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PARTE II – ENQUADRAMENTO CONCETUAL

2.10 ELETROENCEFALOGRAMA – EEG

2.10.1 O que se Anda a Estudar com o EEG?

Entre os diversos estudos da atualidade que utilizam o EEG contam-se o desvendar dos mistérios do

Desenvolvimento e da Aprendizagem, o Reconhecimento de Emoções (affective computing), o Neurofeedback (NF, bases para a interface brain-computer), a Aprendizagem Motora e o Neuro

marketing.

O cérebro responde a eventos específicos, sensoriais, cognitivos ou motores, essa resposta eletrofisiológica a um estímulo é medida através de um event-related potencial (ERP).

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Nos estudos sobre o Desenvolvimento e Aprendizagem os investigadores pretendem identificar áreas do cérebro que combinam com diversos processos de pensamento ou comportamento, por exemplo: ouvir palavras, ler, ver fotos. Observar as diferenças na atividade cerebral originadas por deficiência, por exemplo: existem diferenças na atividade cerebral quando crianças com distúrbios de linguagem ouvem palavras ou quando crianças com autismo vêm rostos? Que métodos terapêuticos são eficazes, por exemplo: programa de treino de idiomas ou de leitura, bem como prever quais as crianças mais suscetíveis de beneficiar de um tratamento específico.

No Vanderbilt Kennedy Center, investigadores estão a desenvolver diversos projetos com crianças entre os quais: a avaliação da atividade cerebral através do EEG em crianças com distúrbio

específico de linguagem (dificuldade em processar vários sons da fala e gramática) em comparação

com um grupo de controlo de crianças com desenvolvimento normal, enquanto ouvem vários sons de discurso. As respostas a tratamentos de linguagem são igualmente avaliadas através de medidas comportamentais. O conhecimento das diferenças entre os grupos e a causa da variação do processamento deverão ser um contributo para o desenvolvimento de esforços para intervenções futuras na aprendizagem da criança.

No mesmo Centro, também através do EEG estudam-se as ondas cerebrais de crianças com

autismo. Os investigadores pretendem observar as suas habilidades sociais, mais especificamente a

Initiated Joint Attention (IJA), que é o uso de comportamentos comunicativos para compartilhar interesses com outra pessoa. Pretendem reproduzir a mesma conclusão entre a frequência alfa e a IJA em crianças com autismo.

Outro estudo interessante do Vanderbilt Kennedy Center relaciona-se com a Síndrome de Prader- Willi (doença genética causada por uma mutação do cromossoma 15 que pode levar a uma variedade de problemas comportamentais e neurológicos, incluindo dificuldades de aprendizagem ou deficiência mental, hipotonia, baixa estatura, e um desejo involuntário de comer em demasia). Os investigadores examinam as respostas cerebrais através do EEG a um estímulo (comida). O objetivo é perceber dentro desta população, como o cérebro responde ao mesmo estímulo e se diferentes áreas do cérebro respondem a estímulos comparando com uma população que não padece da Síndrome de Prader-Willi.

Ainda no mesmo Centro os investigadores utilizam o EEG para o estudo rápido do mapeamento

cerebral através da informação da atividade cerebral de crianças de quatro anos com

desenvolvimento normal, antes e depois de identificada com sucesso uma palavra sem sentido com o objeto referente igualmente irreconhecível, para perceberem como aprendemos a associar palavras e objetos. Tendo obtido resultados que fornecem evidências sugestivas de mudanças na atividade cerebral, detetadas no EEG, e potenciais relacionados a eventos, nos lobos temporal e parietal direitos ocorrendo potencialmente como resultado de aprendizagem de palavras.

Nos estudos sobre o reconhecimento de emoções os investigadores pretendem observar a atividade elétrica cerebral que ocorre quando o sujeito está num determinado estado emocional,

permitindo classificar as emoções baseadas nos sinais dos elétrodos. As duas dimensões que caraterizam as experiências afetivas no campo das emoções são: arousal - calmo/excitado; valence - muito positivo/altamente negativo.

Segundo Danny Oude Bos (2007) ”tornar o computador mais empático ao utilizador é um dos aspetos do affective computing. Com o eeg-based emotion recognition, o computador pode efetivamente dar uma olhadela dentro do cérebro dos utilizadores e observar os seus estados mentais”.

Visualizar o cérebro e as suas reações a diferentes estímulos ou tarefas, e diagnosticar anomalias dentro do cérebro é uma das diversas utilizações do EEG. Outra das utilizações é o neurofeedback (NF) que utiliza o EEG como um espelho para a auto reflexão e consequentemente para a auto potencialização. O NF periférico trabalha com áreas sintomáticas de um distúrbio permitindo ao sujeito treinar-se para aliviar os sintomas. Usa o EEG como fonte de informação que permite visualizar não o sintoma mas a causa base de um problema e modificá-la, como exemplo: um estudo de caso de Thomas e Sattlberger (1997) mostrou os efeitos do treino de biofeedback na diminuição da atividade alfa eletroencefalográfica num paciente com diagnóstico de distúrbios de ansiedade. Os investigadores usaram medidas objetivas da eficácia do tratamento – Three Minnesota Multiphasic Personality Inventories – Após 15 sessões de inibição lenta da onda/aumento rápido da onda no treino de feedback com o EEG, o paciente relatou uma redução significativa nos sintomas relacionados com a ansiedade.

Um outro estudo de Crocetti efetuado em quinze pacientes com audição normal e tinnitus (zumbidos) que foram tratados com um protocolo específico de neurofeedback, e onde a escala de avaliação Tinnitus Handicap Inventory and Visual Analogue Scales foi administrada antes e 1, 3 e 6 meses após o tratamento. Revelou que após a terapia, todos os questionários apresentaram pontuações significativamente melhores e que as melhoras persistiram durante todo o período de acompanhamento (Crocetti, Forti & Del Bo, 2011).

O EEG é também aplicado na investigação sobre a aprendizagem motora. Os estudos principais nesta área mostram que a mesma provoca uma mudança na atividade cortical nas áreas do cérebro pré motora e motora, isto é: um aumento da atividade alfa (lenta e rítmica entre 8-12 Hz) nessas áreas que indicam que o gesto foi automatizado. A aprendizagem está relacionada com um esforço menor e maior eficiência neural, essencialmente na área pré motora responsável pelo planeamento motor. Este método permite a investigação direta dos processos cognitivos essenciais implicados na habilidade motora e na sua aprendizagem, podendo ser uma alternativa excelente de pesquisa. A comparação da atividade cerebral durante a visualização de anúncios, bem como a comparação de diferenças neuronais durante a visualização de anúncios avaliados como agradáveis e desagradáveis é também importante na aplicação de técnicas da neurociência aplicadas ao neuro marketing com a utilização do EEG. A análise das frequências contidas num sinal eletroencefalográfico permite conhecer os diferentes fatores que podem estar a influenciar a atratividade de um determinado anúncio, por ex. o seu potencial de provocar emoções, de provocar atenção e de ser memorizado.

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