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Dimensão III Gestão democrática e participativa

CAPÍTULO 3 DIMENSÕES DA GESTÃO ESCOLAR

3.3 Dimensão III Gestão democrática e participativa

A gestão democrática e participativa representa uma dimensão complexa e abrangente, de caráter político, uma vez que dá poder às pessoas, poder que é legítimo no contexto educacional, com vistas a contribuir para a formação e o desenvolvimento integral dos alunos, mediante a participação da comunidade escolar interna e externa.

A escola democrática é aquela em que seus participantes encontram-se coletivamente organizados e compromissados com a promoção da educação, de qualidade para todos. A democracia se constrói mediante a articulação de direitos e deveres; são conceitos indissociáveis, e interligados entre si. Os cidadãos têm o direito de usufruir dos bens e serviços, mas também, a responsabilidade pela produção e melhorias desses, e é nessa junção que se estabelece a verdadeira democracia pela construção de um bem comum. (LÜCK, 2010c).

A educação é um processo social colaborativo e, em sendo assim, para que tenha êxito é preciso contar com a participação da comunidade escolar interna, assim como, a dos pais e sociedade no geral. Dessa participação conjunta resulta a qualidade do ensino para

todos, na busca por iguais oportunidades de acesso, sucesso e progresso educacional. A gestão democrática é um princípio definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (art. 3º, inciso VIII) e na Constituição Federal (art. 206, inciso VI), considerado no capítulo 1.

O objetivo maior da gestão democrática é a promoção da aprendizagem e a formação dos alunos e, para ser atingido, os esforços necessitam acontecer em conjunto envolvendo a participação de todos os segmentos da escola. Portanto, é tarefa do gestor reduzir as desigualdades de oportunidades e promover a unidade social, criando uma visão de conjunto, cooperação e ação articulada, promovendo um clima de confiança, integração de ações, enfraquecendo os atritos, ao mesmo tempo, que inserindo a cultura de valorização das capacidades, desenvolvendo a prática de decisões colegiadas e o compartilhamento das responsabilidades.

De acordo com Brito,1 as decisões colegiadas devem ser respeitadas até mesmo nas

ações mais simples e cotidianas da escola, como em eventos, por exemplo, em que o diretor não decide isoladamente, mas implementa ações pautadas nas decisões coletivas.

Os colegiados escolares têm por objetivo auxiliar na tomada de decisão em todas as suas áreas de atuação, também denominadas de Unidades Executoras - UEX. Tais Unidades constituem-se em espaços efetivos e organizados de participação da comunidade escolar na gestão da escola; são unidades de direito privado, sem fins lucrativos, vinculadas à escola e que congregam, por exemplo, a Associação de Pais e Mestres - APM, presente na maioria das escolas, com atuação nas dimensões: pedagógica, administrativa e financeira.

Apesar das Unidades Executoras - UEX estarem presentes em todas as escolas para receber e gerir os recursos financeiros sejam do governo federal, como o Programa Dinheiro Direto na escola – PDDE, sejam do governo estadual, municipal ou recursos arrecadados por campanhas e festas na própria escola, há indicativos de que seu funcionamento nem sempre é participativo e, que algumas existem apenas formalmente, porém as decisões são tomadas pela direção da escola e os pais chamados apenas para assinar e conferir as prestações de contas. Perde-se então, o espírito da gestão democrática e colegiada, que se pressupõe participativa na totalidade da dinâmica escolar.

Reconhecem-se as contribuições dessas entidades, porém há necessidade de avanços no seu processo participativo no sentido de uma concepção da escola como unidade básica de gestão democrática, gerida colegiadamente, mediante a atuação efetiva de professores, pais e comunidade, pois a presença destes nos órgãos colegiados implica no real

poder da comunidade escolar, como partícipe ativa na gestão da escola. (APPLE, JAMES, 2001)

A liderança é componente essencial para uma gestão democrática, influencia pessoas a partir da motivação do gestor para o desenvolvimento de atividades que tenham propósitos claros de orientação e que sejam assumidas pelo grupo. Implica em processos sociais dinâmicos, interativos e participativos, na modelagem de valores educacionais elevados, e na orientação para o desenvolvimento e aprendizagem contínuos, como vimos no capítulo 2.

