Vamos considerar agora a transferência de calor para um fluido, ou de um fluido, que escoa sobre uma placa plana. Suponha que a transferência de calor se inicia na borda frontal da placa. Como foi discutido no Cap. 4, as camadas limite cinética e térmica começam a se desenvolver simultaneamente, e sua espessura relativa depende do valor do número de Prandtl. Se a distribuição de temperatura T(x, y) na camada limite for conhecida, o coeficiente de transferência de calor local h(x) pode ser determinado a partir de sua definição, dada na Eq. (4.11 a) como
[[[[ ]]]]
W 0 y
T T
y k T
) x (
h −−−−
∂
∂∂
∂
∂
∂∂
= ∂
=
=
=
∞∞∞
∞
===
= (6.1)
onde T∞ e Tw, são as temperaturas da corrente livre do fluido e da parede, respectivamente.
Apresentaremos primeiro uma análise aproximada da determinação da distribuição de temperaturas na camada limite térmica e, a seguir, o coeficiente de transferência de calor no caso especial em que Pr < 1, isto é, nos metais líquidos. A razão para considerar primeiro os metais líquidos está na simplicidade da análise neste caso particular; além disso, ela nos ajudará a aprofundar a compreensão do papel da camada limite térmica na transferência de calor. O caso de Pr = 1 (gases), que envolve análise mais elaborada, será considerado mais tarde.
6.1.1) Metais líquidos num escoamento laminar
O número de Prandtl é muito baixo nos metais líquidos; por isso, a camada limite térmica é muito mais espessa que a camada limite cinética (isto é,δt> δ).
Fig. 6.1 Camadas limites cinética e térmica na transferência de calor em metais líquidos, Pr <1.
A Fig. 6.1 ilustra as camadas limites cinética e térmica quando ambas começam a se desenvolver a partir da borda frontal da placa plana. Sejam T∞ e u∞ a temperatura e a velocidade do fluido, respectivamente, fora das camadas limites; Tw é a temperatura da superfície da placa. Admitiremos um fluido incompressível, de propriedades constantes, num escoamento bidimensional, estacionário, com dissipação viscosa de energia desprezível. A equação da energia, que governa a distribuição de temperaturas T(x, y) na camada limite térmica, é obtida pela equação:
2 2
y T y
v T x u T
∂
∂∂
∂
∂∂∂
= ∂
==
∂ =
∂∂
∂
∂∂∂
+ ∂ + +
∂ +
∂∂
∂
∂∂∂
∂ αααα (6.2)
Para conveniência de análise, definimos uma temperatura adimensional θ(x, y) como
( )
w w
T T
T y x y T
x −
= −
∞
) , , (
θ (6.3) onde θ(x, y) varia de zero na superfície da parede até a unidade na extremidade da camada limite térmica. Então, a equação da energia é escrita em termos de θ(x, y) como
2
e as condições de contorno são θ onde as Eqs. (6.5 a) e (6.5 b) dão, respectivamente, a temperatura na superfície da parede igual a Tw, e a temperatura na fronteira da camada limite térmica, com espessura δδδδt(x), igual a T∞∞∞∞.
A análise exata deste problema de temperatura é bastante elaborada, pois as componentes da velocidade u e v devem ser determinadas a partir do problema cinético antes que a equação da energia (6.4) possa ser resolvida.
Entretanto, uma solução aproximada deste problema, com o método integral, é relativamente simples. Os passos básicos são os seguintes:
A equação da energia (6.4) é integrada em relação a y na camada limite térmica, e a componente da velocidade v(x, y) é eliminada por meio da equação da continuidade. A equação resultante, chamada a equação integral da energia, é dada por
t
u θ . Por isso, precisamos de relações adicionais.
Neste estágio são introduzidas aproximações a fim de desenvolverem-se expressões analíticas simples para u(x, y) e θθθθ (x, y) coerentes com a realidade física. Uma vez que a camada limite cinética é muito delgada, a velocidade do escoamento em uma grande porção da camada limite térmica é uniforme e igual a u∞, como está ilustrado na Fig. 6.1. Por isso, numa primeira aproximação, o perfil de velocidades é tomado como
u (x, y) = u∞∞∞∞ = constante (6.7) O perfil de temperaturas θθθθ (x, y) pode ser representado como uma aproximação polinomial dentro da camada limite térmica. Suponhamos uma aproximação cúbica para θθθθ (x, y), com a forma
θθθ aplicação das condições (6.9) à Eq. (6.8) dá o perfil de temperaturas na forma
3 Os perfis de velocidades e de temperaturas, dados pelas Eqs. (6.7) e (6.10), são
introduzidos na equação integral da energia (6.6). Obtemos
0 t integração em relação a y, a equação diferencial ordinária para a espessura δδδδt da camada limite térmica:
O gradiente de temperatura na parede, com o perfil cúbico da temperatura, Eq. (6.10), fica e o coeficiente de transferência de calor, definido pela Eq. (6.1), escreve-se em termos de
) transferência de calor local h(x) como
Pr
O número de Nusselt local Nux no escoamento laminar de metais líquidos sobre uma placa plana mantida a uma temperatura uniforme fica
2
Rex u número de Reynolds local
==
A solução dada pela Eq. (6.18) foi obtida por uma análise aproximada. Este resultado deve ser comparado com a solução exata de Pohlhausen para este problema de transferência de calor, no caso limite Pr → 0, dada por '
Nux = 0,564 Pe1x/2 (exato) para Pr → 0 (6.19) Esta equação foi deduzida sob a hipótese de que Pr → 0; na prática, esta hipótese implica que se trata de metais líquidos (isto é, Pr < 0,05). A solução aproximada, dada pela Eq.
