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Com o intuito de responder aos questionamentos feitos no início deste capítulo, além de contextualizar o objeto e compreender processo eleitoral, também analisamos as regras que estruturam o funcionamento do Colegiado, particularmente, no que diz respeito à distribuição interna de funções, aos critérios de composição, participação, representação e aos procedimentos de tomada de decisão, para verificar se podem determinar ou não a capacidade destes se traduzirem em esferas específicas de participação e de controle.

O escopo é verificar os seguintes pontos: (1) quem preside o Colegiado, (2) a frequência das reuniões ordinárias e o local onde ocorrem, (3) como é o processo decisório,

(4) composição e funcionamento do órgão, (5) como são escolhidos os representantes e seus mandatos e (6) quem propõe a pauta das reuniões do Conselho.

Assim como no CNPC, o Colegiado não possui norma legal, apenas de hierarquia infralegal. A atuação é consultiva, além de sua composição ser do tipo público social, tendo representação paritária da sociedade civil e do Estado. Utilizando a classificação de Cunha Filho (2010), identificamos as características do Colegiado, como demonstradas a seguir:

Quadro 9 – Características do Colegiado Setorial de Culturas Populares Órgão Inserção

normativa

Vinculação Potestativa

Atuação Composição Competência Natureza

Colegiado Setorial de Culturas Populares Sem referência constitucional P. Executivo (MinC)/ Compõe CNPC Fiscalizatória Consultiva Executiva Público-social Majoritariamente social Infralegal Política

Fonte: Adaptado de Cunha Filho, 2010.

A análise normativa do Colegiado de Culturas Populares é feita, principalmente, com base em seu Regimento Interno, que foi uma das ações do órgão em seu primeiro biênio, durante a 2ª Reunião Ordinária, realizada em novembro de 2010. Importante destacar que o RI do Colegiado de Culturas Populares não conta com Portaria de publicação.

O regimento foi votado em Plenária, durante a reunião de 23 de novembro. Para sua elaboração, a coordenação do Colegiado, presidida pelo CNPC e junto a SCDC, utilizou como modelo o RI da setorial de circo, que existia desde as câmaras setoriais em 2005. Apesar do amplo debate, nota-se que no parágrafo 2º do artigo 8º permaneceu a denominação “Colegiado Setorial de Circo”.

§ 2º Todos os documentos, relatórios e atas de reuniões – presenciais ou remotas – produzidos pelo Colegiado Setorial de Circo deverão ser postos à disposição em sítio eletrônico, remetidos aos membros do colegiado e arquivados pelo Ministério da Cultura. (em fase de aprovação).70

Apesar de terem algumas similaridades, a elaboração de um RI é uma das ações específicas de cada Colegiado e deve ser construído em conjunto pelos membros da Plenária, de acordo com suas especificidades.71 Assim, considera-se que as peculiaridades das culturas populares inibem que o RI tenha os mesmos moldes e regras do segmento do circo.

O primeiro biênio do Colegiado foi de março de 2010 a dezembro de 2012, com composição (Anexo) de 15 titulares e 15 suplentes. Em alguns estados/região ficou pactuado

70

REGIMENTO...

71 Na próxima seção será analisada a ata dessa reunião (de 23 de novembro de 2010), juntamente com outros instrumentos considerados como canais de participação e comunicação.

pelo revezamento entre titular e suplente para que ambos pudessem participar/representar ativamente nas reuniões ordinárias. Foram realizadas quatro reuniões ordinárias, bem duas reuniões extraordinárias.

No que diz respeito à frequência das reuniões ordinárias e o local onde ocorrem, o CNPC, por meio do Decreto n.º 5.520, de 24 de agosto de 2005, alterado pelo Decreto n.º 6.973, de 7 de outubro de 2009, determina que os encontros dos colegiados são no mínimo semestral (artigo 35), prevendo ainda a possibilidade de se convocar reuniões extraordinárias. A sede e foro do órgão será, preferencialmente, Brasília, mas podendo realizar encontros em outras localidades.

O Colegiado, durante seus dois biênios, realizou o número mínimo de reuniões ordinárias, bem como teve algumas extraordinárias, como está descrito na tabela seguinte.

