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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.7 NORMAS E REGULAMENTOS PARA CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

3.7.4 Regulamentos americanos

Nos Estados Unidos, foi promulgada, em 1976, a lei 94-580, Ato de Conservação e Recuperação de Recursos (RCRA). Essa lei menciona que o termo resíduo perigoso caracteriza um resíduo sólido, ou sua combinação que, devido à quantidade, concentração ou característica física, química ou infecciosas pode: a) causar incrementos nas mortalidades ou enfermidades irreversíveis, ou incapacidades irreversíveis, ou contribuir, de forma significativa, para referidos incrementos; b) apresentar considerável perigo, atual ou

potencial, para a saúde humana ou para o ambiente, em seu tratamento, armazenamento, transporte, eliminação ou manejo inadequado. Menciona que os critérios para classificação como resíduo perigoso deverão considerar as características de toxicidade, persistência, degradabilidade na natureza, potencial de acumulação nos tecidos, dentre outros fatores como combustão e corrosividade. Devido aos diversos casos de poluição, a legislação americana foi reforçada. Esta lei requer à Agência de Proteção Ambiental americana (EPA – Environmental Protection Agency) que identifique e regulamente sobre resíduos e desenvolva um programa para assegurar que este seja manejado de forma adequada, com menor grau de risco possível, desde a sua geração, transporte, tratamento, armazenagem e finalmente o descarte.

No ano de 1980, foi criada a “Comprehensive Environmental Renponse, Compesation and Liability Acta” (CERCLA), também conhecida como lei do superfundo, onde são identificados quatro classes de responsáveis potenciais: proprietário e operadores atuais das instalações para eliminação de rejeitos perigosos, proprietários e operadores passados; geradores de rejeitos perigosos; e aqueles que recebem os rejeitos, com a finalidade de transportá-los. A lei adota o sistema de responsabilidade integral (strict liability), que passa a estimular o desenvolvimento de técnicas seguras para a eliminação de rejeitos.

Os regulamentos sobre resíduos perigosos podem ser encontrados no capítulo 40 do Código de Regulamentos Federal (CFR – Code of Federal Regulations) parte 261 a 299. Ele é atualizado diariamente com volumes individuais do Registro Federal. Ele é um conjunto de regulamentos gerais, publicado no Federal Register pelos vários departamentos executivos e agências do governo federal norte-americano. O código é dividido em 50 títulos que representa várias áreas temáticas. Cada título é dividido em capítulos que, usualmente, relatam o nome da agência responsável pela criação das normas. Cada capítulo é posteriormente subdividido em partes, cobrindo áreas especificas. No 40 CFR, o título é “Proteção Ambiental” indicado pelo número 40 correspondente e a agência responsável pela sua publicação é a EPA – Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental Norte-americana). A Parte 261 corresponde à Identificação e Listagem de Resíduos Perigosos no 40 CFR. É nessa parte que os resíduos são classificados e descrito o guia para identificação dos mesmos. Uma descrição geral sobre a estrutura do regulamento pode ser encontrada no Anexo C do presente trabalho.

A forma de identificação dos resíduos segue os seguintes passos (EPA, 1997):

Primeiramente determina-se se o resíduo é ou não um “resíduo sólido”. A EPA define “resíduo sólido” como desperdício, lodo, ou outro material que se descarta (incluindo sólidos, semi-sólido, líquido e materiais gasosos em recipiente).