Brito (2014) relata que a gestão democrático-participativa vivenciada por Paulo Freire no início dos anos 90, como secretário da Educação no Município de São Paulo, se fez pelo caminho do compartilhar poderes e saberes. Paulo Freire orientou-se, segundo o texto, por quatro principais objetivos: ampliar o acesso e permanência dos setores populares, por meio da efetivação dos conselhos de escola, democratizar o poder pedagógico e educativo para que todos da comunidade escolar se vinculassem ao planejamento autogestionado, construção coletiva de um currículo interdisciplinar, a formação permanente do pessoal docente, e contribuir para eliminar o analfabetismo de jovens e adultos de São Paulo, aceitando as tensões e contradições sempre presentes em todo esforço participativo.

Observa-se que a gestão democrática da educação está presente no conjunto da obra de Paulo Freire, como também em suas ações de política educacional, produziu muitas críticas às perspectivas mecanicistas, racionalistas, centralistas, autoritárias e burocráticas de educação. Freire em sua atuação enquanto Secretário descentralizou as decisões, efetivou os conselhos de escola, propôs suas concepções de gestão colegiada, administração dialógica, gestão participada, autogoverno da escola, administração democrática, democratização e autonomia das escolas. (FREIRE, 2007).

A liderança compartilhada e a coliderança como já considerado anteriormente, são imprescindíveis no processo de compartilhar a prática e na tomada de decisões, sobretudo de forma planejada com os membros da equipe gestora - diretor, vice-diretor e coordenador pedagógico.

É possível identificar alguns diretores de escolas públicas municipais com receio de exercer a gestão compartilhada por considerarem que correm risco de perderem o cargo ou a liderança para os outros gestores, como o vice-diretor ou o coordenador pedagógico da escola. Na realidade, tal postura caracteriza um comportamento equivocado que acarreta desorientação, pois os objetivos e ações da equipe gestora devem estar em consonância.

Programas e parcerias também são importantes para o desenvolvimento da escola, pois podem trazer uma variedade de atividades, proporcionando o desenvolvimento do

currículo, suportes para o processo de ensino-aprendizagem e provimentos de suporte técnico, material e financeiro. Dimensão que requer saberes especiais, uma vez que, espera-se, que integre todas as diferentes áreas de ações e seus atores em torno de ideias e objetivos comuns. Para que aconteça a gestão democrática na escola se fazem necessários também, espaços propícios para o estabelecimento de novas relações sociais entre os diversos segmentos escolares. Assim, entre tantos, destacam-se o Conselho Escolar, o Conselho de Classe, a Associação de Pais e Mestres. A seguir trazemos um deles e suas funções, outros deles serão trazidos posteriormente, na gestão administrativa, lembrando que as dimensões e seus desdobramentos são interligados e muitas vezes alguns eixos estão ligados a mais de uma dimensão.

3.3.1 O Conselho de Escola

O Conselho de Escola possui características próprias que denotam sua peculiaridade: por constituir-se de forma colegiada garante a gestão democrática. A gestão deixa de ser o exercício de uma só pessoa para ser gestão colegiada, ou seja, os segmentos escolares e a comunidade local se congregam para juntos, construírem uma educação de qualidade e socialmente relevante. Sendo assim, divide-se o poder e as consequentes responsabilidades.

Nesse contexto, o Conselho Escolar enquanto órgão consultivo, deliberativo e de mobilização mais importante do processo de gestão democrática, tem seu papel fundamentado não como instrumento de controle externo, mas como parceiro das atividades que se desenvolvem no interior da escola.

A participação nesse processo está relacionada, prioritariamente, à essência do trabalho escolar. Assim, acompanhar o desenvolvimento da prática educativa e do processo ensino-aprendizagem, torna-se o foco de suas ações. Dessa forma, a função político - pedagógica do Conselho Escolar se expressa no olhar comprometido para com o desenvolvimento do processo educacional.

