a janela oval – O e a janela Redonda – R.

Este triângulo divide o espaço ósseo da cóclea em três regiões, a porção superior ou escala vestibular que se abre no vestíbulo, a porção média ou escala média ou ducto coclear e a porção inferior ou escala timpânica que se comunica com o ouvido médio através da janela redonda. O

Figura 2.6 - Cóclea.

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labirinto membranoso é formado pelas escalas vestibular e timpânica que se encontram preenchidas com perilinfa (composição iónica típica dos líquidos extracelulares rica em sódio e pobre em potássio) e comunicam-se nas extremidades por um pequeno orifício ou helicotrema, a escala média comunica- se na sua porção inicial com o sáculo pelo ducto de reuniens e termina em fundo cego.

A figura 2.7 mostra a cóclea em corte transversal.

Histologicamente a membrana vestibular é revestida por epitélio pavimentoso simples (tecido conjuntivo). A estria vascular é constituída por epitélio estratificado. Formado por dois tipos de células, um deles com células ricas em mitocôndrias com a membrana da porção basal muito pregueada com as características de uma célula transportadora de água e iões. O epitélio da estria vascular é um dos poucos que possui vasos sanguíneos entre as suas células o que sugere aí a secreção da endolinfa (rica em potássio e pobre em sódio).

No órgão de Corti encontram-se as células sensíveis às vibrações induzidas pelas ondas sonoras, este assenta sobre a membrana basilar (material extracelular) produzida pelas células do órgão de Corti e pelas mesoteliais que revestem a escala timpânica. A lâmina espiral membranosa estende-se lateralmente e funde-se com o tecido conjuntivo do periósteo que está abaixo da estria vascular que forma a crista espiral. Do limbo espiral de tecido conjuntivo frouxo revestido por epitélio parte a membrana tectorial (rica em glicoproteína) orienta-se horizontalmente tomando contacto com as células sensoriais do órgão de Corti e limitando o túnel espiral interno em cuja parede lateral se encontra uma camada de células sensoriais internas, após o túnel observa-se uma série de células

de sustentação que formam as células pilares e por fim três fileiras de células sensoriais externas. Figura 2.7 - Corte transversal da cóclea.

Fisiologicamente o som é transformado pela membrana timpânica em vibrações e é transmitido através da cadeia ossicular (martelo, bigorna e estribo) à janela oval. O tímpano vibra com a passagem das ondas sonoras e os ossículos funcionam como um sistema de alavancas que transformam as vibrações da membrana timpânica em deslocamentos mecânicos que o estribo e a janela oval exercem na perilinfa da escala vestibular.

Na cóclea os estímulos mecânicos ou as vibrações induzidas pelas ondas sonoras sofrem transdução em potenciais de ação ou impulsos elétricos que são levados através do nervo coclear ao SNC. A contração dos músculos tensores do tímpano e do estribo ocasiona a tração dos ossículos reduzindo a transmissão do som.

As vibrações que chegam à perilinfa da escala vestibular são transmitidas à escala média, passando à escala timpânica e dissipam-se na janela redonda.

Os sons agudos são captados pela base da cóclea, enquanto que os sons mais graves são captados pelo seu ápice, como a figura 2.8 mostra.

2.6.2.2 Nervo Auditivo

O ser humano possui doze pares de nervos cranianos que transportam fibras aferentes (conduzem sinais sensoriais do órgão para o Sistema Nervoso Central), gerais, aferentes viscerais e aferentes especiais, e eferentes (conduzem sinais estimulatórios do Sistema Nervoso Central para o órgão), somáticas e eferentes autónomas. O Nervo Auditivo é considerado o VIII par craniano e é também denominado nervo acústico, coclear, vestibular ou vestíbulo coclear. É um nervo da cabeça,

Figura 2.8 - Membrana basilar e tonotopia frequencial.

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puramente sensitivo, que apresenta uma porção coclear relacionada com a audição e uma porção vestibular relacionada com o equilíbrio.

A porção coclear é constituída por um feixe de fibras nervosas, cerca de 30000 originadas dos neurónios sensitivos do gânglio espiral, classificadas de aferentes somáticas especiais que transportam a informação auditiva entre a cóclea e o cérebro. A outra porção relacionada com o equilíbrio recebe aferências das máculas sacular e utricular (aceleração linear) e dos canais semicirculares (aceleração angular). Estas duas componentes funcionais têm origem embriológica e trajeto comuns.

As fibras do nervo coclear projetam-se: perifericamente para as células ciliadas cocleares e centralmente para os núcleos cocleares. O núcleo coclear é um núcleo do tronco encefálico que recebe aferência central do nervo coclear, localiza-se lateral e dorso lateralmente aos pedúnculos cerebelares inferiores e está funcionalmente dividido em duas partes, a parte ventral e a parte dorsal. Possui uma organização tono tópica, e é responsável pelo primeiro processo auditivo central. Projeta direta ou indiretamente fibras para áreas auditivas superiores, como os núcleos olivares superiores, o corpo geniculado medial, os colliculos inferiores e o córtex auditivo primário (áreas 41 e 42 de Brodmann).

A figura 2.9 mostra o nervo coclear ou auditivo partindo da membrana basilar.

As fibras do nervo vestibular projetam-se: perifericamente para as células ciliadas vestibulares e centralmente para os núcleos vestibulares do tronco encefálico, intervindo no sentido do equilíbrio e da posição da cabeça.

A figura 2.10 mostra a via auditiva desde as células ciliadas até ao córtex auditivo. Figura 2.9 - Nervo coclear ou auditivo.