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Clima e Cultura organizacional da escola

CAPÍTULO 3 DIMENSÕES DA GESTÃO ESCOLAR

3.6 Dimensão VI Cultura e Clima Escolar

3.6.1 Clima e Cultura organizacional da escola

A cultura organizacional da escola é expressa por crenças, pressupostos, normas, padrões de comportamento, hábitos, modelos mentais, padrões linguísticos, valores, códigos informais, regulamentos, práticas, costumes, pela tecnologia, o modo de fazer, o modo de usar o tempo, que extrapola o cronograma, caráter, constituído pelo sentimento e reações das pessoas e sobre o papel delas no contexto escolar, muitos dos quais estão implícitos.

A cultura organizacional é aprendida e formada pelo coletivo, a partir das experiências vivenciadas pelo grupo, da influência da liderança, seja intencional ou espontânea. A cultura na escola é formada pela sua história vinculada à comunidade, ao sistema de ensino, à dinâmica das interações, ao modo de como os desafios são enfrentados, aspectos esses expressos e compartilhados coletivamente de maneira duradoura. (LÜCK, 2009).

A cultura organizacional é definida como:

[...] o conjunto de fenômenos decorrentes da interação de seres humanos na organização, um fenômeno grupal resultante e característico de uma coletividade que engloba os fatos materiais e os abstratos, resultante da convivência institucional. (BRITO, 1998, p. 134).

O clima escolar é definido como:

Como um elemento capaz de impulsionar significativamente, as descrições coletivas de uma subunidade organizacional, ou da própria organização como um todo; um ponto referencial para membros da organização determinando atitudes, expectativas e condutas; mediador das práticas organizacionais das quais é originário e pelas quais se mantém; como multiclima, de acordo com as muitas práticas e percepções dos atores no seu interior. Ele pode ser considerado sob um tríplice aspecto: social, acadêmico e organizacional. (BRITO, 1998, p. 135).

Estudos demonstram que tendencialmente, o trabalho de gestão nas escolas é realizado de forma individualizada e não com base a uma organização que, coletivamente

elabora seus objetivos manifestados pela ação de diversos profissionais. Em sendo assim, ao diretor de escola cabe o desafio de disseminar novas visões sobre a construção de uma escola, de fato, de caráter educativo, levando os participantes a focalizar os aspectos importantes da sua experiência, identificando as características e analisando os resultados dos objetivos educacionais, orientando o grupo constantemente a avaliar seu desempenho, suas competências, hábitos, atitudes à luz dos objetivos propostos.

Os profissionais da escola precisam dar sentido à realização de seu trabalho, sua aprendizagem em serviço e ao seu desenvolvimento profissional. A escola deve estar direcionada à construção de uma identidade social positiva e a comunidade deve contar com uma instituição que contribua para o seu aprimoramento sociocultural.

Observa-se nas escolas que o diretor exerce, muitas vezes, apenas as funções burocráticas, de controle e cobrança, sem um esforço de exercer a liderança sobre a organização social da escola e a orientação para a realização dos objetivos educacionais, por comodismo ou receio de enfrentar dificuldades, dessa forma deixam os espaços de liderança para outras pessoas, que muitas vezes a fazem sem o sentido da ação educacional, dentre outros preceitos essenciais à gestão escolar.

A essência da cultura de uma escola é expressa pela maneira como ela promove o processo de ensino e aprendizagem, a maneira como trata seus alunos, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades e o grau de lealdade expresso por todos em relação à escola e à educação. A cultura organizacional representa as percepções dos gestores, professores, e funcionários da escola e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a gestão de pessoas. (LÜCK, 2009, p. 120).