Quadro 10 – Reuniões do Colegiado entre 2010-2014

Reunião/Tipo Data/Local

Reunião Conjunta dos Colegiados Setoriais do CNPC

6 de abril de 2010/ Academia de Tênis de Brasília/DF

1ª Reunião Ordinária/ Reunião Conjunta dos Colegiados Setoriais de Cultura Popular e Teatro

28 de maio de 2010/ Hotel St. Paul – Brasília/DF

2ª Reunião Ordinária do Colegiado de Culturas Populares

23 de novembro 2010/Hotel Manhatan Plaza – Brasília/DF

3ª Reunião Ordinária do Colegiado Culturas Populares

19 a 20 de maio de 2011/Hotel Sonesta – Brasília/DF

4ª Reunião Ordinária do Colegiado Culturas Populares

31 de outubro a 1 novembro de

2011/Edifício Parque da Cidade –Brasília

1ª Reunião Extraordinária do Colegiado Setorial de Culturas Populares

4 de setembro de 2010, Fundição Progresso Rio de Janeiro

2ª Reunião Extraordinária do Colegiado Setorial de Culturas Populares

11 a 13 de maio de 2011/ Fundação Cultural Cassiano Ricardo – São José dos Campos/SP

1ª Reunião Ordinária do 2º Biênio 15 de dezembro de 2012 (durante eleição

e instalação da segunda formação) – Brasília/DF

2ª Reunião Ordinária do 2º Biênio 19 e 20 de junho de 2013 – Brasília/DF

1ª Reunião Extraordinária do 2º Biênio 1 a 6 de outubro de 2013 (Encontro de Culturas Populares e Tradicionais) – SP

3ª Reunião Ordinária do 2º Biênio 11 a 12 de março de 2014

4ª Reunião Ordinária do 2º Biênio 9 a 10 de setembro de 2014

2ª Reunião Extraordinária do 2º Biênio 10 e 11 de dezembro de 2014 (Durante Semana Cultura Viva) – Brasília/DF

Fonte: Próprio autor.

Nesse período, o órgão também procurou fazer encontros fora de Brasília, o que se considera importante, pois descentraliza os encontros e possibilita que atores sociais de outras regiões do país possam acompanhar as ações do Colegiado. Afinal, as reuniões têm caráter público, sendo abertas a quaisquer interessados, porém na categoria ouvinte, sem direito a voz e voto, como é exposto no artigo 7º do RI.

As reuniões ordinárias do Colegiado Setorial das Culturas Populares serão públicas, instaladas com a presença da maioria simples de seus membros e convocadas pelo Secretário-Geral do CNPC. (em fase de aprovação).72

Em geral, a decisão dos Plenários dos Colegiados é tomada por maioria simples de votos, com exceção das situações que exijam quórum qualificado e de acordo com o regimento interno de cada Colegiado. O decreto prevê ainda que o quórum das reuniões dos Colegiados é de maioria simples de seus membros. No caso das Culturas Populares:

Art. 8º As decisões do Colegiado Setorial de Culturas Populares serão tomadas por maioria simples de votos, salvo o disposto no art. 14, deste Regimento Interno. [...]

Art. 14. O presente Regimento Interno poderá ser alterado mediante proposta do Plenário, com aprovação de dois terços dos membros do Colegiado. (em fase de aprovação).73

A composição do Colegiado prediz a instituição de um plenário, composto pelos 15 representantes titulares, ou na ausência de algum deles, por seus suplentes, bem como se necessário poderá haver a instituição de grupos de trabalho ou comissões dentro da composição do órgão colegiado.

Entre as competências do Plenário do Colegiado de Culturas Populares estão:

I – debater, analisar, acompanhar, solicitar informações e fornecer subsídios ao CNPC para a definição de políticas, diretrizes e estratégias relacionadas ao setor de Culturas Populares;

II – Elaborar, acompanhar, avaliar e revisar as diretrizes do Plano Nacional de Culturas Populares;

III – promover o diálogo entre poder público, sociedade civil, mestres e fazedores de cultura, com vistas a fortalecer as culturas populares, por meio do fomento à economia criativa da cultura, à circulação de ideias, bens culturais, produtos e serviços, assegurada a plena manifestação da diversidade das expressões culturais; IV – propor e acompanhar estudos que permitam identificação e diagnósticos precisos das manifestações das culturas populares;

V – promover ações que dinamizem as políticas públicas para as culturas populares nos âmbitos nacional, estadual e municipal;

VI – incentivar a criação de redes sociais que subsidiem a formulação, a implantação e a continuidade de políticas públicas no respectivo setor;

VII – estimular a integração de iniciativas socioculturais de instituições públicas e privadas de modo a otimizar a aplicação de recursos para o desenvolvimento das políticas culturais;

