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3.3 POLÍTICAS CULTURAIS A PARTIR DE 2003: SISTEMA NACIONAL DE CULTURA

3.3.1.1 Plano Nacional de Cultura (PNC) e Sistema Nacional de Informações e Indicadores

Os Planos de Cultura são instrumentos de planejamento de gestão com objetivo de desenvolver as ações planejadas ao longo de dez anos, sendo revistos e atualizados no decorrer desse período. Logo, essa ferramenta visa à continuidade das políticas culturais, mesmo com trocas de gestão.

O atual PNC não é a primeira iniciativa federal para instituir um instrumento de gestão. Durante a ditadura militar, o Conselho Federal de Cultura, que tinha como uma de suas competências a elaboração de um plano nacional de cultura, já discutia a necessidade de tal instrumento. (REIS, 2008; CALABRE, 2010). Em 1967, o CFC elaborou Anteprojeto de Lei do Plano Nacional de Cultura, com foco central de ação em reaparelhar e reformar as instituições nacionais, bem como busca o fortalecimento da “unidade cultural brasileira”. (CALABRE, 2010, p. 51).

Como esse anteprojeto não foi efetivado, o Conselho elaborou, em 1969, um primeiro Plano Nacional de Cultura, que deveria ser aprovado pelo Congresso, mas nunca foi. Outra tentativa foi feita em 1973, porém na forma de diretrizes, solicitadas pelo ministro

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Informações retiradas do site do PNC. Disponível em: < http://pnc.culturadigital.br/metas/gestores-de-cultura- e-conselheiros-capacitados-em-cursos-promovidos-ou-certificados-pelo-ministerio-da-cultura-em-100-das- unidades-da-federacao-ufs-e-30-dos-municipios-dentre-os-quais-100-dos-que/>. Acesso em: 16 mar. de 2015.

Jarbas Passarinho, pois estas serviriam como base para elaboração de planos, programas e projetos. (CALABRE, 2010) De acordo com Calabre (2010),

O anteprojeto do plano nacional de cultura e alguns dos projetos que o sucederam encontraram uma série de impedimentos legais a serem implementados, a maior parte destes ligada à problemáticas da dotação de orçamento, à da criação de um fundo para a cultura (similar ao da educação) e à da própria limitação das atribuições legais de um Conselho (2010, p. 52).

A necessidade de um instrumento para a gestão cultural volta a ser pensada, em 2000, quando o deputado federal Gilmar Machado (PT) apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional no Congresso Nacional, relativa a acrescentar um parágrafo instituindo o Plano Nacional de Cultura (PEC n.º 306/2000). Mas foi no governo Lula que instrumento de gestão cultural fez referência a criação do SNC (REIS, 2008, p. 54). O PNC foi criado a partir do Projeto de Lei (PL) n.º 6835, de 2006; e foi inserido na Constituição, em 2005, após a aprovação da Emenda Constitucional n.º 48, como se observa a seguir.

Art. 215 [...]

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II produção, promoção e difusão de bens culturais;

III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;

IV democratização do acesso aos bens de cultura;

V valorização da diversidade étnica e regional. (BRASIL, 1988, com atualização em 11 ago. 2005).

Cabe salientar que embora o PNC seja parte integrante do SNC, sendo políticas interdependentes, eles foram encaminhados de forma distinta no interior do MinC. Desde o começo do processo de ambos, o Plano é coordenado pela Secretaria de Políticas Culturais (SPC) e o Sistema, pela SAI. (REIS, 2008, p. 85).

O Plano contou com a colaboração dos Poderes Executivo e Legislativo, bem como a sociedade civil e seus representantes no CNPC, para a construção coletiva que durou cerca de cinco anos, tendo recebido contribuições dos eventos – conferência, seminários e oficinas – realizados pelo MinC e passou por consulta pública on-line.

