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CLASSIFICAÇÃO PRETENDIDA – ATERROS SANITÁRIOS

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.9 CLASSIFICAÇÃO PRETENDIDA – ATERROS SANITÁRIOS

Pode-se definir a classificação pretendida como aquela elaborada para uma finalidade específica como o acondicionamento, transporte, valorização dos resíduos, tratamento térmico, compostagem, destinação em aterros etc. A classificação pretendida utiliza o tipo de critério de destino (Quadro 11). Analisaremos aqui, especificamente, os critérios adotados pela Comunidade Européia e pela França no tratamento da classificação dos resíduos para admissão em aterros sanitários.

Os organismos que possuem regulamentos que classificam os resíduos quanto à disposição final em aterros sanitários (critério de destino), como o regulamento francês e a diretiva 31/99/CEE, são enfáticos quanto à utilização de testes de lixiviação como instrumento principal de avaliação dos resíduos. Enquanto os outros se mostram bastante genéricos, ou seja, não se atêm aos resíduos exclusivamente sólidos, o regulamento francês e a diretiva 31/99/CEE são bastante específicos quanto ao tipo de resíduo a ser gerido (resíduos no estado físico sólido propriamente dito), além disso é enfatizada a necessidade de se avaliar os resíduos sob um determinado contexto14 (disposição em aterros sanitários). Pode-se fazer um paralelo entre a norma brasileira e os regulamentos supracitados e, com isso, discernir algumas particularidades importantes destes processos (Quadro 27).

14

O grau de importância, demonstrado pelos regulamentos, a levar em consideração o meio no qual o resíduo será disposto, está relacionado ao grau de risco mais elevado de ambientes mais agressivos.

QUADRO 27: PARALELO ENTRE A NBR 10.004, REGULAMENTO FRANCÊS E DIRETIVA EUROPÉIA

Norma Classes Descrição Sub

Classe(1) OBS.

I – Perigoso Resíduos com propriedade(s) característica(s)

- Verificação de listas, características ICRT e P, teste de lixiviação. Apóia-se no manual SW- 846 de U.S. EPA. NBR 10.004 II – Não-Inerte III - Inerte - - Teste de solubilidade. Resíduo de incineração Resíduo de metalurgia

Resíduo de perfuração e sondagem Resíduo mineral de tratamento químico

A

Resíduos resultantes do tratamento de efluentes, resíduos ou solos contaminados

Resíduos de incineração Resíduos de tintas Resíduos de metalurgia

Resíduos de reciclagem de acúmulo de baterias Refratários de outros materiais minerais

B

França - Último

- Não Último

Resíduos de embalagens contaminadas

C

Teste de lixiviação.

Ensaio de integridade física e mecânica da amostra maciça ou solidificada.

QUADRO 27 CONTINUAÇÃO

Norma Classes Descrição Sub

Classe(1) OBS

Inerte Aterro que admite resíduos inertes A Relativo à lixiviação e ao teor de

componentes de orgânicos. Aterro para resíduos inorgânicos não perigosos com baixo teor de matéria

orgânica-biodegradável, em que os resíduos não satisfazem os critérios estabelecidos concernente à deposição de resíduos inorgânicos não perigosos em aterro juntamente com resíduos perigosos estáveis não reativos.

B1a Relativo à lixiviação e ao teor total de

componentes de orgânicos.

Aterros para resíduos inorgânicos não perigosos com um baixo teor de

matéria orgânico-biodegradável. B1b

Relativo à lixiviação e ao teor total de componentes de orgânicos.

Critérios adicionais de estabilidade e critérios para resíduos monolíticos.

Aterros para resíduos orgânicos não perigosos. B2 Relativo à lixiviação e ao teor total de

componentes de orgânicos. Não-Perigoso

Aterros para resíduos mistos não perigosos com um teor substancial tanto de

matérias orgânico-biodegradável quanto para matérias inorgânicas. B3

Relativo à lixiviação e ao teor total de componentes de orgânicos.