VIII– estimular a cooperação entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios para a formulação, realização, acompanhamento e avaliação de políticas públicas na área da cultura, em especial as atinentes ao setor das Culturas Populares;

IX – subsidiar o CNPC na avaliação das diretrizes e no acompanhamento do Plano Nacional de Cultura;

X – propor parâmetros para a elaboração de editais públicos e de políticas de fomento ao setor das Culturas Populares e para a criação, avaliação e aprimoramento destes mecanismos;

72 REGIMENTO... 73 REGIMENTO...

XI – receber as informações necessárias para a avaliação e o aprimoramento dos editais aprovados e publicados;

XII– auxiliar o CNPC em matérias relativas ao setor das Culturas Populares, respondendo às demandas do Plenário;

XIII – incentivar a valorização das atividades e modalidades de exercício profissional vinculadas às Culturas Populares;

XIV – incentivar a promoção de atividades de pesquisa e formação;

XV – estimular a promoção e o apoio de ações voltadas para a mediação da área específica;

XVI – subsidiar o Plenário na elaboração de resoluções, proposições, recomendações e moções no âmbito do CNPC e do SFC;

XVII – debater e emitir parecer sobre consulta que lhe for encaminhada pelo CNPC. (em fase de aprovação).74

O RI não trata da forma de eleição. Na verdade fala em “indicação ou escolha” dos referidos membros do poder público, sendo estas delegadas ao MinC. Ou seja, o regimento deixa a critério do MinC, por meio do CNPC e da SCDC, estabelecer normas para escolha dos membros do órgão. Cabe, assim, ao Colegiado apenas validar esse processo pré-estabelecido pelo órgão do executivo. Pois mesmo o regimento sendo aprovado pela plenária, bem como a portaria que trata de cada processo eleitoral, acreditamos ser necessária uma construção coletiva, sem utilizar modelos de outras áreas e não apenas validados após serem criados pelo MinC.

Com relação à sociedade civil, o único ponto ressaltado na norma do Colegiado é que a representação se dará de acordo com as cinco macrorregiões administrativas, contemplando segmentos de mestres(as) de cultura, pesquisadores e mediadores, como é destacado a seguir,

[...]

§ 1º As indicações e escolhas dos representantes citados nos incisos I e II deste artigo observarão, quando couber, normas publicadas pelo Ministério da Cultura. § 2º É membro nato do poder público o representante da entidade finalística integrante do SFC, cujas atribuições correspondam ao campo setorial de Culturas Populares.

[...]

§ 4º Para dirimir eventuais conflitos de interesses, o Ministro de Estado da Cultura poderá indicar até 3 (três) membros de reconhecida atuação no setor atinente. [...] (em fase de aprovação).75

O regimento interno atribui a elaboração das agendas e das pautas do Colegiado à Secretaria-Executiva do CNPC, em comum acordo com o Plenário do Colegiado Setorial de Culturas Populares. No entanto, isso vai contra a própria ideia de construção coletiva de políticas culturas e de participação propostas pelo MinC. Inclusive enfraquece algumas das competências do plenário, como a I, III, IV, dentre outras.

74 Ibid.

Com relação ao mandato dos representantes, o do poder público será de um ano, improrrogável, a contar da data da posse, sendo permitida uma única recondução. Já o mandato dos representantes da sociedade civil será de dois anos, improrrogável, a contar da data da posse, sendo permitida uma única recondução.

Segundo o artigo 2º do Regimento Interno, o Colegiado Setorial de Culturas Populares será presidido pelo secretário-geral do CNPC, cabendo-lhe, além do voto pessoal, o de qualidade. O parágrafo segundo aponta que na ausência do secretário-geral do CNPC, o Plenário será presidido pelo coordenador-geral do CNPC ou por pessoa por ele indicado. Escolha predefinida fere os próprios preceitos e princípios que balizam o CNPC e Colegiados. Nesse sentido, valemo-nos do apontamento de Cláudia Faria,

[...] acredita-se que a forma de escolha do presidente importa para aferirmos o grau de democratização das relações no interior destas instituições. Ademais, se o ato eleitoral expressa antes de tudo o consentimento do indivíduo para com a liderança (Manin, 1997), a indicação nata do [...] [Ministro de Cultura e Secretários] não só fere o princípio representativo, como indica monopólio do cargo pelo representante do governo, configurando de antemão a preponderância do governo frente os demais segmentos que participam dos Conselhos. Embora a presença do Secretário [e Ministro no caso do CNPC] [...] ou de seu representante seja imprescindível para a dinâmica de negociação e implementação das diretrizes da política [...]avalia-se que esta naturalização precisa ser revista. (FARIA, 2007, p. 130).