FIGURA 7: DEFINIÇÃO DE RESÍDUO SÓLIDO SEGUNDO A EPA FONTE: 40 CFR parte 260

Decidir se um material é ou não um resíduo não é tão simples, como relata a própria EPA. Por exemplo, um material (como alumínio, ferro ou um solvente qualquer) que se descarta pode ser valorizado em outro processo ou reciclado. A EPA desenvolveu regulamentações para assistir na determinação se o material é um resíduo ou não, e esta baseada em sua definição preconizada e consulta a listas. Na verdade, a intenção demonstrada pelos documentos do RCRA é deixar em evidência o potencial do resíduo de ser reciclado, reaproveitado, servir como fonte de energia ou, de alguma forma, reduzido. É importante frisar que o RCRA usa o termo “solid waste” (resíduo sólido) no lugar do termo comum “waste” (resíduo). Para RCRA, o termo “resíduo sólido” significa qualquer resíduo, seja ele sólido, semi-sólido ou líquido (RCRA, 2001).

Se o resíduo é “resíduo sólido”, o segundo passo é determinar se o resíduo é perigoso ou não. A EPA define resíduo perigoso de seis maneiras diferentes (EPA, 1997):

A. É um resíduo presente na lista. A EPA tem formulado várias listas de resíduos perigosos (40 CFR 261.30). Se o resíduo aparece em qualquer uma dessas listas, então é

O material é um Resíduo Sólido

O item 260.4 exclui o material do regulamento por ser ele:

1. Esgoto doméstico

2. Está dentro de outro programa regulamentar para esgoto industrial como o CWA seção 402 3. Fluxo de Irrigação

4. Está incluso dentro do programa regulamentar de resíduo nuclear

5. Resíduo de minério

MATERIAL

Sólido, líquido e sem-sólido ou material aquoso, o qual é:

- descartado;

- desperdício ou intencionalmente descartado.

Refugo ou lodo de sistema de

tratamento Outros

O material não é Resíduo Sólido

Não

perigoso, sem se importar com a concentração dos constituintes perigosos dos resíduos. Essa lista identifica:

Resíduo de fontes não especificadas (40 CFR 261.31), que são resíduos de materiais específicos tais como materiais de solvente, resíduos de galvanoplastia, resíduo de tratamento térmico de materiais, produzidos comumente por uma ampla variedade (fontes não específicas) de processos de manufatura e industriais (designado com código de resíduo “F”).

Resíduos de fontes específicas (40 CFR 261.32) que são resíduos de indústria identificada, tais como: preservação de madeira, refinação de petróleo e manufatura de produtos químicos orgânicos (designados com código de resíduo “K”).

Produtos químicos comerciais descartados (40 CFR 261.33), que são produtos sem especificação particular, recipientes residuais, resíduo de deságua e derramamento. O ingrediente ativo que se tem derramado que não tem sido usado e que se tenta descartar (designado com código de resíduo “P” e “U”). Se a intenção é usar como material reciclado, não é considerado um material perigoso.

B. É um resíduo característico. A EPA identifica quatro características, ou atributos, de resíduo perigoso: inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxidade (designado com o código de resíduo “D”). Os resíduos são considerados perigosos se exibirem qualquer uma dessas características (40 CFR 261.20-24). Estas propriedades podem ser determinadas através de ensaios normalizados e disponíveis e podem ser encontrados no manual titulado Método de Ensaio para Avaliar Resíduo Sólido, Método Físico/Químico (SW-846).

C. É uma mistura de resíduos. Se o resíduo é uma mistura de resíduos não perigosos e de resíduos perigosos presentes na lista, estes também são considerados perigosos (40 CFR 261.3). Por exemplo, sejam dois resíduos presentes na lista, um por ser somente inflamável e outro por ser reativo. Neste caso, se a mistura resultante não for inflamável ou reativa, a mistura ainda é considerada um resíduo da lista.

D. É um resíduo “derivado” de resíduo perigoso. Qualquer resíduo gerado (derivado) do manejo (tratamento, armazenagem, disposição em aterros etc.) de um resíduo perigoso listado, incluindo os efluentes industriais ou urbanos domésticos, resíduos de derramamento, cinzas, pó de controle de emissões ou lixiviado.