Aterro de superfície para resíduos perigosos. C

Relativo à lixiviação de resíduos perigosos granulares e ao teor de certos componentes. Critérios para resíduos monolíticos.

Critérios adicionais relativos ao teor de poluentes específicos.

99/31/CEE

Perigoso

Instalação e armazenagem subterrânea. DHAZ Requisitos especiais enumerados no anexo A

da diretiva. NOTA: (1) As subclasses se referem às categorias de aterros sanitários.

O regulamento francês e o da Comunidade Européia denotam bastante praticidade, ao comparar com a norma brasileira, devido à utilização de um número reduzido de testes e objetivo muito bem estabelecido (deposição em aterros sanitários). Na verdade, esta análise comparativa merece a atenção dos sistemas de gestão peculiar de cada país em questão. A França, por exemplo, utiliza-se das diretivas da Comunidade Européia na identificação dos resíduos perigosos, porém, em se tratando de resíduos últimos e não-últimos (analisando em termos de estocagem ou disposição em aterros), não aceita resíduos biodegradáveis nos centros de estocagens ou aterros, nem a co-disposição de resíduos, eles devem ser devidamente separados em categorias (Quadro 27) e, em conseqüência, maior segurança ambiental, podem-se permitir valores máximos de concentração mais altos (teste de lixiviação). O sistema adotado pela Comunidade Européia (diretiva 91/31/CEE) é mais flexível que o francês, proporções de resíduos biodegradáveis são permitidos e previstos no regulamento; este é o maior diferencial em relação ao regulamento francês.

Uma norma bastante referida na Europa e especificamente na França é a ENV 12920 – Caracterização dos resíduos – Metodologia para determinação do comportamento à lixiviação de um resíduo em condições específicas (Anexo F). A metodologia proposta por esta norma visa garantir estabilidade, levando em conta as propriedades especificas do resíduo e as condições do cenário. Ela consiste em várias etapas, nas quais são utilizados ensaios químicos, biológicos, físicos e ensaio de lixiviação. Os ensaios são escolhidos em função dos objetivos, isto é, a definição do problema e a solução pesquisada de um resíduo considerado sob um cenário a avaliar. Existe igualmente uma etapa de modelagem, a fim de prever o comportamento a longos períodos dos poluentes sujeitos àquele cenário.

Para aterros sanitários, a classificação geral dos resíduos e a respectiva verificação deverão se basear numa escala de três níveis (Mehú, 1998; Imyim, 2000; Diretiva Européia 99/31/CE,1999):

Nível 01: Caracterização básica. Consiste na determinação rigorosa do comportamento do resíduo a curto e a longo prazo em matéria de produção de lixiviado e/ou suas propriedades características, de acordo com os métodos normalizados de análise e de verificação do comportamento do lixiviado. A devida análise aqui é considerada nos testes, relação Líquido/Sólido (L/S), os parâmetros físicos e tempo de vida do material, a composição química do lixiviante, fatores controlados do lixiviante como pH, potencial redox e poder de complexação.

Nível 02: Verificação da conformidade. Consiste na verificação periódica dos métodos normalizados mais simples de análise e de verificação do comportamento do resíduo, das condições regulamentares ou critérios específicos de referência.

Nível 03: Verificação no local. Visa à confirmação rápida, se trata dos mesmos resíduos que os submetidos à verificação de conformidade e os descritos nos documentos de acompanhamento.

A verificação dos resíduos tem tomado um caráter bastante dinâmico no seu processo. Essa tem sido a tendência mundial, principalmente nos países indústrializados. Os estudos de modelagem, a caracterização de problemas específicos e análise de risco têm feito parte integrante nos processos de classificação de resíduos perigosos e não-perigosos. Os órgãos ambientais, paralelamente a comunidade científica dos países em desenvolvimento, como o Brasil especificamente, devem estar atento para essas novas tendências voltadas à gestão dos resíduos sólidos.