Em 2 de dezembro de 2010, foi promulgada a Lei n.º 12.343 que aprovou o Plano Nacional de Cultura e criou o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC), outro elemento do SNC. Importante destacar que, de acordo com Paulo Miguez apud Reis (2008, p. 67), tensões política no Ministério acontecerem durante todo o primeiro mandato de Gil e, na maior parte do tempo, não iam a público e que essas diferenças contribuíram para dificultar o processo de implantação do SNC e do PNC.

Baseado nas três dimensões de cultura, o PNC é composto de 36 estratégias, 274 ações e 53 metas. Dentre essas metas, destacam-se algumas que estão diretamente relacionadas com as culturas populares. Uma das mais importantes para o segmento é a “meta três: Cartografia da diversidade das expressões culturais realizada em todo o território brasileiro”, que busca produzir um mapa das expressões culturais e linguagens artísticas de todo o Brasil. Esse mapa pretende revelar a diversidade cultural em todo o território nacional, completando o que já existe de mapeamentos, estudos e pesquisas sobre a diversidade cultural brasileira. Essa meta está sendo mensurada por meio do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC) e visa a alcançar 70% dos municípios. Até outubro de 2014, o quantitativo obtido foi de 23,9%. (BRASIL, 2012b).

Outra meta muito significativa para o setor é a meta quatro, sobre a Política nacional de proteção e valorização dos conhecimentos e expressões das culturas populares e tradicionais. A meta está sendo mensurada por meio de marcos legais de proteção e institucionalização dos saberes e conhecimentos populares como a PL 1786/2011 – Política Nacional Griô – e concessão de benefício financeiro aos mestres das expressões culturais populares e tradicionais, a PL 1176/2011 – Programa de proteção e Promoção dos Mestres e Mestras dos Saberes e Fazeres das Culturas Populares; que foram juntados em um único projeto. (BRASIL, 2012b).

Há ainda a meta cinco, sobre implantação de legislação e política de patrimônio cultural em 60% dos municípios. Até 2012, havia um total de 1.735 municípios, o que corresponde a 31% da meta. Cabe ressaltar também outras metas, mas que ainda não apresentam resultados, como a meta seis, que tem o objetivo de atingir 50% dos povos e comunidades tradicionais e grupos de culturas populares cadastrados no SNIIC por meio de ações de promoção da diversidade cultural. Há um extrato preliminar, com base no SNIIC, que aponta a existência de 275 povos, comunidades tradicionais e grupos de culturas populares. Mas os dados oficiais ainda não estão completamente sistematizados (BRASIL, 2012b). Dessa maneira, o Plano Nacional de Cultura está comprometido com o fortalecimento de políticas específicas para os setores. Nesse sentido, suas metas e ações preveem a formulação e implementação de planos setoriais. No caso das culturas populares, o Plano Setorial foi aprovado em 2010, pelo Plenário do Colegiado, e teve sua primeira revisão em 2012.

Além de instituir o PNC, a Lei n.º 12.343/2010 cria o SNIIC, que visa a criar um banco de dados para a cultura, oferecendo estatísticas e indicadores, bem como monitorar o

desenvolvimento das metas do PNC. Esse sistema está sob a responsabilidade da Secretaria de Políticas Culturais, que também cuida do Plano. Dentre os objetivos estão,

Art. 9º [...]

I - coletar, sistematizar e interpretar dados, fornecer metodologias e estabelecer parâmetros à mensuração da atividade do campo cultural e das necessidades sociais por cultura, que permitam a formulação, monitoramento, gestão e avaliação das políticas públicas de cultura e das políticas culturais em geral, verificando e racionalizando a implementação do PNC e sua revisão nos prazos previstos; II - disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a caracterização da demanda e oferta de bens culturais, para a construção de modelos de economia e sustentabilidade da cultura, para a adoção de mecanismos de indução e regulação da atividade econômica no campo cultural, dando apoio aos gestores culturais públicos e privados;

III - exercer e facilitar o monitoramento e avaliação das políticas públicas de cultura e das políticas culturais em geral, assegurando ao poder público e à sociedade civil o acompanhamento do desempenho do PNC (BRASIL, 2010e).