Estudos evidenciam discrepâncias entre os objetivos educacionais e os objetivos expressos na cultura escolar, manifestadamente nas atitudes individualistas, na omissão do enfrentamento dos problemas cotidianos, na ausência de competências para lidar com dificuldades, entre outros. Acresce-se a essas questões, o fato de que os objetivos propostos são definidos fora do âmbito escolar, basicamente por legisladores, teóricos e líderes educacionais que se valem de conceitos abrangentes a respeito do ideário educacional, levando-os a considerar “como a escola deve ser” e não “como ela é”, o que gera distâncias significativas nas proposições entre a realidade e o ideal.

A cultura da escola é formada pela cultura de vários segmentos, pessoas heterogêneas, em épocas diversificadas. Desta feita, se há uma cultura de participação apenas na fantasia da lei ou na fragilidade embrionária, verifica-

se então o fortalecimento de lideranças individuais, personalistas. (BRITO, 2011, p. 190).

Percebe-se então, a importância do diretor de escola ao promover uma gestão participativa que busca lideranças coletivizadas, construídas pelo melhor de cada um, caracterizada precipuamente como um processo.

Uma das dimensões mais significativas da atuação do diretor de escola, como gestor do trabalho da escola como organização social, diz respeito a sua habilidade de perceber, compreender e atuar, influenciando de forma positiva o contexto. Observa-se que o poder é uma força que dinamiza as pessoas e organizações sociais, movendo-as para uma mesma direção, ou mantendo-as numa mesma posição. Cada escola deve examinar as questões de poder, no sentido de redefini-las num processo participativo para a melhoria da qualidade do ensino, no interesse de promover a formação educacional de qualidade para os alunos. (LÜCK, 2010b).

Destacam-se, a seguir, parâmetros sobre as características da cultura organizacional, segundo aspectos e dimensões do ponto de vista da administração burocrático-administrativa e do ponto de vista da gestão escolar, dinâmica democrático-participativa, conforme expressos no Quadro 10.

Quadro 10. Características da cultura organizacional, segundo aspectos da administração e da gestão

CONTINNUM DE SUAS CARACTERÍSTICAS

A B

 Poder  disseminado  centralizado

 Comunicação  clara/aberta  distorcida/fechada

 Organização  ordenada  desordenada

 Responsabilidade  assumida como própria  assumida como superior/externa  Relações Interpessoais  positivas, amigáveis e recíprocas  negativas, interpessoais e unilaterais  Expectativas de resultados  elevadas  baixas

 Autoridade  de coordenação e orientação  de controle e comando estática orientada por tarefas

 Atividade  dinâmica orientada por resultados  estática orientada por tarefas  Iniciativa  autodeterminada  heterodeterminada  Trabalho  profissionalização  atividade rotineira

 Mudança  inovadora  conservadora

 Ambiente Social  leveza, alegria e espontaneidade  fechado e tenso  Tempo  organizado e estruturado  sem controle

 consciência de seu valor  falta de consciência de seu valor  focada na dinâmica da aprendizagem  desordenada ou focada no comportamento

externo DIMENSÕES/ ASPECTOS

 Disciplina

Fonte: LÜCK, 2009, p. 125.

Brito (2011) estabelece uma proposta de gestão democrático-participativa em contraposição a uma administração hierárquico-piramidal inserida na cultura da escola,

“cultura que cultiva na figura do diretor o seu líder mais caro, exigindo dele a condução dos projetos inovadores reorganizadores”. (BRITO, 2011, p. 183).

O conceito de inovação é definido por Masetto (2004, p. 197) como “o conjunto de alterações que afetam pontos-chave, eixos constitutivos da organização do ensino [...] provocadas por mudanças na sociedade ou por reflexões sobre concepções intrínsecas à missão da Educação”.

Assim, gerir o clima e a cultura da escola, com propostas de mudanças e inovações nas relações de poder, importantes para outras mudanças, como as curriculares. Quando a proposta prevê mudanças, há complexidade para gerir a cultura da escola, pois os vários segmentos demonstram resistências. Todavia, os momentos de crise vivenciados pela organização são importantes para iniciar as mudanças na cultura organizacional e nos projetos relacionados a questões curriculares. (BRITO, 2011).