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Ferramentas utilizadas na identificação dos resíduos

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.5 IDENTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SEGUNDO PERICULOSIDADE

3.5.1 Ferramentas utilizadas na identificação dos resíduos

Existem três enfoques7 na classificação de resíduos perigosos (Yakowitz, 1988, citado pela CEPIS/OPS, 1993):

• Através de uma descrição qualitativa por meio de listas que indicam o tipo, origem e componentes dos resíduos;

• A definição de resíduo através de certas características que envolvem o uso de provas normalizadas, por exemplo, a prova de lixiviação, onde se contêm certas substâncias do lixiviado, determina se o resíduo é perigoso ou não;

• A definição de resíduo com relação a limite de concentração de substâncias perigosas dentro do mesmo resíduo.

Cada uma dessas três alternativas possui vantagens e desvantagens (Quadro 03). A primeira se mostra mais fácil de ser usada, enquanto as outras apresentam uma descrição mais clara e precisa dos resíduos. Freqüentemente, os países utilizam uma combinação desses sistemas. Por exemplo, nos Estados Unidos, em seu regulamento, prevê uma lista extensa de substâncias que confere periculosidade a um resíduo e métodos analíticos para sua detecção. Assim mesmo, inclui nestas listas mais resíduos segundo o processo produtivo que os origina. Na Alemanha, a lista principal de resíduos perigosos está relacionada à sua procedência e a legislação preconiza os limites de concentração de certas substâncias químicas (CEPIS/OPS, 1993; U.S.EPA, 1996; RCRA, EPCRA, 2001). Particularmente, as listas podem não expressar com precisão o caráter perigoso dos

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Esses enfoques, na verdade, se referem aos instrumentos utilizados no processo de identificação dos resíduos, como listas, provas normalizadas e a definição de resíduo com relação a limites de concentração (utiliza-se também, para esse caso, métodos padronizados como os testes de lixiviação).

resíduos. A Comunidade Européia, no intuito de lançar uma lista de resíduos perigosos, evidenciou a dificuldade de ordenar sistematicamente a diferenciação entre o caráter perigoso e não-perigoso dos resíduos. Os processos industriais mudam em relação aos países e em relação com o tempo aprimorando suas tecnogias, de forma que sua natureza e substâncias contidas podem mudar, tais como solubilidade e volatilidade, podendo assim afetar o homem e o meio ambiente (MÉHU, 1998).

QUADRO 3: VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ENFOQUES DADOS À CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

ENFOQUE VANTAGENS DESVANTAGENS

Listas

Facilita a gestão ambiental dos resíduos perigosos e agiliza o sistema legal de controle reduzindo trâmites burocráticos;

Evita o uso de ensaios normalizados e o estabelecimento de limite de concentração de substâncias perigosas, o que implica em alto custo de monitoramento e controle;

Evita análises laboratoriais que requerem uma sofisticada infra- estrutura e pessoal especializado;

Segurança ambiental.

As listas devem estar constantemente atualizadas; Falta de flexibilidade na classificação;

Por não levar em consideração a diferenciação de processos industriais, proporciona custos adicionais ao gerenciamento de algumas indústrias;

Não leva em consideração o resíduo como matéria prima de outros processos; Pode gerar custos adicionais no gerenciamento;

Falta de critério para resíduos misturados(1).

Provas Normalizadas

Descrição mais clara e precisa dos resíduos;

Pode proporcionar economia no gerenciamento, empregando, assim soluções, tecnicamente mais viáveis.

Custos dos ensaios;

Às vezes, podem se tornar complexas e de difícil execução; Demanda de tempo nas análises;

Exige constante controle de qualidade dos materiais e métodos empregados.

Limites de

concentração Descrição mais precisa.

Custo dos ensaios;

A não observação do montante de resíduo, no caso, com baixa concentração, pode mascarar a classificação, conseqüentemente o gerenciamento dos mesmos.

NOTA: (1) A norma brasileira NBR 10.0004 considera perigoso (classe I) os resíduos através da simples presença de um elemento, composto ou substância reconhecidamente perigosa. Os efeitos sinérgicos ou anuladores, neste caso, não são considerados.

Os regulamentos internacionais, U.S.EPA, Comunidade Européia, Nova Zelândia e Austrália, utilizam-se ainda de manuais complementares para identificação dos resíduos segundo as características de periculosidade (Quadro 4). Nesses manuais estão contidos indicações de métodos de testes, recomendações quanto ao padrão de qualidade dos materiais, seqüência lógica dos testes e valores limites das características a serem investigadas.