O Conselho Escolar é constituído por membro nato e por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar. Como membro nato, o Diretor de Escola e, os representantes são escolhidos entre seus pares, mediante processo eletivo, de acordo com o princípio da representatividade que abrange a comunidade escolar. Estruturalmente compõe- se dos seguintes conselheiros: um representante da supervisão de ensino ou da orientação escolar, um representante de professor, um representante do grupo ocupacional operacional,

dois representantes de pais ou responsáveis de alunos e dois alunos regularmente matriculados maiores de 16 (dezesseis) anos.

3.3.2 Saberes necessários à gestão democrática e participativa

Lück (2010b) enfatiza que o diretor de escola deve liderar de forma que garanta uma gestão democrática efetiva e participativa, juntamente com o Conselho Escolar, o Conselho de Classe, entre outros colegiados escolares. Integrar todas as diferentes áreas de ações e seus participantes em torno de um ideal comum, visão, missão e valores da escola, promoção de um ambiente educativo e de aprendizagem, orientado por expectativas compartilhadas e estabelecidas coletivamente.

O interesse pelo trabalho dos professores, funcionários e alunos deve ser continuamente demonstrado, assim como o compartilhar das experiências e resultados, pois a aprendizagem dos alunos é causa comum a todos.

Realizar atividades de caráter pedagógico, científico, social, cultural, esportivo, promover a interação comunidade - escola é essencial, uma vez que o diretor pode articular o apoio e a participação dos colegiados escolares para tais ações.

O exercício da liderança implica considerar vários aspectos, como: a motivação e formação da equipe, o compartilhamento das responsabilidades, a capacitação profissional, a comunicação, o relacionamento interpessoal, entre outros.

Lück (2010a) aponta que para o exercício de liderança desejável, é preciso disponibilidade em aceitar e lidar com os desafios inerentes à esfera educacional, suas dificuldades e limitações, em busca de possibilidades de superação.

A estimulação do melhor que existe nas pessoas, clareza a respeito da missão, visão e valores educacionais, orientação com perspectiva dinâmica, inovadora e norteadora para a melhoria contínua, exercício do diálogo aberto e a capacidade de ouvir, construção de oportunidades e participação, orientação para o compartilhamento de responsabilidades, cultivo de atitudes que acompanham a expressão de comportamentos de liderança influenciam a equipe a contribuir com a solução de problemas inerentes do âmbito escolar.

Daí a importância de o diretor de escola pensar e desenvolver estratégias para reforçar a atuação dos participantes dos colegiados e torná-los efetivamente presentes no processo de tomada de decisões sobre a gestão pedagógica, financeira, entre outros

desdobramentos, visando garantir a integração do poder público, escola e família. (ALBUQUERQUE, 2012)

Além dos colegiados presentes e atuantes na escola, outras atividades podem ser desenvolvidas com o propósito de trazer a comunidade para escola, como: festividades esportivas, culturais e cívicas, angariação de fundos e recursos, reforço no controle da merenda, segurança na escola, manutenção do prédio, escola aberta aos finais de semana, entre outros. Esse movimento ampara-se no princípio de que se faz necessário envolver toda a comunidade para educar cada criança, proporcionando um espaço de convivência harmoniosa e promovendo o bem-estar dos participantes.

A autoconfiança deve estar presente no líder e gestor, além de quesitos como: ter segurança de sua autoridade; ver-se como um agente de mudança; ter convicção dos objetivos a serem alcançados; ter comunicação clara e atraente dos objetivos para engajar os demais na sua busca; manter o foco nos objetivos, ter sensibilidade ao ambiente e as pessoas que nele estão; ter personalidade sociável, habilidade para promover e lidar com interações sociais, criar um clima de apoio e confiança; ser carismático, estar sempre disposto a servir; saber ouvir; ter comportamento ético e honesto; ter senso de justiça; ser coerente, sem rigidez; ser inteligente e capaz de aprender conceitualmente com o mundo e principalmente gostar do que faz; possuir grande capacidade para solução de conflitos, mediação e ser consciente de seu papel como formador de opinião. As pessoas não carregam consigo o conjunto dessas características, mas depende do empenho do líder em exercitá-las e/ou aprimorá-las.