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A pesquisa realizada, a partir do estudo aprofundado dos regulamentos internacionais, das propriedades características preconizadas em cada uma delas, dos procedimentos recomendados e valores de referência praticados e a própria análise critica da NBR 10.004 demonstrou de fato a necessidade de reavaliação da norma brasileira, seus conceitos e valores limites de referência.

A análise crítica da norma brasileira NBR 10.004 permitiu apontar suas principais deficiências e, com isso, a formulação de novas proposições de novos procedimentos. Ela evidenciou a necessidade de mudanças, de inclusão de novos parâmetros de avaliação dos resíduos, como os de ecotoxicidade, para resíduos perigosos, integridade física e mecânica, para resíduos solidificados. Colocou em proeminência os valores de referência praticados e a necessidade de inserção dos resíduos Estabilizados/Solidificados dentro do processo de classificação dos resíduos sólidos.

Através do conhecimento relacionado à classificação dos resíduos sólidos, demonstrou:

• a importância da classificação dos resíduos dentro de um contexto de gestão;

• as implicações técnicas ambientais;

• caráter interdisciplinar.

A revisão literária permitiu reunir um conjunto de informações necessárias para subsidiar um processo de identificação das propriedades características dos resíduos. Estes dados dão apoio à formação de novas normas até então não desenvolvidas no Brasil e fortalecem as questões relacionadas à qualidade ambiental.

A classificação dos resíduos, baseados na periculosidade, não se atém simplesmente a cobrir riscos relacionados ao encaminhamento equívoco de resíduo para aterros sanitários, mas procura também cobrir riscos intrínsecos de pessoas diretamente envolvidas no processo, da população como um todo; riscos de poluição de águas superficiais e subterrâneas e riscos crônicos e agudos, do ponto de vista toxicológico.

A dinâmica da classificação dos resíduos sólidos vai além de cumprir a rigor um protocolo de procedimentos. Ela tem assumido um caráter dinâmico. O processo envolve

análise de ciclo de vida, análise de risco, modelagens, caracterização do ambiente envolvido no processo, caracterização toxicológica e, até mesmo, a política de gestão. O perigo não é iminente no caráter do resíduo especificamente, da presença ou não de poluentes, mas do conjunto de fatores relacionados aos cenários envolvidos no gerenciamento, incluindo local de deposição, da relação resíduo/cenário. Um resíduo não-perigoso mal gerenciado pode se tornar perigoso.

A análise comparativa entre a norma brasileira e os regulamentos internacionais permitiu cruzar informações de maneira a apontar os pontos comuns entre os regulamentos e complementares à NBR 10.004.

O conceito de resíduos últimos colocou em evidência o potencial de valorização do resíduo. Ele impõe, implicitamente, a busca de desenvolvimento de tecnologias limpas no processo e tecnologia mais eficaz de estabilização/solidificação.

Dentre as limitações observadas no presente trabalho, a elaboração das proposições não segue as etapas normais recomendadas pela ABNT (seção 3.1.2). As propostas são feitas exclusivamente com base na prática verificada em outros regulamentos. Em adição, elas não foram submetidas a um estudo de caso, o que poderia levantar contribuições em relação a sua praticidade e aplicabilidade.

A escolha do teste de lixiviação é regida segundo as recomendações preconizadas pela norma ENV 12920 “Caracterização dos resíduos – Metodologia para determinação do comportamento à lixiviação de um resíduo dado condições específicas”. Em outras palavras, os seguintes passos devem ser tomados: definir o problema em busca de solução; identificar as influências da qualidade do resíduo e as condições fixadas do cenário de lançamento; montar o modelo do procedimento de lixiviação; avaliar a validade dos procedimentos; proceder ao ensaio. Os dados publicados pela U.S.EPA (1996), Hooper (1998) e Oliveira (2002) corroboram ao afirmar que alguns testes são mais adequados, quando se quer avaliar resíduos sob determinados tipos de cenários.

Os valores de concentração máxima permitida nos testes de lixiviação são passivos de alteração. Como visto, estes valores foram originados do Padrão de Potabilidade da Água acrescidos de um fator de diluição DAF, levou-se em consideração na determinação estudo de modelagem, considerando diversos cenários possíveis de serem encontrados nos países estrangeiros. Para o Brasil, estes estudos não foram desenvolvidos, portanto estes valores devem ser avaliados a fim de se aproximar ao máximo da realidade brasileira, considerando, nos diversos cenários de disposição, os fatores hidro-geológicos, climáticos, a forma de disposição (mono ou co-disposição) e o teste de lixiviação empregado.

6.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Considerando a diversidade de parâmetros na determinação do caráter perigoso dos resíduos, é necessário, além da verificação da eficácia dos métodos recomendados, desenvolver outros mais simplificados, de resposta mais rápida, em função da dinâmica do processo de gerenciamento integrado dos resíduos, como exemplo, citam-se os procedimentos in vitro, alternativos àqueles utilizados normalmente na toxicologia, os testes in vivo.

Recomenda-se ainda:

1. Estudo de caso e verificação da aplicabilidade das proposições elaboradas neste trabalho;

2. Verificação da hipótese do teste de lixiviação não necessitar simular uma realidade específica, ou seja, um cenário específico de disposição, mas da possibilidade de existir um teste padrão para avaliação de resíduos sólidos ou solidificados, com devidas ponderações;

3. Avaliar as conseqüências diretas e indiretas de gerenciar os resíduos não-sólidos como sólidos (definição da NBR 10.004, presente na lei 94-580, Ato de Conservação e Recuperação de Recursos (RCRA), dos Estados Unidos, descrito pela U.SEPA 40 CFR 261). Demonstrar as implicações econômicas e ambientais;

4. Verificar a pertinência da avaliação dos resíduos solidificados pelos processos recomendados na Norma AFNOR X31-212, X31-211 e X31-210, como recomendado também na proposição 2 (Apêndice B);

5. Pesquisar em que nível os Limites Máximos de Concentração dos poluentes e os Fatores de Atenuação e Diluição (DAF’s), praticados por diversos regulamentos nos testes de lixiviação, são protetores para os seres humanos e para o meio ambiente e definir valores apropriados para a realidade brasileira;

6. Análise de risco, a fim de definir valores de referência específica dos limites de exposição aguda e crônica, aceitáveis para as diversas características de periculosidade.