E. É Resíduo de um meio contaminado. No meio ambiente, águas subterrâneas, solo ou sedimento, às vezes entram em contato com resíduo perigoso da lista. Se este meio se contamina, portanto contém resíduo perigoso, deve ser manejado como resíduo perigoso e não há citação de código no regulamento.

F. É um resíduo de escombro contaminado. Objetos manufaturados, materiais vegetais e animais, e material geológico natural que excede a 60 mm (2.36 polegadas) no tamanho de partícula e está destinado a ser descartado como “escombro” (40 CFR 268.2). Escombro não é considerado resíduo sólido, mas se um resíduo perigoso se mistura com escombro, então este se converte em resíduo perigoso.

O procedimento para definição se o resíduo é um resíduo perigoso é esquematizado conforme a Figura 8, a U.S. EPA prioriza o uso de listas no processo de identificação.

FIGURA 8: DEFINIÇÃO DE RESÍDUOS PERIGOSOS CONFORME A U.S. EPA FONTE: 40 CFR parte 260.

O Quadro 16 mostra os códigos aplicados aos resíduos listados por exibirem tipicamente uma das características de periculosidade.

O resíduo é sujeito ao controle conforme subtítulo D (se disposto em aterros) O resíduo sólido está excluido conforme

item 261.4(b)?

O resíduo sólido está listado na Parte 261, subparte D, ou é uma mistura que contém

resíduos listados na subparte D?

O resíduo ou mistura é excluído da listagem da subparte D ou 261.3 de acordo

com 260.20 e 260.22

O resíduo exibe qualquer uma das características especificadas na Parte

261, subparte C

O resíduo é um resíduo perigoso

Sim Não Sim Sim Não Não Sim Não

QUADRO 16: CÓDIGO DE PERIGO DESIGNADO PARA A LISTA DE RESÍDUOS DA EPA

Característica Código

Resíduo Tóxico (T)

Resíduo Agudamente Perigoso (H)

Resíduo Inflamável (“Ignitability”) (I)

Resíduo Corrosivo (C)

Resíduo Reativo (R)

Resíduo com Características de Toxicidade (E)

Os códigos dos resíduos listados regem o manejo dos resíduos. Por exemplo, resíduos agudamente perigosos, acompanhados pelo código (H), são sujeitos aos mais rígidos padrões de gerenciamento que os demais outros resíduos.

Os resíduos tóxicos, código “T”, e os resíduos agudamente perigosos, código “H”, baseiam-se em estudos da toxicologia humana. No entanto, em relação ao resíduo com “Característica de Toxicidade”, código “E”, refere-se àquele submetido a um teste de lixiviação (TCLP) e cuja concentração do lixiviado seja maior ao limite máximo permitido expresso do regulamento.

Os resíduos inflamáveis “Ignitability”, código “I”, identificam resíduos que podem pegar fogo e sustentar a combustão. Para a EPA, em relação ao resíduo “não líquido”, considerado inflamável “ignitable”, é aquele que pega fogo espontaneamente ou através de fricção ou absorção de misturas sob condições normais de manuseio.

A característica de corrosividade identifica resíduos que são ácidos ou alcalinos (básicos) e podem corroer o tecido humano, metais ou outros materiais.

Em relação ao resíduo com “Característica de Reatividade”, o regulamento 40 CFR 261.23 define este como aquele que apresenta qualquer uma das características: apresenta reações químicas violentas (instabilidade química); reage violentamente ou forma misturas explosivas quando em contato com a água; gera gases tóxicos quando em contato com a água ou, no caso de resíduo a base de cianetos ou sulfetos, quando exposto em condição de meio ácido ou básico; explode quando submetido a uma grande força inicial; explode em condições normais de temperatura e pressão; enquadra-se dentro das classes de explosivos A ou B do Departamento de Transporte americano.