Um ponto importante a se observar é o parágrafo segundo do artigo 35 do Decreto supracitado (e artigo 7º do Regimento Interno citado), que diz respeito aos canais de comunicação usados pelos Colegiados.

§ 2º Além das reuniões presenciais, serão utilizados recursos tecnológicos como meio de intensificar os debates, especialmente videoconferências, fóruns de discussão na internet e mecanismos públicos de consulta não presenciais, a serem viabilizados pelo Ministério da Cultura. (em fase de aprovação).76

Este parágrafo se refere a todos os Colegiados, mas destacamos que deveriam ser levadas em conta as particularidades do segmento de culturas populares, pois há muitos atores da área que não possuem acesso àinternet ou ainda não sabem utilizar algumas ferramentas das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O mecanismo de utilização de canais de comunicação via internet vem sendo utilizado desde as prévias das Conferências, bem como no processo eleitoral, até a execução das atividades dos Colegiados. Mas se questiona: Será que há efetividade no modelo utilizado? Os canais de comunicação e os de participação realmente cumprem seu papel?

5 PARTICIPAÇÃO NO COLEGIADO SETORIAL DE CULTURAS POPULARES: ANÁLISE DOS RESULTADOS E APONTAMENTOS

“Nossa comunicação, colaboração e cooperação não se baseiam apenas no comum, elas também produzem o comum, numa espiral expansiva de relações" M. Hardt e A. Negri, Multidão.

Este capítulo traz as análises dos canais de participação e seus resultados, em dois períodos: 2010-2011, primeiro biênio do Colegiado, e 2012-2014, na sua segunda formação. Além das reuniões, consideradas como canais participativos, também são verificados os canais de comunicação, ou seja, site do Conselho e blog da Setorial, pois são instrumentos previstos nas normas que regem essas instâncias.

O primeiro ano de atuação do Colegiado (2010) foi o último ano do governo Lula. Esse período foi marcado por incertezas e temores, pois os conselheiros preocupavam-se com rupturas no processo iniciado nas gestões Gil e Juca e no governo Lula. Principalmente, temiam uma descontinuidade dos trabalhos e das ações iniciadas nos colegiados e no CNPC. A maioria dessas instâncias havia finalizado os planos setoriais, mas ainda seria preciso formular metas e atualizar esse instrumento de gestão a cada dois anos, bem como promover outras ações para implementação das setoriais.

Do ponto de vista de atuação e funcionamento dessa instância participativa, podemos considerar como uma etapa de finalização – com os já referidos planos setoriais – e mesmo com alguns entraves de ordem administrativa, que serão mostrados ao longo desta seção, foi o ano em que as atividades foram mais constantes. O destaque foi a aprovação do plano setorial em dezembro de 2010, que pode ser considerado como um marco para o setor, por não existir este tipo de instrumento anteriormente.

O segundo ano do primeiro biênio é o início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. É ainda sobre gestão de Dilma que ocorreu o segundo processo eleitoral, já analisado na seção anterior, e a atuação da segunda formação do Colegiado. No governo Dilma, o MinC teve duas ministras, Ana de Hollanda e Marta Suplicy. Considera-se – como será discutido nas subseções seguintes – que as instâncias colegiadas sofreram uma mudança drástica, enfrentando inclusive vários problemas desde a questão organizacional, estrutural, de divulgação e, sobretudo, do ponto de vista político, pois o potencial do Conselho foi diminuindo durante alguns momentos nesses quatro anos, sobretudo nos momentos de transição (de governo e/ou de gestão). Um exemplo foi apontado na primeira reunião do Colegiado, em maio de 2011, pelo coordenador-geral do CNPC: “O Sr. Fabiano Lima [...]

ressaltou que a convocação foi em cima da hora porque o Conselho passou por dificuldades operacionais e se desculpou com todos”. (BRASIL, 2011a, p. 1-3)

Nesse mesmo ano, já se inicia o processo de fusão da Secretaria de Cidadania Cultural e SID. Durante o segundo ano da primeira formação do Colegiado, por exemplo, o órgão já se reportava a SCDC, como se pode ver na ata da reunião de 19 de maio de 2011.