QUADRO 4: MANUAIS UTILIZADOS PELA U.S.EPA, CEE E MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE DE NOVA ZELÂNDIA E AUSTRÁLIA NO AUXÍLIO À IDENTIFICAÇÃO

DOS RESÍDUOS

Regulamento Manual

U.S.EPA SW-846 (1996)

CEE Diretiva 67/548/CEE e documentos complementares(1) Nova Zelândia e Austrália HSNO Act (1996)

NOTA: (1) A diretiva 67/548/CEE de 27 de junho de 1967 é o marco legal em termos de classificação, embalagem e rotulagem de substâncias perigosas. Esta diretiva sofreu várias modificações pelas emendas de 18 de setembro de 1979, 29 de julho de 1983, 25 de abril de 1984, 30 de abril de 1992, 19 de maio de 2000 e a de 6 de agosto de 2001.

O SW-846 (Métodos de Testes para Avaliação de Resíduos Sólidos, Métodos Físico- Químicos) é o manual recomendado pelo regulamento da U.S.EPA, o 40 CFR parte 261, e também tomada como referência no item 5 da norma brasileira NBR 10.004 (revisada, mas não em vigor). O uso dos métodos da SW-846 deve ser cuidadoso, sempre atento para as recomendações referentes à coleta da amostra, conservação, uso de materiais e a flexibilidade quanto ao uso de outros métodos. Uma vez não observadas as particularidades do manual americano, a padronização ou a execução tornam-se comprometidas. O SW-846 é um manual criado para avaliação dos resíduos conforme suas características ICRT (Inflamabilidade, Corrosividade, Reatividade e Toxicidade) e as propriedades físicas dos resíduos. Como tal, esses métodos tipicamente contêm estritos critérios de controle de qualidade (QC) apropriado a cada análise. O propósito é apresentar uma forma de escolher o método apropriado para análise das amostras, baseada na matriz de amostragem e na análise a ser determinada.

Em apoio às exigências estabelecidas para condução dos métodos, para a Comunidade Européia, a diretiva 92/32/CEE é a principal referência regulamentar para identificação de substâncias perigosas, classificação, embalagem e etiquetagem. Este regulamento é complementar à diretiva 67/548/CEE. Para CTC (2001), uma aproximação pode ser aplicada a resíduos perigosos, considerando-os como substâncias hipoteticamente comerciáveis e

usando a prioridade de teste expressos na legislação de substâncias perigosas como guia. Esta pode ser uma referência na determinação sobre quais métodos de testes deveriam ser conduzidos prioritariamente e satisfatoriamente (Quadro 5).

QUADRO 5: MÉTODOS A SEREM CONDUZIDOS PRIORITARIAMENTE SEGUNDO A DIRETIVA EUROPÉIA 93/32/CEE

Categoria Condição Referência

Quantidade < 100 kg por ano por fabricante Anexo VII.C Notificação reduzida

Quantidade total produzida de 500Kg por fabricante Anexo VII.B Quantidade 1 – 10 ton. por ano por fabricante

ou quantidade total fabricada de 50 ton. Anexo VIII (Nível 1) Notificação Completa

Quantidade entre 10 – 1.000 ton. por ano por fabricante. Anexo VIII (Nível 2)

FONTE: Adaptação diretiva 93/32/CEE

NOTA: Os anexos mencionados no Quadro 5 se referem àqueles da diretiva 92/32/CEE.

Cada um desses anexos é largamente dividido em:

1. Identificação do fabricante; 2. Identificação da(s) substância(s); 3. Informação sobre a substância;

4. Propriedade físico-química da substância; 5. Estudos toxicológicos;

6. Estudos Ecotoxicológicos;

7. Possibilidade de tornar a substância inofensiva.

O HSNO Act se utiliza constantemente como referência o UN Manual of Test and Criteria e a UN Recommendations of Transport of Dangerous Goods, da Organização das Nações Unidas. É um manual de subdividido em capítulos que tratam separadamente de cada propriedade de perigo especificamente, como explosividade, inflamabilidade, substância com propriedade de oxidação, corrosividade, toxicidade e ecotoxicidade.

No contexto mundial, outros organismos se destacam no tocante à identificação de resíduos, como a OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a U.S.OPPT (Office of Pollution Prevention and Toxics of United State – Serviço de Tóxicos e Prevenção de Poluição dos Estados Unidos) juntamente com OPPTS (Office of Prevention, Pesticides and Toxic Substances – Serviço de Prevenção de Substâncias Tóxicas e Pesticidas também dos Estados Unidos). Todos eles estabelecem métodos de testes para avaliação de substâncias.