(6.18), é razoavelmente próxima deste resultado exato.
No começo desta análise, estabelecemos que nos metais líquidos a camada limite cinética é muito menor do que a camada limite térmica. Para testar a validade desta
afirmação, dividamos a espessura da camada limite cinética δδδδ(x), pela espessura da
Nos metais líquidos, com Pr ≅ 0,01, encontramos 164
6.1.2) Fluidos ordinários em escoamento laminar
Examinaremos agora a determinação do coeficiente de transferência de calor no escoamento laminar de fluidos ordinários, que tem Pr > 1, sobre uma placa plana mantida a uma temperatura uniforme. Admite-se que um fluido, a uma temperatura T∞∞∞∞, flui com a velocidade u∞∞∞∞ sobre uma placa plana. O eixo x é paralelo à placa, na direção do escoamento, com a origem x = 0 na borda frontal, e o eixo y é perpendicular à placa, no sentido da placa para o fluido. A placa é mantida a uma temperatura T∞ na região 0 ≤≤≤≤ x ≤≤≤≤ x0 e a uma temperatura uniforme Tw, na região x > xo. Isto é, a transferência de calor entre a placa e o fluido não começa até a posição x = xo. A Fig. 6.2 ilustra as camadas limite cinética e térmica na situação física que acabamos de descrever. Ressaltamos que a camada limite cinética é mais espessa do que a camada limite térmica, pois Pr>1; e δδδδ(x) começa a se desenvolver na borda frontal da placa, enquanto δδδδt(x) começa a se desenvolver em x = xo, onde principia a seção de transferência de calor. Novamente, admitiremos um fluido incompressível, de propriedades constantes num escoamento bidimensional, estacionário, laminar, com dissipação viscosa desprezível. A equação da energia na camada limite é
2
Fig. 6.2 Camadas limite cinética e térmica, num fluido com Pr > 1
e as condições de contorno são
0 novamente consideremos a solução pelo método integral:
1. A equação da energia (6.21) é integrada em relação a y sobre a camada limite térmica, e a componente de velocidade v(x,y) é eliminada por meio da equação da continuidade. A equação integral da energia é determinada como
( )
tque é a mesma Eq. (6.6). Esta equação não pode ser resolvida, pois envolve três incógnitas, )
δ . Por isso precisamos de relações adicionais.
2. Introduzimos aproximações para desenvolver expressões analíticas de u(x,y) e de polinomial cúbica e tomamô-la na forma
y 3 obtemos a sua expressão pela Eq. (6.10)
3
levados á equação integral da energia (6.23). Obtemos
t
A integração em relação a y é então realizada:
∞ limite térmica e a espessura da camada limite cinética:
) menor do que a espessura da camada limite cinética δδδδ, como está ilustrado na Fig 6.2, para Pr>1. Então, ∆∆∆∆<1, e na Eq. (6.29), o termo (3/280)∆∆∆∆4pode ser desprezado em comparação
A espessura da camada limite cinética δδδδ foi determinada como
∞∞∞ A substituição das equações (6.32) na equação (6.31) leva a
v
A constante de integração C é determinada pela condição de contorno δδδδt ====0 em x = xo, que é equivalente a
0
Se admitimos que a transferência de calor para o fluido principia na borda frontal da placa, fazemos x0 →→→→0 e a Eq. (6.36) simplifica-se para
Esta relação mostra que a razão entre a espessura da camada limite térmica e da cinética, num escoamento laminar sobre uma placa plana, é inversamente proporcional à raiz cúbica do número de Prandtl.
A substituição de δδδδ(x), da Eq. (6.32 a), na Eq. (6.37) dá a espessura da camada limite transferência de calor local h(x) foi relacionado anteriormente com a espessura da camada limite térmica δδδδt(x), pela Eq. (6.16).