O regulamento americano se apóia principalmente em extensas listas de resíduos para identificação das suas propriedades características. As Provas normalizadas também são recomendadas e a principal referência dentro do processo de identificação de resíduos

sólidos é o manual SW 846 (Test method for evaluation solid waste, physical/chemical methods – Método de teste para avaliação fisico/químico dos resíduos sólidos). Este manual foi escrito com intuito de indicar procedimentos adequados analíticos/quantitativos para verificar se os resíduos contêm elementos de preocupação que os leve a ser gerenciados como resíduos perigosos. Como tal, estes métodos contêm estrito critério de controle de qualidade apropriado às análises.

O regulamento americano não especifica uma classificação clara e objetiva, como a NBR 10.004 (Classe I, Classe II, Classe III) ou o regulamento francês (Resíduos Último e Não- Último). Eles conotam uma classificação baseada na periculosidade e, para os resíduos não perigosos, um enfoque maior do critério do potencial reciclável, estando incluso neste conceito a valorização, o aproveitamento energético, a compostagem e a redução na fonte poluidora (Figura 9). Os resíduos perigosos devem ser devidamente codificados (Quadro 16) e o processo de identificação é feito através de listas de resíduos e provas normalizadas.

FIGURA 9: CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS SEGUNDO OS REGULAMENTOS AMERICANO SOBRE RESÍDUOS SÓLIDOS

A metodologia aplicada para identificação das propriedades características de periculosidade (ICRT) é esquematizada na Figura 10. A U.S.EPA recomenda os procedimentos determinados pela SW-846.

Resíduo Sólido Não Perigoso Perigoso Codificação: (T) - Tóxico (H) - Agudamente Tóxico (I) - Inflamável (C) - Corrosivo (R) - Reativo

(E) - Característica de Toxicidade

- Avaliação do potencial de reaproveitamento. - Diposição em aterros.

FIGURA 10: DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ICRT SEGUNDO A SW – 846.

FONTE: Test Methods for Evaluating Solid Waste, Phsical/Chemical Methods – SW-846 (1996).

O resíduo é um gás ? Sim É um gás imflamável ? Sim Perigoso

O resíduo é Reativo com ar e/ou água ? Não O resíduo é Explosivo Não Perigoso Perigoso Sim Sim

Qual o estado físico do

resíduo ? O resíduo é Inflamável ? Sólido

Perigoso Sim

Performance no Teste de Filtro para Tintas (Método 9095)

O resísuo é Corrosivo ? Perigoso

Nâo perigoso para características de Corrosividade

O resíduo é Inflamável ? Perigoso

A A Não Líquido Sólido Líquido Sim Não Sim Não Não

Não perigoso por razão de característica de inflamabilidade Parar Não Método 1110 e 9040 DOT (49 CFR 173.300) Gerador conhecido DOT (49 CFR 173.151) Método 1010 ou 1020

FIGURA 10: DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ICRT SEGUNDO A SW - 846 Continuação.

FONTE: Test Methods for Evaluating Solid Waste, Physical/Chemical Methods – SW 846 (1996)

A

Não Perigoso por características de Inflamabilidade

O resíduo gera gases Tóxico

Não Perigoso por características de geração de gases Tóxico (Reatividade)

Não

A concentração total de constituíntes TC/ 20 < Limite TC regulamentado ?

O resíduo é lixiviável e Tóxico ? (Método 1311) TCLP Não Perigoso Sim Perigoso

Não perigoso para características de Toxicidade

Não perigoso para características de Toxicidade Parar Parar Sim Sim Não Teste reativo com CN e Sulfetos - SW 846 cap. 7

O terceiro passo recomendado pela RCRA é, justamente, em relação ao manejo desses resíduos, que devem cumprir os regulamentos da EPA para tratamento, armazenamento e disposição final.

Resíduos que estão excluídos da definição de resíduos sólidos ou não são cobertos pelo regulamento de resíduos perigosos 40 CFR 261. Por exemplo, fluxo de retorno de irrigação, resíduos domésticos e resíduos minerais, podem estar sujeitos a outros regulamentos federais do programa.