Teve início a 3ª Reunião Ordinária do Colegiado Setorial de Culturas Populares, destinada a apreciar a pauta a seguir. Pauta do dia 19 de Maio de 2011: Item I - Abertura da Sessão; Item II - Fala da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural; Item III - Fala do representante do Colegiado no Plenário do CNPC sobre os trabalhos e encaminhamentos; Item IV - Abertura da palavra aos membros do Colegiado para debate; Item V - Apresentação: “Implementação do Plano Nacional de Cultura”; e Item VI - Debate: “Priorizações do PNC, sob ótica das culturas populares para PPA 2012-2015” (BRASIL, 2011a, p. 1-3, grifo nosso)

Ainda no que diz respeito ao último ano do biênio 2010-2011, o mandato dos conselheiros, de acordo com a Portaria n.º 84, de 23 de julho de 2010, é de dois anos contados a partir da data reunião de 6 de abril de 2010, quando iniciaram as atividades. Assim, o mandato foi até abril de 2012. Porém, a última reunião foi em 23 de novembro de 2011, não ocorrendo nenhum encontro relativo a 2012, mesmo após inúmeras solicitações dos membros do Colegiado, como vimos na fala do conselheiro Isaac Loureiro, durante a reunião do CNPC, no dia 28 de novembro de 2011. Nessa data, não era possível a coordenação geral do Conselho garantir as reuniões do próximo ano, devido a transição de governos. Assim, vemos como ocorrem descontinuidades nas políticas públicas com as trocas de gestão.

No contexto geral, durante o governo Dilma, a cultura teve alguns avanços, como na implementação do Sistema77, mas a gestão de Ana de Hollanda foi alvo de várias críticas, principalmente, pela concepção de cultura adotada destoar da dimensão antropológica, que até então era o norte do MinC. Pode-se ver, pela reportagem divulgada na revista Carta Maior, o teor das críticas e manifestações.

O movimento já havia divulgado um manifesto em abril [2011] com inúmeras queixas. Agora, sobe o tom. Na semana que vem, os militantes prometem dar início a uma agenda de mobilizações regionais para reforçar a campanha de contestação à ministra Ana de Hollanda, irmã do cantor Chico Buarque. Já há reuniões confirmadas em três capitais. Ana vai ter uma audiência com Dilma nesta sexta-feira (09/09). “A ministra vem negando o vetor antropológico do ministério, que havia conquistado no governo Lula. Cultura não é apenas arte, mas, principalmente, comportamento”, afirmou à Carta Maior o produtor cultural Pablo Capilé, signatário do manifesto e um dos mais ativos militantes do movimento. [...]

77 Apesar de reconhecidos progressos com relação ao Sistema, como retomada da importância do programa no interior do Ministério, maior número de adesões dos municípios, edital de fortalecimento do SNC promovendo repasse de verbas para seis estados, EC n.º 71/2012, acrescentando o art. 216-A, sobre o SNC; ainda se faz necessária sua a institucionalização do Sistema Nacional de Cultura, por meio de lei própria.

Com outras 1093 assinaturas até a tarde desta quinta-feira (8/9), o manifesto reúne velhos e novos agentes da cultura que acreditam ter conquistado direito à interlocução com o poder federal nas gestões dos ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira. São mestres da cultura popular, lideranças indígenas, cinéfilos, hackers, blogueiros. O movimento começou logo após discurso de posse de Ana de Hollanda, encarado como negação do legado de Gil e Juca. De lá para cá, a insatisfação aumenta sempre que o ministério toma alguma atitude, por mais simples que pareça, que desagrada os militantes. Eles reclamam, por exemplo, de o ministério ter retirado de sua página na internet a logomarca do Creatives Commons, projeto que disponibiliza licenças flexíveis para obras intelectuais. Acham que Ana teria se aproximado demais do Ecad, entidade responsável por arrecadar e distribuir direitos autorais musicais e que é alvo de uma das duas CPIs criadas pelo Congresso em 2011. A ministra também estaria protelando o envio ao Legislativo de projeto que reformará a Lei de Direitos Autorais. E se recusando a receber produtores culturais para reuniões e a participar de debates públicos. O diálogo atual entre o ministério e a sociedade civil estaria limitado a um colegiado setorial, que reúne a cúpula do ministério e um grupo restrito de agentes privados. “O órgão, criado há cerca de seis anos, é muito engessado. Não tem condições de acompanhar a velocidade de