2 Note que a relação de transferência de calor, dada pela Eq. (6.40), foi deduzida por uma análise aproximada com a hipótese δδδδt <<<<δδδδ ou Pr>1. Entretanto, a comparação com os resultados exatos mostra que ela é válida no domínio 0,6<Pr<10, que cobre muitos gases e líquidos. recomenda-se que as propriedades do fluido sejam calculadas na média aritmética entre a temperatura da parede Tw e a temperatura do escoamento externo T∞∞∞∞, isto é,
Notando que hx = x -1/2, encontramos que o coeficiente de transferência de calor médio no escoamento laminar paralelo a uma placa plana, sobre a distância de x = 0 até x = L, é dado por
L m 2h(x)x
h ==== ==== (6.44) Então, os números de Nusselt médios, no escoamento laminar paralelo à placa plana, são dados por
e as propriedades são estimadas na temperatura pelicular. A Eq. (6.45 b), deduzida para o caso limite Pr→→→→∞∞∞∞, é aplicável aos fluidos que têm um número de Prandtl grande, como os óleos.
6.1.3) Escoamento turbutento
A transição do escoamento laminar para o turbulento ocorre no domínio dos números de Reynolds entre 2 x 105 e 5 x 105, no escoamento sobre uma placa plana. As correlações da
transferência de calor podem ser desenvolvidas no escoamento turbulento sobre uma placa plana utilizando-se as relações entre o coeficiente de transferência de calor e o de arraste dados pela Eq. (6.15a)
Pr2/3 Cx2
e todas as propriedades são calculadas na temperatura pelicular.
Mais recentemente, Whitaker utilizou os dados experimentais de Zukauskas e Ambrazyavichyus e modificou a expressão de Colburn, para desenvolver a seguinte correlação para a camada limite turbulenta sobre uma placa plana:
43
Nas aplicações práticas, há interesse no coeficiente de transferência de calor médio hm na distância 0 ≤≤≤≤ x ≤≤≤≤ L da placa. Quando o escoamento é turbulento, é sempre precedido por uma camada limite laminar na qual a equação que governa a transferência de calor é diferente da que governa o escoamento turbulento. Por isso, a promediação deve ser feita em ambas as regiões, como descreveremos agora.
Admita um escoamento laminar na região 0 ≤≤≤≤ x ≤≤≤≤ c e turbulento na região c < x ≤≤≤≤ L. Os coeficientes de transferência de calor locais, nestas duas regiões, são obtidos das Eqs.
(6.41) e (6.48), respectivamente, como v em
k L
Num ==== hm (6.49 b)
Depois de feitas a integrações, o número de Nusselt médio nas regiões de escoamento Laminar e turbulento é
((((
0,8))))
1/3 c0,5c 8 , 0 L 43 , 0
m 0,036Pr Re Re 0,664Pr Re
Nu ==== −−−− ++++ (6.50) válida para ReL > Rec, onde ReL = u∞∞∞∞L/v e Rec = número de Reynolds crítico para a transição. Evidentemente, o Num, dado pela Eq. (6.50), depende do valor do número de Reynolds crítico da transição do escoamento laminar para o turbulento. O nível da turbulência da corrente livre afeta a transição. Quando há geração elevada da turbulência na corrente livre, a transição para o escoamento turbulento ocorre em um número de Reynolds crítico mais baixo. Entretanto, se se tomar cuidado para eliminar a turbulência da corrente livre, retarda-se a transição para o escoamento turbulento.
Com o número de Reynolds crítico Rec = 2 * 105, a Eq. (6.50) se torna
((((
0L,8))))
1/343 , 0
m 0,036Pr Re 17400 297 Pr
Nu ==== −−−− ++++ (6.51) O último termo do segundo membro pode ser aproximado por
43 , 0 3
/
1 297Pr
Pr 297 ≅≅≅≅
e a correção de viscosidade pode ser introduzida multiplicando-se o segundo membro da expressão resultante por (µµµµ∞∞∞∞ / µµµµw )0,25. Então, obtém-se a seguinte expressão:
((((
Re 9200))))
Pr 036 , 0
Num ==== 0,43 0L,8−−−− (µµµµ∞∞∞∞ / µµµµw )0,25 (6.52) Todas as propriedades físicas são calculadas na temperatura da corrente livre, excetoµµµµw, que é calculado na temperatura da parede. Nos gases, a correção de viscosidade é desprezível, e, neste caso, as propriedades físicas são calculadas na temperatura pelicular.
A Eq. (6.52) dá o número de Nusselt médio nas camadas limite laminar e turbulenta, sobre uma placa plana, com ReL > 2 *105. Foram propostas por Whitaker e usadas para correlacionar os dados experimentais de vários investigadores com o ar, a água e óleos, cobrindo as seguintes faixas:
2 * 105 < ReL < 5,5 * 106 0,70 < Pr < 380 0,26 < µµµµ∞∞∞∞ / µµµµ < 3,5
A Eq. (6.52) relaciona os dados experimentais razoavelmente bem, quando a turbulência da corrente for pequena. Se estiver presente turbulência de alto nível na corrente livre, a Eq.
(6.52), sem a constante 9.200, correlaciona os dados razoavelmente bem.
6.2) ESCOAMENTO TRANSVERSAL A UM CILINDRO CIRCULAR ISOLADO